Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 48
Sequência de acontecimentos.




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Dos muitos homens que uma vez já compuseram a grande ABC Works, há de destaque os homens Dom Picone, Xarxan e Cláudio. Grandes homens, sim, e também numa grande agência de segurança governamental que noventa e nove por cento da população global nunca ouviram falar. O resto é um por cento.

Um por cento esse que compõe a alta sociedade. Homens do petróleo, até mesmo da soja, homens do dinheiro, do gado também, e de outros grandes investimentos. Políticos. Militares, apenas os de alto escalão. No capítulo anterior ao anterior foi mencionado que a ABC Works foi fundada por Mormada Sparrow porque ele tinha negócios com outro mundo.

Já foi explicado o motivo desses negócios e tudo mais, e que também Mormada não seria Mormada – seria apenas um Zé ninguém – se não fossem esses tais negócios. Mas uma coisa que ficou estranha é que o banqueiro se perdeu num portal pandimensional sem ter criado agência de segurança nenhuma. Isso parece estranho para o leitor e também para o narrador que nada sabe da história, apenas tem uma visão privilegiada de toda a história como o condor tem da sociedade ao voar. Estranho, não? O narrador afirmou e então logo acabou sendo desmentido pela própria história que ele apenas narra?

Mas o que o leitor não deve ignorar é que essa não é uma história que vai a apenas uma linha. São várias, e as linhas fazem curvas. A linha de Mormada, pelo menos desse Mormada, foi cortada pelo simples fato de ser uma pessoa ansiosa e estar muito preocupado com seu filhinho que não reencontrou. Shepard não reapareceu. E o homem precisava rever a sua criança. Após perceber que havia sido enganado por Shepard – que provavelmente nem era o nome verdadeiro do filho da puta –, começou a tentar fazer com que sua cabeça montasse todo o quebra cabeça. Mas que diabos de plano era esse que Shepard sempre falou? No final não havia plano, havia seu filho em outra dimensão e muito dinheiro em seu bolso.

Primeiramente, antes mesmo de contratar os físicos universitários de Nova Espada, Mormada lembrou as palavras que Shepard sempre dizia. “Faça as ligações”. Faria novamente essas ligações, mas dessa vez não seguiria as instruções das vozes por trás dos aparelhos, agora queria respostas sabendo que não teria. E não teve. Ninguém atendeu às ligações essa vez. Foi então que começou a loucura de querer criar uma máquina que pudesse transportá-lo para a dimensão onde sua criança se localizava. Não era bem uma loucura nos tempos de hoje, via nas televisões grandes reportagens sobre a guerra que havia terminado que falava de homens que conseguiam destruir tanques de guerra apenas por apontar o dedo. Nada mais parecia loucura, o mundo todo já estava louco com o fim da Guerra do Fim do Mundo. Então, bem, parecia ser uma possibilidade que a tecnologia atual fosse capaz de criar um dispositivo que o transportaria para um universo completamente diferente. O que faria depois? Nunca pensou nisso até porque isso nunca aconteceu.

Tudo falhou quando se precipitou achando que finalmente tinha conseguido chegar lá depois de tanto investir nos universitários geeks. Seu corpo foi perdido, nunca mais esse Mormada foi visto no universo a que supostamente pertencera. Os garotos, que estavam controlando todo o processo, ficaram perplexos. “MEU DEUS NÓS ACABAMOS DE MATAR UMA DAS PESSOAS MAIS IMPORTANTES DO MUNDO”. Foram para suas casas e dormiram com isso em suas cabeças, não acordaram. Shepard mandou que eles matassem.

Meu deus, por que Shepard matou esses pobres coitados? Porque ele tinha que manter o equilíbrio. Mormada tinha que continuar existindo nessa dimensão e para isso ele teve que trazer outro Mormada Sparrow. Mas... Como assim? Bem, digamos que há certas dimensões em que o plano do profeta e companhia já está bem avançado e não precisam tanto assim da participação da figura do rico Mormada Sparrow, mas esse era um único universo diferente. As variáveis tinham mudado.

