Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 35
Do you know your enemy?


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, CHUCHUS!!!!!!!!!!!!!!
Pessoal, como estão? Eu, como de costume, estou com SAUDADES! Como foram de Natal? Como está o tio(a) que pergunta dos namoradinhos(as)? Aquele tio gordo que fica na churrasqueria sem camisa bebendo cerveja e assando a carne? Sua tia que sempre diz que vai trazer uma """lembrancinha""" e te dá um par de meias? Falaram muito mal da Dilma na hora da ceia? E o pavê ou pacumê? Rolou? Ahhh, como eu amo o Natal da Família Tradicional Brasileira!!! (NÃO)
Hoje, último dia do ano, eu quis dar um presentinho a vocês, em homenagem à despedida desse ano que para muitos foi difícil. Muitas coisas loucas aconteceram em 2015, vários plot twists, e, por isso, guardei esse capítulo (que estava planejado desde o dia que eu pensei em Money Make Her Smile pela primeira vez) para esse momento tão especial. Aqui, teremos o ano de 2015 em forma de um capítulo, que pode ser resumido em duas simples palavras: COISAS DOIDAS. É bem surpreendente, e eu tenho certeza que vocês não estavam esperando nada assim. Eu espero de todo o meu coração que vocês gostem, porque tenho isso na cabeça há muito tempo e finalmente chegou a hora de escrever e mostrar para vocês.
Votos de feliz ano novo nas notas finais! Vejo vocês lá daqui a pouco.
AHHHH, sim, eu sempre esqueço: Música do título: Know Your Enemy - Green Day (que tem outra música que batizou minha outra fic, aliás, se vocês quiserem ler vou ficar bastante feliz, corre lá no meu perfil e clica em "The Innocent Can Never Last") e música do capítulo: Stay, da Rihanna (música que também estava aguardando ANSIOSAMENTE) para pôr na fic, e acho que tem muto a ver com esses dois DOIDOS com os quais passaremos este cap).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/450325/chapter/35

“Ohh, the reason I hold on

Ohh, 'cause I need this hole gone

Funny you're the broken one

But I'm the only one who needed saving

'Cause when you never see the lights

It's hard to know which one of us is caving”

Annie caminhava alegremente pela portaria do prédio de Finnick, os dedos passeando distraídos pelo cabelo na tentativa de colocar os fios no lugar depois do suave vento que a acompanhara durante o trajeto.

Seus dedos tatearam pela parede do lado esquerdo da porta do elevador à procura do botão para chama-lo, mas logo percebeu que este já a esperava no térreo. Abriu a porta e entrou no cubículo de paredes amareladas e, num gesto automático, se olhou no espelho enquanto a porta se fechava lentamente.

– Peraí! – Ela ouviu uma voz grave do lado de fora e imediatamente meteu a mão na porta, impedindo-a de se fechar e educadamente segurando-a para que o próximo passageiro pudesse compartilhar a viagem com ela sem ter que esperar o elevador subir até o décimo andar e depois voltar até o térreo para chegar em seu destino.

Annie sentiu o peso da porta diminuir em seus dedos e a largou no exato instante em que seu companheiro de viagem a abria novamente, só para que um silvo desesperado lhe escapasse dos lábios assim que a porta foi aberta o bastante para revelar a identidade de quem compartilharia a viagem com ela.

O loiro parou por um instante assim que os dois olhares se encontraram, segurando a porta, e Annie pode ver a hesitação brilhar nos pequenos olhos azuis elétricos. Ela pode ver perfeitamente a ideia dançar pela cabeça de Peeta: ele fechando a porta na cara de Annie e indo pelas escadas só para se poupar do climão que se estabeleceria se ambos compartilhassem uma viagem, mesmo que de menos de um minuto inteiro, até o apartamento que era destino de ambos. Ela também pode vê-lo analisando rapidamente se fechar a porta na cara da morena não seria pior ainda, afinal, ela ainda era namorada de seu melhor amigo, portanto, ele ainda deveria tentar manter uma relação minimamente cordial.

E isso incluía compartilhar viagens de elevador. Eles estavam até indo para o mesmo lugar. Não doeria tanto assim para ele passar trinta segundo em um ambiente fechado com Annie.

Depois desse breve momento de tensão, em que a cabeça de ambos de encheu de reflexões e análises, Annie o encarou em expectativa. Não porque queria saber o que Peeta havia decidido, mas porque ele estava segurando a porta há muito tempo e alguma outra pessoa poderia querer usar o elevador e ele estava impedindo.

