A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 14
XIII. Floresta Escura


Notas iniciais do capítulo

Olá! O capítulo está bem intenso, espero que gostem!

Colaboração musical: Raabe Rodrigues.
Mais uma vez, muito obrigada amora :D



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XIII. Floresta Escura

Thalles observava o jovem a sua frente, sentindo-se extremamente infeliz. Como queria que suas visões mudassem, mas a cada nova decisão tomada tudo ficava mais forte. Queria contar ao guerreiro o que estava por vir em seu destino, mas sabia que não importava o que ele pudesse falar nada mudaria o futuro de Louis.

– Escute Louis, ela está perdida na Floresta Escura.

O jovem sentiu sua espinha gelar ao ouvir o nome. A Floresta Escura era temida por qualquer um que tivesse um pouco de amor a vida. Conhecia lendas aterrorizantes, diziam que pouquíssimos conseguiam sair vivos de dentro dela, pois lá habitavam criaturas impiedosas e cruéis.

– As lendas são piores do que a realidade jovem guerreiro. - disse o elementar lendo a expressão apavorada do mais novo. - É verdade que a floresta brinca com mentes e remete muitos a loucura. Mas ela só tem efeito em corações corrompidos.

– Não existem criaturas ou forças ocultas...? - perguntou incerto, afinal não foram poucas as histórias que escutou sobre a Floresta Escura.

– Lá não vive nenhum tipo de criatura impiedosa, porém não devemos subestimar o poder de nossas próprias consciências. Não vou negar que a floresta mexe com nossas cabeças, incita a desconfiança e o medo. - suspirou e olhou-o seriamente. - Você não deve permitir o medo entrar.

Louis assentiu com a intensidade das palavras do senhor do destino.

– Se Anna está lá eu devo partir o quanto antes... Creio que não exista coração mais corrompido que o dela.

Thalles assentiu e então olhou sobre os ombros do jovem em direção a sua casa. Da porta saía Michaella apressadamente. Augusto vinha logo atrás.

– Você não vai!

– Eu tenho que ir mãe. - apesar de todo o tumulto que andava a sua vida, a voz de Louis soou calma e amorosa.

Compreendia o medo e desespero de Michaella. É verdade que precisava de um tempo sozinho para tentar acalmar seu coração e pensamentos, entretanto não queria afastar-se tanto de sua mãe e seu pai, principalmente depois de meses afastados e com o planeta prestes a entrar em colapso. Por este mesmo ultimo motivo também não podia deixar de ir, precisava buscar sua Anna.

– Se não fosse realmente necessário eu não pediria nada a ele Michaella, o papel de Louis é muito importante.

O jovem guerreiro engoliu em seco com a profundidade das palavras de Thalles e olhou ansioso para seus pais. Sua mãe encolheu seus ombros e implorou chorosa.

– Pelo menos leve seu pai junto, não vá sozinho Louis. Ela é muito poderosa.

Por um momento Louis deixou o canto de sua boca se erguer em um meio sorriso.

– Não vou separá-los neste momento. - Augusto chegou a abrir a boca para argumentar, mas seu filho foi mais rápido. - Os próximos dias serão complicados na vila, terão que explicar a todos a situação do planeta e não será uma tarefa fácil. Os sete elementares precisam estar juntos. Vocês podem querer argumentar contra, mas sabem que é verdade.

O guerreiro suspirou.

– Além do mais não haverá perigo, eu sou filho de vocês dois. Os dois elementares que melhor dominam a arte da luta.

– Não seja arrogante meu filho, você não tem noção do poder daquela menina. - a voz de Michaella soou sombria.

– Ela não vai me atacar.

– Não pode ter certeza Louis. - murmurou Augusto.

– Ela é minha companheira, ela não vai me atacar.

O calafrio subiu pelas espinhas do casal elementar. Olharam rapidamente para Thalles que apenas assentiu tristemente. Augusto voltou-se para Louis e explicou com cuidado.

– Eu entendo que possa ter se apaixonado por essa inocente menina Louis, mas lembre-se que ela quase matou sua mãe. Talvez ela tenha mudado muito mais do que você possa imaginar. Talvez ela não seja mais a mesma. Talvez ela não tenha mais salvação.

Seu coração apertou com a verdade dita pelo justiceiro, mas nenhum argumento seria forte suficiente para impedi-lo de encontrar sua companheira. Mesmo que esse encontro pudesse ser o ultimo.

– Você está certo pai. - Louis estava tão agoniado que sequer percebeu a facilidade com que a palavra pai saiu de seus lábios e o consequente brilho nos olhos do elementar. - Mas ela é minha companheira e se existe uma única chance de salvá-la eu tentarei.