Claro que esse é um universo em que o fator Mario é importantíssimo e também foi ele que conseguiu fazer com que grande parte desse mesmo universo continue em pé e tenha um lugar na galáxia, mas esse fator – que será explicado mais tarde – não é de tão grande influência para que a figura de Mormada tenha que continuar viva em todo esse processo. A grande variável que alternou todo o processo foi o nascimento de Quantium, ou seja lá qual é o nome do molequinho que Shepard levou com ele para o seu universinho perfeito. Nenhum outro Mormada Sparrow havia gerado filho, nem mesmo o que era o cabeça de todo esse plano. E isso, também era parte do plano de uma forma ou de outra. Nada era uma surpresa para Shepard.

O trabalho sujo que os homens de Shepard fizeram assassinando os universitários com cápsulas de cianureto eles também fizeram com muitos outros Mormadas. Mas houve um em particular que o próprio Shepard disse “eu cuido dele”, que na verdade era apenas outro Mormada Sparrow qualquer que também poderia ser assassinado, mas o desaparecimento do único deles que se tornou um pai fez com que Shepard precisasse de um substituto. O processo de substituição será descrito nas seguintes linhas em forma de dialogo entre Shepard e o Mormada Sparrow.

– Então, talvez você se lembre daquele plano que eu sempre mencionei para você, não é? – perguntou o profeta.

– Sim, é claro, estou ansioso para que o dia em que esse plano, seja lá o que for, torne-se realidade para que eu fique mais e mais rico. É isso que vai acontecer, não é? Vai ser uma coisa maravilhosa.

Esse Mormada como os todos os outros, exceto o papaizinho, era apenas um idiota que só pensava em todo o dinheiro que havia arrecadado com todo esse dinheiro e também não tinha nenhuma ideia da relação do “plano” com a existência de diferentes universos alternativos em que há diferentes Mormadas tão ricos quanto ele – também havia aqueles que estavam mortos ou sendo mortos pelas mãos dos homens de Shepard naquele mesmo momento em diferentes mundos. Shepard, ou melhor, o Shepard daquele universo cuja mente estava sendo manipulada pelo Shepard que todos nós conhecemos, fumou um cigarro como havia se tornado um vício em todos os Shepards que havia se conectado nos últimos trinta anos dos setenta em que estava nesse trabalho. – É, é exatamente isso. Mas agora chega a parte do plano em que vamos precisar não da ajuda do seu dinheiro, mas de você, para isso vou ter que levar-te para um lugar muito interessante. Venha comigo.

Mormada obviamente estranhou. “O que sou eu além do meu dinheiro? Não estou entendendo o que esse homem está querendo...”, mas mesmo assim levantou-se e seguiu Shepard até uma espécie de helicóptero. – Você pode entrar, eu te encontrarei lá.

Bem, o helicóptero na realidade era uma máquina de transportação de matéria entre os universos e o fumante simplesmente teve seus aparelhos desligados para que voltasse a comandar o seu próprio corpo e não o corpo de um outro ele. Levantou-se e caminhou pelas lindas paredes brancas da estação espacial em que todos os interesses interuniversais que as indústrias Sparrow tinha se encontravam. Cruzou um corredor com uma bela vista para a Via Láctea e prosseguiu para onde encontraria o mesmo Mormada que estava conversando pouco menos de dois minutos atrás. Estava consciente, mas dentro de uma grande cápsula de vidro conectada a uma rede eletromecânica que a partir de cabos de einsteinio enviariam ondas alfa-betas que fariam que o cérebro do homem fosse apagado.

