Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 18
Quis evitar seus olhos, mas não pude reagir à sua aparição


Notas iniciais do capítulo

OI PARABÉNS PRA VOCÊ OI OI NESSA DATA QUERIDA ÊLELÊ OI MUITAS FELICIDADES (FELICIDADES!) MUITOS ANOS DE VIDA (DE NOVO!!)
ESSA SOU EUZINHA CANTANDO PARABÉNS PRA VOCÊ NO RITMO DE PAGODE, O TÍPICO PARABÉNS QUE EU CANTO EM TODOS OS ANIVERSÁRIOS DOS MEUS AMIGOS E QUE EU QUERIA MUITO QUE VOCÊS ME OUVISSEM CANTANDO MAS COMO NÃO DÁ APENAS IMAGINEM MINHA LINDA VOZ SUSSURRANDO ISSO SENSUALMENTE EM SEUS OUVIDOS APÓS DELICIOSOS BEIJOS NO PESCOÇO.
CARACA, MULEKE, UM ANO DE MONEY MAKE HER SMILE! Gente, olha, vou falar um negócio para vocês: QUE ANO, HEIN? Quando eu comecei essa fic, não imaginei que fosse ser tão difícil mantê-la. Não imaginei que eu teria um ano escolar ABSOLUTAMENTE LOUCO que me faria postar cerca de uma vez por mês, não imaginei que eu quase excluiria essa história, não imaginei que tudo fosse ser um desafio tão grande! Vocês bem sabem que MMHS passou por muitos altos, altos muito altos, por vários baixos e por baixos muito baixos. Já tivemos de tudo por aqui, mas o importante é que eu tenho vocês comigo! Não importa se você acompanha desde o início ou se começou a ler a fic agorinha, nesse capítulo especial mesmo, o importante é que você ESTÁ AQUI e eu não tenho palavras para agradecer por tudo. Por cada review (sejam os gigantes ou só aqueles com um "adorei", mas saibam que eu não resisto a um review gigante), cada palavra de incentivo, cada um de vocês me seguindo no twitter e cada uma dessas duas recomendações lindas que temos aqui. Eu sempre digo isso, mas para alguém que ama escrever como eu amo, os elogios de vocês nunca poderão ser recompensados à altura do que vocês me fazem sentir com as coisas bonitas que me dizem.
Olha, é melhor eu parar antes que eu comece a chorar, né. Bom, o que eu posso dizer depois desse texto piegas é que a parte boa é que ainda falta muito para essa história acabar, e que teremos bastante loucuras vindo por aí.
Como esse é um capítulo especial (e eu fiz questão que fosse o maior da fic até agora), temos MUITAS coisas acontecendo aqui. Eu escolhi a música baseada naquela que achei a que merecia mais destaque nesse momento da história, então saibam que as duas músicas escolhidas aqui foram cuidadosamente selecionadas para demonstrar toda a situação do Gale (e vocês já, já, vão entender do que eu estou falando.). Mas isso não quer dizer que as outras informações aqui devam ser ignoradas, porque - acreditem em mim quando eu estou falando isso. - a Prim vai causar muito estrago nessa fanfic. Just saying rssssssssssss
Enfim, eu já falei demais e sei que vocês estão louquinhos para ir ao que interessa. Vamos lá: Música do título: Um Certo Alguém - Lulu Santos (rei do pop brasileiro) (tá achando que Clara é só pop, Exaltassamba e Bruno Mars?) e a do capítulo é Closer, do Ne-yo (HINO DO ERA POP 2009/2010). Se estiverem aceitando um conselho, ouçam as duas músicas porque ambas são sensacionais.
Ah, e não deixem de passar nas notas finais! Um recadinho para vocês lá!.



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“Turn the lights off in this place

And she shines just like a star

And I swear I know her face

I just don't know who you are

(…)

And I just can't pull myself away

Under the spell I can't break

I just can't stop

I just can't stop

And I just can't bring myself away

But I don't want to escape

I just can't stop”

Katniss havia acabado de chegar em casa. Ela abrira sofregamente a porta de sua cobertura e atirou as chaves em cima da mesinha que ficava à esquerda do corredor de entrada, alguns metros à frente da porta, e que continha alguns porta retratos com fotos da família. Largou sua bolsa em cima do sofá de veludo avermelhado e tomou o rumo de seu quarto, no fim do corredor interno do apartamento.