Por fim, surpreendendo a morena a sua frente, Peeta entrou no elevador e deixou a porta se fechar suavemente atrás de si, procurando o painel com os botões dos andares em um gesto automático, só para dar de cara com o 10 já iluminado, porque Annie já o havia apertado.

– Obrigado. – Ele disse, e só nesse momento Annie pode perceber que Peeta carregava algumas sacolas plásticas. Pareciam pesadas, e ela logo entendeu que se tratavam de compras do mês.

– De nada. – Ela respondeu, um sorriso tímido cruzando os lábios. Annie era durona e tudo o mais, mas detestava saber que alguém não gostava dela, especialmente pelos motivos de Peeta. Lembrava-a de uma época ruim, em que ela era uma pessoa diferente e fazia coisas ruins. Ela sabia que Peeta não gostava da Annie egoísta e interesseira, e reconhecia que ela tinha suas razões para desconfiar de que essa Annie poderia um dia voltar e magoar Finnick novamente. Apesar de entender os motivos do loiro, ela não conseguia achar aceitável ele nunca ter lhe dado uma chance de mostrar que havia mudado. Ele não era a pessoa para a qual ela precisava provar nada, mas não era confortável saber que o melhor amigo de seu namorado te acha uma mentirosa.

Há muito tempo, Annie desistira de tentar manter uma relação cordial com Peeta. Eles raramente se encontravam, então a única coisa que restava aos dois era ignorarem-se mutuamente quando estavam reunidos. Com o fim do relacionamento entre ele e Katniss, as coisas ficaram mais fáceis e eles passaram a se encontrar cada vez menos. Mas ambos sabiam que não estavam livres de ter de se encarar de vez em quando.

O que nenhum deles esperava era ter de compartilhar longos trinta segundos até alcançar o apartamento dos dois rapazes.

Annie virou-se novamente na direção do espelho e passou os dedos mais uma vez pelos cabelos, que caíam invejosamente brilhantes e macios sempre que ela fazia qualquer movimento com a cabeça. Peeta apoiou as compras no chão e a visão periférica de Annie captou que ele também mexia nos cabelos, respirando rapidamente devido à corrida para alcançar o elevador e ao esforço de carregar as sacolas pesadas.

Enquanto se encostava na parede oposta onde Peeta apoiava a cabeça no braço direito, Annie observava o painel ir lentamente aumentando os números a medida que os andares eram deixados para trás. 3, 4, 5; e ela estava tão distraída que talvez sua reação tenha sido um pouco exagerada quando o elevador deu um solavanco anormal entre o painel virar do sexto para o sétimo andar.

Não foi exatamente um grito, mas algo muito semelhante a um guincho escapou dos lábios de Annie quando o elevador sacudiu como um carro passando por um quebra molas, tirando ela e Peeta do chão. Seu coração acelerou e, como em toda a situação de susto, seu olhar procurou a figura humana mais próxima em busca de apoio. Em seu caso, a figura era Peeta, mas foi involuntário. Os olhos dos dois se cruzaram mais uma vez, ambos estreitos nos cantos, com um quê de dúvida. O que havia acontecido?

Annie encarou a porta e percebeu que o elevador havia parado entre os dois andares. Não havia emperrado de cara com a porta de algum andar, mas sim na parede que separara um bloco do outro. Claro indício de que algo muito errado havia acontecido, e eles não tinham nem a possibilidade de abrir a grade a força e sair em algum corredor, porque estavam presos entre dois andares.

Depois de alguns segundos de um silêncio aterrorizado, Annie ergueu os olhos da porta e encarou Peeta novamente. Percebeu que ele não tirara os olhos dela até aquele momento, e um pavor líquido parecia escorrer das íris brilhantemente azuis do loiro a seu lado.

– Ele... – Ela começou, a voz entrecortada. – O elevador... – Ela tentou novamente, mas se interrompeu mais uma vez. - Isso costuma acontecer sempre? – Annie perguntou, muito embora soubesse exatamente a resposta.

– Não. – Peeta respondeu, e a negativa soou quase como uma pergunta, tamanha era sua incredulidade.

– Isso nunca aconteceu? – Annie perguntou, os olhos imperceptivelmente mais arregalados, a boca entreaberta na tentativa de obter mais ar. Não era possível. Não, não, não, não, não era possível.

– Não comigo aqui dentro. – Peeta respondeu, encarando a morena.

Annie assentiu, o olhar meio vago, as sobrancelhas franzidas no cenho. Sua cabeça tentava processar a ideia, mas ao mesmo tempo se recusava a internalizá-la porque sabia que seria motivo para um ataque de pânico assim que a ficha caísse.

