Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn
Notas iniciais do capítulo
~Pov Effie :3
No dia seguinte ao encontro com o tributo Haymitch Abernathy eu acordei em um salto. Não me lembro do sonho que estava tendo, mas foi algo chocante o suficiente para me despertar por completo. Abrindo a porta do meu quarto, vi que a sala estava vazia, portanto meus pais ainda não haviam acordado. Coloquei um vestido bege e, pensando na desaprovação de Haymitch sobre o estilo da Capital, decidi não usar peruca. Prendi meu cabelo liso e loiro em um rabo-de-cavalo e passei apenas base, rímel, sombra marrom e batom, afinal, ainda tinha de passar despercebida até o prédio dos tributos. Não pude evitar um salto cinco nude, já que era novo e as únicas garotas da Capital que não usavam salto alto tinham menos de doze anos. Deixei um bilhete na mesa da cozinha, que dizia “Fui dar uma volta no shopping, volto à tarde - Effie”, pois tinha de arranjar uma desculpa crível que minha mãe aprovasse.
Caminhei tranquilamente até o prédio e, chegando lá, fui direto para o telhado, torcendo pra passar despercebida.
E então eu esperei.
Assisti o sol atravessar o céu azul-claro. As ruas enchiam e esvaziavam, no que aparentava ser um ciclo vicioso. Haviam as horas de muita movimentação e os momentos de tranquilidade. Aliviei-me por morar em uma cidade de clima ameno, pois quando o sol atingiu seu pino, a claridade era impressionante, mas o calor, nem tanto. Aborreci-me com a ausência do tributo. Ele conseguira escapar uma vez, por que não fazia um esforço para repetir tal ato? No momento em que desisti de esperar, ouvi passos pesados e apressados na escada de metal que levava ao telhado. Virei-me no momento em que o rapaz loiro, alto e esguio abria a porta pesada e pisava no cimento, andando na minha direção.
Tenho certeza que franzi as sobrancelhas e cruzei os braços que nem uma criança impaciente, pois quando Haymitch se aproximou e me olhou, ele deu uma gargalhada estrondosa que me fez corar.
– Você fica muito fofa quando imita uma criança impaciente – ele disse, sorrindo e se encostando na mureta. Obviamente, eu corei mais ainda.
– Não estou imitando ninguém. Você está muito atrasado.
– Está aqui há quanto tempo?
– Mais de cinco horas! – exclamei, usando a voz anasalada para irritá-lo.
Ele pareceu ficar tenso, como se a mera pronúncia característica da Capital fosse um tapa na cara, mas continuou sorrindo.
– Bem, me desculpe se você chegou cedo – ele falou – Foi um tanto quanto difícil escapar hoje. A professora quase deu uma palestra completa sobre as regras dos Jogos, aquela baboseira toda que você comentou ontem, sobre não machucar ninguém durante o treinamento. Ela ficava encarando nós, do 12, como se fosse por nossa culpa que uma carreirista quase deu um soco na Maysilee – ele balançou a cabeça, como se em desaprovação – Como se ela fosse provocar uma carreirista só pra causar confusão.
– Ela não provocaria, então?
– Mas é claro que não! Maysilee é tão grosseira quanto um coelhinho cor-de-rosa.
Eu não pude evitar senão rir, imaginando a tributo com orelhas de coelho rosa brotando da cabeça loura.
Haymitch pareceu satisfeito por me ter feito rir.
– Enfim, Effie Trinket, conte-me algo sobre você. Considerando que, ontem, demorei metade de nossa conversinha para saber seu nome, acho que você deveria ser menos misteriosa sobre si mesma.
– Misteriosa? – quase ri novamente – Aí está algo que não sou.
– Neste caso, fale sobre sua vida.
– Certo – franzi o cenho – Sabe, acho que não tenho nada a dizer. Meu nome é Effie Trinket, faço dezesseis anos daqui a dois meses, tenho pai, mãe e nenhum irmão, moro na Capital e estudo em casa, com dois tutores. Sou péssima em matemática, aliás. Boa em... talvez História e Ciências Sociais. E é isso. – olhei-o em seus olhos. Eram azuis, frios e bonitos – Não fiz muita coisa na vida.
Ele estreitou os olhos, pensativo.
– Você realmente não gosta de se fazer interessante, não é?
– Como?
– Você tem que ter algum podre. Trauma de infância, revolta contra algo ou alguém, namorado maluco, qualquer coisa.
– Nunca tive nenhum animal de estimação, não consigo me lembrar de ninguém que sou revoltada contra e nunca tive namorado – respondi, contando nos dedos – Está bom assim pra você?
– Mas é claro que não – ele resmungou. Suspirou, desistindo, e fez um gesto de “deixa pra lá”. Parou por um momento e me encarou, o cenho franzido – Como assim você nunca teve um namorado? Nunca beijou ninguém?
– É – dei de ombros – Não saio muito sozinha e, como disse, não vou à escola. Minha mãe paga um professor de Exatas, outro de Humanas e ela mesma me prepara pra ser uma mentora de tribut... – minha voz morre antes mesmo de terminar a palavra. Agora ele devia achar que eu era horrivelmente intrincada naquele mundo Capitalista, já que estava treinando para levar tributos para sua morte. Vi algo em seus olhos escurecer e sua respiração ficar mais pesada.
– Você vai ser mentora?
– Eu... acho que sim... quero dizer, é a única coisa que eu estou realmente preparada para fazer.
– Quando você se transformar num ser repugnantemente falso que faz parte dos Jogos e controla seus tributos, lembre-se de mim, por favor.
– Eu não vou me transformar em um monstro escravo da luxúria e do véu enganador que compõem os Jogos, Haymitch. Você... me fez ver o mundo de outra maneira. Antes, tudo era normal, rotineiro, familiar, até divertido. Fazia parte do meu mundo sem que eu questionasse suas consequências. Mas agora, eu estou tentando ver o que a Capital faz, estou mesmo, todas as barbaridades contra os distritos e a humanidade. Haymitch, você...
Ele me cortou juntando seus lábios nos meus. Segurou meu rosto com suas mãos em concha e inclinou o rosto, aprofundando o beijo. Pega de surpresa, deixei ele me guiar e simplesmente apoiei uma mão em cada ombro, fechando os olhos.
Quando ele se afastou, seus olhos brilhavam.
– Aber.
– O quê? – perguntei, levemente desorientada.
– Me chame de Aber. É o meu apelido.
– Tá. Tudo bem, Aber – dei um sorrisinho sem graça.
– Eu tenho que ir agora – ele disse – Adeus, Effie Trinket. Não poderei escapar uma terceira vez.
Antes que eu falasse alguma coisa, ele inclinou o rosto para um selinho, virou-se e andou a passo rápido até a porta, adentrando-se no prédio e saindo de minha vista.
Por mais de um minuto fiquei ali, parada, estática. Não notei que tinha a mão nos lábios até que uma buzina ecoou na rua. Pisquei, como se acordasse de um sonho, e saí pelo mesmo lugar que ele. Voltei caminhando e, com certeza, quem me olhasse veria uma garota loira magra e frágil com um olhar perdido, o andar suave e hesitante.
Senti uma pontada no coração ao lembrar que poderia nunca mais falar com ele. E pior, se ele morresse, eu assistiria com minha família, depois do jantar, segura em minha casa, como se estivéssemos vendo um cantor ser desclassificado de uma competição musical.
Haymitch Abernathy era Aber. E eu nunca mais veria Aber novamente.
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Espero que tenham gostado e desculpem se o beijo deles aconteceu rápido demais :}
posto outro capítulo amanhã ou depois de amanhã :D