The Forgotten escrita por Panda Chan


Capítulo 48
Como água e vodca


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos bolinhos, como estão? Eu estou meio congelada e meio viva, tem alguns pinguins aqui comigo, mas estou bem.
Estou me sentindo maravilhosa pelas loucuras que vocês fazem e os comentários que recebo. Primeiro, uma leitora me disse que não consegue encarra os olhos de um desenho que fez sem se lembrar da Alice por que são verdes, o nome de um violino é Alex e tem uma maluca apelidada de Juuh que cortou o cabelo da forma como imagina o da Red. Posso me sentir diva? kkkk
Infelizmente, meu computador continua ruim :c Agradeço a todas as dicas que recebi, mas os programas não ajudaram (estou pela guia anonima por precaução).
Esse é o primeiro capítulo com um personagem cantando que eu escrevi, a música é a Unravel abertura do anime Tokyo Ghoul (https://www.youtube.com/watch?v=-jA4GvMtHhs), a tradução é da banda The Kira Justice. Recomendo que ouçam a música quando a cena chegar.
Boa leitura.

OBS PÓS POSTAR O CAPÍTULO: CADÊ VOCÊ CLARE? PODE VOLTAR A LER Ò-Ó



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Já presenciei a morte de vampiros, a tortura dos meus pais, os últimos momentos de vida do meu namorado e diversas lutas, mas ver a Lizzy cortar o pescoço do lobisomem me deixou mais abalada do que qualquer outra cena de violência que eu já tenha presenciado.

Lizzy segurou a cabeça enquanto observava o corpo cair alguns segundos após perder a parte tão vital. Ver o rosto dela congelado naquela expressão indiferente e sujo do sangue do lobisomem enquanto olhava seu corpo sem vida no chão me assustou.

Gritei.

Aquele rosto era igual o meu, foi como se eu estivesse assistindo a mim mesma cometendo um assassinato. A minha face é igual a de uma assassina.

– Não acredito que você se assustou vendo esse pouquinho de sangue.

Aquilo era um eufemismo dos grandes. O sangue escorreu da cabeça pingando enquanto ela rolava pelo chão e também saiu do buraco onde ela devia estar no corpo.

– Você acabou de matar uma pessoa!

– Não é a primeira vez que você me vê matando, Alice – ela revirou os olhos e caminhou até a árvore onde estávamos antes recolhendo a sacola com o papel dos croissants – Você já me viu em ação mais de uma vez.

– Mas nunca vi essa expressão no seu rosto.

Ela ergueu uma sobrancelha, parecia intrigada com o que eu dizia.

– Ele veio nos matar.

– Podíamos prendê-lo nas masmorras.

Ela começou a caminhar indo para a trilha que dava acesso aos prédios dos dormitórios, eu a segui.

– Ele iria escapar.

– Você não escapou.

Ela parou bruscamente. Continuei caminhando até bater em suas costas.

– Ai! – reclamei – Não pare no meio do caminho desse jeito.

– Eu apenas não escapei porque não quis – a voz dela parecia um rosnado. Lizzy se virou para mim – Se eu quisesse teria te matado na primeira vez em que vim fazer isso e fugido daquela cela tão rápido que vocês demorariam um dia inteiro para perceber.

Engoli em seco. Mesmo que ela estivesse com raiva, sua voz não mostrava qualquer sinal de mentira.

– Matá-lo foi algo drástico, de qualquer forma.

Elizabeth me encarou, analisou cada parte do meu rosto com uma expressão indiferente como um especialista analisando uma obra de arte.

– A ideia de ver o seu rosto sujo de sangue é tão repulsiva assim?

– O que? – sem perceber, gaguejei.

– Você só teve essa reação porque, pela primeira vez, viu o meu rosto sujo de sangue – ela parecia incrédula enquanto jogava a verdade na minha cara – O rosto que é igual ao seu – então sorriu – É isso, certo? A pequena fada não consegue encarar a ideia de ser uma assassina?

– Eu já matei vampiros – tentei fazer com que minha voz soasse séria e confiante, sem sucesso.

– Vampiros são praticamente mortos vivos que conseguem falar, tenho certeza que uma fada não sentiria qualquer receio em matar vampiros.

– Está errada – novamente fui traída pela minha própria voz.

– Estou mesmo?

Minha gêmea não esperou por uma resposta, virou-se e continuou seu caminho sem se importar em me deixar para trás. Observei enquanto ela ficava cada vez menor conforme se afastava.

Entrei no dormitório e olhei para a Flor, a recepcionista/governanta esqueleto que fica atrás da mesa de recepção, hoje ela usava um vestido laranja com flores amarelas. Me pergunto quem troca a roupa dela.