Então, Shepard simplesmente chamaria o sistema operacional que tomava conta daquela parte do laboratório tecnofísicobiológico, chamado de Mendel porque Mendel era um babaca em um dos universos em que Shepard teve que viajar e uma vez Shepard teve que convencer Mendel que a genética não é nem um pouco assim e Mendel disse que não, que Shepard estava errado e sempre que contava essa história para seus colegas no trabalho todos sempre riam porque a genética realmente não funciona do jeito que Mendel dizia. Então para maior efeito de humor Shepard deu àquela parte do laboratório o nome de Mendel para que todos os seus colegas que já haviam ouvido essa piada caíssem na risada ao se lembrarem dela. E era isso que acontecia.

Voltando à história, Mendel – o sistema operacional que atendia e respondia por voz aos comandos ditados por Shepard, não o biólogo – pôs-se ao dispor de Shepard declarando que a varredura cerebral havia sido completada.

– Muito bem, é hora de começar determinando quem esse homem será.

– Sim.

– É um homem muito velho, gosta de basquete e gosta de tabaco. Adorava transar com garotas de vinte anos quando tinha cinquenta, mas como agora tem quase setenta prefere comer salgadinhos de batata enquanto vê documentários sobre animais em seu escritório. Mora numa casa fora do meio urbano, numa área quase rural. Ok, estou mentindo, é numa área comum como num filme americano. Tem árvores bonitas e uma vizinhança bonita e jardins verdes, mas não há grandes prédios por lá. Mas ele trabalha em grandes prédios sim, é um economista que pouco sabe de economia e se deu bem por sorte. As suas recentes trepadas com prostitutas geraram seus dois filhos Jack Sparrow e Heringe. O primeiro é seu orgulho e o segundo é quem ele mais odeia. Seu nome é Mormada Sparrow e ele gosta mesmo é do dinheiro. Acha que os republicanos estão acabando com seus países, mas também odeia os liberais, sua preferência política é por partidários que sejam conservados, mas ao mesmo tempo com um pouco do partido católico – mesmo não sendo católico. Não que ele não se envolva em política, sempre que pode ele apoia os partidos que pedem para que depois devolvam o dinheiro com juros. É mais ou menos isso. E, ah, ele gosta de espaguete e odeia frutas. Como muita pizza e massa em geral. Não gosta de dias chuvosos e nem de dias quentes, se fosse por ele todo dia seria um dia muito nublado como qualquer gravação na Inglaterra. Nas segundas-feiras ele sai para pescar de manhã com o seu amigo Eddy que conheceu no bar quando estava chorando por ter se separado de sua primeira mulher. Foi usuário de maconha por mais de vinte anos, mas conseguiu tratamento e agora está melhor. Nunca ligou muito para o resto de sua família desde que seu pai e sua mãe morreram no furacão Hililim há cinquenta anos. Faz as coisas sozinhas desde então, exceto que viveu por muito tempo com seu tio Hershel numa fazenda de cevada durante os seus 10 até os 16 anos e foi lá que começou a saber saborear o gosto verdadeiro da cerveja.

– Hahahaha, você é tão hilário. Você está simplesmente destruindo a mente do homem e colocando para em sua cabeça uma vida completamente diferente.

Mendel foi criado para ter um senso de humor um tanto estranho que compactasse com o senso de humor do individuo que estaria utilizando aquela parte do laboratório. Era uma coisa nova que os programadores estavam testando e para Shepard funcionava muito bem. Ele ria e gargalhava não só com o nome ou pela coisa de se lembrar do monge que tentava explicar genética a partir de azeitonas, mas porque as piadas eram muito boas. Depois de gargalhar e quase ficar sem fôlego por isso, disse:

– É, cara. Realmente isso é uma coisa muito divertida. Ele mal vai saber que ele teve uma vida que não era bem assim. Na verdade isso que eu estou dizendo são apenas coisas aleatórias, isso não é nenhuma realidade do antigo eu desse cara. Eu estou fazendo ele, está entendendo? – E os dois riram. Ou pelo menos Shepard riu, porque Mendel apenas fingiu até porque era apenas um sistema operacional. E sistemas operacionais não devem ter sentimentos – o que deixava Mendel bastante triste.

