Real or not real? escrita por Duda Bitar


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leitor! Olha eu aqui com outra historinha pra você!
*Ah, mas outra oneshot Duda?!*
É, bem... desculpe, mas escrever fics mais longas é mais complicado pra mim. Por enquanto você vai ter que se contentar com as oneshots, okay?
Antes de começar, eu só gostaria de dizer que esta fanfic foi escrita há um bom tempinho atrás; escrevi ela pra uma amiga no meio do ano (2013). Mas, sabe, eu gostei tanto que resolvi postar aqui no site (acho que até hoje é a minha preferida, dentre as outras que escrevi)!
Enfim, não vou mais amolar... boa leitura!



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Eu me vejo em uma campina, seguindo um tordo. O pássaro voa e faz acrobacias no ar, parecendo feliz. Ele pousa em um galho mais baixo e começa a cantar uma familiar canção de quatro notas, mas, na verdade, o pássaro tem uma voz humana... e é a voz de Rue. Seria um gaio tagarela? Não sei ao certo e não pensei muito nisso, pois o pássaro levantou voo novamente.

Desta vez, ele vem perto de mim e é como se quisesse que eu o seguisse. Estamos num pomar, e eu corro atrás da ave. O sol é quente, mas agradável, e uma brisa suave bate em meu rosto. Chegamos a um lugar cimentado, como um pátio, o qual eu achei estranho por estar no meio de um pomar; mas então a vejo.

De costas para mim, com uma trança no cabelo e parte de trás da blusa para fora, lembrando a cauda de um pato. Me ouço gritar seu nome enquanto caem os paraquedas, mas de repente acontece a explosão e Prim se vai. Eu me sinto sufocada pela fumaça, sinto os ouvidos chiarem devido ao estrondo, sinto as lágrimas rolando por meu rosto. De novo não.

Quando a fumaça baixou, estava escuro e frio. O sol se fora junto com minha irmã, o pomar, o pátio e o pássaro. Agora eu estava num local fechado e ouvia uma tempestade rugindo ao lado de fora. Estava aonde? Era uma espécie de gruta...

Então reconheci o local: era a caverna da primeira Arena. Tudo permanecera igual. O saco de dormir sujo estava jogado a um canto, as pedras e galhos estavam camuflando a entrada e havia até mesmo o plástico tampando as goteiras num ponto estratégico do teto.

Ouvi um gemido agonizado e olhei em volta. Para a minha surpresa, não estava sozinha... Peeta também estava ali. Todavia, ele não estava bem e aquilo desesperou-me mais ainda. Eu acabara de perder minha irmã, não poderia perdê-lo também!

Reparei nele e me senti bem pior, dando-me conta que o garoto loiro não aguentaria muito mais tempo. A pele de Peeta estava seca e, provavelmente, ele deveria estar delirando de febre; seus olhos azuis estavam fixados em mim e demonstravam dor; ele estava todo sujo de lama e, em sua perna direita, a calça estava empapada de sangue e algo gosmento como pus... A fonte daquilo era a ferida com septicemia. Ver aquilo novamente fazia meu estômago querer sair correndo enquanto dava giros de 360 graus. Estava pior do que da primeira vez, muito pior. Aquela ferida só seria curada com um remédio caro da Capital... Onde eu encontraria isso?

De repente, e num sussurro quase inaudível, Peeta chamou meu nome. Fui até ele e segurei sua mão, enquanto tirava o cabelo loiro e sujo de sua testa, que estava pelando.

— Katniss... – ele começou a dizer Kat...

— Tudo bem, vai ficar tudo bem — o interrompi. Tentava manter a voz firme, apesar de meu desespero.

— Vá embora... é uma... armadilha! — ele exclamou, com certa dificuldade. Porém pude notar que seu tom era urgente.

— O quê? — perguntei confusa.

E então a besta apareceu. Andando sobre as quatro patas e até meio encolhida por causa do teto baixo da caverna, era como os outros monstros que nos atacaram no final desta edição dos Jogos.