– Boa noite, Flor – cumprimentei sem qualquer humor.

– Que milagre você se lembrar da minha existência – o som da voz dela causou um arrepio em meu corpo como uma forte rajada de vento no meio de uma nevasca – Boa noite, Alice. Tem uma visita no seu quarto.

Murmurei um agradecimento e comecei a subir as escadas infinitas até o último andar, amaldiçoando pela primeira vez a pessoa que me deu aquele quarto por ter escolhido logo o mais distante. Parei diante da porta com um grande “14” pintado em vermelho e franzi o cenho.

A maçaneta estava enfeitiçada e o feitiço se mantinha intacto, somente uma pessoa poderia estar lá e não consigo imaginar porque viria até aqui me ver. Soltei pequenas faíscas com as mãos.

“A morte pode entrar em todos os lugares”.

Alexander estava deitado em posição fetal na minha cama abraçando o Sr. Pikachu com meu exemplar autografado de “Querido Diário” fechado ao lado.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei de forma mais irritada do que gostaria.

– A forma como a Jullie expressou o que sentiu com a morte do irmão é tão linda – ele disse com voz de choro.

– Não respondeu minha pergunta – revirei os olhos e me sentei na cadeira da escrivaninha para tirar as botas.

– Você ficou estranha depois que contei minha história. Fiquei preocupado.

Realmente, depois que ouvi o relato de Alex sobre sua vida troquei poucas palavras com ele. Nem mesmo expliquei porque queria para na padaria no caminho para comprar os croissants.

Croissants e assassinatos. Senti outro arrepio.

– Sinto muito por ter te preocupado – murmurei escolhendo um pijama e me dirigindo ao banheiro – Eu não soube como falar com você após o acontecido, tive medo de ser indelicada.

Mesmo com a porta trancada do banheiro entre nós pude ouvir a gargalhada de Alex.

– Eu já tive seiscentos anos para superar isso, Alice. Não tem motivo para se sentir receosa em falar sobre o assunto.

Vesti o meu pijama de sapinhos com um grande sapo estampado dizendo “ Por você, esse sapo lava o pé” e sai do banheiro. Ele voltou a gargalhar quando viu minha roupa de dormir.

– Mesmo pensando nisso, ainda não sei como falar sobre o assunto – suspirei. Alex se ajeitou na cama deixando espaço para que eu sentasse – Podemos falar sobre outra coisa?

– Claro, sobre o que vamos conversar? – ele sorriu e eu senti uma pontada no peito.

De todas as pessoas que conheço, Alex é o único que pode me ajudar a entender a reação que tive ao ver a minha irmã decepando a cabeça de um homem.

– Max, o lobisomem que me atacou no dia em que você devolveu minhas memórias, veio até o Instituto hoje dizendo que iria matar Lizzy, Zero e eu – suspirei – Ele e Lizzy começaram a lutar e eu pude ver ao vivo ela agindo como a Rainha Vermelha. Não entendo, mas assim que vi a cabeça dele caindo para longe do corpo tive o impulso de gritar e depois Lizzy perguntou se a ideia de ver o meu rosto matando alguém é tão repulsiva quanto meu grito fez parecer.

Admitir tudo aquilo me deixou envergonhada, Alex ouviu sem expressar qualquer reação que não fosse compreensão.

– Não me surpreendo com um dos assassinos vindo atrás de vocês, eles desertaram e você é a garota que não mataram. Por mais que te incomode ouvir isso, você não consegue se ver como uma assassina, Alice. Todos os que você matou ou viu morrer eram apenas sacrifícios para que você conseguisse salvar quem amava.

– Meus pais…

– Se sacrificaram para salva-la – ele interrompeu como se tivesse lido a minha mente – E você não os matou. A sua irmã foi criada para ver o assassinato como uma profissão da mesma forma como você veria um médico ou um arquiteto, para ela é normal matar alguém, mas para você não. Os princípios morais e éticos que influenciaram sua vida são diferentes dos que influenciaram a dela. Ela está certa ao dizer que você não consegue ver seu rosto como a face de uma assassina, mas ao mesmo tempo errada.

– Sua resposta filosófica deu um nó nos meus neurônios – soltei um gemido de frustração.

– O rosto de vocês pode ser o mesmo, mas existe uma diferença colossal entre você ter gritado ao ver o rosto dela manchado de sangue e quando você matou: vocês não são a mesma pessoa. A aparência igual não define que vocês também sejam.

– Acho que você não me ajudou – peguei o Sr Pikachu que ele ainda abraçava e o segurei com força – E ao mesmo tempo, acho que ajudou.

