Ela chorava quase que descontroladamente. Não sabia se poderia consertar tudo dessa vez. Tudo o quê? A situação em que se metera. Menos de uma hora atrás, ela estava explodindo de felicidade pela visita surpresa de seu primo tão querido. Como sempre fazia, resolveu tirar fotos e, aproveitando a oportunidade, mostrou a ele sua nova câmera fotográfica super potente que tinha ganhado de Natal. Tiraram várias fotos, mas algumas ficaram meio embasadas e ele resolveu apagar as de qualidade inferior. Ela, é claro, passou a máquina para ele. Pouco tempo depois, estavam os dois sentados na cama da garota, enquanto brigavam pelo celular da garota. Já haviam deixado a câmera de lado à essa altura. Porém, quando ela resolveu olhar as fotos que tinham tirado, teve uma surpresa terrível: todas as fotos haviam sumido. Isso mesmo, todas. Em meio ao desespero, acabou dando um soco no braço do primo e gritado com o mesmo, já que ele havia sido o último a manusear o aparelho. Cheio de culpa, ele fez de tudo para tentar achar as fotos, já que era incrivelmente bom com informática, mas de nada adiantou. Eles constataram um caso perdido. Naquele momento, ela se lembrou da foto. A foto que ela havia tirado com ele. O garoto que cantava ao lado dela na sua igreja, e que estaria se mudando para outra cidade em poucos dias. A única lembrança que ela teria do garoto magricela que havia roubado definitivamente seu coração, fora apagada. Desapareceu, como se nunca tivesse existido. Agora, ela não se importava mais com as fotos de aniversário de casamento dos amigos de seus pais, ou das fotos de um teatro de que havia participado. Não ligava para a bronca que seus pais iriam lhe dar quando contasse, nem com o castigo que provavelmente ficaria. Muito menos estava preocupada com de quem era a culpa de tudo aquilo. Ela só queria aquela foto de volta. Somente aquela.

Sentiu os braços acolhedores de seu primo ao seu redor, enquanto ele a puxava para o seu colo. Apertava-a mais e mais. Ele só queria que ela parasse de chorar. Aos poucos, foram se deitando na cama da garota, onde minutos atrás tentavam recuperar as fotos. Acomodando-se no travesseiro, ele continuava apertando-a contra si, pedindo perdão repetidamente, enquanto ela continuava a chorar. Mesmo demorando um pouco, adormeceram assim.

Não muito tempo depois, foram acordados pela mãe do garoto, que também era prima da garota. Infelizmente, os dois teriam que ir embora.

Já na portaria do prédio, ela não queria se despedir dele. Passaram meses sem se ver, e ele ficava só por algumas horas. Era definitivamente injusto.

Ela abraçou fortemente o pescoço do garoto, que havia crescido no tempo em que eles não se viram. Ele, abraçando a cintura da prima, riu pelo nariz e disse:

-Estranho... Ou você encolheu, ou eu cresci... - felizmente, conseguiu arrancar um pequeno riso verdadeiro da garota com isso. Para a surpresa dela, ele suspendeu e girou-a no ar, enquanto os dois riam. Mesmo tendo sido colocada no chão, ela não soltou-se do aperto, ficando na ponta dos pés para abraçá-lo melhor. Com uma súbita falta de equilíbrio, disse, rindo pelo nariz.

-Eu estou quase caindo aqui.

-Não está não. Você não vai cair. - assegurou ele, firmando ainda mais seu aperto.

-Você me fez sentir melhor. Te adoro por isso, primo. - ela disse, dando um beijo demorado na bochecha dele.

Naquela noite, ela chorou em dobro. Continuava desejando a foto mais do que tudo, mas também derramava lágrimas por ter perdido dois amores. Seu primo quase irmão, e o dono de seu coração.