Everywhere escrita por Alex Baggins


Capítulo 2
Capítulo 1




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O barulho do relógio estava irritando Lily. Era um tic tac insistente que não parava nem por um segundo. Lily odiava relógios. Assim como odiava calendários. Na verdade, ela odiava qualquer medida de tempo. Não tinha muitos problemas com pontualidade.

Ela estava sentada numa cadeira de plástico na sala de espera do consultório do terapeuta que Marlene a fizera visitar. Ela chegara alguns minutos adiantada, devido ao seu sério problema com relógios, e fora obrigada a esperar. Enquanto esperava, ela se divertia assistindo a secretária escrevendo contos eróticos no Word quando pensava que ninguém estava olhando.

Finalmente, dez minutos e três parágrafos depois, uma mulher miúda e chorosa saiu da sala do Dr. Barrymore. Ela fungava e segurava um lencinho, enquanto um homem grisalho dava alguns tapinhas em suas costas e murmurava coisas que Lily não podia ouvir. Depois que a mulher se afastou o homem gesticulou para que Lily o acompanhasse, o que ela fez de má vontade.

Ela entrou em uma sala comum com várias prateleiras lotadas de livros, uma janela grande, duas poltronas e uma mesa de chá. Lily se encaminhou para uma das poltronas, sem se preocupar em esperar o outro. Espreguiçou-se de maneira despreocupada e cruzou as pernas.

–Não vai se sentar? Fique a vontade. – disse ela ao senhor.

Dr. Barrymore pareceu confuso pela atitude da menina, mas se sentou.

–Você deve ser Lily Evans.

–Você deve ser o Terapeuta.

O senhor riu.

–Me chame de Barrymore.

–Me obrigue.

O Terapeuta olhou confuso para a moça, que continuava com uma expressão impassível e até um tanto entediada.

–Ora, eu não vou te obrigar a nada.

–Isso é bom, Terapeuta. – respondeu Lily com um sorriso fraco – Eu não gosto de fazer as coisas desse jeito.

O Terapeuta abriu um bloco de notas e começou a rabiscar. Lily tinha a impressão de que ele estava desenhando algo e não realmente escrevendo sobre ela. Suas mãos formigavam de vontade de arrancar aquele bloco das mãos dele.

–E de que jeito você gosta de fazer as coisas, Srta. Evans?

Lily deu de ombros.

–Do meu jeito, é claro.

O Terapeuta continuava fazendo anotações em seu bloquinho, o som do lápis arranhando o papel atravessando a sala quase silenciosa.

–E você sempre faz as coisas do seu jeito?

–Se não for do meu jeito não há um motivo para fazer as coisas, não concorda? – respondeu a ruiva dando de ombros novamente

–Não necessariamente. – replicou o Terapeuta.

–Então de que jeito você gosta de fazer as coisas, Terapeuta?

–Barrymore.

Lily arqueou uma sobrancelha.

–Esse não é o ponto. – desconversou o Terapeuta – Sou eu quem deveria fazer as perguntas por aqui.

–Fique a vontade. Mas, se fossemos fazer as coisas do meu jeito¸ você teria educação o suficiente para olhar para mim enquanto eu falo e pelo menos fingir que está interessado em mim.

O Terapeuta abaixou o bloquinho e tirou os óculos de armação fina e encarou a moça.

–Eu estou interessado em você, Srta. Evans. – Lily revirou os olhos e assentiu – Agora, me diga, não incomoda os outros a sua volta o fato de que você sempre faz tudo do seu jeito?

Lily pareceu pensar por um segundo.

–Talvez. Mas isso não é meu problema.

–E essa sua indiferença em relação aos outros não afeta seus relacionamentos?

Lily bufou e descruzou as pernas.

–Você leu a minha carta de apresentação?

O Terapeuta assentiu.

–Então você deveria saber que eu não tenho relacionamentos. Logo, eles não podem ser afetados. Céus.

O Terapeuta se reencostou na sua cadeira e pegou o bloco novamente.

–Vamos tentar fazer as coisas diferentes para variar, Srta. Evans. Eu vou voltar a tomar notas e você terá que agir normalmente com isso, sem impor a sua vontade sobre mim. Pode ser?

–Se eu tirar esse bloquinho da sua mão e jogar pela janela você irá me processar?

–Provavelmente não. Mas terei que diagnosticar a senhorita como violenta.

–Eu sou. Mande minha fixa para a polícia e me receite calmantes.

O Terapeuta revirou os olhos para a ruiva que havia colocado os pés em cima da mesinha de café.

–Me diga Srta. Evans, porque você não tem relacionamentos?

–As pessoas me irritam. – respondeu a ruiva rapidamente.

–Continue.

–Não há continuação. Esse é o único motivo.

–E porque as pessoas te irritam?

Lily tirou os pés da mesa e os fixou no chão. Tirou um elástico do cabelo e lentamente o prendeu, trançando-o.

–Srta. Evans... – começou o Terapeuta quando achou que a ruiva não ia mais responder.

–Me dê um segundo. – ela terminou de prender o cabelo e ajustou a postura, sentando-se virada diretamente para o Terapeuta.

–As pessoas me irritam, Barrymore – começou ela com uma voz baixa e séria, encarando o doutor com seus olhos verdes de forma tão intensa que parecia perfura-lo – porque elas passam a vida fingindo ser o que não são e contrariando seus instintos mais básicos. Como por exemplo, você, Barrymore, sentado aqui confinado em sua cadeira, fingindo realmente ligar para o que eu digo, fingindo querer me ajudar, quando o que você realmente queria era me deixar aqui falando sozinha e ir buscar um pretzel para você. Não faz parte da nossa natureza nos importar com os outros, não faz parte da nossa natureza sermos altruístas. Somos criaturas egoístas. E quanto mais cedo aceitarmos isso, melhor. Não gosto das pessoas que contrariam o que são. Logo, não gosto das pessoas em geral.

Lily se levantou e começou a se dirigir para a porta.

–Aonde você vai, Srta. Evans? – perguntou o Terapeuta.

–Achar o mendigo e tentar criar laços de amizade com ele. Porque você, Terapeuta, realmente não compensou o vazio em mim. Passar bem. – e saiu.


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Notas finais do capítulo

-Como eu disse antes, a menina da capa é a minha amiga. Ela não é ruiva de verdade, mas o efeito da foto deixou ela um pouquinho, e eu achei tão bonito que deixei. Eu fiz várias capas, e vou postando uma cada capítulo. Comentem!



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