My Soldier escrita por LilyCarstairs


Capítulo 6
Chapter VI




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452705/chapter/6

Outras duas semanas se passaram, e Julie ainda estava com o mesmo pensamento sobre Ryan. Agora ela já não chorava, nem estava mais instalada na minha casa, ia para a escola e fazia coisas normalmente - talvez um pouco menos animada do que o normal, mas ainda assim fazia. Já Ryan estava cada vez pior, mais desanimado e triste a cada dia, segundo Jonathan.

Julie ainda era minha melhor amiga, mas eu não conseguia entender seu pensamento de abandonar o próprio namorado para evitar sofrer, porém continuar sofrendo. Não fazia sentido algum. Nenhuma de nós falava do assunto, pois toda vez que isso era discutido, Julie simplesmente ia embora sem falar nada.

Hoje, sábado, ela chegou à minha casa cedo. Cedo demais. Nove horas da manhã e ela já estava lá, relatando todas as coisas entre melhores amigas que faríamos hoje. Ela não estava animada como costumava ser. Na verdade, ela não era animada desde o fim do namoro, mas eu não comentei isso em voz alta, apenas concordei com tudo o que ela falou que faríamos hoje, como: ver filmes, desenhos, séries, fofocar e tudo o mais.

Tudo corria bem, até que a surpresa do dia apareceu inesperadamente: Jonathan, acompanhado de Ryan. Quando abri a porta, ele entrou e começou a falar sobre ter trazido o Ryan porque ele precisava conversar com a amiga da Julie pra tentar convencê-la a voltar com ele e blá blá blá. Não pude impedi-los de entrar.

– JoJo, ela está aqui... – tentei começar a explicar, mas já era tarde.

Ryan estava parado, encarando Julie. Ela olhava inexpressiva para o pobre garoto.

– Julie... – ele começou, dando um passo à frente.

– O que faz aqui, Ryan? – a voz dela era baixa.

– Vim pedir para você me aceitar de volta. Ouça, isso tudo é sem sentido... – ele se aproximou ainda mais. – Nós nos amamos, e você sabe disso. Pare de me tratar assim, Juliette.

Era raro alguém chamá-la pelo verdadeiro nome: Juliette. Ela não gostava do nome que seu pai havia lhe dado e preferia o apelido. Poucas pessoas que sabiam de seu nome, a maioria pensava que o nome era de fato Julie. Ela fez uma careta ao ouvir o nome.

– Por favor, vá embora. – ela foi breve.

– Juliette, pare de ser infantil e entenda o meu lado. – a voz dele juntava magoa e raiva, ele se aproximou e tocou o rosto dela.

Eles se olharam por um tempo, em silêncio. Ryan se aproximou e beijou Julie, passando seus braços em volta da garota. Julie pareceu surpresa no início, mas logo se encolheu como se sentisse culpa. Quando o beijo terminou, ela se afastou. Ela estava com lágrimas escorrendo silenciosamente pelas maçãs do rosto.

– Não piore tudo, Ryan... – ela pediu, se afastando devagar. – Apenas aceite que é o melhor pra nós dois. Você vai embora daqui algum tempo, é só questão de tempo até o exército te chamar e nos separarmos...

– O que você está dizendo, Julie? – ele perguntou.

– Quanto mais cedo nos acostumarmos a viver sem a companhia um do outro, menos doloroso será. – conforme ela falava, as lágrimas apareciam nos olhos dele.

Ela fechou os olhos e suspirou uma vez, em seguida se virou e subiu as escadas correndo, pude ouvir o barulho da porta sendo trancada no andar de cima. Ryan sentou-se no sofá e colocou a mão no rosto.

Troquei um olhar triste com Jonathan. Ele caminhou até Ryan e eu subi as escadas correndo, até onde Julie estava. Estava trancada dentro do meu quarto, eu bati na porta algumas vezes, mas não obtive resposta.

– Julie, sou eu! Abra a porta!

Ela olhou por uma brecha da porta, creio que estava verificando se Ryan me acompanhava. Quando viu que não, abriu a porta e eu entrei. Olhei seriamente para minha melhor amiga. Seus olhos estavam vermelhos, e as lágrimas continuavam a correr incansavelmente.

– Por que você o trouxe aqui, Liz? – ela perguntou entre soluços.

– Eu não sabia que ele viria, Julie. Você sabe que eu jamais faria isso com você.

