E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 38
Capítulo 38 - Dando adeus a alguém que se ama sempre é difícil




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“Alex, você vai quebrar a minha mão!” gritou Pierre, enquanto ela permanecia gritando e apertando sua mão
“Não é você quem está sentindo contrações aqui por horas, então você não está em condições de reclamar de nada!”
“Meu amor, fica calma.”
“Calma? Você quer que eu fique calma? Então tira isso do meu corpo! Tira isso de mim!”
“‘Isso’ é seu filho, Alex. Seu médico disse que já está vindo. Está buscando a equipe dele para começarem a cirurgia. Vão chegar aqui daqui a pouco, só espere mais um pouquinho.”
“Esperar mais um pouquinho? Eu vou colocar um peru dentro do seu nariz e te dizer para esperar só mais um pouquinho, o que você acha? Como você acha que ia se sentir, seu imbecil?”
“Alex, você precisa mesmo… Ai! Minha mão, pelo amor de Deus!” ele gritou quando ela voltou a gritar e apertar sua mão
“Deixa de agir como uma menininha assustada!”
“Alex, não estava doendo tanto algumas horas atrás quando você começou a apertar mas, depois da centésima vez, eu posso ser chamado de qualquer coisa menos de menininha assustada. Eu juro que se você fizer isso mais uma vez eu vou começar a chorar como um bebê. Depois que eu sair daqui eu vou ter que fazer radiografia da minha mão e colocar gesso porque eu já nem sinto mais os meus dedos.”
“Desculpa, o problema é que… Ai!” ela gritou de novo, apertando novamente a mão dele e provocando um alto grito conjunto
Foi naquele momento que o médico dela entrou na sala de cirurgia, seguido por sua equipe. A equipe passou a preparar os últimos detalhes do parto e ele se dirigiu ao casal, impressionado com os gritos.
“Eu me pergunto quem está tendo um filho aqui.”
“Pode ter certeza de que, se houver alguma possibilidade disso ocorrer, minha mão vai dar à luz a um dos meus ossos ou veias daqui a pouco.”
“Eu já te disse para parar de agir como uma menininha assustada, Pierre!”
“Eu acho que ele está falando sério.” Sugeriu o médico, apontando para a mão dele, que já parecia completamente vermelha e inchada
Eu odeio os homens. Eles sempre dão razão para o grupinho deles, não importa o que seja.”
“Alex, querida, eu sei que os seus hormônios estão correndo mais rápido do que quando você tem TPM, mas será que tem a possibilidade, nem que seja a menor possível, de você conseguir controlá-los antes de quebrar a minha mão ou de deixar o médico bravo com você antes de te operar?”
“Cala a boca!”
“Eu acho que isso quis dizer não.”
“Tudo bem, não é nem a primeira e nem vai ser a última vez que uma mulher grávida grita comigo.”
“Pergunto-me o porquê.” Sarcasticamente disse Alex “Tira esse bebê de mim agora!”
“Eu estou aqui para isso. Está pronta?”
“Eu não sei, mas, por tudo que é mais sagrado na sua vida, tira isso daqui! Eu não agüento mais nenhum minuto disso. Tira ele daqui agora, por favor!”
“Está sentindo alguma contração agora?”
“Eu aposto que ela está.” Respondeu Pierre, tentando segurar o grito enquanto ela apertava sua mão novamente
“Ótimo. Ou não tão ótimo se considerar a situação do Pierre por um segundo. Bom, eu vou contar até três e você vai começar a empurrar com o máximo de força que puder, tudo bem?”
“Vai doer?”
“Tente imaginar engolir um dicionário e passar pelo menos meia hora com ele entalado na sua garganta mas, depois de ter decidido engolir, vai ter que ir até o fim. Vai ter que continuar empurrando até chegar no estômago e, quando ele chegar lá, vai sentir uma dor inexplicável que vai durar por alguns dias.” Ele respondeu e, ao invés de dizer mais alguma coisa, Alex simplesmente encarou Pierre de novo, sentindo-se assustada
“Pode dizer alguma coisa para ela que vai salvar a minha mão da amputação?”