Augusto assentiu.

– Eu não posso argumentar contra isso.

– Augusto! Por favor, não compactue com essa loucura!

Com um suspiro sábio e resignado fitou os lindos olhos acinzentados de sua companheira. Repousou sua mão na bochecha de Michaella e sorriu tristemente.

– Se eu tivesse engolido meu orgulho e ido atrás de você, talvez muita coisa tivesse acontecido diferente. Por muito tempo a culpei em meus pensamentos, mas a verdade é que também fui omisso. Nosso filho não vai cair no mesmo erro. Se o criador o fez apaixonar-se por Caos, há uma razão. Vamos apenas confiar que tudo acabará da maneira que deve ser.

Michaella abaixou seus olhos. Sua razão compreendia, mas seu coração não podia aceitar. Respirou fundo e olhou para Louis.

– Tome cuidado.

– Eu vou, não se preocupe.

– Vamos para dentro, pedirei a Nina que prepare alguns saquinhos com ervas que precisará para a viagem. Precisará também de tecido para um abrigo... Acho que sua mãe saberá lhe dizer melhor o que precisará ou não. Ela já se perdeu na Floresta Escura. - tagarelou Thalles caminhando de volta para a sua casa.

– Céus! A Floresta Escura! - Michaella arregalou seus olhos e por pouco não começou a argumentar contra aquela ideia, mas então engoliu em seco e começou a falar tudo o que seu filho precisaria para seguir viagem.

Se não podia impedi-lo de ir, pelo menos faria todo o possível para mantê-lo vivo. Seguiram para dentro onde o frio não os incomodava. Louis ficou em silêncio enquanto ouvia os conselhos de seus pais e dos outros elementares que já estiveram na Floresta Escura. Todos sabiam que ele iria atrás de Caos, mas ninguém ousou comentar ou perguntar sobre o fato. Apenas concentraram-se em orientar o guerreiro para que ele sobrevivesse.

A noite já estava pela metade quando todos resolveram seguir para as suas cabanas. Maximiliano seguiu com Aurora para deixar Louis sozinho com seus pais, eles precisavam desse tempo. Então se despediu do amigo com um forte abraço lhe desejando sorte e seguiu com sua companheira.

Ao chegar à antiga cabana de Michaella, Louis seguiu direto para o quarto em que dormia. Pegou a bolsa, de alça longa que transpassava seu peito, e começou a enchê-la primeiramente com os saquinhos de ervas curativas que Nina lhe dera, depois colocou duas camisas e uma pequena manta isolante térmica. Trocou sua roupa preferindo couro para mantê-lo protegido do frio. Prendeu sua espada em seu cinto e uma faca dentro do cano da bota. Pendurou a bolsa em seu peito e seguiu para a cozinha. Lá Michaella e Augusto tomavam chá sentados a mesa.

– Eu separei alguns mantimentos para você levar. - murmurou Michaella.

Louis assentiu e seguiu até o balcão colocando os grãos e o cantil cheio de vinho em sua bolsa.

– Obrigado. - murmurou.

– Os animais da Floresta Escura são mais agressivos que o normal, mas sua carne é limpa. Se precisar caçar, não tenha receios. - a voz da elementar soava tão triste e resignada que apertou o coração de seu filho.

O jovem guerreiro caminhou até a mesa e ajoelhou-se ao lado da cadeira de sua mãe. Segurou-lhe as suas mãos e olhando diretamente em seus olhos prometeu.

– Nada de ruim vai acontecer comigo. Estarei de volta antes da próxima lua cheia.

Michaella apenas suspirou e encostou sua testa ao do filho fechando os seus olhos em seguida. Rezou fervorosamente em seus pensamentos pedindo com todas as suas forças que seu filho voltasse a salvo. Augusto apenas observava com a inveja amargando sua boca. Queria aquela cumplicidade com seu filho, mas não seria em poucas semanas que redimiria dois milênios. Já fora um grande passo ele ter-lhe chamado de pai.

Louis abraçou sua mãe com carinho e então se levantou para seguir sua viagem. Olhou para Augusto querendo que ele o seguisse até a porta. E assim o elementar o fez.

Olhando a paisagem em volta respirou fundo. O medo fez seu estômago contorcer, mas não permitiu que ele se espalhasse. Voltou-se para o seu pai.

– Cuide de minha mãe. - pediu.

– Você não precisa me pedir isso. - retrucou o justiceiro com seu orgulho ferido.

