Então, a primeira carta — e-mail —, não sou tão tradicional como gostarias que fosse, porém acho esta a forma mais rápida de matar as saudades. Eu sei, não é tão "sentido", não é como "pegar papel e ver a minha caligrafia horrenda a sacrificar folhas de papel". Mas bem, sou mais amiga do ambiente que mulher do século passado. Já namoramos há bastante tempo para saberes isso.

Acabei de aterrar em Londres, está frio e a chover — exatamente como gostas — acho que vai haver uma tempestade hoje, prometo fotografar o momento para o apreciares quando voltar a casa. Saudades dos nossos gatos, dos teus pés quentes que aquecem os meus quando estamos a comer pipocas e a ver aqueles filmes de época pelos quais és viciado. Não deixes a minha planta morrer, eu juro que te mato se algo assim acontecer.

Bem, o voou foi peculiar, conheci uma senhora com treze netos, e foram treze rapazes, estava de viagem porque ia nascer o décimo quarto neto e ela esperava que fosse uma menina. Que a sorte esteja do lado dela. O marido da senhora tinha um buraco na cabeça e conseguíamos colocar lá as cascas de amendoim. Foi a coisa mais absurdamente interessante que já vi, mesmo mais interessante que os teus sinais que formam um smile feliz nas costas. O teu posto de coisa mais bizarra e incrivelmente hilariante foi ocupado, mas continuo-o a amar-te. Posso afirmar que és no mínimo sessenta anos mais bonito que ele.

Estou ansiosa por passar pela aquela ponte onde nos conhecemos. Lembraste? Era verão, não estava a chover e eu finalmente consegui colocar uma saia clara. Cruzamo-nos e pediste-me uma direção porque achavas que como era loira só podia ser Inglesa. Fiz questão de corrigir-te e engraçamos daí.

Achas que aquela pastelaria ainda está aberta? Onde me levaste para primeiro encontro? O café era tão amargo que nos trouxe lágrimas aos olhos, comemos chocolate até o sabor desaparecer e quando voltamos lá só pedíamos sumos ou chá. Mas eu não gosto de chá e tu fazias de propósito em implicar comigo sobre isso. Ainda consigo imaginar a cara do empregado quando lhe pediste que trouxesse uma amostra de cada chá disponível, como se assim conseguisses encontrar algum sabor que eu apreciasse. Foste derrotado, como na maior parte das nossas competições.

Está frio! E eu ainda não saí do maldito aeroporto! Quero uma manta e um chocolate quente que não custe o preço de um almoço e jantar. Desejosa que chegue a minha vez de entrar num táxi. Escolhi aquela pensão perto da Universidade. Sim, essa mesma. Onde de me levaste para jantar tarte de maçã. Que encontros tivemos aqui. Saudades de quando viajávamos juntos.

Amanhã tenho uma palestra sobre alguma coisa. Está apontado na agenda que está algures na minha carteira demasiado grande para papeis, demasiado pequena para calçado. Ainda bem que não me deixaste levar aquela enorme carteira que costuma levar até mantimentos para as sessões de filmes no parque.

Bem, acho que está quase na minha vez, o portátil está a ficar sem bateria (pessoa que passou a viagem toda a editar e pintar no Photoshop sente-se culpada por ser artista e não conseguir terminar o seu primeiro e-mail para o namorado).

Amo-te, como se fosses chocolate.