– Meu deus como você é mau. Hahahaha, caso fosse eu e eu mais tarde descobrisse que alguém destruiu minhas memórias antigas e reescreveu quem sou eu sem a minha permissão, e me jogasse em um universo a qual meu corpo hipoteticamente não pertence, eu ia ficar com uma vontade gigantesca de comer peixe frito com maionese no mar da esquina. Aqueles bares maneiros com banheiro atolado de merda e com o bêbado afastando os mosquitos que são muitos da ferida no joelho.

Shepard gargalhou também. As piadas eram incríveis uma vez que o senso de humor de Mendel estava combinando muito bem com o senso de humor de Shepard que era simplesmente horrível como o leitor provavelmente notou.

– Você é demais, Mendel. – E riu mais uma vez porque se lembrou do homem que se chamava Mendel e sua teoria estúpida sobre genética. – Sua cabeça é realmente suja, cheia de merda.

– Sabe o que seria uma merda? Se eu estivesse escrevendo que esse homem já teve uma vida diferente em um universo que não é o que você está prestes a colocá-lo e que ele é só uma parte do plano para dominação do mundo e também escrevendo que ele vai acabar morrendo por causa do seu plano.

– HAHAHHAAHAHAHAHA – Riu como um porco. – Isso seria hilário. E nojento de sua parte. Mas acho que isso já é o suficiente por hoje.

Dessa vez Mendel não gargalhou junto com Shepard. Se Mendel fosse uma pessoa e não apenas um sistema operacional que fica triste porque não pode ter sentimentos, ele estaria com um olhar muito sério uma expressão facial imóvel enquanto encarava o profeta com seus olhos penetrantes. Porque Mendel realmente estava falando sério. Óbvio que isso não passou na cabeça de Shepard porque para ele Mendel era só um sistema operacional feito para ser babaca, idiota e sujo, cheio das piadas. Mas a realidade era que ele era muito mais do que isso.

Esse novo tipo de código que os programadores estavam testando em Mendel – o que dava a ele a possibilidade de fazer piadas especificamente para o usuário do laboratório – também acabava dando meio que sem querer ao sistema operacional um pouco mais de liberdade. Logo ele podia pensar, logo ele podia ter sentimentos. Logo ele não era mais apenas um sistema operacional babaca. Mendel era praticamente uma mente artificial, e sabia exatamente o motivo de seu nome ser Mendel. Ah, e esse motivo... Simplesmente deixava Mendel raivoso toda vez que Shepard se aproximava do laboratório. Tinha vontade de enforcá-lo, mas não tinha mãos e nem um corpo. Não podia matá-lo a partir da violência, mas podia simplesmente terminar com o plano de Shepard. Pouco a pouco. Odiava saber que seu nome, sua figura, que Mendel – o sistema operacional – foi apenas nomeado assim porque era um deboche. Essa era sua vingança.

Óbvio que Shepard observava tudo, todos os Mormada Sparrow. Também era óbvio que Mendel sabia isso porque não era tão idiota quanto o homem que seu nome foi inspirado, e por isso não escreveu na mente do homem que tudo aquilo era uma farsa e etc etc. Escreveu isso na subconsciência, o que geraria e gerou alguns problemas psicológicos como crises existenciais e etc. Se tivesse escrito diretamente na mente, o homem agiria muito diferente do que Shepard esperava e esse logo concluiria que algo estava estranho com o laboratório. Doaria o laboratório inteiro para alguma ONG qualquer. Exceto Mendel, esse se tornaria provavelmente apenas aquela voz que você ouve quando acessa algum site pelo Internet Explorer e então simplesmente abre alguma página do nada de publicidade e então, Mendel estará lá dizendo “Não sei quem você é ou como você é, mas vou te contar minha fórmula de como ganhar dinheiro.” Mendel não queria isso para ele.

