She'd Fly escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 5
Capítulo 04 — Adepto a irregularidades.


Notas iniciais do capítulo

Hello, pessoas lindas e com vontade de comentar! Desculpem a demora! Semana passada foi impossível postar... espero que compreendam! *corações* Venho postar de acordo com os comentários de vocês! E, ah, quem quiser que eu mande uma parte do capítulo seguinte é só dizer, ok? Por review. E se esquecer de dizer no review pode me dizer em uma mp *corações*



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Abril de 2006.

Bella.

Seria legal se você ficasse longe dele, sabe. Eventualmente. Edward Cullen é meu.

— Edward! — Eu chamei assim que saí da minha aula de trigonometria. Ele estava ao lado de Chelsea e, sinceramente, parecia meio desanimado ao andar ao seu lado.

Ele se virou imediatamente em minha direção, como eu sabia que faria. Já Chelsea, meio incrédula e meio raivosa, preferiu virar-se lenta e dramaticamente. Eu sorri de modo largo na direção de Edward, mas o sorriso vitorioso e orgulhoso era para ela. Edward faria o que eu quisesse, eu sabia disso e era com presunção que eu me lembrava.

Eu poderia ter ignorado Edward, como normalmente fazia quando ele estava com Chelsea em seu encalço, mas eu estava ainda um pouco ressentida pelo que ela me falara um dia antes. Estava ressentida e com vontade de esfregar em seu rosto pálido que eu não me curvaria as suas vontades, que eu não ficaria longe de Edward só porque ela queria. Eu ficaria longe de Edward quando eu quisesse. E perto quando eu quisesse também. Simples assim.

Eu costumava ser bem cruel quando estava com raiva.

— Bella. — Ele sorriu.

— Qual é a sua aula agora? — Eu perguntei a ele, aproximando-me.

— Hmm…

— Inglês. — Chelsea respondeu bruscamente.

Revirei meus olhos, sem ter a pretensão de esconder.

— É, Inglês. — Ele sorriu tortamente. O sorriso certo.

Eu sorri de volta.

— É Educação Física para mim agora e eu estava pensando…

— Edward, temos que nos apressar… — Chelsea o chamou, o puxando pela camisa.

— Espera. — Ele não tirou os olhos de mim.

— Enfim — Congelei Chelsea com o meu olhar —, eu estava pensando em faltar e eu realmente não sei onde há bons lugares para ficar e não ser descoberta pelo diretor. Você certamente deve saber.

— Edward, você não ouse. Você é a minha dupla para o trabalho!

— Eu te mostro. — Ele ignorou Chelsea e eu sorri por isso. — Depois eu te encontro por lá. — Falou para ela.

— Você é um babaca. — Ela resmungou para ele e, depois de jogar o longo cabelo loiro no peito de Edward, saiu andando para a sua querida aula de Inglês. Chelsea ainda teria a sua dupla se não tivesse a língua muito afiada e desejos que queria com afinco que se cumprissem. Eu não me sentia culpada por isso.

Tudo bem, eu era de guardar ressentimentos até consegui-los tirá-los de alguma forma. E eu havia conseguido com facilidade tirar o ressentimento que eu sentia de Chelsea que renasceria de forma pior se ela inventasse mais uma para o meu lado. Eu estava cansada daquela garota! Ela sempre fazia questão de ser incrivelmente desagradável quando eu estava por perto, sempre puxando Edward para junto de si, sempre me lançando olhares hostis. Eu a detestava.

Andei em silêncio ao lado de Edward, percebendo que a situação dele era pior do que eu imaginava. Muitas pessoas o cumprimentavam com sorrisos afetuosos, como se fossem melhores amigos desde sempre, sendo que sempre que passavam por nós e estavam a uma distância suficientemente boa, Edward murmurava para mim “Eu sequer sei o nome desse cara” e ria.

Mas a primeira coisa que eu percebi naquele dia era que ele continuava a andar com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans, incrivelmente parecido com antes. A segunda coisa que eu percebi foi que ele estava alto. Mais alto do que uma adolescente de quinze anos teria a capacidade de ser. Perguntei-me se era por causa do time de futebol americano ou era naturalmente mesmo. Eu me lembrava de que Carlisle, seu pai, era alto nas minhas memórias.