Enquanto trilhava seu caminho, foi acendendo as luzes dos cômodos por onde passava. E ela ia nessa trajetória, inconscientemente colocando um pé na frente do outro, pensando que a única coisa que a impedia de desabar em sua cama naquele exato instante era a perspectiva de sair com Peeta em apenas algumas horas.

O barulho de uma tranca de porta sendo destravada fez seus pés imediatamente pararem o movimento involuntário. Pela distância do som, Katniss podia afirmar que ele vinha do banheiro.

Seu coração deu um solavanco. Será que seus pais estavam em casa? Katniss esticou o corpo até a sala entrar novamente em seu campo de visão e checou o relógio. Eram três e vinte e cinco da tarde. Naquele horário, seus pais ainda estariam trabalhando. Será que eles haviam saído mais cedo? Conseguido uma folga?

– Mãe? – Ela chamou, mas não houve resposta. – Pai? – Ela tentou novamente. – Vocês estão aí?

E, de repente, a porta do banheiro se abriu e uma figura loura apareceu em sua frente. Katniss precisou piscar duas vezes para entender o que estava acontecendo.

A menina deu um meio sorriso levemente satisfeito.

– Surpresa. – A voz suave e aguda de Prim atingiu os ouvidos de Katniss e um sorriso imediatamente se espalhou por seu rosto.

– Prim! – Katniss deu um berro. – Meu Deus do céu, garota, você quer me fazer enfartar? - Katniss disse, exasperada, mas correndo para abraçar a irmã. A morena atirou seus braços em volta da diminuta menina em sua frente e ergueu o máximo do peso da garota que podia agüentar. – Mas você não ia voltar só depois do seu aniversário?

Primrose, esse era o nome da irmã mais nova de Katniss. Mais baixa que Katniss, Prim era loira com olhos de um azul brilhante e límpido como o céu em um dia ensolarado e sem nuvens. Tinha 16 anos, mas seu corpo já estava quase que totalmente formado, de modo que ela podia se passar por mais velha com muita facilidade. Naquele momento, sua pele estava bronzeada e ela vestia uma calça jeans justa com uma blusa que deixava sua barriga definida à mostra.

Prim era a típica burguesinha que toda escola tem – inclusive a sua, caro leitor. Loirinha, olhos claros, cabelos invejosamente brilhantes, Vans vermelho no pé e iPhone na mão. Sua personalidade era bem diferente da de Katniss, porque – talvez por conta de sua idade – ela tendia a ser egoísta, pretensiosa e arrogante simplesmente por ter visto nos filmes americanos que é assim que as meninas populares nos colégios agem. Era odiada por muitos, fato, mas era cercada e adorada pelo dobro. E, de certa forma, até aqueles que a odiavam não conseguiam deixar de ser atingidos pelo fascínio que sua aura atrativa exercia. Era fácil odiá-la, mas era impossível não reparar nela. Ela era o termômetro de sucesso das festas e eventos: se PrimroseEverdeen se desse ao trabalho de aparecer em algum lugar, é porque valia a pena. Pode-se dizer que Prim significava muito na alta sociedade adolescente da Zona Sul do Rio, e – sendo franca – lembrava bastante Annie quando esta tinha seus 16 anos.

Prim tinha ganhado um intercâmbio de seis meses para cursar parte de seu Ensino Médio em uma típica escola americana em Los Angeles. Como seu projeto de vida foi sempre agir como as rainhas das escolas de Ensino Médio americanas, pode-se dizer que isso foi quase a realização de um sonho. Os planos originais marcavam sua volta para depois de seu aniversario – daqui apenas algumas semanas. -, mas por algum motivo a menina estava em sua casa antes do previsto, bem na frente de Katniss.

– O que houve para você voltar tão cedo? – Katniss perguntou, franzindo o cenho, já imaginando se a irmã não tinha se metido em alguma confusão.

– Ah, é que o ano letivo já tinha acabado, o papai e a mamãe resolveram dar uma de carentes e me pediram para voltar mais cedo. – Prim explicou, revirando os olhos. - Eu não queria, mas a gente fez um trato de eu passar metade das férias lá e voltar antes do meu aniversário para poder passar aqui com vocês.

