Capitulo XXXXIII - Vejo você

O quarto branco de novo. Ela odiava ficar ali, mas naquele momento, a primeira coisa que fez antes de abrir os olhos novamente para tentar se acostumar com a claridade foi agradecer por está ali. Pois se não fosse uma ilusão, o que julgava muito difícil, estar ali queria dizer que ela estava viva.

Abriu os olhos e os piscou freneticamente. Havia duas janelas na parede a sua direita iluminando o cômodo. Pela luz clara e forte, ela deduziu que deveria se de manhã ou começo de tarde. Percebeu que alguém dormia na poltrona ao seu lado. Reconheceu ser uma mulher, pois este alguém tinha cabelos longos, loiros e ondulados. Gina tentou se sentar na cama em que estava, mas todo o seu corpo doía.

– Luna? – ela sussurrou e percebeu que não conseguiria falar mais alto que isso agora, já que até falar doía.

A loirinha sentada não se mexeu, continuava dormindo feito um anjo. Gina esticou o braço, mesmo com dor, e cutucou de leve a cabeça da amiga. Três tentativas foram o suficiente para ela acordar.

– Olá! – Luna disse com um sorriso fraquinho, se espreguiçando – Como você está?

– Acho que com um pouco de dor em todo o canto – Gina respondeu – Onde está todo mundo? O que aconteceu, na verdade?

– Você não lembra mesmo?

– Bem... Não sei. Eu estava no final da Copa Quadribol, quando tudo que Harry e Ron haviam... – a ruiva congelou – Harry e Ron... – sussurrou sem olhar para nada em especial. As lembranças mais nítidas daquela noite se chocaram nas paredes da sua cabeça com uma certa brutalidade – Onde está meu irmão, Luna?

– Com calma, amiga... – a loira suspirou – Está tudo bem com Rony, ele passou por uma cirurgia delicada, mas está se recuperando bem... Mesmo que ainda não tenha acordado, os médicos estão confiantes.

– Por quanto tempo estamos aqui?

– Faz três dias que vocês três estão aqui...

– Como assim vocês três? – agora mesmo com as dores Gina se sentou e encarou Luna a sua frente, que suspirou agoniada – Luna Lovegood, o que aconteceu com Harry?

– Ele surtou – foi o que a loirinha respondeu de imediato, engolindo em seco. Gina voltou a se deitar, olhando para o teto e colocando as mãos no rosto já bem úmido – Foi Harry quem conseguiu parar a queda de vocês, mas ele não acredita nisso... Ele tem uma forma mais agitada de entrar em choque, sabe? Eu, e acredito que nem você, já tenha o visto do jeito que o vi... Draco achou melhor dopá-lo. Tivemos a idéia de trazer ele para te ver antes de apagá-lo, mas ele disse que tinha matado você e Rony, para falar a verdade ele gritava que tinha falhado com todo mundo, quando ele está acordado se recusa a falar com alguém, nem mesmo os filhos ele quer ver e nem deixamos, porque ele está meio agressivo...

– Preciso vê-lo – Gina voltou a se levantar enxugando as lágrimas e Luna apenas a observou – Ele está uma pilha há semanas, sabia que qualquer hora podia explodir... Então eu teimei em comparecer aquele lugar, teimei em jogar, temei em sair daquele inferno na Copa e olha só aonde eu nos trouxe por causa disso?

– Você não tem culpa... Nenhum de vocês tem.

Gina suspirou fechando os olhos com força.

– Por favor – ela suplicou baixinho, chorando novamente – Só pegue uma cadeira de rodas e me leve até ele.

Luna um pouco relutante deixou o quarto da amiga e foi atrás do que ela tinha pedido. Voltou segundos depois, já que tinha uma cadeira muito perto dali e ajudou Gina a se sentar de uma forma confortável.

– Onde está minha família? – ela perguntou a Luna enquanto era guiada lentamente ao seu destino.

– Seus pais estavam aqui mais cedo, mas George os convenceu a irem para casa descansar um pouco e os levou. Gui, Fleur e Ange estão no Chalé das Conchas cuidando das crianças... – Luna ia explicado – James e Albus quase não sentem a falta de vocês, eles e os primos brincam o dia todo juntos e isso tranquiliza a gente, mas Hugo e Lílian sentem bastante.

– Minha Lílian... – Gina sussurrou para si mesma, mas deixou Luna continuar.