A besta avançou devagar e reparei que eu estava desarmada, quando estiquei a mão atrás de meu arco. Seus olhos azuis claros lembravam os de Cato. Percebi, então, que a situação tinha se invertido: atrás do bestante havia uma pilha com os corpos ensanguentados dos Tributos e nós éramos os próximos a entrar naquele monte de cadáveres.

Quando a besta pulou sobre Peeta e eu, e seu hálito de sangue, de morte, nos atingiu, tudo que fiz foi gritar e fechar os olhos. O que eu poderia fazer para nos salvar? — Acordei desesperada, me sentando na cama e parando de gritar. Eu suava frio e tremia. As lágrimas corriam soltas por meu rosto.

Senti braços quentes e fortes ao meu redor quase no mesmo instante e me permiti sentir segurança, mesmo que o pânico e o medo que os pesadelos me causassem fossem grandes demais para passar tão fácil e rapidamente. Deixei que Peeta me abraçasse e fiquei em seus braços. Eu não aguentava mais sonhar com pessoas mortas, com minha irmãzinha... Não havia volta para eles.

Apoiei minha cabeça na curva do pescoço do garoto e seu cheiro invadiu meus pulmões. Ele me sussurrava palavras doces, esperando que eu me acalmasse, e fazia carícias em meu cabelo.

Era a primeira vez em tempos, desde que começara a dormir com Peeta, que eu tivera um pesadelo, porém ele estava bem e eu também estava bem. Não havia motivo para o meu desespero...

Eu só queria que meus sonhos não fossem tão vívidos e que não me afetassem tanto. Mas, talvez, isso só ocorra porque eu ainda estou vulnerável e com a mente perturbada pelos últimos acontecimentos.

Eu ainda era assombrada pelo fim da guerra e dos Jogos; pelas mortes com as quais tive que lidar... de vidas inocentes e soldados, de amigos e familiares, dentre eles, Prim; pelo fato de que me tornei uma assassina... Isso é difícil de "digerir", principalmente quando eu me sinto tão culpada por boa parte dos fatos. Pelo menos esta noite não me sinto assim.

Após o que julguei serem minutos, eu não chorava mais e o tremor em meu corpo havia passado. Não sentia-me melhor, emocionalmente falando, e fiquei grata por Peeta não soltar-me e ainda fazer carícias em mim; se ele se afastasse, eu não teria coragem de pedir-lhe para me abraçar novamente. O garoto deu-me um beijo na testa e se moveu na cama, de modo que pudesse encarar-me.

— O que foi dessa vez, Katniss? Quer falar sobre o pesadelo?

Apenas balancei a cabeça negativamente. Não queria contar para ele o que vi; só de lembrar, já sentia todo o desespero do sonho novamente e o terror ameaçava voltar.

Peeta pegou a ponta de minha trança parcialmente desfeita, como na Arena, antes de fazermos a contagem para comer as amoras-cadeado. Um dia ainda vou perguntar qual é a dele... O que tem de tão especial no meu cabelo, afinal?

Me aconcheguei melhor em seus braços, de modo que ficasse mais confortável.

— Tudo bem, então – ele me respondeu. O tom preocupado.

Fitei seu rosto por um tempo, enquanto Peeta estava distraído, olhando pela janela aberta. Momentaneamente nossos olhos se encontraram e eu me perdi naquela imensidão azul... parecia um céu sem sinal de nuvens. Baixei o olhar, sentindo meu rosto esquentar, e acabei reparando nas sombras arroxeadas debaixo de seus olhos. Mesmo ali, no escuro, eu podia perceber o quão profundas eram suas olheiras. Suspirei, um tanto frustrada.

— Você deveria dormir um pouco, Peeta.

Ele me olhou e revirou os olhos.

— Se você tiver outro pesadelo não quero estar dormindo.

— Por que não? – questionei, um tanto zangada.

— Porque não quero que você fique assustada, que você fique acordada sozinha. Não se eu puder ficar com você.