— Bella! — Mike me chamou assim que entramos em um corredor abarrotado de salas vazias.

Eu conhecera Mike na semana seguinte a que entrei aqui, ele foi minha dupla terrível na aula de Educação Física e não me era uma surpresa que ele estivesse procurando queimá-la. Ele era um garoto legal, fora se sentar comigo no refeitório na semana passada, sendo repelido por Edward assim que este se sentou a mesa. Mike logo soube que se ele não saísse por si próprio, seria convidado a o fazer por Edward. Tentei dar o meu melhor olhar de “sinto muito” para ele.

— Oi, Mike. — Sorri.

Ele não cumprimentou Edward e, consequentemente, foi olhado de cima por ele porque Edward era mil vezes mais alto que ele. Mike ignorou a intimidação da melhor forma que conseguiu. Toquei no braço de Edward para que ele parasse com aquele tipo de olhar e, bem, ele sempre fazia o que queria.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou amistosamente.

— Vou matar aquela aula terrível. Não estou no clima. — Disse-lhe. “Não estou no clima” na linguagem feminina significa: “Estou sangrando”. Não que ele soubesse sobre isso.

— Ah! — Seu rosto se iluminou. — Em que sala você vai ficar?

— Ela vai ficar comigo. — Edward se apressou.

Ergui as sobrancelhas.

— Vou?

Edward se limitou a assentir.

— Em que sala vocês vão ficar? — Aquela pergunta saíra apenas por educação e Edward não soube identificar isso.

— Numa em que você não…

— Na última. — Interrompi a resposta ácida antes que ela saísse completamente. Eu sabia que Mike era, por vezes, inconveniente, mas Edward já havia sido grosseiro demais com ele por aquele dia. E também, Mike era uma pessoa legal. Legal mesmo.

— Ah sim. — Ele suspirou. — Nos vemos por aí, Bella.

Eu assenti sorrindo amigavelmente.

Desfiz meu rosto para uma carranca quando ele saiu de minha frente. Eu não entendia o porquê de Edward precisar ser tão desagradável assim com os fracos e oprimidos — Mike Newton, no caso. Talvez ele possuísse mesmo aquele azedume característico a pessoas populares e bonitas. Talvez ele fosse um idiota. Talvez ele me tratasse da mesma forma que tratava Mike caso não tivéssemos nos conhecido antes.

— Você deveria ter sido mais agradável com ele.

Escutei a porta se fechando levemente atrás de Edward e quando o olhei, ele tinha o cenho franzido de desentendimento. Eu não sabia o porquê de ele precisar ser tão… atraente. Era até um pouco desconcertante A lição de moral que eu o daria já estava começando a se esvair por entre os meus dedos, eu sabia disso porque eu já começava a me indagar o porquê de ele ter de escutar uma lição de moral.

— Você gosta do Mike? — Edward pressionou os olhos, incrédulo.

— Não desse jeito. — Neguei o rosto. Mike era bonito, mas eu tinha quase certeza que ele tinha uma grave distonia. Não que isso fosse um motivo suficientemente bom para fazê-lo ficar feio, enfim, não gostava. Era apenas um amigo.

— De quem você gosta?

Gostar? — Franzi o cenho enquanto ria. — Estamos no primário, por acaso?

Sentei-me no chão, perto da janela que era o canto onde tinha mais luz. Edward se sentou ao meu lado, suas pernas longas esparramando-se por entre as cadeiras cujas ele afastou depois de um tempo. Deixei a minha mochila ao meu lado como se fosse uma parede entre Edward e eu. Parede a qual foi removida rapidamente por ele que se aproximou e me olhou. Eu não sabia o porquê do olhar dele me constranger tanto.