– Ele precisa desistir disso, para o bem dele. – ela sentou-se na minha cama e esticou os braços, pedindo um abraço silenciosamente.

Aproximei-me e abracei minha melhor amiga. Ela deitou a cabeça em meu ombro e senti as lágrimas molhando a minha camiseta.

– Faça-o desistir disso, ele só vai sofrer se continuar insistindo. – ela me pediu, em meio aos soluços.

Eu não respondi. Como poderia? Ele a amava e já havia dito que jamais desistiria, eu não poderia lhe pedir isso, nem convencê-lo disso. Julie estava jogando fora o garoto que mais a amou em toda a sua vida, espero que ela se dê conta disso antes dele ir embora.

~

Na mesma noite de sábado, a festa de aniversário de Jonathan estava marcada para começar às sete e meia. Julie não queria ir, então acompanhei a garota até sua casa e depois segui meu caminho para a casa de Jonathan. Antes mesmo de chegar perto da casa, consegui ouvir a música alta. Eu não gosto de festas assim, mas era o aniversário do meu namorado, então eu teria de ser forte e aguentar uma festa barulhenta cheia de jogadores dos times da escola. Que a força esteja comigo.

Passei pelos carros estacionados e passei pela porta aberta, adentrando na casa de Jonathan – geralmente um ambiente calmo, mas não hoje. Pessoas dançavam, bebiam, conversavam e todas as coisas que acontecem em festas. Eu tentei não parecer enojada com o cheiro de bebida, então apenas desviei de todas as pessoas bêbadas no meu caminho. Claro que não era um pandemônio como eu fiz parecer, mas ainda assim... Argh, festas.

Encontrei Jonathan perto da cozinha, conversando com alguns garotos do time. Eu sabia que ele não bebia coisas com álcool, então deduzi que o copo que ele segurava continha refrigerante. Ele sorriu para mim e me convidou a participar da conversa, quando me aproximei ele passou seu braço em volta de mim. Sorri constrangida para os outros jogadores do time.

– Preciso apresentar Lizzy para algumas pessoas, com licença. – ele pediu, me levando para longe dos amigos dele.

Saímos de perto do barulho principal, subindo os degraus da casa que levavam ao segundo andar, paramos na segunda porta, uma espécie de sala. Ele abriu a porta e deu passagem para que eu entrasse no cômodo. Duas pessoas estavam lá, olharam para nós quando a porta foi fechada.

– Mãe, pai... Quero que conheçam Elizabeth Wright, minha namorada. – Jonathan falou, apontando para mim.

Senti o rosto corar. Os pais de Jonathan sorriram para mim. A mãe dele se levantou primeiro, o cabelo escuro - como o do filho - estava preso em um rabo de cavalo, os olhos verdes brilharam quando apertou minha mão. As rugas em seu rosto se intensificavam quando ela sorria, mas era uma mulher de meia idade bonita.

– Eu sou Anna Marie. É um prazer finalmente te conhecer, querida! – ela falou alegre. Em seguida, falou baixo o suficiente para que apenas eu ouvisse: – Jonathan nos falou tanto de você!

O pai se aproximou e apertou minha mão. Lembro-me de Jonathan ter contado que ele era um veterano de guerras, e de fato parecia um. Alto, forte, loiro (os fios grisalhos se misturavam com os fios loiros), olhos escuros e com a barba a fazer. Sorriu para mim e uma cicatriz perto de seu olho apareceu, provavelmente um fruto das guerras em que esteve. Eu não perguntei sobre, apenas sorri de volta.

– Me chamo David, é um prazer conhecer a namorada do meu filho. – ele olhou para Jonathan por um tempo antes de completar: – Finalmente uma namorada decente, que não vive correndo atrás de jogadores da escola. Deus, elas são o pior tipo.

Eu ri um pouco, lembrando da fã louca que vivia correndo atrás de Jonathan. Ela ainda tentava falar com ele, mesmo que ele já tenha dito várias vezes “Com licença, estou namorando e não gosto de você, moça”. Estranhamente, eu não sei o nome dela até hoje, talvez eu devesse perguntar um dia.

– Prometo que não corro atrás de jogadores. – informei à ele. – Isso foi um acaso.

– Ela é mesmo bonita. – a mãe comentou para Jonathan. – É verdade que aqueles belos quadros que Jonathan me mostrou foram pintados por você, querida? – ela perguntou, as rugas em seu rosto acentuadas novamente pelo sorriso.