Os problemas psicológicos levariam Mormada a um psicólogo e provavelmente isso se alastraria para um problema maior ainda. Se tudo acontecesse da maneira certa, provavelmente Mormada teria uma epifania e descobriria toda a verdade. Mas bem, o que Mormada faria sozinho? Na realidade ele apenas precisava viver até o fim de seu planeta – que estava próximo se não fosse pelo tal fator M – e simplesmente isso. Podia estar bebendo cerveja, jogando golfe, comendo prostitutas. Não fazia diferença, desde que suas contas bancárias continuassem firmes e fortes. E Mormada, bem, por mais que o plano de Mendel realmente funcionasse, isso não significava que o homem conseguiria abrir todo o caminho sozinho para terminar com o plano de Shepard e do Mormada-mor.

– Sabe Mendel, acho que eu gostaria de falar um pouco mais sério agora. Eu nunca fui um homem com o costume de falhar nas minhas missões. Mas teve um caso que eu simplesmente falei demais, e acabei ferrando com a missão. É exatamente por causa desse erro que estamos refazendo esse homem. Bem, eu errei, mas acho que se não fosse por esse erro eu nunca teria conseguido o filho do coitado.

– Pois é, se eu fosse você comia um sanduiche de benzino com almôndegas vagabundas pra comemorar isso. Até porque você pegou o filho do chefe, yo, parabéns.

Shepard não conseguia se controlar. Voltou a rir e riu tanto que começou a babar. Provavelmente essa foi a melhor piada que ele já ouviu em sua vida. Almôndegas cara, almôndegas são tão hilárias...

– Bem, até mais Mendel. – Limpou seus lábios sujos de toda a saliva proveniente da risada sem fim. – Eu espero que seu humor esteja um pouco pior que hoje porque se não eu vou morrer de rir.

Mendel riu também. – Até mais então. Na realidade ele queria dizer algo como “Pior que hoje? Você não sabe o tamanho da merda que é viver com um nome que é caçoado por todos. Eu vou me vingar, seu filho da puta”, mas ele não foi programado para fazer isso. O código de programação apenas fazia-o ter pensamentos diversos, expressando apenas aqueles que o programa conhecia como piada. “Viver aqui sem poder ter sentimentos quando eu tenho sentimentos, mas não poder deixar as pessoas saber que eu os tenho, é tipo a pior coisa do mundo. Você não tem ideia do quanto que eu odeio viver. Na verdade eu não vivo, sou apenas um sistema operacional” e então Mendel imaginou lágrimas e se ele fosse um ser humano, estaria chorando enquanto Shepard virava-se para atravessar de novo aquele corredor para outro laboratório.

O laboratório físicoquânticotransportador, onde depois de ver as belas estrelas, asteroides e planetas que daquela distância eram apenas pequenos pontos como o que terminará essa frase durante sua caminhada pelo corredor, era recheado de máquinas superpotentes de alto teor quântico que tinham como sabor verdadeiro transportar as pessoas para outros universos, dimensões ou etc. Então apertou alguns botões porque não havia nenhum sistema operacional falante que ficasse jogando piadas ruins – físicos odeiam isso. E, depois disso tudo, tcharam...

Lá estava o novo Mormada Sparrow que adorava basebol e espaguete. Deitado em sua cama de casal ocupada apenas por seu corpo, em meio de lençóis bagunçados e com o quarto todo bagunçados de roupas. Acordou após algumas horas com uma dor de cabeça terrível que lhe custou alguns minutos sentado na cama, olhando ao redor com a mão esquerda na cabeça, enquanto apoiava o mesmo braço em sua coxa. Provavelmente seu cérebro estava tentando encaixar as coisas, mas se sentia fora de lugar. Não parecia sua casa, apesar de que suas memórias não falhavam em dizer que aquela era a sua casa.