– E como foi tudo lá? – Katniss perguntou, animada. – Me conta tudo! Arranjou muitos amigos?

– Mais inimigos, para falar a verdade. – Prim riu. – Mas já estou acostumada. – Ela jogou o cabelo irritantemente sedoso e reluzente para o lado. – Nossa, Katniss, aconteceu tanta coisa. Vou demorar muito tempo para te contar tudo.

– Você está bronzeada. – Katniss constatou. – E seu cabelo está mais claro.

– É o sol de LA, meu amor. – Prim explicou, colocando as pontas de uma mecha de cabelo entre os dedos. – Agora me diz, as coisas mudaram muito por aqui?

– Não que eu tenha reparado. – Katniss brincou. – Aposto que as coisas mudaram muito mais para você. E você vai começar a me contar tudo agorinha enquanto eu tomo banho para sair. – Katniss exigiu, puxando a irmã pela mão e andando banheiro adentro com a menina a tiracolo.

Prim podia ser insuportável o quanto fosse, mas Katniss nutria uma espécie de amor maternal por aquela loirinha, que ultrapassava o que irmãs geralmente sentem uma pela outra. Prim vivia pisando na bola e agindo impulsivamente, mas Katniss sempre estava lá para tirar a irmã de roubadas e defendê-la perante os pais, alegando sua pouca idade e imaturidade como atenuantes para as besteiras que ela vivia aprontando.

– Me conta primeiro qual foi a coisa mais doida que te aconteceu lá. – Katniss pediu, enquanto tirava a roupa e entrava no Box.

A menina riu maliciosamente e abaixou a tampa do vaso sanitário para poder se sentar e falar enquanto a irmã estava no chuveiro.

Prim começou a monologar e Katniss riu, se chocou, exclamou e ralhou com a irmã e suas histórias, e a medida de que a loirinha tagarelava, Katniss sentiu seu peito se encher de ternura novamente, um sentimento que ela não tinha notado que sumira desde que a irmã fora embora. Não importava quantas doideiras Prim dissesse ter feito, ela ainda seria para sempre uma criança aos olhos de Katniss.

A família feliz estava reunida novamente.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

– Quer dizer que eu acabo de voltar e você nem vai passar um tempo comigo? – Prim perguntou, parecendo indignada.

– Eu não posso furar com o Peeta, meu amor. – Katniss respondeu, espalhando pelos olhos uma das sombras importadas que a irmã trouxera de viagem. – Adorei essa cor.

– Pode ficar para você, não ficou muito bem nos meus olhos, mesmo. – Prim deu de ombros. E em seguida sorriu diabolicamente. – E esse Peeta, hein? Quer dizer que a minha irmã desencalhou?

– A gente está só saindo. – Katniss tentou parecer indiferente, mas Prim reparou no esforço que a irmã fazia para conter o sorriso.

– E já não está bom? – Prim perguntou, atirada na cama do quarto da morena. – Ou você quer algo mais que isso?

Katniss ficou calada por alguns instantes.

– Não sei. – Ela respondeu, enquanto tampava a sombra recém ganhada e procurava seu batom rosado. – Não sei mesmo. Nem comecei a pensar sobre isso.

– Bom. – Prim comentou. – Melhor continuar sem pensar.

Katniss gargalhou.

– Agora você vê, a menina passa seis meses fora e já volta querendo bancar a conselheira amorosa. – Ela terminou de passar o batom e se voltou para a loirinha. – Muito obrigada, mas eu não estou precisando das suas idéias malucas agora, tá? – Katniss se aproximou da cama e beijou o rosto da irmã, fazendo a loira dar um gritinho quando percebeu que tinha ficado com uma marca rosa de batom na bochecha. – Daqui a pouco eu estou de volta. – Katniss riu da irmã tentando limpar o rosto com a mão e bateu a porta do quarto, saindo de casa logo em seguida.

Ela tomou o elevador e saiu pelo portão principal do prédio, procurando o carro prata desbotado de Peeta com os olhos. Ela ouviu uma buzina e virou a cabeça procurando a origem do som, consequentemente achando o carro de seuficante (ou namorado, ou peguete, ou lancinho, como queiram chamar.).