— Não seja ridículo! Eu vou ficar bem quando acordar e te ver aqui. Isso me tranquiliza, Peeta – falei, impulsivamente. Então senti minha face esquentar quando parei para pensar no que tinha dito.

Quero dizer, nunca fomos tão próximos a ponto de eu falar algo do tipo. Não que não fosse verdade, Peeta viu a sinceridade no meu olhar e eu realmente me sentia tranquila ao vê-lo do meu lado, mas, nesta noite, o loiro queria dar uma de teimoso e pareceu nem dar muita importância ao que lhe falei.

— Não, Katniss. Eu estou bem. Não quero dormir... Não preciso, na verdade.

— Precisa sim! Todos precisam dormir e com você não é diferente. Dorme um pouco – falei me apoiando sobre um cotovelo. Meu tom era mandão. Se é para o mais teimoso vencer, que assim seja.

Peeta olhou dentro de meus olhos e eu mantive meu semblante sério, até que ele bufou, vencido.

— Tudo bem, eu durmo. Mas você vai me acordar se acontecer alguma coisa?

— Vou, mas agora só dorme um pouco – prometi, num tom mais tranquilo.

Ele se ajeitou na cama e em seguida observei suas pálpebras caindo. Em poucos minutos Peeta já roncava levemente, mergulhado na inconsciência.

Me sentia melhor por saber que ele não estava perdendo seu momento de descanso, apenas para velar meu sono. As coisas que Peeta fazia por mim... Eu não era digna dele, não conseguia retribuí-lo em nada e ele continuava sendo bom para mim, mesmo depois de tudo.

Aos poucos, porém, sentia-me cada vez mais sonolenta também e, quando me permiti fechar os olhos, tive que me arrepender. Os pesadelos devem ter mirado em mim, como seu alvo principal, pois sonhei com meu pai explodindo nas minas.

Acordei sobressaltada, suando frio e com um leve tremor. Olhei ao redor e vi que estava tudo bem.

Não é real.

Me concentrei nesse pensamento e, com todo o cuidado, saí dos braços de Peeta, levantando-me da cama. Inconscientemente, parei para fitá-lo por um tempo.

Seus cabelos loiros agora tinham um tom quase prateado e seu semblante era tranquilo. Isso fez com que me acalmasse e relaxasse um pouco, afinal, nos últimos meses a única expressão que vejo em seu rosto é de preocupação. Era bom vê-lo em paz. Reparei também que seus lábios finos estavam curvados num leve sorriso... E o mesmo parecia um anjo.

Cheguei à conclusão que Peeta devia estar tendo um bom sonho, o que é raro conosco, então decidi deixá-lo dormir. Era justo, mesmo que eu tivesse prometido lhe acordar, pois havia noites que ele não dormia por minha causa.

Tirei os cabelos de sua testa, enquanto o pensamento de que eu poderia passar séculos o olhando me atingiu, fazendo meu rosto esquentar-se ali no escuro. Há meses eu já vinha tendo pensamentos parecidos com esse; o que era isso, afinal?

Desci as escadas, atravessei a sala e fui para a cozinha, encontrando Buttercup espreguiçando-se na bancada perto de uma das janelas. Talvez seja hora de começar a aceitar esse gato, já que o bichano não abandona a mim e nem a casa.

Enchi um copo com água e fui bebericando aos poucos. Debrucei-me na janela perto de Buttercup e assim fiquei por algum tempo. De repente, o bichano ao meu lado começou com os chiados, mas eram aqueles chiados de filhote que ele só dava para Prim quando queria carinho. Para a minha própria surpresa, me peguei acariciando os pelos do animal... eram bem mais macios do que imaginava.

Consegui captar o movimento da lua uma vez, o que significava que eu já estava aqui há um bom tempo, mas pouco me importava... Ali, debruçada na janela, olhando a noite na Aldeia dos Vitoriosos, com uma brisa suave batendo em mim, todo o resto de nervosismo se esvai.