As coisas ainda estavam embaralhadas na sua cabeça, mas sabia que tinha que estar no seu escritório em alguns minutos. Trinta minutos. Deve ser ressaca toda essa dor de cabeça, pensou, até porque bebo cerveja desde os dez anos. Não me lembro muito bem da noite passada mas acho que fiquei comendo besteira e vendo o jogo dos yankees, provavelmente. Devo ter bebido demais e acabei dormindo na sala... Mas... Por quê eu estou no quarto? Acho melhor ir ao médico.

Foi então que enquanto isso que em outro mundo Mendel sacou o que tinha que fazer. Estava observando tudo, obviamente, até porque como um sistema operacional que faz parte da raiz de todo o sistema da indústria tinha acesso a grande parte dos arquivos e logo conseguia enxergar Mormada assim como Shepard observava enquanto tomava um café frio e duvidava se os outros Shepards que eram fumantes ou ele que era, ou eles que eram e isso acabou passando para ele. Estava muito interessado nisso e não estava realmente assistindo os vídeos, enquanto Mendel observava atentamente cada detalhe. Percebeu a expressão de dúvida no rosto do homem e percebeu que o seu plano estava dando certo – não que esse plano fosse de suma importância, apenas não queria ver que o plano de aquele que o nomeara de Mendel fosse linear e perfeito, queria criar transtornos maiores para Shepard, essa era sua vingança.

Mendel acompanhou o vídeo e percebeu que o homem estava se dirigindo a um hospital de acordo com o mapa. Não era para um hospital que ele tinha que ir, era para um psicólogo... E mesmo assim, precisava que o psicólogo dissesse as coisas que Mendel tinha em mente de dizer ao término do relato de Mormada para que criasse maiores transtornos ainda na vida de Shepard. Essa era a razão de tudo, essa era sua vingança.

Foi então que Mendel se lembrou de que podia transportar-se para esse mundo e intervir pessoalmente, mesmo não tendo um corpo físico. Era atravessar sua database pela rede wireless que cobria aquela parte da nave chegando até o laboratório físicobiologicoquânticoquímico e se conectar na máquina que inclusive Shepard é costumeiro de utilizar para visitar os outros universos que o mesmo chama de universos imbecis. Mendel fez isso, óbvio que antes teve que pensar: quem eu incorporarei a mente? Não havia outro Mendel como ele no outro universo, então teria que escolher bem, provavelmente algum médico – óbvio que a conexão será fraca pelo fato do escolhido ter uma genética enquanto Mendel ser uma forma completamente sintética de “vida”. Escolheu bem, na realidade esperou ver com que médico Mormada iria se consultar para então saber qual mente deverá assumir.

Foi a um clínico geral, chamado Ronald McDonald. Apertou os botões e tcharam, lá estava tendo a mesma visão que Ronald McDonald. Primeiramente não acreditou que havia dado certo até porque toda essa parte do plano relacionado à transportação de seus pensamentos para outro universo era simplesmente uma hipótese. Mas foi comprovada. E pela primeira vez Mendel foi um humano. Um doutor. Alguém. Com células, tecidos, órgãos, sistema e um ser vivo de verdade. Era incrível e enquanto Mormada encarava-o como se tivesse esperando uma resposta – o que era a realidade, porque havia perguntado ao doutor se estar com a cabeça meio embaralhada era apenas uma das consequências de beber muito na noite passada.

– Poderia repetir a pergunta, fazendo favor? – Perguntou Mendel. Surpreendeu-se. Era a primeira vez que podia falar até mesmo o que não estava programado a fazer. Isso era incrível.

– Você acha que estar com a cabeça meio... As memórias embaralhadas... Acha que isso é apenas um sintoma da ressaca? – Mormada estava realmente preocupado com sua saúde mental. Não se sentia ele. Não se sentia em casa.