– Oi. – A morena disse quando Peeta abriu a porta do veículo para que ela entrasse. Seus lábios se encontraram e Peeta deixou um selinho discreto em sua boca.

– Oi. – Peeta respondeu, sorrindo para ela.

– Oi, Kat. – Uma terceira voz inesperada a cumprimentou e Katniss olhou abruptamente para trás. Era Finnick.

“Ai meu Deus do céu” Katniss pensou, enquanto abria um sorriso meio deformado para o ex namorado de sua melhor amiga.

“Ex namorado da minha melhor amiga!”A voz de sua consciência berrou em sua mente. “Como é que o Peeta me apronta uma dessa?!” Ela pensou, desesperada. Ah, Annie ia adorar saber que Katniss estava saindo com Finnick como se todos fossem grandes amigos.

Não é que não fossem. Katniss gostava muito de Finnick, até mesmo porque, além de sempre ter sido um excelente namorado para sua amiga, ele a ajudara no fatídico dia do vexame do aniversário de Annie, e de certa forma, foi o conselho dele que a impediu de fazer ainda mais besteira depois de ter passado por uma situação onde Peeta podia ter simplesmente desistido dela. Fora isso, Katniss nem sonhava, mas Finnick havia feito seu papel de cupido direitinho, levando e trazendo informações de modo a fazer o casal Katniss e Peeta se acertar.

Katniss devia muito a Finnick, e isso só tornava as coisas mais difíceis. Ela sabia que Annie estava sofrendo com o término e a única maneira das coisas caminharem seria se ela mantivesse a maior distância possível de Finnick, mas como Annie prosseguiria com esse plano se Katniss continuasse a amizade com o loiro e se tornasse um link entre eles? Katniss sabia que não estaria ajudando sua amiga se mantivesse uma relação próxima a Finnick, apesar de gostar de sua companhia.

“Calma, Katniss, vocês só vão a um barzinho. Vocês não precisam sair juntos sempre.” Katniss repetia para si mesma, tentando colocar as coisas em seus devidos lugares. Eles só casualmente se encontraram, porque ambos tinham Peeta como uma presença muito forte em suas vidas. Fim. “Vocês fatalmente vão se esbarrar uma vez ou outra, acontece, você não está traindo a Annie por causa disso.” A morena tentava se acalmar.

– Eu chamei o Gale também, espero que você não se importe. – Peetadisse, concentrado no volante.

– Não, que isso. – Katniss respondeu.

A essa altura, ela não se importaria nem se ele chamasse Patati e Patata para o bar junto com eles.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Gale chegou ao bar – que coincidentemente era aquele bar do último encontro de Katniss e Peeta, onde os suportes de guardanapos tinham a carinha de super heróis na ponta. – e ficou maravilhado com as paredes do local, totalmente decoradas com versões ampliadas das histórias em quadrinhos dos heróis que ele passou sua infância admirando.

– Gale! – Ele ouviu a voz de Peeta chamando seu nome e se virou na direção do som, vendo o amigo acenar para que ele se sentasse à mesa com eles.

Gale caminhou até os amigos e os cumprimentou, mas se sentiu um pouco esquisito quando abaixou para beijar Katniss no rosto. Talvez fosse porque ele não a via há muito tempo, ou porque da última vez que ele esteve em sua companhia, ela estava claramente alterada, dançando até o chão e cantando Bonde das Maravilhas a plenos pulmões no meio da pista de dança.

– Oi, pessoal, desculpa o atraso. – Ele disse, sorrindo e sentando-se ao lado de Finnick.

E, de repente, ele se pegou olhando atentamente para Katniss, simplesmente porque era impossível não olhar.Com as luzes baixas do lugar, Katniss parecia brilhar, atraindo irresistivelmente seu olhar o tempo todo.Ele tentou desviar o olhar o mais rápido possível, porque sabia que aquilo era errado, então sua mão voou para o cardápio que repousava na mesa, sob o braço de Finnick e ele procurou se distrair lendo suas opções de bebida. Comida, nem pensar. Comer qualquer coisa em um bar em Ipanema era impraticável para seu bolso, a não ser que ele rachasse o prato com alguém.