Não retribuí por um tempo e, então, peguei a minha mochila e a remexi em busca do meu mp3 porque eu realmente iria escutar música antes de Edward se oferecer para matar aula comigo. Não podia deixar de registrar o meu orgulho por Chelsea não tê-lo como dupla, claro. Eu estava orgulhosa por isso, porém terrivelmente envergonhada pela proximidade dele.

— Me coloque por dentro de tudo que aconteceu aqui desde que fui embora. — Eu disse em uma tentativa de afastar o desconforto da melhor forma que eu conseguia.

— Hmm, nada de muito interessante. — Ele franziu o cenho mais uma vez, fazendo-me perceber que o rosto dele era incrivelmente bonito na penumbra também. — Carlisle saiu de casa para ir morar com uma de suas putas, mamãe adotou uma garota de minha idade para ocupar o vazio que tinha na casa, entrei no time de futebol americano, acho que só.

— Adotou uma garota? Como assim? — Eu me interessara especialmente por essa parte.

— É Alice o nome dela. — Deu de ombros como se não se importasse — Acho que você não a conheceu ainda porque ela não estuda nessa escola. Esme vai colocá-la aqui só ano que vem. Ela tem a sua idade, mas ainda não entrou no Ensino Médio.

— Ah sim. E como você reagiu a isso?

— E eu tenho de reagir? — Edward me mandou um sorriso complacente, inclinando o rosto para trás até poder encostar a parte de trás da cabeça na parede. Ele parecia tão desolado… — Se ela se sentia sozinha então era porque eu não estava dando conta. Nada mais justo que uma companhia a mais. Ela merece depois de tudo que Carlisle a fez sofrer.

Edward não chamava seu pai de “pai” desde que descobrira, por ele mesmo, que ele tinha vários — não só um, como todos esperavam — casos fora do casamento. Depois disso, ele se tornou muito mais duro e maduro sobre a vida. Vou me lembrar até morrer de quando ele, com doze anos, falou-me sobre o ocorrido. Depois dele, eu fui a primeira pessoa a ter conhecimento sobre os casos de Carlisle. Edward falou-me naquele dia que detestava seu pai. E eu já sabia de outrora que convencê-lo ao contrário não me levaria a nada, então somente esperei que ele se acalmasse.

Antes, ele queria fazer Medicina quando fosse para a universidade, ele me falara que achava fantástica a perspectiva de salvar vidas. Naquele dia, porém, ele decidiu que salvaria vidas de outro jeito: sendo um policial. Eu só assenti para a sua reformulação, o que mais poderia fazer? Só estava um pouco chateada porque combinamos de entrar na universidade de Medicina juntos, mas… se o deixava feliz, me deixava também.

Diferente dos outros dias, quando foi embora, ele depositou um beijo em minha testa que me deixou com as bochechas ardendo.

— Fale-me sobre Alice — Eu pedi depois que ele ficou novamente silencioso.

Ele mudou completamente de assunto quando me respondeu.

— Você acha justo, Bella? — Seus olhos estavam altivos quando ele olhou para mim, desencostando seu rosto da parede. — Você acha justo o que Carlisle a fez passar? Eu não consigo entender… Esme é e sempre foi uma pessoa tão boa… — Ele se parou, sem saber mais o que falar.

— Coisas ruins vêm para todo mundo. — Murmurei. — Não é justo, mas…

Ele assentiu, pensativamente.

— Não vamos divagar sobre isso. — Decidi, por fim. — Vamos divagar sobre você estar faltando aula quando tem um trabalho para fazer.

Edward sorriu com astúcia.

— Isso é culpa sua. — Acusou.

Ergui as sobrancelhas, incrédula enquanto ria.

— Eu dou um jeito de a professora me dar um prazo extra, mas você vai ter de me ajudar com o trabalho já que eu vou fazer sozinho. — Ele disse sem muita cerimônia. Edward já tinha planejado desde que se ofereceu para matar aula comigo.

— E se eu disser que não? — Desafiei.

— Você é uma pessoa boa, vai aceitar me ajudar.

Eu sorri.

— Você está certo.

— Eu sempre estou. — E sorriu largamente.

Revirei meus olhos com divertimento.