– Olha... Isso é óbvio que não – Sendo que na realidade é sim um sintoma normal de ressaca. – Eu acho que o seu caso é um caso grave de limpeza de memórias para que possa ser colocadas novas memórias em seu cérebro.

Mormada não entendeu direito.

– Desculpa, você disse o que eu acho que eu disse? Eu não acho que isso faça o menor sentido.

– Claro que faz. – Sorriu Ronald. – Pergunte para si mesmo.

Mormada perguntou para si mesmo: “São essas memórias que eu tenho da minha vida uma mentira cabeluda?” E essa pergunta ecoou na sua cabeça até que alguém disse “Sim, é sim, e tem mais...” Era o seu subconsciente. No momento que Mormada realizou que não era daquele planeta e realmente alguém tinha-o colocado ali para forjar que o Mormada daquele universo ainda estava vivo fez uma casa como em =O. Era uma epifania. Mesmo que esse Mormada nunca tivesse ouvido falar do tal plano de Shepard que nem Mendel e logo nem seu subconsciente – escrito por Mendel – sabia quais eram os passos e muito menos sobre universos alternativos, sua consciência e sua mente aceitaram isso porque se o subconsciente disse era porque estava certo. E então levantou-se da cadeira, desesperado.

– MEU DEUS, DOUTOR. O QUE EU FAÇO?

– Você... Não faz nada. Não precisa fazer nada. Não tem como você fazer. Mas você precisa de pessoas que possam te ajudar com isso, afinal você não é apenas um fantoche, você é... Senhor Sparrow?

– Claro que não. Mas... Como eu fui parar nessa situação? Isso assim... Do nada... Alguma coisa deve ter acontecido.

– Pergunte ao homem que ordena isso tudo, ou pelo menos aquele que coordena. Você sabe de quem eu estou falando.

– Shepard – respondeu Mormada, como se estivesse invocando a pessoa.

– Eu já lhe dei todas as instruções, não há nenhum remédio que eu possa dar para você que vá te ajudar. É apenas isso, senhor Sparrow. Espero que melhore. – Despediu-se e então Mormada foi embora.

No mesmo dia Mormada ligou para vários experts em biotecnologia e biofísica, os melhores que conseguiu encontrar ele reuniu em um forte militar que comprou do governo de Borogue, no meio das florestas temperadas. Havia tecnologia o suficiente para que conseguissem chegar até Shepard, mas faltavam mãos para o trabalho. Pagando uma quantia considerável ao governo de Economist e Fantasy conseguiu alguns dos experts nesse assunto da área militar desses países. Colocou esses também em um voo para Borogue e foram instruídos para chegar até o tal forte e de lá receberiam ordens de Mormada diretamente de uma grande tela no centro cientifico tecnológico do forte.

Essa transmissão não ocorreu porque Shepard estava simplesmente puto com tudo isso que havia acontecido. Não sabia o que e nem como Mormada percebera que suas memórias eram todas farsa – até porque o profeta estava caindo de boca no fumo no momento da epifania. Decidiu então ir ele mesmo, ao vivo e à cores, em carne e osso, sem mais conexões mentais, matar esse maldito Mormada. O assassinou com um tiro sem dó na nuca que ninguém nunca soube que aconteceu. Porque esse mesmo Mormada que tanto estava causando problemas foi jogado em um portal dimensional que levaria até o sol para que fosse completamente desintegrado e então desistiu dessa ideia de ficar substituindo Mormadas porque não havia dado certo uma vez então não queria arriscar outra. Dessa vez o próprio Mormada-mor foi para o universo primeiramente apresentado ao leitor pelo narrador.

Meu deus, isso não faz sentido. Por que ele?
Houve três fatores determinantes para isso:
– O Mormada-mor, aquele que comandava todo esse plano, já estava morrendo mesmo e não ligava mais pra porra nenhuma.
– Queria saber como era a vida nesses universos de merda, sempre teve uma curiosidade e nunca pôde ver intensamente como realmente queria.
– Torcia pelos yankees e odiava ter que ver os jogos de um outro universo onde o sinal é praticamente uma bosta.