Somos iguais na aparência e diferentes em todo o resto, fomos criadas da mesma forma por menos de um terço de nossas vidas e não temos os mesmos princípios. É como ser irmã de alguém e ao mesmo tempo não ser.

– Somos como vodca e água – conclui em voz alta sem perceber.

– O que? – Alex perguntou confuso.

– Ambos são líquidos transparentes, mas o gosto e o cheiro são totalmente diferentes.

– Tecnicamente, a água é inodora e insipida.

– Viu como é diferente da vodca? Alguém devia publicar um livro com meus pensamentos filosóficos.

Alex riu.

– Em seiscentos anos já conheci milhares de pensadores, mas nenhum teve reflexões tão diretas quanto as suas.

Sorri ao ver o sorriso dele. Alex passou a mão pelo meu rosto deixando um rastro quente contra a minha pele e depois arrumou minha franja.

– Você precisa cortar essa franja.

– Obrigada – murmurei.

– Pelo o quê?

Observei os olhos castanhos que lembravam vagamente os de um gato, atentos a tudo e ao mesmo tempo parecendo inocentes. O cabelo preto continuava maior do que eu me lembrava com a franja bagunçada escondia parte de suas sobrancelhas e mechas pretas e lisas que apontavam para todos os lados, bagunçadas, por ter ficado no travesseiro por um tempo. O servo da morte diante de mim parece mais um adolescente comum que inspira seu estilo em um astro de banda de rock que gosta, mas não exagera e fica diferente e agradável de olhar.

– Tudo – sorri.

O dia seguinte foi normal como qualquer outro dia de aula no Instituto, a exceção veio após o almoço.

Zero entrou sozinho no refeitório e veio diretamente até a mesa onde eu estava sozinha.

– Me explica como você conseguiu estragar a única oportunidade de se aproximar da sua irmã? – ele perguntou sem rodeios.

– Não estraguei nada – respondi levando uma grande quantidade de macarrão para a boca. Talvez se eu manter a boca cheia não tenha que respondê-lo.

– Então por que ela chegou cheia de sangue no rosto ontem e disse que estava com a “gêmea fresca”?

– Não sou fresca! – protestei com a boca cheia.

– Falando de boca cheia percebe-se sua falta de educação para conseguir ser fresca – ele revirou os olhos – Vá conversar com a sua irmã.

– Estou almoçando – para dar ênfase apontei com o garfo para o prato.

– Eu resolvo isso – ele piscou, puxou o garfo da minha mão e o pegou o meu prato.

– Ei!

Ele conseguiu comer todo o meu macarrão em alguns segundos e olha que o prato estava praticamente intocado tirando a garfada que dei antes.

– Agora que seu almoço acabou – ele pegou um guardanapo e limpou os cantos da boca – Vá se resolver com a sua irmã.

Queria soca-lo por ter tocado na minha comida, mas o amor pela minha vida me lembrou que ele é um assassino e eu sairia muito mal se fizesse isso.

Suspirei antes de me levantar e fui para fora do refeitório. No caminho para o antigo alojamento dos professores, encontrei a Melody.

– Para onde você está indo, ruiva? – ela perguntou sorrindo.

– Visitar a minha irmã – respondi e logo uma ideia apareceu – Quer ir comigo?

– Não – ela respondeu sem nem pensar antes.

– Claro que quer – sorri e a agarrei pelo braço arrastando pelo caminho.

– Eu sou mais forte do que você! – ela praticamente cantarolou.

– Bem lembrado – enviei uma rajada de ar que a empurrava na direção do alojamento comigo – Eu amo a magia.

Melody desistiu de resistir pouco tempo depois de sentir o vento em seu rosto.

– Por que você está me arrastando para ver a sua irmã surtada?

– Ela está brava comigo e vai ser bom ter uma testemunha caso ela tente me matar – respondi casualmente. Melody arregalou os olhos.

– Se quiser morrer vá sozinha, não arraste sua amiga loba junto!

Eu ri da revolta dela por ser levada contra a vontade, mas não parei. Chegamos a frente ao alojamento onde minha irmã está vivendo e entramos.

O alojamento era como o meu dormitório, tudo decorado com madeira como uma cabana e diversas fotos com os antigos professores do Instituto decorando as paredes. Uma mesa com a placa “recepção” estava no fundo, mas não parecia ser usada há muito tempo.

– Como vou encontra-la agora? – olhei esperançosamente para Melody.

Ela bufou.

– Isso, abuse dos instintos avançados da sua amiga loba – mesmo reclamando ela começou a farejar o ar e depois apontou para uma direção – O cheiro dela vem desse lado, vamos.