“Ah, mas você vai ver seu bebezinho daqui a pouco.”
“Eu estou com medo.”
“Calma, Alex, não pode ser tão ruim assim. Se a Amanda conseguiu, sendo fresca como ela era, você consegue.”
“E se eu não conseguir?”
“Você vai ficar com mais uma cabeça só que essa no meio das pernas. Mas aí eu vou querer terminar porque você vai ter ficado muito masculina para mim.”
“Pierre Bouvier!”
“É brincadeira, Alex. Não tem mais ‘e se’ agora. Você decidiu chegar até aqui e agora não tem outra saída. Esse bebê vai ter que sair do seu corpo agora, não tem mais volta.”
“Tudo vai terminar logo, Alex. Só depende de você.” Disse o médico “Está pronta agora?”
“Acho que sim.”
“Então vamos começar. Um, dois, três!”
Depois da contagem, ela segurou o ar e começou a empurrar com o máximo de força que tinha enquanto apertava a mão dele cada vez mais forte e gritava mais alto do que antes. Porém, não era tão alto quanto ele gritava. Ainda assim, aquela tentativa não teve sucesso.
“Não dá! Eu não consigo!”
“Eu também não! Ela é mais forte do que eu pensava! Eu preciso tomar um analgésico excelente primeiro!”
“Pára de reclamar! Seja homem!”
“Eu estou tentando, mas a minha masculinidade vai ser destruída se você quebrar minha mão e eu tiver que dizer para alguém que foi a minha namorada que fez isso comigo!”
“Ah, cala a boca, Pierre!”
“Vamos tentar de novo?”
“Ah… acho que sim.” Respondeu Pierre
“Eu acho que ele perguntou para mim, Pierre.”
“Tanto faz. Os dois estão com dor então eu acho que deveríamos estar em comum acordo quanto ao momento de continuar.”
“Que seja.” Ela respondeu “É, eu acho que também estou pronta.”
“Então vamos lá. Um, dois, três!”
E ela teve mais uma tentativa sem sucesso. Ela tentou empurrar o bebê para fora de seu corpo mais algumas vezes, mas parecia ser impossível. Lágrimas começaram a correr por seus olhos depois de tanta dor e seu corpo, já há tanto tempo enfraquecido graças àquela incomum gravidez, não parecia ter mais forças para tentar novamente. Ela se sentia sem ar e sua febre voltava a tomar conta do corpo dela novamente, assim como a tontura. Foi então que ela soube que não agüentaria aquela cirurgia, assim como Pierre temia.
A dor que ela sentia estava se tornando generalizada, tomava conta de cada célula de seu corpo, mas, ao invés de apertar a mão dele novamente, ela acariciou seu braço e fitou seus olhos castanhos claro com muito carinho, como se temesse que aquela pudesse ser a última vez que os veria. Ela entendeu naquele momento o motivo de seu médico não querer aquele parto, mas ela já não poderia mais voltar no tempo e, mesmo que pudesse, ela sabia que não faria nada diferente.
“Eu te amo.” Ela lhe disse, enquanto lágrimas corriam por seu rosto
“Alex, por que está me dizendo isso agora? Até parece que você quer se despedir de mim.” ele perguntou acariciando seu rosto e enxugando-lhe as lágrimas “Eu prefiro que você grite comigo a ver você chorando assim.”
“Não me questione, por favor, e não faça com que tudo seja ainda mais difícil. Só diga que você também me ama.”
“Você sabe que eu amo. Eu te amei, eu te amo e eu sempre vou te amar, você sabe bem disso. Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida e você sabe que significa tudo para mim. Eu vou te amar para o resto da minha vida.”
“Era só isso o que eu precisava saber. Se alguma coisa acontecer comigo essa noite, por favor, cuide bem do nosso bebê e não se esqueça nunca de mim. Nunca se esqueça do quanto eu te amei.”