– Fleur, Ange, a Sra. Weasley e até eu cuidamos muito bem dela esses últimos três dias, mas a falta de uma mãe é irreparável. Ela chora por você em várias horas do dia. Hermione vai ver Hugo e Rose em alguns intervalos que tira para descansar, tenta acalmar a pequena também, mas como eu disse: Nada como a mamãe dela.

Gina sorriu com a imagem dos filhos, sentia tanta falta dos três naquele momento que queria chorar por não poder abraçá-los ali mesmo, só não chorou porque estava alivia também. Pois sabia que logo, logo eles iriam se ver novamente e ia ficar tudo bem. Mal viu quando Luna parou em frente a uma porta branca e a abriu lentamente.

– Chegamos – a voz da loira foi o que a fez acordar.

– Você me deixa sozinha com ele? – Gina parecia tímida ao perguntar isso.

– Mas é claro, querida! Eu já vi esse filme, sei qual é o meu papel – Luna respondeu com um sorriso gentil. Posicionou a cadeira da amiga bem próxima da cama e de Harry e se retirou logo em seguida, ficando lá fora vigiando a porta.

Gina não pode mais conter as lágrimas e chorou silenciosamente com a cabeça apoiada nos braços cruzados na beirada da cama do marido. Harry estava com uma agulha no seu braço que lhe conectava as doses de poções dopantes. Ele tinha leve arranhões no rosto e nos braços e dormia profundamente.

– Me desculpe, me desculpe – a ruiva repetia baixinho de cabeça abaixada e ainda chorando.

Toda sua dor e desespero do último acontecimento estavam sendo postos para fora junto com aquelas lágrimas.

Lentamente, ainda soluçando, ela ia se levantando e subindo em cima da cama de Harry. A dor em todo o seu corpo ainda a incomodava a cada movimento, mas ela não desistiu até se encaixar confortavelmente do lado dele, apoiando a cabeça em seu peito. A respiração do moreno era pesada, Gina deduziu que ele não acordaria tão cedo. Então ela se inclinou sobre ele novamente e puxou a agulha que o mantinha dopado. Voltou a sua posição e adormeceu.

Já era noite, quando Gina abriu seus olhos. Por um momento ela não sabia onde estava, mas logo lembrou-se quando uma luz clara que vinha de fora do cômodo iluminava fracamente o quarto. Ela tentou se mexer um pouco, mas tinha dois braços fortes enrolados no seu corpo.

Gina inclinou a cabeça para cima e encontrou o rosto do marido sereno. Harry parecia ainda dormir, mas sua respiração não estava mais tão pesada assim.

– Vamos, eu sei que você não está mais dormindo – ela provocou dando um selinho no queixo dele.

– Estou acordado faz um tempinho, tentando me convencer que você não é um sonho – ele respondeu ainda de olhos fechados.

– Você conseguiu, acredite – Gina sussurrou confiante – Salvou a mim e ao Rony.

De repente, três lágrima surgiram no rosto de Harry.

– Eu vi vocês caindo e me desesperei... Lancei o feitiço tarde de mais e algo dentro de mim me fez acreditar que... que eu tinha falhado. Tive medo de abrir os olhos... Tive medo de saber se estavam vivos ou... ou... – ele tentava dizer agoniado, ainda de olhos fechados – Eu não queria ouvir ninguém... Me... Me descul...

– Shhhhh... – Gina pediu silêncio colocando o dedo indicador na boca de Harry – Eu quem devo pedir desculpas, meu amor, a você e ao meu irmão. Prometo que vou deixar de ser cabeça dura... Ronald está se recuperando, eu estou bem... Nós estamos bem, okey? Estamos bem graças a você.

– Mas e se eu tivesse errado...

– Abra os olhos, então – ela ordenou baixinho.

Harry ainda estava com medo. Ele estava com medo de abrir seus olhos e não ver ninguém nos seus braços, apesar de sentir o corpo de Gina ali. Um pouco relutante ele fez o que ela pediu, mas fez isso devagar.

– O que você vê? – a ruiva brincou.

– Vejo você... – ele respondeu com os olhos verdes penetrados nos castanhos – Eu amo você, amo meu amigo e isso tudo me deixou tão assustado...

– Cala a boca – Gina disse e o beijou.

Harry parecia surpreso de inicio, mas logo correspondeu o beijo apaixonado e repleto de saudades. Gina acariciava seus cabelos, enquanto ele acariciava as suas costas. Os dois ficaram namorando e confirmando que estavam bem até pegarem no sono de novo.