Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 21
Ódio, pesar, tristeza...


Notas iniciais do capítulo

Mia Peckerham.
Mia: M de Maluca, I de Idiota e A de Anencéfala.
Sinceramente, vocês acham que eu faço vocês sofrerem com minhas reviravoltas, mas eu mesma já passei por tantas que estou prestes a vomitar minhas tripas... Tenho que parar de escrever mil e um plot twists por capítulo...

Mas, anyway, espero que gostemmmm! Esse cap., preciso avisar, está um pouco mais sanguinário que o comum... Não querendo dar spoilers mas já dando: se você é do tipo que não gosta/não tem estômago pra imaginar cenas de horror/terror/sangria/morte/etc, sugiro que leia apenas superficialmente as cenas entre Erica e Kirk... SINTO MUITO POR ISSO, TAMBÉM! ;-;

Avisos à parte, boa leitura! ;D



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O mundo de Erica caiu de uma vez e ela sentiu que seus pés flutuavam sem chão para pisar. Seus ombros se retesaram e seu rosto se contorceu numa careta que não are nada além de dor.

E, naquele momento, sentiu ódio.

Sentiu aquele tipo de ódio líquido e puro que ela achava já ter sentido antes, mas que na verdade não sentiu. Era um ódio inédito que ela não tinha sentido nem em relação à Orla; pelo menos não até agora.

Mas seu ódio não se limitava à rainha. Erica sentia que o ódio estava invadindo seu coração, seus olhos, sua boca. Cada poro de seu corpo exalava ódio. Sentia ódio de Eric, que não soube se disfarçar direito; sentia ódio de Daragh, por não tê-la matado quando teve a chance; sentia ódio das regras daquele reino, de sua miséria, sua pobreza.

Ouviu uma voz familiar chamá-la pelas costas. Era ezekiel. Erica sentia ódio dele, especialmente. Ódio porque aquele plano fora, desde o começo, um plano que livraria a cara dele. E sentia mais ódio ainda porque quase se apaixonara por aquele príncipe.

Quase. Agora, só sentia ódio.

– Erica, eu sinto muito... – Ezekiel sussurrou, mas Erica o ignorou.

– Quero vê-lo. Eu quero ver meu irmão agora – a plebeia disse. Os guardas soltaram o rapaz que viera à sua procura e Erica o seguiu para fora do castelo, tal como Orla desejara desde o começo. Erica sentia ódio de si mesma por não ter saído de lá antes e deixado que o príncipe se virasse sozinho.

– Erica, espere! – Ezekiel a chamou. Erica ouviu seus passos atrás dela. - Erica!

A garota, já impaciente e nervosa, virou-se com rapidez e acertou o rosto do nobre rapaz com a palma aberta de sua mão, um tapa bem dado que arrancou um suspiro em uníssono de todos os presentes no salão.

***

Ezekiel encarou a moça com expressão tranquila. Não se importara de verdade com o tapa; sabia que Erica precisava deixar esvair suas emoções. Ela tinha lágrimas nos olhos, mas Zeke sabia que não eram de tristeza, e sim de raiva.

– Não quero mais te ver – a plebeia praticamente cuspiu as palavras. – Nem com todo o ouro que tiver para oferecer. Não quero mais vê-lo nem morto. Só quero que fique longe de mim.

A garota puxou a barra de seu vestido e saiu correndo pela estrada que levava à saída do castelo acompanhada por Thomas, e o príncipe nada pode fazer além de vê-la se afastar, ver ir embora a única princesa que ele gostaria de ter ao seu lado para sempre.

***

Erica e Thomas foram a pé do castelo até a rua escura da casa do ferreiro, em silêncio, como dois mudos andando juntos. A noite estava fria e neve caía bem de leve sobre tudo, mas não o suficiente para tingir tudo de branco, de modo que não havia sequer uma cor clara para iluminar as ruelas fedorentas onde tinham de entrar.

De longe Erica avistou várias lanternas caseiras, tochas e velas, bem diante da porta de Baruc, e apressou-se em puxar seu vestido até os joelhos. Detestava aquela saia; aliás, agora havia poucas coisas que Erica apreciava. Só tinha amargura e ódio dentro de si.