“Alex…”
Ela não lhe deu ouvidos. Respirou fundo mais uma vez e começou a empurrar de novo, com toda a força que tinha em seu corpo. Ela não se importava com o que iria lhe acontecer depois daquilo, ela só queria assegurar a vida do filho. A única coisa que ela queria na vida era ser mãe, mesmo que fosse por apenas alguns segundos antes de partir para nunca mais voltar. Morrer depois de alcançar seu sonho nem que fosse por poucos segundos ainda era melhor do que nunca alcançar esse sonho. Foi esse pensamento que lhe deu forças para continuar empurrando até o momento em que ouviram o choro de seu bebê, fazendo com que um sorriso surgisse no rosto de ambos quando viram o médico segurando a criança.
“Quer cortar o cordão?” o médico perguntou a ele
“Claro.” Ele respondeu com um sorriso e pegou o bebê nos braços para cortar seu cordão “Olha só, Alex, é uma menina! E ela é tão linda!”
Ela não parecia ter forças o suficiente para responder àquilo. O momento em que seus olhos viram sua filha foi o mesmo momento em que suas lágrimas começaram a correr com mais força, mas também foi o mesmo momento em que ela sentiu que ia se despedir dela. Ela tinha um sorriso em seu rosto, mas ele começou a sumir lentamente enquanto seus olhos se fechavam e a batida mostrada pelo monitor cardíaco ao lado dela começava a acelerar ao máximo, até não suportar mais e parar por completo, formando uma linha reta no lugar da batida de seu coração.
“Alex!” ele gritou em desespero “O que houve? O que aconteceu com ela?”
“Tirem ele da sala e chamem uma equipe de cardiologia! Temos uma nova cirurgia aqui!”
“Siga-me.” Chamou uma enfermeira, tomando-lhe o bebê e guiando-o para fora da sala de cirurgia
“O que aconteceu com ela?” ele perguntou tentando resistir ao que lhe pediam.
“Ainda não sabemos. Senhor, pelo bem dela, acalme-se e saia da sala.”
“Mas…” antes que ele pudesse conseguir resposta, um outro médico praticamente o empurrou para fora da sala e fechou a porta. Saiu sem respostas e nem conclusões.
Lágrimas de desespero se formaram em seus olhos no momento em que ele foi forçado a apenas esperar. Se Alex morresse naquele momento, ele saberia que a culpa era inteiramente dele graças à decisão que tomou alguns meses atrás. Foi ele quem permitiu que ela prosseguisse com aquela gravidez apesar de saber que ela tinha 70% de chances de não resistir ao parto.
Desesperado e em choque, o máximo que ele pôde fazer foi voltar para a sala de espera, onde encontrou seu filho, seus amigos e os pais de Alex, para quem ele havia telefonado uma semana atrás pedindo sua volta de Paris para poderem conhecer a primeira e única neta, já que Alex era filha única, mas ele temia não ter boas notícias para lhes dar.
“O bebê já nasceu?” perguntou Matt
“Já sim. É uma menina muito linda.” Ele respondeu segurando as lágrimas “Acho que você vai gostar da sua irmãzinha.”
“Qual é o problema?” perguntou Jeff “Você parece triste.”
“Eu estou bem.”
“Você está tentando não chorar. Isso é estar bem para você?” perguntou Seb
“Tem alguma coisa acontecendo com a minha filha?” perguntou a mãe de Alex
“Bom, tem sim. A gravidez dela era arriscada e eu era o único que sabia disso até agora. Mesmo assim, ela queria muito ter esse filho e eu não tive coragem de dizer não para ela sabendo o quanto ela queria ser mãe. Mas… eu tive que ignorar o fato de que ela tinha 70% de chances de morrer durante o parto desse bebê.”
“Ela morreu?” perguntou o pai dela, desesperado
“Eu não sei.”

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