A noite é sempre bem tranquila; o silêncio e a escuridão reinam, mas, vez ou outra, você pode distinguir o pio de uma coruja ao longe ou pode ver uma criatura noturna passeando nos arredores. Os ronronados ao meu lado haviam parado e percebi que Buttercup havia adormecido.

— Pensei que tivesse prometido me acordar caso tivesse pesadelos, Katniss. – Ouvi Peeta, atrás de mim.

Assustei-me com a quebra de silêncio repentina, mas ainda me mantive virada de costas para ele. Sua voz soou cansada e eu suspirei.

— Você me assustou.

— Me desculpa... É só que... você teve outro pesadelo, não teve?

Me virei e o encarei. O garoto estava com cara de sono, e parecia... o quê? Indignado? Não, acho que frustrado é a palavra certa.

— Tive, mas não tem importância. Você estava dormindo tão tranquilamente que não era justo te acordar. Além do mais, eu não estou com medo, eu estou bem.

— E eu posso saber o que te deixou tão bem? Foi o Buttercup? Eu duvido muito. Pare de mentir para mim, Katniss.

— Mas eu não estou mentindo, Peeta. Realmente estou bem. – Dei uma pausa, mas acabei falando sem pensar novamente. – Eu te olhei por um tempo antes de descer e me senti melhor, então não vi necessidade em ter acordar.

Peeta sorriu para mim, com um ar presunçoso e feliz. A frustração o abandonara em segundos, após ouvir minha sentença.

— Me olhou por um tempo? – Ergueu uma sobrancelha.

O garoto espreguiçou-se em seguida, enquanto eu parei para pensar no que tinha dito. Imediatamente mordi a língua. Não deveria ter falado isso! "Eu te olhei por um tempo", o que é que ele vai pensar ouvindo isso?

Senti a face esquentar e, vendo que Peeta ainda esperava uma resposta, me senti na obrigação de falar algo. Mas eu já estava na defensiva.

— Ahn... É – falei, simplesmente.

Seu sorriso se alargou e, em seguida, ele se aproximou ao ponto de colar seu corpo no meu, prendendo-me ali, naquele pequeno espaço. Pôs um braço de cada lado do meu corpo, apoiado na bancada às minhas costas, impedindo que eu saísse dali. Não sabia onde enfiava meu rosto, por tamanha vergonha... Nunca fomos íntimos desse modo. Ao menos não quando não estávamos em frente à câmeras.

— E o que você quis dizer com isso? – ele questionou.

— Eu não sei. Você apenas me tranquilizou. – Dei de ombros, sem saber o que esperar dele e o que dizer.

À minha frente, o garoto abriu um sorriso torto, mostrando seus dentes, enquanto eu sentia minha face esquentar como nunca, principalmente por estar achando aquele sorriso bonito.

Peeta sussurrou algo como "bom saber disso" e eu quase morria de vergonha. O rubor em minhas bochechas, que queimavam, não passava.

O cheiro do loiro preencheu meus pulmões mais uma vez, enquanto eu respirava fundo, tentando conter o embaraço... era um cheiro tão bom e tão familiar. Isso me lembrou de algumas horas antes, quando ele estava me acalmando do meu primeiro pesadelo. Pesadelo.

Imediatamente uma onda de preocupação substituiu minha vergonha. Encarei de volta as íris azuis à minha frente.

— Peeta, o que você está fazendo aqui embaixo? Você não teve nenhum pesadelo, teve?

— Não – ele disse, tranquilo, e eu até estranhei. – É só que, bem, você sabe que às vezes eu me remexo muito durante o sono e que, às vezes, eu acabo acordando, não sabe? – Assenti para ele continuar. – Então, eu acabei acordando de tanto me mexer, mas, na hora que acordei, não vi você lá em cima no quarto. Daí te procurei no banheiro e nada. Então eu desci esperando que você estivesse aqui embaixo e não estivesse muito mal. Por sorte te encontrei bem... Foi um alívio, mas, por outro lado, você tinha prometido ir me acordar e eu me senti um pouco frustrado.

Bufei, sem conseguir conter a irritação.

