Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 21
21


Notas iniciais do capítulo

aeee desculpem a demora, tive recuperação e uns probleminhas na família, mas tô de volta, e tem uns pulos temporais ferrados ;)
enfim, aproveitem esse cap de ~pov effie



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Durante a turnê da Vitória do 73º Jogos Vorazes, Aber arranjou uma desculpa para viajar à Capital, e ainda outra, provavelmente a ver com bebida, para ir escondido à minha casa. Eu morava, na realidade, em um apartamento nos arredores do Centro dos Tributos, e dera o meu endereço à Aber depois da morte dos nossos tributos do ano; eu só queria que ele soubesse, para o caso de se encrencar em um bar Capitalista, mas ele foi me visitar, praticamente sóbrio.

No momento em que abri a porta, ele abriu os braços em saudação, fingindo total embriaguez:

– Trinket! – riu, quase tropeçando em si mesmo.

– Ab- Haymitch! Céus, o que está fazendo aqui? – perguntei, forçando o sotaque no caso de ter algum vizinho ouvindo.

– Ora, o que parece que estou fazendo aqui, amorzinho? Estava com saudade da minha escolta favorita, claro!

– Você está bêbado, não está? – exclamei, tentando soar desaprovadora.

– Imagine! Eu? Bêbado? Você é quem está bêbada, Trinket! Agora, vai me deixar entrar ou não?

Bufei, quando na verdade queria beijá-lo até arrancar aquele sorriso debochado de seu rosto.

– Entre, por favor – disse, com a voz aguda e falsa.

Assim que ouvi a porta batendo atrás de mim, virei o corpo e pressionei-o contra ela, inclinando minha cabeça e beijando-o.

– Também senti saudades, princesa – ela arfou, assim que me afastei.

Ri e beijei-o novamente, ternamente dessa vez. Ele jogou a garrafa que trazia no móvel mais próximo, seja lá qual fosse, e expulsou a peruca da minha cabeça, entrelaçando seus dedos no meu cabelo.

– Não entendo como precisa disso em casa – ele sussurrou, sorrindo brevemente.

– Aparências, queridinho – retruquei, mordendo seu lábio inferior. Sorri mais abertamente ao senti-lo perder o fôlego.

Um tempo depois, nos encontrávamos no meu sofá vermelho, praticamente arfando, abraçados embaixo de algumas almofadas. Aber brincava com o meu cabelo enquanto eu acariciava sua cicatriz no abdômen; me lembrava do dia em que ganhara aquele ferimento. No dia em que ele venceu o Massacre Quaternário, uma carreirista gigantesca havia lutado pela vitória e perdido, mas deixado um grande dano. Aber falou apenas uma vez de seus Jogos, e jurou que suas tripas estavam expostas e tudo que as segurava era sua própria mão quando o aerodeslizador chegou para buscá-lo.

– Eu nunca havia vindo à sua casa – ele sussurrou, como se a quebra do silêncio fosse um pecado que ele temia cometer.

Eu assenti antes de respondi:

– Acho que também nunca fui à sua.

– Foi sim. Bem, mais ou menos. Na Colheita do ano passado, você e o prefeito foram me arrancar da vila dos vitoriosos quando eu estava de ressaca.

– É, mas ele que invadiu a sua casa. Eu só fiquei do lado de fora, parecendo frágil, esperando que ele te arrastasse para o edifício da Justiça. Foi hilário.

Ele produziu um som que era meio bufo meio riso, e observou:

– Certamente não foi hilário pra mim.

Assenti, acomodando minha cabeça em seu peito. Depois de certa pausa, ele falou:

– Mas sua casa é feia pra caramba, hein, Effie.

– Eu tento – respondi, dando de ombros contra suas costelas.

Ele riu, mas logo fomos submetidos a outro longo silêncio, se bem que mais confortável. Minha mente começou a divagar, e antes que eu percebesse, estava pensando em Henry e Sailee. Pisquei, ligeiramente perturbada, e soltei, um tanto bruscamente:

– Você se lembra de todos os seus tributos?

Por um momento não houve resposta, mas depois me vi sendo empurrada para sentar-me. Recostada no sofá, encarei Haymitch, que inclinara-se e apoiava seus cotovelos nos joelhos nus. Houve mais silêncio, um profundo suspiro e o relaxamento de seus ombros antes que ele respondesse:

– Honestamente, não. Às vezes perco os rostos e os nomes, e às vezes não consigo conectá-los. Sempre me lembrarei dos primeiros, claro; Will e Drea, treze e quinze. Alguns outros, talvez. Pete e Cathy, dezesseis e, bem, não me lembro da idade dela. Gerry e Kenna, catorze e doze. Paul e... Lauren, acho, mas não me lembro quantos anos tinham. Henry e Sailee, obviamente, dezessete e catorze. Colin e Bree, dezesseis e treze. Jay e Natalie, catorze e quinze – meu coração se apertou ao ouvir tais nomes; aqueles eram os nossos tributos, os que eu escoltara para a morte desde que começara a trabalhar com ele. 71º, 72º e 73º Jogos Vorazes, temendo os 74º e, acima de tudo, os 75º, o próximo Massacre. Levantei meu braço e pousei minha mão em seu ombro, apertando levemente. Queria que ele soubesse que eu estava com ele; sempre estaria.

Antes que eu falasse mais alguma coisa para confortá-lo, ele levantou-se, reclamando da falta de bebida no meu apartamento, e eu me vi obrigada a explorar minha geladeira à procura de alguma coisa alcoólica. Passamos o resto da tarde bebendo, conversando, cantando, chorando em memória de nossas famílias e tributos, rindo de nossas histórias, antigas e novas e... bem, outras coisas.