Quanto mais andávamos pelos corredores desertos e cobertos por poeira, mais diferente a arquitetura do lugar se tornava. A decoração de madeira ficou para trás assim que saímos da recepção, as paredes dos corredores pelos quais seguimos eram decoradas com papéis de paredes cheios de flores de lótus ou que imitavam a sombra das árvores.

– Esse lugar deve ser assustador de noite – Melody comentou e eu concordei.

Andamos mais um pouco até ouvirmos a melodia de um piano, nos entreolhamos e seguimos na direção de onde o som estava mais forte parando em frente à uma porta de madeira avermelhada.

“Sala de música”

Melody abriu a porta silenciosamente fazendo com que a música ficasse mais alta e dando uma boa visão da sala. As paredes eram pintadas de rosa bem claro com detalhes brancos, diversos instrumentos estavam cobertos por panos brancos empoeirados ou dentro das suas capas. O meio da sala era ocupado por um grande piano preto de cauda com uma pequena figura de cabelos avermelhados sentada diante dele tocando a melodia que me atraiu até ali.

Elizabeth tocava o instrumento e cantava como se aquilo a libertasse de todos os seus sofrimentos, o som do piano e da voz dela era tão belo que quase não percebi que não estava entendendo o que ela dizia.

– Por que o feitiço de tradução não traduz as palavras dela? – perguntei.

– A música não foi feita para ser traduzida, mas sim ouvida já que é a tradução dos nossos sentimentos – Melody sorriu – E sua irmã está cantando em japonês.

– O que? – quase gritei ao ouvir aquilo. Prestei mais atenção nas palavras e realmente era japonês – Você consegue traduzir o que ela fala? – pedi.

Melody suspirou.

A solidão vai apertar, vai começando a sufocar e o que já me fez rir agora vem pra me fazer chorar. Não posso andar, me libertar. Não posso andar, me libertar. Não posso andar, me libertar do… Monstro que sou! – Melody me olhou, parecia emocionada.

Talvez seja assim que a Lizzy se sente, um monstro.

Minha irmã tocou mais algumas notas antes de se virar olhando diretamente para mim e depois voltou sua atenção para o piano.

Eu fui transformado, não quis ser mudado – ela estava cantando no meu idioma – Se dois se uniram, dois se destruíram. Nem tão mortal, nem imortal. Nem caindo, nem tão de pé, mas eu nunca vou te contaminar – ela olhou para mim com um sorriso triste – E nesse mundo tão sujo e distorcido, estou transparente, invisível. Não me procure, não procure olhar para mim. E aqui nessa armadilha que alguém fez só tente fugir, e só te peço: Não vá me esquecer, não vá me esquecer… De como eu sempre fui – mesmo que fosse a canção aquilo parecia um pedido – Não me esqueça, não me esqueça. Eu não acredito que me transformei já que em meus sonhos eu nunca mudei. Não vá me esquecer, não vá me esquecer.

Ela tocou mais algumas notas, quando voltou a cantar sua voz lembrava um sussurro:

Me diga então – ela não desviou os olhos do pianos – Me diga então... Se há um outro alguém preso dentro de mim?

Ouvi as palmas de Melody enquanto a loba entrava na sala de música.

– Isso foi incrível – ela disse super animada – Não acha, Alice?

– Sim – respondi automaticamente – Você tem uma voz maravilhosa, diferente de mim.

– Obrigada – Lizzy se levantou – Não gosto de plateia, mas com tantos elogios vou poupa-las do castigo de dor eterna.

Esse castigo é algo pior que a morte que ela causou no lobisomem?

Melody riu.

– Seu japonês é perfeito e sem nenhum sotaque, como conseguiu ficar tão fluente assim?

– Eu morei no Japão por alguns anos – Lizzy ergueu os ombros e os abaixou novamente – Passei a maior parte do tempo viajando para matar, mas quando estava por lá assistia animes diariamente e conversava em japonês com o Zero para treinar.

– Sabia que essa música era familiar – Melody sorriu – É a abertura do Tokyo Ghoul, certo? A Unravel.

– Exato – Lizzy sorriu discretamente para ela – Essa foi uma das primeiras músicas não-clássicas que eu me arrisquei a tocar no piano.

– E onde você aprendeu a tocar piano? – perguntei, a voz tão baixa que por um instante acreditei que ela não tinha ouvido.

– Em uma missão de infiltração um assassino precisa depender de dons que vão além de matar – ela se moveu indo até o piano e estendendo uma flanela nas teclas antes de fechar a tampa – Dons artísticos são os mais populares para isso.