Ela estava presa em um elevador com Peeta Mellark.

Ainda havia um rasgo de esperança. A coisa podia ser rápida, só uma emperradinha em uma das engrenagens e já, já tudo estaria em movimento novamente. Não havia motivo pra desespero. Ela não tinha porque acelerar seus batimentos cardíacos com algo que obviamente estaria resolvido em pouco temp...

Seus pensamentos foram distraídos pela visão de Peeta tirando do gancho o pequeno interfone do painel com os botões dos andares.

– Alô? – Ele disse para o telefone. – É. Sou eu, seu Gilson, o Peeta do 1007. É, o elevador parou. Sabe o que aconteceu? – Ele esperou um momento. – Não, está entre dois andares. É. – Mais uma longa pausa, e Annie já mordia nervosamente a unha do dedo mindinho. Ela sentiu uma lasca de esmalte azul entrar em sua boca. – Vai chamar o conserto. – Ele disse essa parte olhando para Annie, que o encarava nervosamente. – Uma hora?! – Ele meio perguntou, meio exclamou, e Annie apertou os olhos na tentativa de afastar aquela realidade medonha de si. Parecia ficar pior a cada segundo. – Acho bom ser menos mesmo, seu Gilson. Tá. Puta merda. – Ele disse, entredentes, e Annie se grudou à parede atrás de si na tentativa de buscar apoio. – Obrigado. Tá, qualquer coisa eu ligo. – Ele colocou o telefone no gancho novamente e olhou para Annie.

– Uma hora? - Ela perguntou, as sobrancelhas erguidas.

– Ele disse que esse era o máximo. – Peeta respondeu, sentando-se no chão do elevador.

Ver Peeta sentando no chão foi demais para seu auto controle, porque a imagem sacramentava que ela estava realmente presa naquela situação esdrúxula, e que as coisas não resolveriam rápida ou facilmente. Eles estavam presos no elevador, e teriam de esperar cerca de uma hora pelo socorro junto.

Uma gargalhada histérica rompeu os lábios de Annie, e nem ela entendeu sua reação. Às vezes seu corpo surpreende, mas era ainda mais estranho quando se trata de alguém controlada como Annie. Ela não era do tipo que se deixava levar pelos sentimentos, nem perdia o controle facilmente, nem era passional. Mas, naquele momento, quando se deu conta de onde (e especialmente com quem) estava, não conseguiu se controlar.

Ela tentou se segurar, mas tudo que conseguiu foi armar uma careta ainda mais hilária enquanto tentava segurar sua risada para que Peeta não achasse que ela havia perdido o juízo de vez. A risada pareceu vazar por seus lábios, fazendo aquele sibilar de uma bomba prestes a explodir, e depois voltou com intensidade dobrada.

Peeta a olhava como se ela tivesse enlouquecido, e essa era provavelmente a maneira como qualquer um olharia para Annie nesse momento. O loiro franziu o cenho por alguns instantes e ficou calado enquanto Annie se dobrava de rir ao seu lado.

– Desculpa. – Ela disse, ainda gargalhando e enxugando as pequenas lágrimas que molharam o canto dos olhos durante o acesso de riso.

Ele esperou, com a expressão inalterada, que Annie se acalmasse e conseguisse fazer uma respiração completa. Quando a morena conseguiu fazer o ar dar a volta até seus pulmões, ele mesmo abriu um sorrisinho rasgado no canto dos lábios e deixou uma risada discreta escapar. Em seguida, sacudiu a cabeça e riu novamente, sacudindo os ombros largos. Desistindo, na verdade. A situação era engraçada demais para os dois não aproveitarem só porque fora daquele elevador eles eram inimigos mortais.

– Eu sei. – Ele respondeu, o sorriso torto ainda distorcendo os lábios.

– Não acredito que isso está acontecendo. – Annie respondeu, sentando-se no chão também. Seus shorts subiram demais e ela puxou o jeans desajeitadamente para baixo, mas o calor já estava começando a ficar demais e ninguém liga muito pra aparência quando submetido a situações desconfortáveis como aquela.

– Sete bilhões de pessoas no mundo... – Peeta começou. – E eu tinha que ficar preso no elevador justo com você. – Ele disse, bagunçando os cabelos claros para que não caíssem sob a testa.

Annie ergueu uma sobrancelha.

– Não pense que eu estou adorando isso aqui. – Ela respondeu, dura, em reação à maneira como ele se referia a ela.

