A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 35
XIII. As visões de Isis


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Mais um capítulo para vocês. Essa temporada já está se encaminhando para os capítulos finais, mas ainda teremos alguns mistérios para desvendar ;)



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XIII. As visões de Isis

Mathias aproximou-se de seus soberanos e respeitosamente iniciou seu relatório oral.

– Conseguimos capturar um rebelde e começamos o interrogatório ontem. Descobrimos que eles estão organizados em quatro grupos, cada grupo de uma vila principal aos arredores da cidade. Pelo que me falou dos objetivos os participantes são todos muito jovens, pois reivindicam coisas como o direito de terem mais filhos.

Argos e Isis não puderam evitar a confusão em seus pensamentos.

– Mas o que é que temos a ver com isso? – perguntou Isis. – Desde que viemos para a Lua a realidade é essa. Não está em nossas mãos a quantidade de filhos que cada mulher da à luz.

– Sim minha rainha, é por este motivo que sabemos que são jovens que ignoram a própria história.

– Isso contradiz com o perfil do rebelde que encontrei no planeta. – intrometeu-se Louis com sua testa franzida.

– Como era o rebelde que encontrou? – perguntou Mathias interessado, focou-se em seu trabalho para que seu orgulho ferido pelo jovem não transparecesse em sua feição.

– Tinha no mínimo a mesma idade que o senhor Isaac, mas suspeito que tenha um ou dois milênios a mais.

– Um ancião querendo se rebelar? Não faz sentido, os anciões sempre apoiaram os elementares, sempre foram muito gratos. – espantou-se o rei.

– Faz sentido se colocar um par de olhos vermelhos em seu rosto.

– Tem certeza que ele está em conluio com os rebeldes? Olhos vermelhos geralmente são egoístas e não conseguem trabalhar em grupo. Por isso o líder tem completo domínio sobre a mente de seus fantoches. – inquiriu Mathias, sua mente trabalhando rápido para solucionar aquele quebra-cabeça.

– De todos os olhos vermelhos que encontrei no planeta ele foi o único a tentar me convencer que rei Argos era um tirano e que eu deveria estar me preocupando com meu povo em vez de me preocupar com os humanos. E confesso que fiquei tentado a acreditar em suas palavras, mas assim que me afastei a ideia pareceu absurda. Sua fala era... – Louis torceu os lábios. – Calma, cadenciada, quase como uma hipnose. E ele não age como os olhos vermelhos normais. Em nenhum momento tentou me atacar fisicamente e quando eu dei o primeiro passo ele correu. Nunca vi um olho vermelho correr de uma luta. Fiquei tão surpreso que não agi de imediato e ele acabou escapando.

– Você pode ter cruzado seu caminho com um dos lideres mais radicais. E se ele realmente tem essa oratória tão boa, capaz de tentar até mesmo você, temo que ele esteja por trás das ideias infundadas sobre fertilidade, extinção da raça humana e deposição dos elementares do poder. – concluiu Mathias com os olhos arregalados. – Como é o nome dele?

– Shu.

– Com licença majestades, irei agora mesmo inquirir o prisioneiro a respeito deste tal ancião de olhos vermelhos.

– Vá Mathias. – assentiu a rainha preocupada.

Por um momento Isis imaginou que seu companheiro iria acompanhar o Chefe da Guarda, como sempre fazia quando existia um perigo rondando, porém Argos apenas enlaçou a cintura da amada e beijou-lhe a têmpora.

– Acho que é hora de voltarmos para casa.

Isis não pode evitar o entusiasmo e pulou enlaçando o pescoço de seu companheiro. Era como se finalmente ele tivesse voltado para ela após um longo período de separação. Argos não pode evitar a gargalhada.

Fazia muito tempo que Anna não escutava o riso solto de seu pai. Os últimos meses foram deveras tensos e nem mesmo nos momentos tranquilos Argos se deixava relaxar. Ao que parece tudo mudou e isso deixava a princesa ainda mais alegre.