Quando encontrou a multidão, vários de seus conhecidos a encararam sem entender o que estava acontecendo, o porquê de ela estar tão bem arrumada, o porquê daquele vestido... Erica não parou para explicar nada a ninguém. Foi abrindo caminho em meio à roda viva de gente cochichando quando encontrou a silhueta agachada de um homem grande, forte e largo. Era Baruc.

Erica o chamou e ele virou-se em sua direção. Distanciou-se do chão e saiu da frente do pequeno monte coberto por uma capa negra. O tamanho miúdo e o formato humano trouxeram as lágrimas reprimidas de volta aos olhos azuis de Erica. Ela ajoelhou-se ao lado do corpo coberto pelo manto escuro e delicadamente puxou-o para longe do rosto do garoto.

O rosto de Kirk estava intacto, quase ileso, a não ser por um fio fino de sangue que escorria de sua boca. Os olhos azuis do garoto ainda estavam abertos, fixos no céu nublado e na lua cheia que emergia por entre as nuvens.

– Deixei-os abertos – Baruc sussurrou, ajoelhando-se ao lado de Erica e apontando para os olhos do menininho. – Achei que talvez você gostaria de vê-los...

Erica assentiu. De qualquer forma, veria aqueles mesmos olhos sempre que encarasse seu reflexo num espelho.

Usando os dedões, Erica fechou finalmente os olhos de seu irmãozinho. Segurou a barra do manto que ainda cobria o corpo do peito para baixo e estava prestes a puxá-lo tal como Jade fizeram com a seda que escondia seu vestido, mas Baruc segurou sua mão, parando-a.

– Não puxe – ele disse.

Erica o olhou, intrigada, e ele soltou sua mão. Se Baruc dizia que não era uma boa ideia, definitivamente não era, mas Erica queria vê-lo por completo.

Puxou o manto escuro e, como havia imaginado, Baruc estava certo. Deveria ter deixado o manto onde estava.

A barriga de Kirk estava rasgada e furada, totalmente desfiada e tão aberta que se podia ver o outro lado. O cheiro de sangue subiu ao nariz de Erica instantaneamente, e ela prendeu um pouco a respiração. Depois, quando se acostumou, sentiu seu corpo estremecer e perder o resto de força que ainda tinha. Caiu sobre o corpo sem vida do irmão e chorou todas as lágrimas que vinha tentando reprimir. Ninguém a tocou, ninguém tentou pará-la. Erica apenas deixou-se entregar à dor enquanto apoiava a cabeça no ombro pálido de seu irmão e sentia seus lisos cabelos pela última vez.

***

Ezekiel subiu a escararia de cara fechada e foi encontrar sua mãe que, muito descontraída, bebia um cálice de vinho.

– Cancele este baile – ele disse. – Eu vou atrás dela.

Orla o olhou, estupefata:

O que? Meu filho, ela acaba de bater em você! E em público! Não pode estar mesmo querendo ir atrás daquela ordinária!

– E acha que eu devo ficar aqui fingindo que nada aconteceu, enquanto ela está lá fora fazendo sabe-se lá o que?

– Não entendo porque se preocupa tanto com a ausência daquela peste. Há tantas princesas aqui... Francamente, aquela garota não faz falta...

O príncipe estava prestes a discutir com sua mãe quando um guarda se aproximou e fez uma reverência à rainha, e cochichou algo ao ouvido dela. O guarda estava com o braço numa tipoia e seu rosto tinha uma queimadura horrenda coberta com um emplastro feito há pouco tempo, numa tentativa de amenizar a dor.

– Aonde foi que se queimou assim, Janos? – Ezekiel indagou, desconfiado.

Janos, o guarda, o encarou, depois trocou olhares nervosos com Orla, que o ignorou por completo; o homem queimado então se voltou ao príncipe:

– Aquele jovem que entrou à procura de Erica... Era bom de briga – o guarda riu com desdém forçado.

Zeke estreitou os olhos e repassou a cena de Thomas gritando o nome da plebeia.

– Mas ele não carregava nada que pudesse queimá-lo desse jeito...

– Oh, talvez vossa alteza não tenha percebido...