– Sim, eu pinto alguns quadros, as vezes. – respondi timidamente.

– Ah, pois você tem muito talento, Elizabeth. – ela elogiou, me fazendo corar novamente. Era sempre bom ouvir alguém elogiar meus quadros, porém eu nunca sabia exatamente como reagir, então sorri de volta.

A conversa foi interrompida com a chegada de Ryan.

– Posso falar com vocês? – ele perguntou, olhando para mim e Jonathan.

Vestia-se como um adolescente normal, com um corte normal nos cabelos loiros, em uma festa normal, mas ele não estava bem. Seus olhos verdes estavam cansados e tristes, e quando olhou seriamente para nós, foi difícil não sentir pena da expressão abatida. Ele estava com o coração visivelmente partido/triturado.

– Claro. – concordei, seguindo Ryan para fora da casa. Puxei Jonathan pela mão, enquanto ele tentava se desvencilhar dos amigos que apareciam por toda parte tentando conversar.

Paramos em frente a casa de Jonathan, próximos à calçada. Um minuto de silêncio até Ryan começar a falar, derrotado:

– Após os acontecimentos de hoje cedo, eu peço para que desistam de fazer Julie mudar de ideia. Ela não vai mudar de ideia, e como a própria disse: É hora de seguir em frente.

– É isso que quer? – perguntei, tentando disfarçar a pena em minha voz. Não deu certo.

– É claro que não é isso que eu quero! – ele negou com a cabeça, fazendo uma pausa. – Mas é o que ela quer, e eu preciso respeitar. Sabe que eu amo Julie demais, não sabe? E é justamente por isso que tentarei entender a decisão dela. – outra pausa. – Caso ela mude de ideia, coisa que eu duvido, eu estarei esperando por ela.

Ele fechou os olhos para afastar as lágrimas e sorriu o máximo que pôde. Fingi que não notei as lágrimas tentando cair. Era estranho ver um garoto alto e de ombros largos (Ryan era maior/mais alto que Jonathan) chorando, mas também fingi não achar estranho.

– Ela vai se lembrar de todas as promessas que vocês fizeram um para o outro e vai mudar de ideia, Ryan. – falei, tentando animá-lo.

Ele balançou a cabeça descrente e se afastou, caminhando pela rua, sozinho. Uma silhueta triste iluminada pelos postes de luz. Desviei os olhos da cena, virando-me para Jonathan. Olhamos um para o outro em silêncio durante um minuto, até ele me abraçar de repente. Um abraço apertado, como se eu estivesse tentando fugir dele.

– Não vai me deixar quando eu me alistar, vai? – ele sussurrou em meu ouvido.

– Você sabe que eu não faria isso. – sussurrei de volta. Fechei os olhos e soube que jamais iria querer abrir mão da sensação de seus braços em volta de mim. Seu sorriso infantil e sua voz sempre gentil. Como eu poderia abrir mão do meu grandalhão jogador de hóquei? Eu não podia. Não conseguiria mesmo se tentasse.

– Sei que é cedo para falar isso, mas... – ele começou, e eu quase bati os pés no chão de frustração quando uma voz cortou o que ele falava.

– Jonathan, vai ficar namorando aí fora a noite toda? – um grito nos separou. Um dos amigos dele estava na porta, levantando um copo vermelho e nos convidando a voltar para a festa.

Sorri timidamente para Jonathan e voltamos para a festa de mãos dadas.

~

Sábado definitivamente não me aguardava um fim de noite tranquilo. Por volta das onze da noite avisei a Jonathan que eu estava saindo da festa, ele insistiu em me levar para casa. Morávamos perto um do outro, mas como estava escuro, ele fez questão de me levar, alegando sobre os “perigos noturnos” para uma garota sozinha. Pelo menos nesse trecho de dez minutos pude aproveitar a calmaria fora daquela festa.

– Obrigado por ter vindo. – Jonathan falou quebrando o silêncio, de repente. - Sei que não gosta de festas, mas era importante pra mim, sabe... – ele sorriu para mim. O sorriso infantil que ganhou meu coração.

– Faz parte do nosso acordo de apoiar as bobeiras, alegrias e tristezas do outro. Esqueceu?

Ele passou o braço novamente em volta de mim, puxando-me para perto. O pouco vento que balançava algumas árvores estava frio, como era de se esperar em um estado frio como o Maine – que fazia fronteira com o Canadá. Agradeci por estar com um casaco quentinho.