Puxou Louis pela mão até o guerreiro Nereu, o terceiro na linha de comando da Guarda Real já que Mathias e Jasmim, segunda na linha de comando, foram interrogar o prisioneiro rebelde.

– Então? Por onde começamos nosso trabalho? – perguntou animada.

Nereu era um homem corpulento e de feição severa, seus cabelos e barbas eram ruivos quase da cor de tomates, seus olhos profundamente verdes e seu sorriso só era visto por sua companheira em momentos íntimos. Seu temperamento é como uma bomba relógio, ele observa toda a situação a sua volta com paciência e no momento certo explode, silenciosamente, e isso é o que torna ainda mais perigoso. É um homem de ação bruta e implacável. Dificilmente alguém lhe destinava alguma provocação ou ofensa. Porém quando a princesa lhe destinou um sorriso quase infantil ele não pode evitar se derreter, vergonhosamente.

Suas bochechas coraram, mas estavam bem escondidas por sua espessa barba. Limpou a garganta e após um rápido olhar para o descendente dos justos explicou.

– Vocês começarão hoje à noite. Os acompanharei na patrulha da cidade. Seremos responsáveis pela zona noroeste. Partiremos assim que a noite chegar. Vocês podem...

– Isis!

A exclamação do rei chamou a atenção de todos os que já haviam se espalhado e iniciado suas atividades pelo Posto de Comando. Anna arregalou seus olhos e precipitou-se em direção a sua mãe, foi impedida por Louis que a segurou firme pela cintura.

– Não se deve interromper uma visão. – explicou em toma baixo.

Argos estava curvado segurando o corpo mole de sua companheira. Os olhos da rainha estavam revirados em suas orbitas deixando apenas o branco à vista. As mãos de Isis agarravam-se aos braços de seu companheiro como se sua vida dependesse daquilo. Sua visão era assustadoramente inacreditável. Ela enxergava o impossível.

Agonizado Argos apenas aguardava que a visão terminasse. Fazia muito tempo que Isis não ficava desse jeito ao prever o futuro. A última vez que ficou assim foi quando previu que Argos mataria seu pai.

Nos últimos milênios suas visões eram suaves e rápidas, normalmente seus olhos ficavam apenas estáticos e então retornavam ao presente, ela sentia-se apenas um pouco cansada, mas nada muito relevante que a fizesse parar suas atividades. Desta vez quando seus olhos lentamente rodaram de volta a sua posição normal suas pálpebras fecharam-se e a rainha, completamente exausta, entrou em profundo sono.

O rei sentiu seu coração apertar-se, ela nunca havia desmaiado após uma visão. Engolindo em seco pegou-a no colo e começou a caminha para a saída.

– Pai?

Controlou seus sentimentos e sorriu para sua filha.

– Não se preocupe, sua mãe fica apenas cansada após suas visões. Siga as instruções de Nereu durante a ronda, está bem?

A princesa apenas assentiu. Dentro de seu coração temia o que estava por vir.

***

– A noite está calma. – comentou Louis observando o planeta azul brilhar majestoso no céu.

Segurava a mão de sua companheira em um apoio silencioso. Sabia que ela estava muito preocupada com Isis, mas que respeitava o pedido mudo de Argos para que cumprisse sua promessa de ajudar a Guarda Real. Louis temia que o olhar do rei não quisesse apenas que a filha cumprisse suas obrigações, mas também estar longe quando a rainha acordasse e contasse sua visão.

– Bem, a noite anterior a sua chegada também estava calma. - ponderou Nereu.

– Não me lembro de vê-lo entre os guerreiros hoje pela manhã.

– Se eu estivesse talvez você ainda teria algumas feridas não curadas.

Louis abriu um largo sorriso.

– Ou talvez quem estivesse ferido fosse você.

Anna revirou seus olhos internamente. Homens!

– Podemos desvendar esse mistério futuramente, que tal um duelo príncipe dos justos.

– Nada mais justo que um duelo entre guerreiros honrados. – sorriu Louis.