Seus olhos, porém, não lhe davam descanso; suas íris insistiam em focar na morena ao lado de seu amigo. Tentando maneirar, mas sabendo que seu cérebro não ia desistir de formar a imagem de Katniss tão cedo e que para isso ele precisaria de seus olhos grudados nela durante bastante tempo, ele se contentou em fitá-la pelo canto do olho. Era melhor do que nada. Cabelos presos em uma trança que caía por sobre seu ombro direito. Blusa florida de mangas curtas, colocada por dentro de um short jeans claro. Um delicado cordão com um pingente dourado que Gale não conseguia precisar exatamente a forma devido à fraca iluminação do local. E, bom, ele não podia dizer com certeza, mas tinha a leve impressão que os olhos de Katniss tinham um tom acinzentado semelhante aoseu.

– Uma Stella, por favor. – Gale disse quando o garçom se aproximou para anotar os pedidos, chutando o balde e pedindo sua cerveja favorita, mesmo que uma garrafa de 275 ml – a menor! – custasse exatamente 8 reais.

Foda-se. Quem precisa de comida? Torrar o dinheiro em álcool vale muito mais a pena, principalmente quando você acaba de se dar conta de que a futura namorada de seu melhor amigo é dolorosamente linda.

O celular de Finnick vibrou e ele o tirou de cima da mesa para ver quem o estava solicitando. Era Cashmere. Chamando-o para fazer alguma coisa, porque estava “trancada e abandonada dentro de casa numa brilhante e convidativa sexta feira à noite”.

– Gente. – Ele disse, alguns segundos depois de ler a mensagem e ponderar se deveria ou não fazer o que tinha pensado em fazer. – Vocês se incomodam de eu chamar a Cashmere para ficar aqui com a gente?

– Quem é Cashmere, meu Deus? – Gale perguntou, bebendo o primeiro gole de sua Stella gelada.

– Ela é lá da faculdade. O Peeta conhece. – Finnick respondeu.

Peeta assentiu enquanto bebia um gole de sua cerveja.

– Por mim tudo bem. – Ele disse, lançando um olhar significativo para Finnick, que ergueu discretamente uma sobrancelha para o amigo.

E nesse momento, aconteceu aquela coisa meio louca típica das amizades antigas, onde várias trocas de olhares se cruzam e criam um diálogo mais complexo do que qualquer conversa falada jamais será.

– A Cashmere é demais. – Disse Peeta, virando-se para Katniss, mas suas palavras e todas as mensagens subliminares contidas nelas era diretamente direcionadas a Finnick. – Ela é muito engraçada, cara. – E se virou novamente para Finnick, seus olhos se arregalando quase que imperceptivelmente.

Quase que imperceptivelmente para alguém de fora, porque para Finnick aqueles olhos saltados eram quase um berro de pura empolgação diante de uma possível chance do que Peeta chamaria de “voltar à ativa”.

Finnick ergueu um pouco mais as sobrancelhas, porque o amigo parecia ter se esquecido da condição inicial para que ele aceitasse sair naquela noite. “Só vou se você prometer não ficar empurrando mulher para cima de mim.” Mas que merda, ele ainda não estava pronto! Já fora um esforço descomunal colocar o pé para fora de casa naquela noite, flertar seria um passo maior do que suas pernas. E fora de cogitação, porque, vale lembrar, acima de tudo isso, ainda havia uma outra questão muito simples: Era Cashmere. Ele não podia flertar com Cashmere, mesmo que estivesse absolutamente recuperado de seu coração partido, com todos os caquinhos devidamente soldados e a mente pronta para procurar por diversão novamente. Era Cashmere. Sua amiga, absolutamente desmiolada e desastrada e risonha. Não tinha a menor condição de tentar algo com ela simplesmente porque Finnick não a via desse jeito e não pretendia se esforçar para começar a ver.

Finnick revirou os olhos discretamente e coçou a nuca, num claro sinal de incômodo. Era impressionante como Peetanunca respeitava suas resoluções e sempre passava por cima delas. E o pior é que, na maioria das vezes, ele mesmo convencia Finnick a desistir das metas que impusera para si mesmo.

Mas, cá para nós, talvez esse fosse exatamente o motivo pelo qual eles eram tão amigos.

