Como perder uma garota em 5 minutos

“Ei, Katniss! Belo dia, não é? Quer dizer... OK, está meio nublado, e, bem, eu acho que vai chover mais tarde, mas, um... É, eu gostaria de saber se você – se não estiver ocupada, lógico! – ahn, você quer... Quer sair comigo?”

Limpando as mãos suadas nas calças que vestia, Peeta Mellark respirou fundo e tentou lançar seu sorriso mais encantador, esperando a resposta da pessoa sentada na sua frente.

“Nunca! Por que eu sairia com você quando tenho Gale Hawthorne pronto pra uma sessão de beijos quentes comigo? Oh, isso, Gale! Assim mesmo!”

“Cala a boca, Rye. Você devia estar me ajudando, não piorando a situação, lembra?”

O outro rapaz gargalhava da cara do irmão mais novo. Peeta sempre se dera bem com o sexo oposto, mas uma única garota conseguia deixá-lo nervoso como nunca. Mas era bem compreensível, afinal, eram poucos que conseguiam ficar relaxados quando Katniss Everdeen estava perto. A menina podia ser uma das mais baixinhas que ele já vira, mas era também uma das mais perigosas, com uma mira mortal no arco e flecha para provar. E seu irmãozinho, bem, ele era tão intimidante quanto um cupcake.

“Cara, você é um caso perdido.” disse Rye, ainda rindo “De qualquer jeito, o distrito está cheio de outras garotas que ficariam muito felizes em sair com você. Dê uma chance a elas e pare de se lamentar porque não consegue falar com a Everdeen.”

Suspirando, Peeta olhou pela janela da padaria, observando o movimento agitado da cidade. “Você não entende, Rye. Eu já tentei esquecer, sair com outras garotas. Não é a mesma coisa. Não é... ela. Você entende?

“Sim, eu entendo. Você precisa de sexo.”

“E você é um idiota.”

“Mas as mulheres me adoram, maninho, ainda me adoram.”

Os dois riram. Era bom ter alguém para compartilhar seu pequeno segredo, pensou Peeta. Rye não era a pessoa mais sensível que conhecia, claro, mas com certeza o apoiaria em qualquer fosse a decisão que decidisse tomar em relação à Katniss.

Katniss... O rapaz nunca achou que um simples nome poderia causar tanto efeito nele, arrepiando até o último de seus fios de cabelo. E o motivo de amá-la – sim, amar, porque nada mais poderia descrever o que sentia – não eram apenas seus olhos cinzentos profundos, sua beleza natural ou até mesmo aquela voz que fazia os pássaros pararem seu canto para escutá-la. Era também o fato de ela possuir um coração tão grande e ser tão valente, batalhar todos os anos para sustentar sua família, sempre colocando o bem estar de sua irmã na frente no dela própria. Ela era única, e ele achava que, por isso e por muitos outros motivos, ela merecia alguém que a tratasse bem, alguém que lhe trouxesse felicidade e a fizesse esquecer-se das dificuldades que tinha passado. Ele queria ser esse alguém.

“Ahn, Peeta?” o loiro voltou ao mundo real com um sorriso bobo ao ouvir a voz de seu irmão “Eu não quero ser um estraga prazer nem nada do tipo, mas se eu fosse você limparia essa farinha do rosto. Sua garota está vindo pra cá.”

“O quê??”

Arrumando-se o mais rápido possível, Peeta espiou o quintal pela janela; de fato, a caçadora do Distrito 12 estava se aproximando rapidamente, com seus passos leves e o típico saco onde costumava levar os animais em que atirava.

Ele tinha acabado de dar o toque final em seu cabelo quando a porta dos fundos foi aberta: “Oh, olá.” ela disse com um tom desconfiado “Eu trouxe esquilos. Encontrei seu pai no caminho. Ele pediu que eu fizesse a troca aqui com vocês.”

“É claro! Os famosos esquilos de Katniss Everdeen! Flechadas no olho, não é isso?” com um sorriso brilhante, Rye se aproximou do irmão, dando-lhe tapinhas no ombro “Bem, eu tenho que resolver algumas coisas lá na frente. Clientes, sabe como é. Mas eu tenho certeza que o Peeta aqui vai simplesmente adorar te ajudar com isso. Não é mesmo, Peet?” e com isso saiu, deixando os dois adolescentes sozinhos.

‘Pense, Mellark, pense.’ “Você... é... Eu...”

“Quatro esquilos por dois pães, é o combinado que eu tenho com seu pai.” ela falou sem olhar pra ele. Por que ela nunca olhava pra ele?

“Ah, certo.”

Se ele não tivesse repetido aquela ação milhares de vezes em sua vida, provavelmente teria se enrolado ao embrulhar os pães e feito papel de completo idiota na frente dela. Mas isso não significa que estava menos nervoso. Foi então que ele percebeu: pela primeira vez, em muitos anos, estava sozinho com a garota de seus sonhos. Não era a situação ideal, e não era como ele tinha idealizado em sua cabeça, mas era possivelmente uma chance de realizar o que vinha criando coragem pra fazer há anos.

Sentindo o coração na garganta, e ignorando o súbito enjoo que tomou seu corpo, ele começou: “Katniss, eu andei... pensando. E, eu g-gostaria muito de, ahn, saber se voc-“

Mas ele nunca conseguiu terminar a pergunta. Naquele mesmo momento, aquele maldito Gale Hawthorne entrou na padaria, colocando um braço amigável (mas seria realmente só amigável?) ao redor de Katniss.

“Ei, Catnip, por que a demora? Você sabe que a velha Sae está nos esperando, vamos logo. E eu ainda tenho que comprar alguma coisa pro aniversário da Posy. Vocês vão passar mais tarde lá em casa, certo? Minha mãe tem reclamado por você não aparecer mais com tanta frequência. Ah, ei, Mellark! Como vai?”

Com um movimento rápido, a garota pegou o saco com os pães das mãos de Peeta, agradecendo, e com um pequeno sorriso para Gale – só pra ele – saiu pela porta dos fundos.

O filho do padeiro permaneceu parado naquele mesmo lugar por mais alguns minutos, tentando entender como a oportunidade lhe escapou tão facilmente. Suspirando, ele fechou os olhos com força.

Rye tinha razão, ele era um caso perdido.