– Não – Ezekiel teimou. Lembrava-se de quando era pequeno e via Alfred, seu ferreiro pessoal, forjar espadas para os nobres cavaleiros das vilas. Certa vez, Alfred se queimou com a liga de aço fundido. – Tenho certeza. Isto é marca de metal quente, não de fogo.

O guarda novamente procurou os olhos de Orla, que se distraia fingindo que ele não existia em seu mundo. Ezekiel começou a ligar os pontos. Aquela queimadura o lembrava de um lugar onde já estivera com Erica.

Você mandou matar Kirk – ele acusou a rainha. – Tinha informantes. Sabia que ele estaria cercado na casa do ferreiro.

– Não seja estúpido! – Orla riu. – Sabe como é grave essa acusação que está fazendo...

– Se não tem nada a ver com isso, como explica a morte do garoto? E o seu guarda ferido à ferro? Foi também culpa de Erica, assim como a morte de Martin?

A rainha o encarou com nojo no olhar:

– Não ouse usar o nome daquela garota e o de seu irmão na mesma frase nunca mais.

– Preciso ouvi-la jurar por Ophélia que não tem relação alguma com a morte de Kirk, assim como não teve com a de Martin – Ezekiel resmungou, a voz cheia de pesar. Tinha medo da resposta, mas sabia que seria verdadeira. Jurar pelo nome de Ophélia era a coisa mais sagrada que poderia existir, e nem mesmo Orla quebraria essa regra com uma mentira tosca.

Mas, ao invés de apresentar uma resposta única e clara, a rainha aproximou-se do filho e encarou-o com expressão estranhamente vaga:

– Tudo o que eu fiz foi para proteger você daquela vadia.

De um jeito ou de outro, Ezekiel tinha sua resposta. Fitou sua própria mãe com amargura e virou as costas a ela e ao salão de festas. Foi até o estábulo e montou em seu cavalo, levando ao seu lado o Loiro de Erica puxado pela rédea.

***

Erica ainda chorava copiosamente sobre o corpo de seu irmão quando ouviu cochichos na multidão e o som de um trote regular na estrada. Não se moveu até que Baruc a chamou e cutucou sem ombro, e então ela julgou que poderia ser algo importante e levantou levemente a cabeça.

Era o príncipe. A garota admirou-se com o fato de ele ainda estar ali depois do show de horrores que havia demonstrado no baile.

– Pensei que havia sido clara quando disse que não queria mais vê-lo – ela rosnou. – Volte para o seu castelo e respeite o meu luto.

Ezekiel, ao invés de intimidar-se, desmontou do cavalo e assobiou. Kahal, o Loiro, apareceu por trás de uns arbustos. O príncipe debruçou-se sobre o corpo de Kirk e pegou o manto negro que haviam usado para cobri-lo.

– Onde encontrou isso? – Perguntou.

– Estava caído no chão ao lado do garoto – Baruc respondeu secamente.

Ezekiel vasculhou todo o tecido até encontrar o símbolo do castelo de Lionsgrowl cosido em linha prateada no manto.

– Pertence a um dos guardas de minha mãe – ele sussurrou.

– Eu já imaginava isso – Erica foi curta e grossa. – Se veio apenas para buscar seu manto, agora já pode ir embora.

O príncipe, relevando a frieza da moça, assobiou novamente, e desta vez o cavalo de pelos cor-de-trigo se aproximou.

– Vamos voltar ao castelo – Zeke disse. – Eu e você.

Erica o encarou, incrédula. Queria acreditar que o príncipe estava brincado, mas nunca vira uma expressão tão determinada em seu rosto.

– O que você quer naquele inferno de castelo? – A plebeia cuspiu as palavras; nunca se sentira tão frágil e vulnerável como agora. O nobre precisaria de um bom motivo para fazê-la dar as caras por lá novamente.

Ezekiel não suavizou nem um pouco o toque decidido de suas feições:

– Eu e você perdemos nossos irmãos mais novos. Acho que estamos de acordo que temos uma rainha para punir.


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Notas finais do capítulo

"Acho que estamos de acordo que temos uma rainha para punir."
Sinceramente, eu já sei o que vai acontecer e mesmo assim ESTOU CURIOSA. Essa fic ACABOU comigo.
Acho que mereço um reviewzinho, não é? asdfghjkljhgfds



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