Engoli em seco. Quantas pessoas já se maravilharam com o som que ela produz tocando piano antes de serem mortas por ela?

Melody alternou o olhar entre nós duas parando em mim.

– Sua franja está gigante, Ali-chan – ela falou como se fosse uma tragédia – Devia cortar logo.

Abri a boca para dizer que planejava fazer isso depois, quando fui interrompida pela minha irmã.

– Se quiser, eu corto para você – Lizzy se ofereceu casualmente.

Continuei com a boca aberta sem que nenhuma uma sílaba fosse dita.

– A Ali-chan adoraria – Melody me empurrou para perto da Lizzy sorrindo – Ela não tem medo de uma assassina treinada com uma tesoura, né? – para mim ela deu um daqueles sorrisos nervosos. Balancei a cabeça de forma positiva.

– Devia ter – Lizzy sorriu de um jeito bem malicioso – Pode ir embora, minha irmã não precisa de guarda-costas para um corte de cabelo.

Olhei para a loba suplicando que ela ficasse, mas a traidora saiu correndo e gritando algo sobre um compromisso inadiável com a Pudim.

– Grande amiga a sua – Lizzy riu.

– Nem todos conseguem metamorfos assassinos como amigos – minha voz saiu mais confiante.

– O meu é edição limitada – ela deu uma piscadela e puxou uma adaga de arremesso do sutiã – Pronta para cortar o cabelo?

Olhei para o cabelo dela, uma grande confusão de fios longos e curtos e me perguntei porque mesmo aceitei isso. Ela aceitou meu silêncio como um sim e puxou o banco onde estava sentada em frente ao piano deixando atrás de mim.

– Por que você guarda uma adaga nos seios? – perguntei para esconder o nervosismo.

– Nunca se sabe quando vai ser necessário – ela deu de ombros.

Odeio admitir, mas Lizzy sabia o que estava fazendo. Ela usou uma presilha pente como a de ontem para pentear a franja e separar os fios que não faziam parte dela, depois usou a adaga como tesoura e jogou minha franja para o lado que eu desejava.

Voilà – disse ao terminar. Peguei a adaga prateada das mãos dela e tentei ver meu reflexo, parecia bom.

– Obrigada – murmurei.

– De nada – ela me encarou – Por que você veio até aqui?

– Vim dizer que você estava certa – os olhos dela eram tão parecidos com os meus que não consegui olhar para eles por muito tempo – Eu não consigo ver o meu rosto sujo de sangue, mas tenho que me acostumar em ver o seu.

– Você sabe que eles são idênticos, certo?

– Sim – ri com a pergunta – Mas nós somos diferentes, o que muda tudo. Não sei pelo que você passou e nem como sobreviveu ao ritual, mas quero me dar bem com você, Lizzy. Somos as únicas que restaram da nossa família.

Lizzy assentiu com uma expressão triste no rosto, esperei que ela falasse algo, mas o silêncio permaneceu. Resolvi ir embora, foi quando ela se manifestou.

– Minha alma ficou presa entre o mundo dos vivos e dos mortos durante o ritual – ela murmurou – Eu fiquei inconsciente até que os capangas da Organização fossem limpar a sujeira de Marloc e me encontrassem.

– Por que só a sua alma ficou presa?

– Papai já estava sem alma quando seu sangue foi recolhido e mamãe praticamente se matou para salvar você, pode-se dizer que fui bem azarada.

Olhei para a pose de durona que minha irmã mantinha escondendo qualquer sentimento e sorri.

Alex tem razão ao dizer que somos diferentes e iguais ao mesmo tempo, agora eu posso ver. Por mais que ela tente esconder como quer chorar ao se lembrar do ritual, posso sentir suas lágrimas como se fossem as minhas. Acho que essa é a ligação de gêmeos.

– Obrigada – disse novamente.

Ela se virou com uma expressão confusa no rosto.

– Pelo o que? – perguntou.

– Ser minha irmã – respondi pouco antes de fechar a porta e caminhar pelo corredor vazio.


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Notas finais do capítulo

Como devem ter percebido esse capítulo foi mais sentimental e a música Unravel é maravilhosa. Sério, amo essa canção e a ouço todos os dias. Estou aguardando as opiniões de vocês nos comentários, hein.
Um dos meus amados leitores deu a ideia de criar um grupo no WhatsApp para a fic, não sei se é uma boa ideia, mas caso alguém queira participar é só me mandar o número por mensagem privada.
UHUL 400 COMENTÁRIOS ♥ VOCÊS SÃO INCRÍVEIS *-*
Beijinhos com purpurina jovens bolinhos.



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