– Quem teve um ataque de riso foi você. – Ele atirou, e Annie abriu a boca, ultrajada. Como ele conseguia ser tão sem noção?

– Ter tido um ataque de riso não tem nada a ver com estar gostando dessa situação! – Ela exclamou, a voz atingindo o perigoso tom agudo da irritação. – O que você está insinuando? Que eu estou gostando de ficar aqui com uma pessoa que eu sei que me odeia?

Peeta ergueu uma sobrancelha e um sorriso diabólico moldou seus lábios.

– Vai querer aproveitar que estamos aqui presos pra discutir?

– Não! – Ela negou. – Não ligo pro que você pensa de mim. – Ela disse, e enquanto essa frase era proferida, seus olhos esfriaram cerca de cem graus.

– Não parece. – Ele cutucou, e Annie sentiu a irritação lentamente cozinhar seus órgãos internos.

Ela respirou fundo, resistindo ao impulso de fuçar as comprar à procura de algum objeto pesado o bastante para acertar a cabeça de Peeta e fazer um pequeno estrago. Ela não queria mata-lo. Só calar sua boca até que o resgate chegasse.

– Olha aqui, – Ela começou. – a gente está preso em um elevador. A situação já é péssima por si só. Com você, piora uns 17000%. A gente pode, por favor, dar uma trégua só até o cara do conserto chegar? Vamos não piorar o que já está mais do que atolado na merda? – Ela sugeriu.

Os olhos de Peeta, que não haviam relaxado desde o susto do solavanco, esticaram as rugas que lhes estreitavam nos cantos. Suas sobrancelhas voltaram ao lugar e sua boca relaxou um pouco. Ele cruzou os braços sobre o corpo e assentiu.

– Tudo bem. – Ele disse, quase em um sussurro.

– Ótimo. – Ela respondeu, assentindo. – Bom saber que você consegue ser civilizado.

Ele ergueu uma sobrancelha desafiadoramente, mas Annie o interrompeu antes que as objeções surgissem.

– Desculpa. Não vou falar mais nada. – Ela apertou os lábios. - A gente nem precisa falar, né? Podemos passar essa hora inteira calados e depois fingir que nada aconteceu.

– Se você calar a boca, podemos mesmo. – Ele respondeu, encostando a cara na parede não mais tão fria do elevador.

O primeiro impulso foi revidar, mas Annie percebeu que os dois eram capazes de continuar naquela discussão de quarta série até o conserto chegar, e que um precisaria ser o mais nobre e deixar uma ofensa sem resposta. Obviamente não seria possível contar com esse sacrifício da parte de Peeta, então ela decidiu tomar a responsabilidade para si.

Peeta respirou fundo e som distraiu Annie do concentrado estado de meditação no qual ela havia mergulhado, na tentativa de não deixar a recente alfinetada do loiro subir-lhe a cabeça.

– Eu não te odeio, a propósito. – Ele disse, os olhos vagando pelo ambiente, mirando todos os pontos menos o rosto de Annie.

Annie ergueu os olhos, que encaravam obcessivamente as próprias coxas durante a meditação. Moveu a cabeça suavemente e levantou as sobrancelhas, uma pergunta silenciosa. Por que ele está dizendo isso agora?

– Eu não tenho 12 anos, Annie. – Ele explicou, parecendo cansado. As pessoas sempre esperavam as atitudes mais infantis vindo dele, e isso já estava lhe deixando exausto – Não faz sentido eu te odiar porque você magoou o Finnick.

– Você sempre agiu como se odiasse. – Annie respondeu, prendendo os cabelos em um nó no topo da cabeça.

– Eu sinto raiva sempre que me lembro do que você fez com o Finnick, mas isso não significa nada. Eu lembro dos vacilos que, sei lá, o Finnick aprontou comigo há muito tempo e sinto raiva também, mas nem por isso ele deixou de ser meu amigo.

Annie franziu o cenho, sua cabeça cheia de pontos de interrogação. Sem saber o que responder, ela optou pelo silêncio, esperando que Peeta continuasse, mas o loiro também se calou. Ela percebeu que precisava dizer alguma coisa em resposta, mas sua cabeça ainda ligava lé com cré, tentando dar algum sentido às palavras que acabaram de entrar por seus ouvidos.

– Mas você não gosta de mim. – Annie insistiu. – Porque você não gosta de alguém que age como eu agi com o Finnick. Você acha que alguém que faz o que eu fiz não presta. Não tem mais nada a ver com o Finnick, tem a ver com o que eu fiz e a ideia que você tem de mim por causa disso.