– Talvez seja bom um pouco de diversão para o povo, tudo está muito tenso. Lembro-me de assistir alguns duelos quando era criança, não é meu passatempo preferido, mas acho que para muitos o é. – intrometeu-se Anita. – Eu gostava mais das atrações à parte. Principalmente das barracas de tortas da Vila do Leste.

– Provavelmente suas lembranças são do grande festival da cidade, princesa. Uma vez por ano vários guerreiros inscreviam-se para duelar uns contra os outros numa arena construída em torno dos Campos de Treinamento. Era uma grande atração que trazia até mesmo os moradores de vilarejos mais distantes para acompanhar as lutas. Os comerciantes aproveitavam a grande remessa e armavam suas barracas. Havia muitas atrações infantis também, o rei nunca permitiu duelos entre crianças, mas permitia pequenas competições com arco e flecha, corridas no chão e no ar, jogos de estratégia entre equipes.

– Lembro-me de vir em alguns desses festivais. – sorriu Louis com nostalgia. – Eu não gostava muito das brincadeiras com as crianças, eu queria me inscrever nos duelos dos adultos. Vovô Augusto dizia que eu só participaria de um duelo com qualquer outro guerreiro se eu o vencesse antes disso. – não pode evitar o riso. – O desafiei na hora.

Anna sorriu para o companheiro e perguntou:

– E o que aconteceu?

– Fui carregado pelos tornozelos de ponta cabeça até a arena. Minha mãe gargalhava dizendo que vovô deveria ter me dado algumas palmadas para aprender a não desafiar os mais velhos. Ela foi, por todo o caminho, contando para todas as pessoas a nossa volta que eu queria duelar com os adultos. É claro que todos davam risada e eu quase morri de vergonha.

– Sua mãe tem um jeito peculiar de educar. – comentou Nereu com a testa franzida.

– Às vezes ela soa mais como uma irmã do que como mãe, vai entender?

Anna entedia e deixou um leve riso escapar por entre seus lábios.

– Mas este festival não acontece mais, na verdade faz anos que não ouço falar sobre nenhum festival, nem mesmo nas vilas.

– Nos últimos dois anos as ameaças rebeldes estão mais perigosas e Mathias orientou seu pai para que cancelasse os grandes eventos até que pelo menos os mais radicais sejam presos. A Guarda Real não conseguiria manter a segurança de todos durante o festival e rei Argos não quis arriscar nenhuma vida inocente. Quanto aos festivais das vilas eles ainda acontecem, mas são muito menos populares do que antes. O povo também está com medo.

Os três continuaram com conversas leves enquanto caminhavam pelas ruas da cidade. Apesar da aparente distração os três pares de olhos estavam atentos a tudo a volta.

***

Sentiu os macios lençóis sob seu corpo e lentamente abriu os olhos. Deparou-se com a visão das cortinas brancas balançando por causa da janela aberta. Por um momento sentiu seu coração apertar imaginando que seu companheiro mais uma vez havia saído pela madrugada. Estava sonolenta e confusa, não notou o que tinha acontecido nas últimas horas até que Argos apareceu em sua visão segurando uma bandeja com uma xícara fumegante de chá sobre ela.

– Como se sente? – perguntou sentando-se ao lado de Isis e lhe entregando a xícara. – Me preocupou, nunca a vi perder os sentidos após uma visão.

A rainha permaneceu em silêncio, seus olhos no movimento das cortinas. Lembrou-se de sua terrível visão e estranhamente não chorou, não entrou em desespero ou quis fugir. Apenas teve a certeza do que teria que fazer. Sentiu-se bem com sua decisão.

– Isis, por favor, meu amor, está me deixando ainda mais preocupado!

Isis voltou seu olhar para seu companheiro e bebeu o chá lentamente, por fim o colocou sobre o criado mudo para então segurar as mãos de Argos. Olhando-o com compaixão proferiu com carinho.

– Nosso tempo como rei e rainha está acabando Argos.

Argos puxou o ar com força.

– O que você viu? É a aquela doença que vem lhe assombrando?