— Quando é que você vai parar de se preocupar tanto comigo, ao ponto de esquecer-se de você mesmo, Peeta?

Ele revirou os olhos, teimoso novamente.

— Eu não faço isso, Katniss.

— Se você não fizesse, eu não estaria dizendo que faz! – Fui teimosa também.

— Se faço ou não, é porque me preocupo com você. Sabe que em meses, esta é a primeira vez que você está legal? Quero dizer, você teve um pesadelo mas se acalmou sozinha. Não precisou chorar nem nada disso. Esta noite também você não ficou quieta num canto se culpando por tudo... Você voltou a ser teimosa e até brigou comigo para eu dormir. Você está sorrindo, está bem! Katniss, você tem noção do quanto isso me deixa feliz?

E foi só então que percebi que Peeta tinha razão. Eu me sentia bem. Não estava exatamente feliz, mas se continuasse neste ritmo voltaria a viver... Tive que sorrir com o pensamento.

Finalmente, minhas feridas estavam cicatrizando e a dor estava indo embora; eu não sabia como, mas me sentia bem e a culpa em mim era quase nenhuma. Afinal, era uma guerra. Não posso sentir-me culpada por ter lutado por um bem maior, mesmo que isso tenha cobrado um grande preço.

Mas ver a felicidade no rosto de Peeta, após todo o mal que foi feito a ele... isso fez meu sorriso alargar-se e algo quente preencher meu peito. Era como se um pouco de felicidade surgisse em mim.

— Você tem razão. Eu me sinto bem... – Hesitei um pouco na última parte. – E me sinto melhor ainda por saber que você está feliz.

Ele sorriu para mim e eu conseguia admitir que o garoto sorria de um jeito maravilhoso.

— Viu só? Aos poucos você está voltando... E eu só estou tentando te ajudar. Só quero o seu bem, Katniss.

— Sei disso. E, aliás, obrigada! – Ele me olha confuso, então eu explico. – Peeta, se você não estivesse aqui, se você não estivesse me ajudando, eu não sei como eu estaria agora. Provavelmente estaria do mesmo jeito que você me encontrou; deitada na cama o dia todo, sem esperança, sentindo culpa por tudo.

O sorriso em seus lábios se alargou mais e ele me deu um beijo carinhoso na testa. Em seguida, seu abraço foi tão apertado que até me surpreendi, mas, passado o choque, não hesitei e retribuí o abraço da melhor maneira que pude. O mais apertado que pude. Como se minha vida dependesse disso agora ou como se quando o soltasse, Peeta fosse sumir... Se bem que, parando para pensar, eu corria o risco de que isso acontecesse. Não literalmente falando, mas percebi que esta noite Peeta era Peeta.

Quero dizer, ele não era o "novo Peeta", que era uma mistura do verdadeiro eu dele com o eu cheio de traumas da tortura e do telessequestro na Capital. Esta noite ele era ele mesmo. Peeta era o mesmo garoto que conheci antes dos Jogos Vorazes; o mesmo garoto que me ama desde os cinco anos; o mesmo que me jogou aquele pão...

Sem pensar, apertei mais o abraço porque eu não podia deixa-lo ir. Eu não podia deixar o garoto com o pão ir embora, nunca mais. Eu preciso de Peeta, do meu Peeta.

Então, percebi mais uma coisa esta noite. Eu não preciso de Peeta só por precisar, só porque quero ele de volta... Eu preciso dele porque o amo. Na realidade, acho que sempre amei e nunca quis admitir isso para ninguém, nem para mim mesma.

Quando Snow tinha ele na Capital foi que percebi que estava apaixonada por Peeta, mas, quando ele voltou como aquele monstro, eu me decepcionei. Agora que estamos bem de novo, o sentimento pareceu voltar e crescer.

Talvez não seja ruim se eu me permitir viver com ele, se eu me permitir amar alguém... Talvez eu consiga ter uma vida boa e plena ao lado dele e, talvez, não tenhamos mais que sofrer. Talvez possamos ter uma vida com esperança, pois ambos sabemos o que passamos e ambos precisamos um do outro. Precisamos do apoio do outro, da esperança que o outro transmite. E eu sei que Gale nunca poderia me dar uma coisa dessas.