– Aliás, parabéns pelos dezessete anos, JoJo. – sorri, esticando um embrulho mal feito. – Eu queria entregar pessoalmente e longe de toda a barulheira. Espero que goste.

Ele abriu o embrulho. Eu havia lhe dado o presente mais óbvio do mundo: Um quadro. Eu acho que ele já tinha uma coleção de quadros pintados por mim. Mas esse era especial, um dos meus melhores trabalhos, levei duas semanas para fazer cada detalhe. O quadro era, basicamente: Jonathan com o uniforme do time de hóquei, mas sem o capacete. Estava sorrindo para mim, que estava sentada na arquibancada assistindo ao treino. Uma cena que se repetia quase todos os dias que ele tinha treino.

Jonathan analisou o quadro durante um minuto antes de me puxar para um beijo, dessa vez, demorado. Ele sorriu quando nossos lábios se separaram.

– Meu Deus, Lizzy, você está cada dia mais talentosa! Eu adorei! – ele disse, animado. – Você e sua mania de me pintar como um lindo jogador de hóquei.

– Você é um lindo jogador de hóquei, Jonathan. – eu falei, revirando os olhos. Apenas ele não percebia o quão bonito era. Isso o deixava ainda mais bonito, perfeito e meu.

Continuamos o caminho, ainda mais abraçados. Ao me aproximar de casa, notei que as janelas do meu quarto estavam acesas, então deduzi que Julie estava na minha casa. Com um rápido beijo de despedida, Jonathan caminhou de volta para a festa de aniversário. Acompanhei seus passos com os olhos e suspirei – um suspiro apaixonado e bobo, coisa que toda adolescente apaixonada faz. Entrei em casa.

Julie desceu correndo e me abraçou. Disse que estava de pijama (um pijama de bolinhas cor de rosa) porque dormiria aqui. Isso mesmo, ela apenas informou. Depois de quinze anos de amizade, não julgávamos necessário pedir permissão para dormir na casa da outra. Subimos para meu quarto e ela começou a perguntar coisas da festa. Dei-lhe um resumo: Bebida, garotos bêbados, garotas barulhentas e algumas pessoas que estavam lá apenas por consideração a Jonathan (pessoas que não gostavam de festa, mas erram amigas dele, assim como eu). Pulei a parte de Ryan e sua melancolia.

– Aposto que você deu vários beijinhos no seu namoradinho. – ela riu, fazendo os olhos azuis se iluminarem. Fazia algum tempo que eu não a ouvir rir, foi bom ouvir aquilo de novo.

Ela levantou-se e pegou várias coisas que eu tinha para cabelos: Pentes, escovas, presilhas e elásticos. Sorriu para mim.

– Posso arrumar seu cabelo? – ela perguntou, e antes que eu pudesse responder, ela acrescentou: - Sabe que eu amo arrumar seu cabelo! Deixa!

– Claro. – dei de ombros e virei de costas para ela, soltando meus cabelos claros do coque.

Ela começou a mexer em meus cabelos, falando como ela gostava do meu cabelo loiro e como eu deveria arrumá-lo mais. Julie era vaidosa demais. Seus cabelos castanhos sempre estavam com alguns cachos bem feitos, a maquiagem sempre perfeita e um vestido radiante a cada dia. Era uma garota linda, não foi a toa que Ryan se apaixonou por ela.

Vinte minutos depois eu estava com um penteado muito (muuuito!) bem feito, como os de noivas. Até que fiquei bonita com ele, devo admitir. Sorri para Julie e agradeci. Ela deu de ombros e sentou-se ao meu lado.

– Você está com sono? – ela perguntou, olhando para mim. – Porque eu tenho muitas fofocas para te contar!

– Eu não estou com sono, e adoraria ouvir as fofocas da Senhorita Sabe-Tudo-Da-Vida-Dos-Outros.

Aconchegamos-nos na cama espaçosa e conversamos até Julie cair no sono, o que ocorreu por volta das duas da manhã. Coloquei um cobertor sobre ela e deitei-me ao seu lado para dormir. Ela parecia melhor, e isso era bom. Não tive muito tempo para pensar sobre a vida amorosa da minha melhor amiga, pois o sono finalmente veio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostou/não gostou/tem dúvida/sugestão só mandar reviews, ou mandar mensagem, ou me contatar em algum lugar.
Até a próxima. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "My Soldier" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.