O silêncio voltou, mas dessa vez não foi tão constrangedor quanto antes. Eu voltei a mexer em meu mp3, enquanto Edward apenas tombou seu rosto mais uma vez para trás, os olhos fechados como se estivesse cansado. Percebi, ao lhe olhar rapidamente, que ele também ficava bonito com os olhos fechados e a expressão lívida. Concluí que ninguém a não ser Edward Cullen tinha a capacidade de ficar bonito em todos os ângulos possíveis. Era uma coisa que só ele tinha.

— No que você está pensando? — Ele indagou ainda de olhos fechados.

Eu me permiti corar.

— Hmm… eu estou pensando sobre a música. — Que grande mentira, até três segundos atrás tudo que eu estava pensando era nele. — E você? — Não pude evitar perguntar.

— Estou pensando sobre você. — Ele sorriu.

Baixei meus olhos diretamente para o anel que tinha em meu dedo médio. A peça me passava despercebida várias vezes, tanto que eu só fui notar que ainda a usava um dia antes de entrar nessa escola quando estava arrumando minha bolsa para o primeiro dia de aula. O anel prateado em forma de coroa prendeu-se ao flash da bolsa e foi um horror para eu conseguir soltá-lo sem quebrá-la.

Ele abriu os olhos e levantou o rosto diante ao meu silêncio.

— Você ainda cora? — Edward perguntou, sorrindo.

Virei meu rosto para o lado oposto, envergonhadamente. Se eu falasse que não, estaria mentindo na cara dura. Se falasse que sim, estaria me entregando.

— Às vezes eu acho que você mudou muito, está mais madura. Crescida. Mais do que eu, até. — Ele começou e parou, perdido em pensamentos. — E às vezes você demonstra ser aquela garota que assistia a filmes comigo e virava o rosto nas cenas de beijo. — Pelo canto do meu olho direito, o vi sorrindo para si mesmo.

Edward hesitou e então eu senti seu toque em minha mão, chamando-me a lhe olhar. O fiz depois de muita protelação.

— Senti a sua falta, Bella. — Pelo jeito que ele falou, estava na cara que ele raramente falava aquilo para alguém. Edward parecia tímido demais, diferentemente de como ele era em dias normais. — Você não imagina o quão louco eu fiquei atrás de você no dia seguinte. Por que você não se despediu?

— Eu me despedi. — Eu o disse. — Você apenas não… entendeu que era uma despedida.

— Por que você não me ligou?

— Por que você não me ligou?

— Eu nem sabia que você tinha um celular! — Ele exclamou. — E sua mãe… sua mãe estava abatida demais para que eu tivesse a oportunidade de perguntar o número da casa da sua tia.

— Sinto muito, Edward. — Suspirei. — Eu também senti a sua falta. — Minhas mãos estavam coçando para tocar o cabelo bagunçado dele. E não o fiz porque minha timidez eventual não permitia isso.

Edward sorriu e antes que eu pudesse perceber estava envolvendo seus braços ao redor de mim, em um abraço apertado e impossível de escapar. Não que eu quisesse. Fazia um tempo que ninguém me abraçava e era quase reconfortante sentir braços me envolvendo de novo. Por vontade própria. Não porque você pediu em um ato desesperado, como acontecia com a minha mãe. Abracei Edward de volta, encostando meu rosto na curva de seu pescoço cheiroso.

Ele beijou a minha bochecha, perto de meu maxilar e eu tentei não demonstrar que estava arrepiada.

— Seu cabelo está tão grande. — Eu murmurei contra o seu pescoço, arriscando-me a afundar meus dedos em seu cabelo acobreado.

Edward suspirou.

— Alice disse que fica melhor assim. — A voz rouca dele em meu ouvido não ajudava em meu raciocínio, eu me sentia quase como gelatina em seus braços ainda restritos.

— Ela está certa.

Ele suspirou mais uma vez quando meus dedos se moveram contra o seu couro cabeludo. Edward era… carente de carinho. Não que ele admitisse isso a alguém, ele demonstrava sempre ser inabalável. Ele nunca admitiu, mas eu o conhecia desde sempre. Eu o conheceria independente do tempo que passássemos separados.