– Sim eu preciso. Não por você, mas por mim. Sinto como se estivesse a abandonando, é um sentimento estranho, não sei explicar.

Passou pela mente de Augusto a expressão triste de Thalles. Engoliu em seco antes de assentir.

– Cuidarei dela. É uma promessa.

Impulsionado pelo fervor em seu coração Louis abraçou-lhe emocionado.

– Obrigado pai.

Augusto apertou o filho em seus braços. Esperara por aquilo desde o dia que percebeu que o jovem guerreiro era seu filho.

– Prometa que ficará bem meu filho. Tenho tanto para lhe falar... Tantas coisas que sonhei em ensinar a um filho meu. Volte para que eu possa cumprir minhas vontades.

– Eu vou. Não se preocupe.

Soltando-se de seu pai com um sorriso aliviado Louis seguiu para o leste voando sobre as árvores.

[...]

Os gritos e tinidos de ferro eram altos e arrepiantes, porém ela não escutava. Os cortes em suas costas eram enormes e as feridas feitas por dentes em seus braços eram diversas, mas ela não sentia. As batalhas em sua volta eram sangrentas, entretanto ela não percebia. Tudo o que conseguia sentir e pensar era a traição de sua irmã.

Estava furiosa, mas mais do que isso o ciúme em seu coração era quem comandava suas ações. Não podia acreditar que Anna chamava ao desconhecido em vez dela que sempre esteve ao seu lado. Como ela podia esquecer-se de todas as batalhas que travaram juntas? Das dificuldades em achar comida? Das saudades de sua família? Como ela poderia ignorar a promessa que fizera? Por causa de um homem? Por causa de um maldito homem!

Aline não se importava com o sumiço da mais velha. Tinha certeza que ela estava atrás do homem. Deixá-la-ia aproveitar um pouquinho. Sorriu maliciosa. Afinal era um belo espécime. Não podia condená-la por desejá-lo. Entretanto era um absurdo ser trocada. Isso ela não aceitaria. Quando reencontrasse Anna ditaria as regras, agora ela estaria no comando. Sem protecionismo da mais velha, sem tremer diante de suas broncas. Estava mais forte, mais forte do que Anna poderia imaginar. E usaria a inteligência que nunca foi valorizada pela irmã para acabar com toda aquela sujeira.

É verdade que poderia destruir tudo e todos sem nenhuma ajuda, mas juntar seguidores era uma jogada de mestre. Ainda mais tendo controle absoluto sobre eles. Apenas uma ordem e seus seguidores cumpriam sem nenhum questionamento.

Descobrira por acaso essa superioridade. Estava atacando um pequeno vilarejo composto apenas por três famílias pequenas, sugava o sangue de um homem quando o mesmo tentando defender-se a mordeu e acabou por beber um pouco do seu sangue. Irritada desvencilhou-se do homem e ordenou que ele se afastasse. Arregalou seus olhos quando ele cumpriu a ordem e a fitou com o olhar vazio apenas aguardando a próxima tarefa. Curiosa e com um sorriso malicioso nos lábios mandou que ele tirasse o próprio coração.

Sem hesitação o homem enfiou a própria mão no peito e retirou o músculo pulsante. Caiu ao chão em seguida enquanto seu coração dava as últimas batidas.

Aline testou a técnica nos sobreviventes do vilarejo e então seguiu para outros lugares. Juntava seguidores, matava quando estava com fome e destruía qualquer tipo de civilização que via em sua frente. Quando reencontrasse Anna ela mostraria quem era a mais poderosa, mostraria o quanto a mais velha fora estúpida ao trocá-la por um homem qualquer.

Sorriu com seus pensamentos. Queria que ele estivesse junto quando chegasse com seus seguidores, achava que ele reconheceria alguns membros da sua antiga vila.

[...]

Não tinha mais ideia de quanto tempo havia se passado. Desde que fora obrigado a pousar para adentrar na Floresta Escura perdeu-se nas passagens dos dias. Nunca esteve em uma mata tão fechada ao ponto da luz solar não conseguir passar entre as folhas. Teve que improvisar uma tocha para ajudar na sua visão e colocar outra camisa para aquecer-se. O frio e a umidade eram tamanhos que temeu que seu resgate fosse tardio.

Compreendia perfeitamente porque existiam tantas lendas sobre o local. O silêncio poucas vezes quebrado por rosnados, vindos de lugares longínquos, trazidos pelo eco, assustava dando a impressão de um perigo invisível. Seu coração ia a mil a cada novo som que parecia correr em sua direção. Entretanto os conselhos dos mais velhos ecoavam em sua mente e o jovem guerreiro se obrigava a expulsar qualquer medo desnecessário.