Peeta refletiu sobre as palavras da morena por um instante, o olhar se perdendo na parede onde Annie estava encostada.

– É. – Ele concordou, admirado com a percepção de Annie e sua facilidade em explicar como ele se sentia em relação a ela.

– Você sabe que eu me arrependi. – Annie disse, e revirou os olhos internamente porque tinha começado a fazer o que ela jurara pra si mesma que não faria nunca: dar satisfações para Peeta. Mas ele estava sendo aberto para dar explicações que Annie nem havia pedido, então talvez ela devesse esclarecer algumas coisas também.

Peeta deu de ombros.

– Você não tem ideia de como ele ficou. – Ele respondeu, sombriamente.

– Não. E eu nunca vou me perdoar por ter feito ele passar por isso. Mas também não é sua obrigação me punir por isso. – Annie rebateu, a voz dura. Ela não aceitaria levar lição de moral de Peeta, não depois de tudo que ela tinha aberto mão para estar com Finnick de novo, e principalmente não depois do que ele fizera com Katniss.

– Mas eu nunca quis te punir. Até mesmo porque você não liga pro que eu penso de você, não lembra? – Ele rebateu, um sorriso irônico no rosto, e Annie entendeu exatamente o que ele quis dizer. A irritação lhe subiu pelas veias, artérias, por cada vaso capilar de seu corpo, mas ela esperou que o loiro terminasse. – Eu te odiar ou não só vai servir como punição se você na verdade se importa com o que eu acho.

Por mais que lhe causasse dor física admitir, Peeta estava certo. Ela não se sentiria tão atingida pela atitude hostil dele se não se importasse. E, parando para analisar, talvez a coisa toda se tivesse raiz no fato de ela ainda não ter se perdoado pelos erros antigos. Embora tivesse Finnick ao seu lado e soubesse que estava tudo bem, os olhares tortos de Peeta insistiam em lembrar-lhe que nem sempre tudo esteve em paz. Que as coisas ainda não haviam sido totalmente enterradas como ela gostaria.

– Você é melhor amigo do meu namorado. E namorava a minha melhor amiga. Você acha mesmo que essa situação toda ia passar batida pra mim?

– Acho. Passava pra mim. – Ele respondeu, dando de ombros e Annie deu uma risada fria.

– Claro. Pra você não fazia diferença, porque você não se importa com as pessoas ao seu redor. – Ela espetou. - Nunca passou pela sua cabeça que toda essa sua raivinha deixava o clima entre todos nós péssimo. Nunca passou pela sua cabeça que tudo seria muito mais fácil se você fosse menos egoísta e não ficasse de graça sempre que eu estava por perto. Não custava nada, absolutamente nada, deixar isso tudo de lado pelo Finnick, pela Katniss. Mas você não conseguia, não é? Porque afinal o mundo gira ao seu redor e os seus sentimentos são tão importantes que você precisava mostrar pro mundo todo o quanto odiava a minha presença, não é mesmo? – Annie ironizou, bufando logo em seguida, descobrindo finalmente o que mais lhe irritava a respeito de Peeta: seu egoísmo.

Peeta franziu os lábios, e agora era sua vez de entrar em conflito interno para dar razão a Annie. Lembrou-se das brigas com Katniss sempre que o nome de Annie surgia na conversa, e até das caras enfezadas de Finnick quando ele deixava seu descontentamento transparecer. Ele podia ter evitado tudo isso com um pouquinho de bom senso, mas esperar que Peeta encobrisse seus sentimentos, fosse por quem fosse, era pedir demais para sua natureza explosiva.

– Você é tão ridículo que deu esse show todo porque eu “magoei o seu amigo” – Ela fez aspas no ar usando os dedos. – e olha como você agiu com a Katniss. – Annie continuou. Ele não havia começado a conversa? Então ele que aguentasse. – Você age como se tivesse moral para apontar o dedo pra mim, mas quem foi que borrou as calças na hora de assumir o namoro com a garota que você estava enrolando há meses?

Os olhos de Peeta endureceram e ele foi atingido pela raiva e pela culpa ao mesmo tempo. Raiva, porque ele aceitaria aquelas palavras de qualquer pessoa do mundo (mesmo que não sem discutir e socar alguns móveis em resposta), menos de Annie. Culpa, porque ele sabia que ela tinha razão.

E, naquele momento, os fatos se uniram e Peeta sentiu a conclusão se formar no fundo de sua cabeça.

Ele e Annie eram mais parecidos do que ele jamais poderia ter imaginado.