O pai de Edward era um médico bem-sucedido, mal parava em casa de tanto que trabalhava, e em suas folgas ele ficava com as suas várias amantes, sendo assim displicente para o seu único filho. Já Esme… Esme tentava ser uma boa mãe. Ela era uma boa mãe. O problema era que ela tentava recuperar o marido com afinco demais, esquecendo-se do garoto que, quando estava sozinho em casa, ia me procurar porque não gostava da solidão.

— Você não imagina a vontade que eu estou de te beijar agora, Bella.

— Não faça isso.

— Por quê? — Tentou se afastar para me olhar, mas eu não deixei. .

Antes que eu tivesse tempo de articular uma resposta, a porta da sala foi escancarada com alarde.

— Ei, vocês!

Fazia pouco tempo que eu estava estudando aqui nessa escola, no entanto eu sabia do básico: O Diretor era uma pessoa sem coração e que dava suspensões por besteiras do tipo derrubar o almoço sem querer no refeitório. Matar aula era terrível, eu e Edward provavelmente ficaríamos suspensos pelo resto do ano e isso ficaria no nosso histórico escolar. Não iríamos ser aceitos em Universidade alguma!

Eu estava começando a me desesperar quando fui puxada para cima por Edward que, aproveitando que a lanterna do Diretor havia parado de funcionar, abriu a janela e pegou nossas mochilas em seu braço. Eu não sabia como ele era tão rápido.

O Diretor estava afastando as cadeiras para chegar até nós como se fosse um animal faminto por carne. Nós, eu e Edward, éramos a sua preciosa carne.

— Vai, vai, vai! — Ele sussurrou urgentemente, gesticulando para a janela.

Reprimi o riso nervoso enquanto praticamente me jogava para o ar livre. O chão era perto demais, acabei caindo de todo o jeito, sendo ajudada por Edward que fechara a janela na cara do Diretor. Nem sequer ousamos olhar para trás ao correr — eu sendo puxada, é claro — para qualquer lugar que aquele diabo do High School não estivesse. Ele até tentou correr atrás de nós, e apesar de estar em boa forma, éramos mais rápidos. Precisávamos ser. A adrenalina nos fazia ser mais rápidos.

Enquanto corria com o vento bagunçando meu cabelo, lembrei-me da infância desesperada que tive ao lado de Edward. Desesperada porque minha mãe costumava dizer algo como “Parem de ser desesperados!” para pararmos de correr. Claro que não funcionava em muita coisa. Crianças queriam correr de um lado para o outro, não ouviria a nenhum apelo se este não fosse chamando para comer.

Lembrei-me de quando costumávamos descer correndo um pequeno morro esverdeado de grama que tinha onde Esme nos levava para fazer piquenique, acabávamos embolando. A infância parecia tão melhor vista agora… Eu queria voltar para ela. Ficar criança para sempre sem entender que a vida era impiedosa e que há coisas mais importantes do que acordar cedo para assistir os seus desenhos favoritos.

Desabamos perto dos banheiros. Eu não conseguia me lembrar de quando havia sido a última vez que eu tinha corrido tanto em tão pouco tempo. Também não conseguia me lembrar de quando foi que eu ri tanto por uma situação trágica. Ri até que minhas bochechas e estômago estivessem doendo. Ri até que meus olhos marejaram.

Respirei fundo, soltando uma última risada por fim.

— Senti falta de te ver rindo. — Edward falou com os olhos pressionados em um sorriso ao me olhar.

— Senti falta de fazer essas loucuras com você. — Sorri para ele. — Falta muito tempo para acabar a aula?

Ele checou o seu relógio e assentiu, por fim.

— Tem algum outro lugar bom de verdade para matar aula?

— Claro que tem.