A conversa entre os dois se desenrolava silenciosamente, mas Peeta e Finnick não estavam sendo discretos o bastante. Na verdade até estavam, mas Peeta dera o azar de se interessar por uma morena extremamente observadora.

Morena essa que observava de soslaio a troca de olhares entre os dois amigos. Não, não pensem que essa discussão muda passou despercebida a Katniss; ela ouviu perfeitamente a mudança no tom de voz de Peeta quando ele mencionara Cashmere, reparou minuciosamente nos olhos arregalados de Peeta e nas sobrancelhas erguidas de Finnick. Ela não conseguira captar exatamente o que cada um desses trejeitos significava, mas deu para ter um panorama geral da discussão que se desenrolava ali.

A questão era: contar ou não à Annie? Sua cabeça começou a entrar em colapso e se fundir a medida que ela analisava a situação à sua frente, que só ficava pior. Primeiro, ela era jogada em um programa de sexta feira à noite junto com o ex de sua melhor amiga. Como se não bastasse a dúvida de expor esse episódio à dita melhor amiga ou não, ela ainda se deparava com uma suspeita troca de olhares entre seu par e o dito ex, desencadeada à menção do nome de uma mulher que não era a dita amiga.

Katniss começou a entrar em pânico, pensando seriamente em escapar para o banheiro e ligar para Annie dando detalhes do que presenciara, mas algo freou suas pernas desesperadas para se mover na direção do toalete. Ela não tinha certeza de nada. Aliás, ter certeza de que se não havia nada para se suspeitar? Ela simplesmente pegara os dois amigos em uma troca de olhares um tanto esquisita. Mulheres fazem isso o tempo todo, e na maioria das vezes não quer dizer nada. Ela ligaria para Annie para dizer o quê? “Olha, peguei seu ex e o meu atual se olhando esquisito quando falaram de uma outra mulher.”Sim, mas e aí? Isso seria útil? Será que faria algum bem repassar essa informação à Annie? Eles estavam separados agora. Talvez esse alarde todo só fosse tornar ainda mais a difícil a tentativa de Annie de deixar sua história com Finnick no passado. Será que a interessava mesmo saber como Finnick olhava para os amigos ao falar de outras mulheres? Interessar, interessava, mas não dizia respeito. Não mais.

Katniss agarrou a garrafinha de Ice e derramou um gole da bebida na boca, constatando que aquilo mais parecia refrigerante. Ela passou os dedos nervosamente pelos cabelos e olhou para os lados, inspecionando o lugar e tentando desatar o nó em sua cabeça.

Enquanto Katniss entrava em um campo de batalha dentro de si mesma, Gale a observava, aproveitando a distração dos outros para poder contemplá-la mais abertamente. Traços fortes e bem delineados, mas ao mesmo tempo delicados; lábios cheios levemente pintados com batom rosa. Peeta havia se dado bem, ele teve de admitir para si mesmo. Ela era encantadora. Não dava vontade de parar de olhá-la.

Dava para entender perfeitamente porque Peeta estava tão parado na dela.

Naqueles segundos em que tudo ficou silencioso, mas os olhares entre os quatro ardiam ferozmente, Gale pode reparar que Katniss parecia nervosa. Suas íris acinzentadas tremiam levemente nas bordas, seus dedos retorciam os cabelos nervosamente.

E enquanto ela parecia buscar uma saída perdendo seu olhar nas histórias em quadrinhos de cobriam as paredes daquele bar, seus olhos subitamente se encontraram com os de Gale. Ela não sabia exatamente porque, mas foi aquela coisa de você inconscientemente reparar que alguém está te encarando e seu cérebro fazer seus olhos se voltarem naquela direção.

Os olhares se encontraram, cinza no cinza, e Gale pode perceber claramente o nervosismo e o desconforto que emanavam da garota. Era quase como se ela estivesse lhe pedindo socorro.

– Finnick. – Gale cutucou o amigo, que ainda parecia estar discutindo por telepatia com Peeta. – Divide uma batata frita com queijo comigo? – Ele pediu, distraindo Finnick e o fazendo quebrar contato visual com Peeta.