Não nas concepções de mundo, é óbvio. Peeta jamais deixaria uma garota porque ela não tinha dinheiro e Annie jamais acabaria um relacionamento por medo de oficializá-lo. Mas os dois eram capazes de reconhecer que os impulsos que os motivavam eram basicamente os mesmos. Ambos eram egoístas, e tomavam decisões das quais se arrependeram. Ambos eram orgulhosos e pagavam de durões, mas eram os que mais se destruíam com seus próprios erros. Por mais que, a princípio, Finnick e Katniss tenham sido os que mais sofreram quando Annie e Peeta terminaram seus respectivos relacionamentos, o arrependimento que abateu esses dois últimos depois que a merda já estava feita foi maior do que qualquer choradeira dos dispensados. Era engraçado, porque depois de sofrerem bastante, Finnick e Katniss se mostraram capazes de seguir com suas vidas, mas Annie e Peeta foram os que amargaram o peso do arrependimentos nas costas. Eles haviam sido os responsáveis por partir os corações, mas, no fim, eram os que mais precisavam ser salvos.

– Você não tem o direito de falar da minha relação com a Katniss.

– Ah, mas você tinha o direito de falar da minha relação com o Finnick, não tinha? – Ela rebateu, entortando a cabeça para o lado e olhando raivosamente para o loiro. – Eu tenho o direito, sim. Porque ela é minha amiga, e quer você goste ou não, eu sei o quanto ela está sofrendo com tudo isso.

As sobrancelhas de Peeta se franziram de um jeito esquisito em sua testa, e Annie viu os olhos azuis se enevoarem abruptamente, interrompendo o fluxo de irritação constante desencadeado pela conversa. As íris azuladas pareceram ter sido encobertas por uma tela que tirou o brilho característico daqueles olhos tão vivos, e Annie não demorou a reconhecer o que tinha gerado aquela reação: dor. A menção ao sofrimento de Katniss fez com que Peeta se desarmasse por um momento, e agora seu olhar exibia um misto de tristeza e saudade que Annie conhecia muito bem. Ela se lembrou daquele dia que teve um acesso de choro na portaria de seu prédio, o fatídico dia em que finalmente percebeu que não conseguiria ficar sem Finnick. Será que Peeta tinha acabado de fazer a mesma constatação em relação à Katniss? Ou será que ele já sabia disso há mais tempo?

Um momento esquisito de compreensão mútua se estabeleceu entre os dois, no qual ambos perceberam que se entendiam muito bem. Peeta notou que passava exatamente pela mesma situação que Annie enfrentara alguns meses atrás, e finalmente foi capaz de compreendê-la. As semelhanças ficaram evidentes para os dois, e nenhum deles ficou exatamente surpreso com a constatação.

Bem que dizem que o que você odeia no outro, é o defeito que você tem dentro de si.

– Foi assim com você também, não foi? – Peeta foi o primeiro a verbalizar. – Você percebeu que tinha feito a maior merda da sua vida e não sabia como consertar.

Annie o encarou profundamente, a expressão inalterada, sem deixar transparecer nada. Mesmo entendendo que compartilhavam algo, Annie ainda hesitava em abrir seus sentimentos para Peeta. Eles entraram naquele elevador se odiando, afinal.

– Passei muito tempo me remoendo. – Ela disse, simplesmente. – Acho que remoo até hoje.

Peeta perdeu o olhar na porta do elevador parado, a grade antiga de metal trançado deixando ver a parede entre os dois andares onde ele e Annie se encontravam presos naquele momento. Ele sabia que tinha feito uma tremenda bobagem no minuto que deixou o quarto de Katniss naquele dia, mas como consertá-la? Saber que estava fazendo uma bobagem não o impediu de fazê-la mesmo assim, o que o levava a pensar que, pior do que não saber como dar um jeito nas coisas, ele não estava preparado para dar um jeito nas coisas. Ele tinha deixado Katniss por um motivo. Esse motivo ainda era válido? A noite que ele passara com Clove mostrava que sim. Mas, por outro lado, por que estar longe de Katniss lhe parecia tão errado?

Peeta suspirou, tendo que dar o segundo golpe seguido em seu orgulho ao admitir que Annie tinha razão em outro ponto. Ele era egoísta. Queria ter tudo, ter Katniss e ter as noites de sexo casual; o status de solteiro, mas ao mesmo tempo a mão de Katniss entrelaçada à dele.

Ele precisava fazer uma escolha. Annie demorou, mas foi capaz de fazer a dela.