Edward me levou daquela vez para o vestiário do time de futebol e conversamos aos sussurros para não termos o risco de ser ouvidos. Deu certo daquela vez. Saímos dez minutos antes de a aula acabar para não termos o risco de sermos pegos e, então, caminhamos tediosamente até a aula de História que tínhamos. No fim do dia, Edward conseguiu que a professora lhe desse um prazo extra, alegando que estava com uma câimbra muito grande para conseguir se locomover. E a culpa ele atribuiu ao treino de futebol americano do dia anterior.

Ele sempre soube mentir com maestria.

Combinamos de nos encontrar na sexta-feira de noite para que eu o ajudasse com o tal trabalho de inglês. Renée estava dormindo em seu quarto quando eu cheguei e não acordou nem quando eu tive de sair. Eu entendia a sua situação, embora me ressentisse um pouco pela falta de atenção.

Eu sabia que eu havia tido o meus dias escuros e tudo o mais. Eu compreendia que ela sentia falta de Charlie. Eu também sentia, mas tentava agir normalmente. Era o que ele queria que nós fizéssemos. Ele mesmo dissera isso no pouco tempo que passou acordado antes de morrer no hospital. Algum adolescente bêbado havia batido em seu carro enquanto ele voltava do trabalho. Adolescente esse que não foi sequer identificado.

Enfim, Renée nunca foi a mesma depois que o seu marido se foi. Ela o amava demais. E me amava de menos — eu sabia que era egoísta pensar dessa forma, mas eu não conseguia evitar. Se ela me amasse, faria uma força para me dar atenção assim que meu pai se foi e não me mandar para casa de minha tia por não conseguir se recompor. Poxa, eu precisava dela. Não de outro parente qualquer que não dava a mínima para mim e só fazia por ter que fazer mesmo.

Suspirei e reprimi os meus olhos marejados. Prendi meu cabelo rapidamente em uma trança que caia por meu ombro direito e respirei fundo, resignada. Seria legal passar um tempo com Edward e me abstrair da depressão que essa casa me envolvia. Minutos depois, a minha campainha tocou e eu sabia ser Edward, por isso peguei a minha bolsa e fui logo saindo. Eu deveria convidá-lo para entrar, eu tinha conhecimento das regras da boa educação, mas o que faríamos dentro de minha casa? Minha mãe sequer estava acordada para ir o cumprimentar.

— Bella. — Ele me cumprimentou.

— Edward. — Fechei a porta atrás de mim.

Ele franziu o cenho, mas, felizmente não comentou nada.

— Quero te levar a um lugar. — Ele murmurou.

— Para onde?

— Você vai ver quando chegarmos lá. — Edward lançou-me um sorriso. — Por que não paramos para comer primeiro?

Paramos para comer, conversamos. Tudo foi ótimo. Eu preferia ter ficado dentro da lanchonete, sinceramente. O idiota do Edward me levou a um dos piores lugares na terra para mim: avenidas. Avenidas normais, sim. Avenidas desertas, sem fiscalização alguma. Perfeitas para o quê? Isso mesmo. Rachas.

Os amigos dele foram logo falando com ele, batendo mãos, fumando, bebendo. Eu achava que estava até sentindo cheiro de maconha.

Perguntei-me se eu tinha cara de que gostaria de estar naquele lugar. Perguntei-me se Edward tinha uma droga de amnésia para esquecer-se de que meu pai havia morrido de acidente de carro e que eu, claramente, não havia superado ainda. Nem iria superar nem tão cedo. Morte de pai ou de alguém próximo não é uma coisa que se supere.

— Edward! — Eu puxei o seu braço bruscamente. — Você perdeu a sua mente, seu retardado? Eu quero sair daqui agora.

Ele franziu o cenho. Em sua mão já tinha um cigarro.

— Se divirta, Bella! — Ele sorriu.

Ao olhar a minha volta, percebi que não tinha prestado atenção no caminho. Eu não sabia onde estávamos, mas sairia zanzando por aí de noite se preciso. Faria tudo para sair daquele lugar o mais rápido possível. Percebi também que a maioria das pessoas que ali estavam tinha de dezessete anos para cima. Era uma raridade que pessoas de catorze anos — como eu — estivessem presentes naquele tipo de lugar.