– Quanto custa? – Finnick perguntou, voltando-se para Gale. E, num passe de mágica, assim que os dois pararam de se olhar, todo o clima ruim que tomou conta daquela mesa e parecia esmagar os quatro simplesmente se dissipou e foi soprado para longe.

– Trinta e pouco. – Gale respondeu, ainda olhando fixamente para Katniss que retribuía seu olhar. Ela não sabia muito bem como, mas entendeu que ele interveio por ela. Não que interromper a conversa de Peeta e Finnick fosse de fato ajudá-la com o dilema que a consumia por dentro, mas pelo menos desapareceu com aquela aura sufocante – ou que pelo menos ela sentia sufocá-la.

– Tá, tá, pede aí. – Ele deu de ombros. - Posso chamar a Cash, então? – Finnick perguntou, porque toda essa complicada trama de debate aconteceu em pouco menos de cinco segundo – rápida e fulminante, como toda a conversa por olhares. -, e ele ainda precisava de uma resposta formal dos amigos que aprovasse ou vetasse a presença de Cashmere.

– Pode, ué. – Gale se manifestou, seguido de ruídos de concordância dos outros dois.

Os quatro seguiram conversando sobre todos os assuntos possíveis enquanto comiam batata frita e bebiam cerveja (ou ice, no caso de Katniss). E se era difícil para Gale ignorar a presença de Katniss antes de ela começar a falar, depois ficava praticamente impossível. Ela ria das próprias piadas e era adoravelmente tagarela, e ele foi se vendo cada vez mais enfeitiçado por sua voz e por seus gestos. E foi aí que a coisa começou a sair de controle.

Porque ele sabia que não podia fazer aquilo. Ela estava com Peeta, pelo amor de Deus! Seu melhor amigo de infância. Seu melhor amigo desde sempre. Seu amigo desde que ambos estavam na barriga de suas mães. Aquilo era traição, era sujo, era maldade.

Mas ele simplesmente não conseguia se livrar do encanto que Katniss havia, sem perceber, despejado em cima dele. E, acima de tudo, ele não queria – e a percepção desse fato o assustou - se livrar. Ela era bonita demais, encantadora demais para que ele se desse ao trabalho de conter a atração – sim, atração, Gale, vamos ser honestos aqui. – que contraía seu peito naquele nervosismo gostoso que aparece sempre que você está diante de um pretendente em potencial.

O único problema é que ele não estava diante de uma pretendente em potencial. Ele estava diante da namorada de seu melhor amigo.

E ele gostava dessa sensação, o problema era a culpa que a acompanhava. Ele gostava de olhar para Katniss, não só porque ela era bonita ou interessante, mas porque ele gostava de como se sentia ao fitá-la, exceto pelo fato de que ele não podia de jeito nenhum se sentir assim.

– Então hoje, quando eu chego em casa, minha irmã está parada na porta do banheiro olhando para mim. – Ela dizia, contando o reencontro com Prim. – Eu tomei um susto tremendo. – Ela soltou uma risadinha. - Porque, sabe, ela só ia voltar mês que vem, depois do aniversário dela. – Katniss fez um som que lembrava muito um suspiro, só que um pouco mais irritado. – Imagina se eu tive alguma coisa assim com 17 anos.

– Não teve porque não quis. – Peeta comentou. – Tenho certeza que se você pedisse, seus pais te dariam qualquer presente que você quisesse.

–É verdade. – Ela admitiu, em uma simplicidade desconcertante. – Mas eu não pedi. E mesmo assim, eu não sei, a Prim tem alguma coisa que derrete nossos pais completamente. Eles nunca foram de negar muita coisa para nenhuma de nós, mas eles são mais liberais com ela do que eram comigo quando eu tinha essa idade. E eu sei que é por causa do jeitinho dela.

– Ah, isso não tem nada a ver, Kat. – Finnick ponderou. – Ela é a segunda filha, os pais tendem a controlar mais o filho mais velho e depois de perceber que erraram na mão com o primeiro, eles consertam com o segundo.

Katniss sacudiu a cabeça.

– Pode ser. Mas eu sei que essa garota tem alguma coisa. É muito fácil gostar dela, e é quase impossível negar alguma coisa quando ela pede. – Katniss deu de ombros. – De qualquer maneira, acho que ela não se meteu em nenhuma grande confusão em Los Angeles, então já está de bom tamanho. Estou guardando meu dinheiro para comprar um apartamento para mim, ao invés de ficar fazendo estripulia no exterior.