O calor de sua respiração era transformado em fumaça e seu olfato era agredido pelo frio. Contudo um rastro muito suave foi percebido. A produção de fumaça aumentou consideravelmente quando reconheceu o perfume. Obrigou suas articulações, endurecidas pelo frio, a se mexer. Correu em disparada rezando para que ela estivesse bem. Desviava das árvores sem muita dificuldade, mas por causa da sua velocidade a chama da tocha se apagou deixando-o num completo breu.

Parou de correr e tentou controlar sua respiração assim como o medo que crescia em seu coração. Naquele exato momento um rugido soou. Primeiro baixo, então foi aumentando como se um grande animal estivesse se aproximando em grande velocidade. Em um ato puramente instintivo Louis abaixou-se para se proteger. Mas nenhum ataque ocorreu.

– Céus! - não pode evitar a exclamação assustada.

Entretanto outros sons começaram a chegar aos seus ouvidos. Dessa vez não era nenhum animal rugindo e sim sussurros. Sua espinha gelou. Por um momento imaginou que Thalles havia errado e existiam sim criaturas ocultas. Mas então conseguiu distinguir a voz completamente aterrorizada. Poderia ser alguém perdido, poderia ser sua Anna.

Acendeu outra tocha e colocou-se a correr. Desta vez controlou sua velocidade para não ficar no escuro novamente. Foi então que a encontrou. Suas pernas travaram imediatamente enquanto seus olhos arregalados fitavam a imagem a sua frente. De sua boca as palavras não saíam, pois estavam todas travadas no nó em sua garganta.

https://www.youtube.com/watch?v=F0qtdIuqj60 [Swichfoot - This is Home]

Lá estava ela, chorando baixinho, amedrontada como nunca. Em seus joelhos, encolhida, tentado proteger-se com suas grandes asas expostas e seus braços abraçavam o próprio corpo trêmulo. Os cabelos escuros cobriam seu rosto, mas não cobriam as feridas em seu corpo.

Louis obrigou-se a andar. Ela precisava de sua ajuda.

Porém quando Anna escutou os passos apavorou-se e tentou se afastar. A dor e o frio eram imensos. Arrastou-se tentando fugir, mas seu corpo parecia não responder. Então numa ultima tentativa de se proteger fechou suas asas ao seu redor. Soluçou chorando de dor. Há poucas horas corria sem rumo fugindo dos grunhidos que lhe perseguiam, tentou voar e escapar pelo céu, porém a camada de galhos era densa demais e não teve forças para passar. Sem rota de fuga segurou seu arco e flecha mirando para todos os lados. Foi então que um primata gritando para defender seu território pulou em suas asas a assustando. Anna apontou a flecha para o animal, entretanto acabou por acertar sua própria asa. Caiu da enorme altura ficando com diversas escoriações.

Não conseguiu recolher suas asas, estavam feridas e com uma flecha atravessada. A dor era demais e o cansaço não a deixava raciocinar. Sentia tanto medo.

O jovem guerreiro compadeceu-se do estado de sua amada. Aproximou-se com cautela.

– Anna. - chamou baixinho para não assustá-la. - Sou eu, Louis. Não tenha medo. Vim ajudá-la.

Caos estremeceu. Por dias delirara com Louis, e agora, por mais que sentisse o calor chegando cada vez mais perto, não podia ter certeza se era ele mesmo ali. Por um lado queria que fosse. Estava assustada, machucada e com frio. Tudo o que mais queria era jogar-se nos calorosos braços do rapaz. Entretanto a culpa lhe consumia. Ela era Caos e alguém como Louis não merecia alguém como ela.

– Anita... - chamou profundamente.

O misto entre as lembranças de sua família a chamando pelo apelido e a gentileza do rapaz bagunçavam sua mente.

– Não vou julgá-la. Eu prometo. Apenas deixe-me cuidar de você.

A jovem explodiu em um choro sentido e suas asas abriram-se para que Louis pudesse se aproximar. Deixando a tocha ainda acesa no chão úmido ele ajoelhou-se em frente à Anna e a puxou delicadamente para os seus braços. O alívio tomou conta dos dois corações.


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Notas finais do capítulo

Pessoas estamos na metade da história(na verdade um pouquinho mais da metade), agora as coisas ficarão me mais intensas do que já estão ;)

Semana que vem tem mais um capítulo. Postarei spoilers no grupo no face nos próximos dias. Quem ainda não participa sinta-se a vontade: https://www.facebook.com/groups/479210868793110/



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