– Olha, Peeta, conselho não se dá, se pede, e eu sei que eu devo ser a última pessoa da qual você quer ouvir alguma coisa, mas... – Annie hesitou, mas quando percebeu que não ia receber nenhum patada como resposta, se animou para continuar. – eu engoli o meu orgulho e vim falar com o Finnick. Nem que fosse só para pedir desculpas, eu vim aqui pra mostrar pra ele que eu sabia que tinha errado. Eu estou longe de te achar o cara certo para a Katniss – ela revirou os olhos. -, mas você também não me acha a garota para o Finnick, e aqui estamos mesmo assim. Então, se você está sentindo esse incômodo por dentro, essa sensação de que está tudo errado, corre atrás do que vai te fazer feliz. Porque ela vai ficar feliz também. – Annie discursou.

Pausa. Os dois se encararam e pela primeira vez os olhares não carregavam irritação, ou acusações veladas. Até que Peeta suspirou.

– Não tem jeito mesmo, não é? – Ele começou, um sorriso cínico no canto dos lábios. – A gente bem tentou, mas não conseguimos impedir nossos amigos de se apaixonarem por dois trastes que nem nós.

Annie sabia que devia ter ficado ofendida, mas a gargalhada que lhe rasgou os lábios em resposta à frase lhe provou que ela sabia que Peeta tinha razão.

– Eles são bem melhores que a gente. – Ela concordou. - Coitados. Mereciam bem mais que eu e você.

Peeta sorriu e Annie sorriu de volta.

– Se eu fosse tão ruim assim, você não me diria para ir falar com a Katniss. – Ele rebateu.

Annie armou uma expressão pensativa, mas depois assentiu.

– Ela gosta de você. E você é um cara bem decente quando está com ela. – Annie justificou, dando de ombros. – Podia ser pior.

Peeta abriu um sorriso triste.

– Ela gosta de mim, mas será que isso é o suficiente? – Ele perguntou.

– Não sei. Mas ela vale a tentativa, não vale?

Ele assentiu, seu olhar se perdendo novamente na porta a sua frente. Em breve, o socorro chegaria e ele e Annie estariam livres daquele elevador. Mas ele não ficaria livre daquela conversa jamais, porque Annie acabara de plantar uma semente ao mesmo tempo perigosa e reconfortante em seu coração: a expectativa. Pela primeira vez, alguém lhe acenava com a possibilidade de consertar as coisas. E por mais incrível que lhe parecesse, Annie era uma fonte confiável para ajudar-lhe no que el precisava naquele momento. Afinal, ela tinha estado naquele mesmo lugar antes dele.

Se, há uma hora atrás, lhe dissessem que, de todas as pessoas do mundo, Annie era a que havia conseguido colocar-lhe o mínimo de esperança no coração, ele jamais acreditaria.

~~

– Plutarch, eu preciso que você me atualize com a verba disponível para publicidade da Cherry. – Coin disse, assim que Plutarch atendeu sua ligação.

– Olá, Coin. Eu estou ótimo, obrigado por perguntar, e você? – Ele respondeu ironicamente, a voz serena.

Ela revirou os olhos, mas sorriu logo em seguida. Tinha uma missão com aquela ligação. Diante da recusa de Finnick em aceitar sua proposta, ela tinha uma loja para destruir, e precisava começar a preparar o campo minado que implodiria a Cherry o mais rápido possível.

– Estou ótima, querido. Mas vou ficar melhor ainda se você puder me passar essa informação.

– Só um minuto, só um minuto. – Ele respondeu, enquanto procurava os óculos e revirava a mesa de trabalho à procura da pasta com as finanças da Cherry. – Cato, você pegou a pasta da Cherry? – Ele perguntou para o filho, sentado a sua frente. Cato tinha sua própria sala na empresa de consultoria financeira da qual Plutarch era dono, mas como vinha passando muito tempo com o pai por conta do trabalho com Mags, nos últimos dias ele passava a maior parte do tempo na sala de Plutarch.

– Não. – Cato respondeu, ajudando o pai a revirar os papéis da mesa. – Aqui. – Ele ergueu uma pasta de couro marrom depois de alguns segundos de busca.

– Ok, vamos lá. – Plutarch disse, abrindo a pasta. – Ainda nos restam quinhentos mil pra publicidade.

– Só? – Coin perguntou, parecendo chocada.

– Você acha pouco?

– Claro! Se pensarmos que ainda temos uma festa de lançamento para organizar, isso não é nada. E nós só fizemos o ensaio fotográfico, ainda falta muita coisa para lançar essa coleção. – Coin forçou um tom apreensivo.