Gale não entende como é isso. Ele não entende que o mundo não é só fogo e revolta e não sabe dar esse tipo de esperança a alguém... Ele é revolucionário demais e eu já tenho muito fogo sozinha. Gale não entende que dá para se ter uma vida boa e em paz, não importando o quão insuportáveis foram suas perdas ou o quão ruim a vida tem sido com você.

Já Peeta, acredita nesta promessa de que a vida pode voltar a ser boa... E só ele pode me fazer acreditar nisso também. Apenas ele e mais ninguém. Porque enquanto ele estiver comigo eu estarei segura. Nós estaremos bem. Mesmo nas situações difíceis, como sempre foi.

— Peeta? – o chamei decidida, após um longo silêncio.

— Sim?

Olhei em seus olhos, azuis como o próprio céu da primavera.

— Fica comigo.

— Sempre. – O mesmo sorriu. Ele sustentou meu olhar e agora a vontade de beijá-lo cresceu dentro de mim.

— Sempre? Quero dizer, independentemente de qualquer coisa? – perguntei em expectativa, mesmo já sabendo a resposta.

— Claro, Katniss... Você sabe disso, mas por que está me perguntando, de repente? – Ele pareceu muito confuso e também em expectativa.

— Nem eu sei. Acho que é porque eu preciso de você e só precisava de uma confirmação.

Não esperei ele falar mais alguma coisa, apenas passei meus braços por seu pescoço e o beijei de forma carinhosa. Foi um encostar suave de lábios, mas, mesmo assim, foi como um choque elétrico. Deu para sentir um turbilhão de emoções e deu para sentir o quanto ambos precisamos do outro.

Quando descolei nossos lábios, Peeta me puxou para mais perto e deu-me um beijo de verdade. Um beijo bem amoroso, mesmo que com certa urgência... E esse era nosso primeiro beijo, no qual ambos tentávamos demonstrar algo verdadeiro.

Nos separamos apenas quando o ar se fez necessário. Eu estava com a respiração desregulada e o coração disparado. Realmente, alguma coisa se agitou dentro de mim durante o beijo... a mesma coisa que senti num dos beijos que demos na caverna da primeira Arena e na praia da segunda. E agora eu sei o que é isso. É amor.

Quando finalmente nos recuperamos do turbilhão de pensamentos e emoções que o beijo causou, eu abro a boca para falar. Porém, Peeta é mais rápido. Então, depois, quando ele sussurra:

— Você me ama. Real ou não real?

Eu digo a ele:

— Real.

E essa é a mais pura verdade. Meu amor por ele agora é real. Não existe resposta mais pura e verdadeira e eu acho que eu não preciso dar explicações a Peeta, ele pode entender o meu olhar.

O loiro apenas me abre o sorriso mais lindo do mundo, um sorriso que me deixava feliz, e seus olhos adquirem um brilho intenso. Assim, ele me beija novamente. Um beijo longo e demorado.

E esse era o primeiro beijo depois que ambos estávamos cientes do amor do outro e tínhamos certeza de que nada, absolutamente nada, seria capaz de nos separar agora. Até porque eu não deixaria Peeta Mellark escapulir de mim mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Você chegou até aqui, leitor? YAAY! Muito obrigada meeeesmo por ter lido!
Mas e então? Tá lindo, legal, ruim, mais ou menos, fofo, um lixo, maravilhoso...? Eu quero opiniões! Eu sei que dá preguiça na hora de comentar, ainda mais em oneshot, mas, sério, um review faz toda a diferença pra mim. E não importa se você leu isto aqui anos depois de ter sido postado, eu ainda conto com a sua opinião e vou te responder, prometo.
Enfim, desculpe-me por qualquer erro, mesmo com as minhas inúmeras revisões, e por qualquer outra coisa incômoda durante a fic que eu não tenha notado.
Beijão ♡