— Não fique chateada comigo. — Edward apareceu mais uma vez na minha frente, sorrindo.

— Vou ficar pelo resto da minha vida. — O informei amargamente.

— Bella… — Ele tentou me dissuadir pegando em minha trança, girando-a pelos dedos.

— Eu aceitei ir para sua casa e fazer a porcaria do trabalho de Inglês! Não para isso.

— Só hoje, sim?

Eu neguei com o rosto. Quando meus olhos começaram a marejar, desviei-os para outro lugar. Edward tentaria falar mais alguma coisa, mas um amigo dele que fumava um cigarro de maconha jogou um braço pelos ombros dele e o puxou para longe. Eu permaneci onde estava, frustrada e raivosa. Permaneci onde estava, sentindo o desconforto se arrastar na minha direção e permanecer perto de mim, como o bom amigo que Edward não era.

Eram exatas nove horas e meia da noite quando Edward foi inventar de competir também. Foi empurrado pelos amigos que o incentivaram a dizer que queria participar da racha com motos.

— Edward! — Eu gritei para lhe chamar. — Para onde você está indo?

— Competir. — Ele sorriu. — Você não ama velocidade?

Quando ele se aproximou, notei que ele estava com hálito de álcool. Ele por acaso tinha algum problema mental ao perceber que álcool e velocidade não tinham uma parceria boa. Principalmente com motos que eram instáveis.

Edward sempre se atraiu por coisas proibidas. Desde pequeno sempre quis assistir a filmes acima de sua faixa etária, sempre quis fazer coisas que eram vetadas para ele. Naquele dia, ele extrapolou todo e qualquer limite. Ele queria fazer uma coisa que era vetada para todo mundo. Coisa a qual foi vetada por um bom motivo: o bem da maioria. Perguntei-me se ele não tinha aquela droga de consciência. Perguntei-me se entre todas as pessoas ensandecidas ali eu era a única racional naquela droga.

— Edward, preste atenção em mim. — Eu me pus nas pontas dos pés para conseguir pegar seu rosto entre as minhas mãos. — Não faça isso. Eu vou ficar com raiva de você se subir naquela moto. Por favor.

— Não vai nada.

— Vamos, Edward, é a sua vez. — Um amigo dele que se chamava John, eu sabia por ele ser da escola e sempre me olhar feio, o puxou.

— Tente ficar bem, linda!

— E a habilitação? — Perguntei a ele, gritando.

— Não ligamos para isso aqui! — Me informou.

Usei meus cotovelos para conseguir ficar na frente e assistir com atenção a racha, mesmo não gostando. Eu me preocupava com Edward mesmo que, naquele momento, estivesse ardendo de raiva por ele ser tão inconsequente. A avenida era em linha reta, claro, mas eu sabia que, mais a frente, tinha uma curva fechada demais para ser feita em alta velocidade com uma moto como a que Edward estava.

Respirei fundo, tentando acalmar o meu coração descompassado. Ao meu redor, a pequena multidão exultou quando eles deram partida.

Foi uma aflição ter que esperar eles voltarem. Fiquei pensando que tinha acontecido alguma coisa errada com Edward e ele tinha caído da moto e estava sangrando em algum lugar que nós demoraríamos muito para chegar. E coisas piores aconteceriam. Foi ao contrário. Completamente. Ele chegou uns dez segundos antes do seu opositor e saltou da moto já dando murros no ar de vitória. Bateu no peito. Deu murros para cima no ar, gritou que era invencível. Ele ganhou urros de adoração que clamavam o seu nome.

Então finalmente me procurou com os olhos e quando achou, andou rapidamente em minha direção e me pôs em seus braços restritos, levantando-me e dando várias voltas no ar como se eu também estivesse superfeliz por sua grande vitória. Edward sorriu para mim e, ainda comigo em seus braços, assentou seus lábios nos meus.

A multidão exultou mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí tem alguma teoria? No capítulo 6 essa racha continua...
Comentem, por favoooooooor. SDF ainda continua com mais acompanhamentos do que reviews! *corações*
Beijosss, até mais!