– Bom, isso você precisa discutir com a Mags. – Ele respondeu. – Não posso conversar com mais investidores sem a autorização dela.

– Isso é muito estranho, Plutarch. A Mags sabe que a nós só temos esse dinheiro disponível?

– Ela tem acesso a todos os números da loja. Ela é a dona.

– Impossível ela saber que temos essa miséria para a publicidade e não fazer nada.

Um minuto de silêncio na ligação.

– O que você quer dizer com isso, Coin?

– Nada. Estou adorando trabalhar com a Mags, mas talvez ela esteja correndo atrás das coisas por fora. Eu não a culpo, sabe, sei como essa indústria é complic...

– O que você quer dizer com “correndo por fora”, Coin? – A voz de Plutarch a interrompeu, gelada do outro lado da linha. Coin sorriu. Bingo.

– Não sei. Ela pode estar buscando investidores sem você. Ou talvez ela não tenha colocado todo o dinheiro da Cherry na sua mão. – Coin elucubrou.

Plutarch deu uma risada do outro lado da linha.

– Isso é ridículo. Eu sou amigo da Mags há anos, ela jamais faria isso. Ela confia em mim e eu nela.

– Talvez ela tenha novos planos pra Cherry dessa vez. Negócios são negócios, Plutarch. Mas como não sei de nada, não quero falar sem fatos mais concretos. – Coin interrompeu, um sorriso diabólico nos lábios ao perceber que seu objetivo de plantar a semente da discórdia no principal financiador da Cherry havia sido alcançado com sucesso. – De qualquer maneira, vou falar com ela que só com esse dinheiro não dá. Obrigada.

Plutarch despediu-se distraidamente, e ambos desligaram o telefone. O pontapé inicial estava dado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, bonde???? Eu sei que sempre digo isso, mas dessa vez elevei essa frase a um outro nível: ESTOU ROENDO O PÉ DA CAMA DE ANSIEDADE PELOS COMENTÁRIOS DE VOCÊS!!! Quero muito saber o que acharam dessa DR louca entre nossos dois queridinhos heartbreakers!! Quem diria, né? E essa bombinha no final???? Coin começando a mexer os pauzinhos para sua VINGANÇA.... O que será que vem por aí, hein??
Gente, eu ia perguntar isso no capítulo passado, mas acabei esquecendo: O que vocês acharam dos mapas astrais que eu criei pros nossos personagens?? Tem a ver? Tinham pensado em outra coisa? Finnick pisciano, eu juro que não foi nenhuma piadinha (distrito 4, peixeis, pesca, etc), eu REALMENTE vejo o Finnick do universo dos livros como um LINDÍSSIMO pisciano. Nesse capítulo tive a chance de colocar meu lado LOKA DOS SIGNOS pra fora, e AMEI. A Katniss dos livros é taurina mesmo (nasceu dia 8 de maio, ela diz em Jogos Vorazes), mas o ascendente em câncer foi por minha conta. Acho que a Kat original tem ascendente em áries. ENFIM, não vou discutir cada um dos mapas aqui (por mais eu eu queira), porque se não eu não paro de falar NUNCA MAIS, mas queria saber se vocês gostaram. Podem me chamar no twitter (@ifimoonshine) ou no ask (ask.fm/faithopetrick) para falar mais disso e de várias outras coisinhas.
AHH, MANOS E MANAS, FELIZ 2016!!! Não sei como vocês gostam de passar a virada, mas espero que vocês estejam cheios de sentimentos bons para entrarmos nesse ano novo com o pé direito. Muita gente acha que essas coisas não fazem diferença, mas eu acho que não custa tentar entrar nesse novo ano com alguma expectativa boa. Já é a terceira virada que eu passo com vocês (quando eu digo que essa fic é velha e vocês não acreditam, TAÍ A PROVA), já desejei isso na virada de 2013 pra 2014 e na de 2014 para 2015, então, agora que estamos com um pé em 2016, não podia ser diferente: Todos os melhores desejos para vocês, essas pessoas tão lindas que mantém meu sonho de escrever vivo. Muita sorte no jogo & no amor, além de muitas flores no mar, romã, lentilha, uvas, sete ondinhas e todas essas merdas supersticiosas que melhorem a nossa vida no ano que vem.
ATÉ ANO QUE VEM!!!!!!!! (kkkkkkkkkkkkkkk) (clara depois dessa piada vai embora pelo amor de deus)
Um beijão para todos. Espero que na boca, bem à meia noite.