Felizmente, ele não teve de ir embora ainda naquele dia, então, pela primeira vez, tive Aber na minha cama, na minha casa da Capital. Desejava tê-lo na sua cama, na sua casa no Distrito 12, mas isso seria ridiculamente impossível. Na manhã seguinte, acordei-o cedo, pois tinha brunch com minhas “amigas” Capitalistas, e mandei-o para o prédio dos tributos depois de inventar uma desculpa para que ele justificasse sua ausência durante a noite. Beijei-o na porta da minha casa, fingindo, por um momento, que não me preocupava se nos vissem.

A próxima vez que o vi, estávamos na festa do fim do Turnê da Vitória. Não queria cumprimentar o jovem tributo que havia matado Jay e Natalie, mas mantive as aparências e cumprimentei várias personalidades importantes, congelando meu sorriso e fingindo beijar as bochechas coradas e duras das outras escoltas. Bebi vários drinques antes de encontrar Aber brigando com um garçom que não queria lhe dar uma garrafa de uísque, e derrubei licor no meu vestido para distraí-lo enquanto Aber pegava a garrafa. Encontrei-o ao lado de uma fonte iluminada e segui-o até atrás de um arbusto escurecido.

– Senti sua falta – murmurei, abraçando-o.

– Eu também, princesa – levantando meu rosto, ele beijou-me muito mais delicadamente do que eu esperava, e sorriu – Como está indo, amorzinho?

– Estou bem – dei de ombros – Tirando que meu vestido está terrivelmente grudento e eu ainda não bebi nada do seu uísque – tentei alcançar a garrafa, mas ele riu.

– Nada disso, queridinha. O bêbado oficial do grupo do Distrito 12 se chama Haymitch Abernathy, e eu tenho certeza que esse não é o seu nome.

– Ah, vai se foder – falei suavemente, sorrindo de lado e agarrando o uísque. Ele riu de novo, provavelmente mais alto do que deveria, mas beijou-me logo que lhe devolvi a garrafa.

– Quando quiserem te substituir por uma escolta Capitalista nojenta, forje a sua morte, adote um nome medíocre e venha morar comigo no 12, sim? – ele disse.

Ri, mas encarei-o com sinceridade.

– É capaz de fazer isso mesmo.

– Mal posso esperar – ele sorriu, uma mistura de ternura e malícia, e voltou a me beijar.

Logo antes da Colheita dos 74º Jogos Vorazes, nos encontramos na sala do prefeito, da mesma maneira que nos reencontramos apenas alguns anos antes, depois de mais de duas décadas separados. Dessa vez, com receio que o prefeito retornasse antes do previsto, ele apenas me beijou uma vez, mas, assim como em muitas outras ocasiões, surpreendeu-me com a ternura que o fez. Eu encarei-o por mais um tempo, tentando ler algo de seus olhos, mas quando vi, eram um mar de dor. Abracei-o imediatamente; queria dizer que entendia sua dor, que tudo se tornaria mais fácil, que tudo ficaria bem. Mas eu só trabalhava com os tributos fazia poucos anos, e com Panem sob o poder de Snow, nada nunca ficaria bem. Então, ao invés disso, apenas sussurrei:

– Eu e você, Aber. Eu e você.

Senti seu abraço apertar, mas não obtive resposta. Nos sentamos e nos confortamos com silêncio e olhares apreensivos até que o prefeito voltou, parecendo mais cansado do que nunca.

– Haymitch, Trinket, podem ir.

Sorri algo que esperava ser cintilante, e fingi não perceber o olhar malicioso que Aber me lançou. Ele estava planejando alguma coisa.

Segundos depois que entrei, ouvi um barulho ridiculamente alto e, ao me virar, deparei-me com Haymitch jogado no chão, levando-me de volta à minha primeira Colheita, quando ele tropeçara em seus próprios pés de propósito. Suprimi uma risada e virei-me de volta à multidão, abrindo um sorriso falso o suficiente para causar orgulho à minha falecida mãe.

– Sejam bem-vindos à Colheita da 74ª edição dos Jogos Vorazes! – eu disse animadamente antes de apresentar o filme sobre a rebelião e o nascimento dos Jogos. O vestido rosa que eu estava usando era insuportavelmente apertado e quente, então quase perdi a deixa após o fim do filme para começar o sorteio – Felizes Jogos Vorazes! E que a sorte... esteja sempre a seu favor – lancei mais um sorriso à multidão – Primeiro as damas... – anunciei, enfiando a mão no aquário repleto de papéis. Remexi um pouco, como fui ensinada para criar certo suspense, e tirei um, voltando à frente do microfone – Primrose Everdeen!

O murmúrio que se seguiu foi terrível, mas em dado momento, uma garotinha, uma loira de uns doze anos, começou a se mover na direção do palco. O tecido de seu vestido estava bagunçado, fazendo-o parecer o traseiro de um pato. Ela parecia estar em um transe, completamente estarrecida, até que uma garota mais velha, uma moça morena de vestido azul, começou a correr na direção dela.

– Prim! – eu a ouvi gritar, enquanto apertava o passo – Prim! – as outras crianças abriam caminho à garota como o mar à Moisés, e no momento que alcança Primrose, ela põe-se em sua frente, e grita – Eu me ofereço! Eu me ofereço como tributo.


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Notas finais do capítulo

goxtaram? no próximo tem o peeta, não se aflijam ;3 e é isso aí por hoje, comentem, façam o que quiserem