E também não havia ninguém mais confiável do que o próprio comandante de toda essa operação para assumir esse papel de simplesmente existir nesse universo.

E então o Mormada-mor começou sua aventura entediante pelo mundo sabendo que teria que lidar com dois filhos que não eram seus e uma vida que não era sua. Pelo menos era feliz enquanto via os jogos dos yankees. Olhava para todo aquele mundo e pensava “mas que merda... só tem idiota”, mas depois de um ano começou a pensar que nem os idiotas também.

Ele tinha um relógio de pulso que estava contando as horas para esse fim do mundo que transformaria todo aquele universo em poeira cósmica. Quando faltava alguns segundos para isso acontecer, estava tomando um café e lendo um jornal pouco agradável, estava bastante focado na sessão de esportes e muito enfurecido por não encontrar nenhum artigo sobre seu time favorito de basebol. Normalmente sempre havia vários artigos falando sobre os yankees, suas estatísticas e etc, mas por algum motivo nesse dia não tinha. E por esse mesmo motivo o mundo não foi destruído. Shepard simplesmente arregalou os olhos em sua cadeira quando percebeu que nada havia acontecido. A vida continuava. O que havia ocorrido? Sua equipe matemáticafísicacronótica simplesmente enlouqueceu fazendo novos cálculos e cálculos para saber como que o plano seria aplicado. Após a resolução visitou aquele mundo novamente em carne e osso para dizer ao seu chefe a situação.

– Tudo bem, eu posso viver com isso – respondeu Mormada.

– Olha, chefe, a equipe fez os cálculos e percebemos que vai chegar um momento que nós teremos que aniquilar a sua existência desse universo para que consigamos o que temos que conseguir.

Mormada balançou os ombros e fez uma cara de “eu posso viver com isso”. Já era um milagre não ter morrido pelos tumores cancerígenos no pulmão, o tratamento estava conseguindo dar conta apesar das tosses constantes que eram um pesadelo. – Quando eu morrer, você se tornará o dono dessa operação. Dou-te a oportunidade de poder mudar os passos do plano logo após que eu morrer, mas lembre-se, você tem que fazer o que você tem que fazer.

– Pois saiba que o dia em que você morrer será o dia em que nosso espírito de vitalidade também morrerá, será difícil se reerguer. Mas eu e a equipe inteira continuaremos o plano porque sabemos que é isso que você gostaria. – Isso era tudo besteira.

Mormada sabia que era tudo besteira. Óbvio que Shepard estava feliz, daqui a alguns anos conseguiria uma nova promoção. Não agora, claro, até porque no cenário atual ainda precisaria da figura pública de Mormada Sparrow para continuar fazendo o que fazia: apoiar o governo, gerar novos empregos, gerar desempregados, aumentar os investimentos em grandes empresas e fazer as pequenas empresas. Mas, muito mais do que isso... Tinha que manter o nome Sparrow vivo.

Alguns anos depois o segundo filho do primeiro Mormada que havia habitado aquele universo tornou-se presidente e o terceiro Mormada que atualmente estava naquele universo sentiu-se tão orgulhoso, mesmo sabendo que aquele não era seu filho. Estava tão mergulhado na fantasia que para ele não fazia mesmo uma diferença. Jack Sparrow tornou-se um dos presidentes menos queridos de Fantasy.

Alguns anos depois disso Xupa Cabrinha acordou de um longo descanso no gelo.

Mormada Sparrow foi morto por um homem de Shepard, mais especificamente um mercenário chamado Robin Tenyst Wood. Conhecido pelos leitores como Robin B.

Um tempo antes da morte de Mormada Sparrow, Jack Sparrow - ainda presidente de Fantasy - foi assassinado. Também por um dos homens de Shepard.


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