– Sensata. – Gale comentou, pronunciando-se diretamente para Katniss pela primeira vez.

A morena sorriu e os quatro continuaram a conversar por mais alguns minutos, até que uma voz espevitada e elétrica os interrompeu.

– Oi. – A loira de cabelos coloridos nas pontas cumprimentou os presentes, mas se dirigiu primeiramente a Finnick para abraçá-lo.

Katniss a observou atentamente, sua típica curiosidade feminina falando mais alto. Ela era exótica. Cabelo loiro claro, pontas pintadas de azul, uma argola preta no nariz longo. Corpo magro, quase de adolescente. Annie é mais bonita, foi o pensamento automático de Katniss após a análise cuidadosa da aparência de Cashmere, mas a morena imediatamente se repreendeu. Aquilo não tinha sentido. Ela não estava ali em uma missão para levar informações da nova vida de Finnick para Annie. Ela não tinha essa obrigação, a despeito da força de sua amizade com Annie.

Gale havia conseguido desgrudar o olhar de Katniss, e estava feliz consigo mesmo por tal feito, mas isso não significava que ele havia deixado de prestar atenção na garota. E, bom, foi bem fácil para ele, mesmo sem olhá-la diretamente, perceber que algo na atmosfera em volta de Katniss havia mudado, o que obviamente o fez voltar a encará-la.

E dessa vez ela percebeu. Percebeu que ele a mirava, mas teve medo de olhar diretamente para ele e avaliar o que aquele olhar significava. Aquela saída já havia lhe trazido dor de cabeça demais para ela começar a criar caraminholas na cabeça a respeito de Gale.

Não que Katniss fosse de fato cogitar a possibilidade de Gale a encarar com algum tipo de desejo, porque vocês bem sabem que apesar de toda a sua sensibilidade, Katniss tendia a descartar qualquer possibilidade que envolvesse alguém atraído por ela. Já não havia sido um custo convencê-la de que Peeta estava de fato interessado em algo a mais com ela? Imagine só fazê-la acreditar que o melhor amigo também estaria ligado na dela! Já era difícil acreditar no interesse de um só, de dois, então, nem pensar. Esse nunca seria o cenário mais provável, não na perspectiva de Katniss.

Mesmo que fosse exatamente o que estivesse se desenrolando em sua frente naquele instante.


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Notas finais do capítulo

Manos e manas, preciso revelar uma coisa: Eu não estou postando isso quinta feira. Na verdade, eu estou escrevendo essa nota exatamente às 23h41 do dia 17/12/2014, quarta feira, um dia antes da data que eu combinei com vocês para o capítulo de aniversário. Tudo isso porque minha mãe me inventou de comprar um armário aqui para casa e o montador vai vir aqui amanhã, de modo que eu realmente não sei qual será o estado da minha casa, nem se estarei apta a postar esse capítulo quinta. Como eu não quero DE JEITO NENHUM furar com vocês, estou usando a mágica ferramenta do Nyah de programar a postagem, ou seja, estou registrando esse capítulo quarta mas ele só será liberado para vocês amanhã às 14h45, (14h44 é a hora exata que eu postei o primeiro capítulo há um ano atrás, mas não tem aqui para programar, eles só contam de cinco em cinco minutos. 45 foi o mais perto que eu consegui). Enfim, tudo isso é para dizer a vocês que hoje na verdade é quarta feira quase de madrugada, eu estou acordada desde às 5h30 da manhã e mal dormi noite passada, logo, estou CAINDO COM A CARA NO TECLADO. O que isso quer dizer? Que podem haver erros, vários erros espalhados pelo capítulo; eu peço que vocês me desculpem e me avisem, se for o caso. Eu procurei revisar, mas tá complicado, gente.
Me desculpem qualquer coisa, e, acima de tudo, OBRIGADA. Pela paciência, generosidade, por serem tão amáveis e dedicados. VOCÊS SÃO D+. AMO TODOS.
Um pedaço de bolo, um bem casado, uma valsa e um tapinha na bunda.