– Você perderá o controle querido e chegará o momento em que terei que fazer algo que nunca imaginei ter que fazer. – seus profundos olhos azuis encheram-se de lágrimas. – Não terei alternativa. Perdoe-me por isso.

O moreno soltou suas mãos de sua companheira e imediatamente segurou-lhe o rosto delicadamente a puxando para perto. Beijou-lhe os lábios de maneira lenta e doce. Quando se afastou deixou que seus olhos castanhos admirassem com amor o rosto delicado de Isis.

– Quando o momento chegar faça o que tem que fazer.

– Eu vou.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

– Anna é tão jovem.

– Sim minha querida, mas agora ela tem Louis. E os dois compartilham um passado desconhecido para nós, mas que com toda a certeza lhes trouxe grande experiência. Sei que Louis tratará nossa filha com todo amor que ela merece e sei também que os dois tem grande capacidade para pacificar completamente nosso povo. Serão bons governantes.

– Não quero que ela saiba ainda, não quero Anita sofrendo em antecedência.

– Então não contaremos. Deixemos que nossas vidas tomem o rumo que tem que tomar. Mas por precaução amanhã pela manhã falarei com Louis, acho que ele deve ter ciência do sistema hierárquico dos nossos ministérios.

Isis assentiu em concordância e então enlaçou o pescoço do amado o puxando para mais perto.

– Eu preciso que me ame Argos, preciso que tome meu corpo e minha alma, preciso senti-lo plenamente, pois não sei mais quanto tempo nos resta.

– Com todo o prazer minha rainha.

Argos a amaria como se fosse a última vez e o faria novamente na próxima noite, e na próxima, e na próxima, a amaria com todo o seu coração até o momento em que sua saúde não mais o permitisse.

***

Estavam em uma estação de clima seco com os dias quentes e as noites com brisas agradáveis. O que encorajava as famílias a passear quando o Sol desaparecia. Então a praça estava lotada até o começo da madrugada. A presença da princesa também trouxe curiosidade principalmente das crianças que se aproximavam para conversar.

Nereu e Louis assumiram a responsabilidade de continuar a ronda enquanto Anna era puxada pelos pequeninos para uma brincadeira no centro da praça. Mas não tiveram problemas, já que com a notícia de que o Portal novamente seria aberto o povo estava contente.

A madrugada logo chegou e as famílias voltaram para suas casas deixando as ruas silenciosas e vazias, exceto pela conversa baixa entre os três guerreiros.

O dia estava quase amanhecendo quando escutaram o som de um velocista se aproximando. Ele aproximou-se e reverenciou a princesa.

– Tenho uma carta para o senhor. – entregou o pergaminho delicadamente enrolado para Louis e assim como chegou se pôs a correr em outra direção.

Com o cenho franzido o descendente dos justos abriu a carta.

– É de tio Thalles, ele requer minha presença imediatamente em sua casa.

– Ele diz o motivo? – perguntou Anita com preocupação.

– Não, apenas destaca que seja imediatamente.

– Então é melhor que vá logo, o turno já acabou e em poucos minutos uma nova equipe de guerreiros chegará para nos substituir.

Louis virou-se para a sua companheira.

– Você vem comigo?

– O senhor Thalles pediu que eu também fosse?

– Não disse nada.

– Então acho que voltarei para o castelo, estou preocupada com mamãe.

– Perguntarei a ele se existe algo para amenizar os efeitos das visões.

– Obrigada. – sorriu-lhe comovida.

Nereu afastou-se um pouco para dar privacidade ao casal e assim que Louis percebeu puxou sua princesa para junto de seu corpo.

– Sei que ainda não tivemos muito tempo para conversarmos e conhecermos essas nossas novas vidas, mas prometo que quando voltar tiraremos um tempo só para nós.

– Eu adorarei. – sorriu Anna o puxando para um beijo carinhoso de despedida.

Em seguida Louis partiu abrindo suas asas e voando o mais rápido possível. Não tinha bons pressentimentos a respeito desta conversa com o Senhor do Destino. E ele não poderia estar mais certo.


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Notas finais do capítulo

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