Durante todo o período da aula, eu não prestei nada de atenção, apenas fiquei pensando naquela sensação nova que eu estava sentindo, e sendo obrigada a ouvir a Carol dizendo de como o Andrei era gato e blablablá, quando a aula tinha acabado e antes da outra professora entrar eu acabo não aguentando mais, me levanto e digo em alto e bom som para toda a sala escutar:

_ Carol, já chega, eu não aguento mais você ficar falando que o Andrei é bonito, ele não tem nada de bonito, só você que acha isso, aliás, todas as porcarias de garotos são iguais, todos idiotas e insensíveis, todos querem se posar de gostosão, mas não passam de menininhos assustados, e com certeza esse Andrei. – Digo apontando para ele. – é com certeza mais um. – Termino de falar dando um grande suspiro e saio em disparada da sala e entro correndo para o banheiro.

Tranco-me dentro de uma cabine e abraço as minhas pernas, apoiando o rosto no joelho, é claro que eu não iria chorar por causa disso, eu nunca na minha vida iria derramar uma lágrima sequer por causa de um garoto ou uma amiga mimada.

Fico durante um tempo apenas olhando para a porta da cabine toda rabiscada, aquele era a primeira vez em toda a minha vida que o meu primeiro dia de aula estava sendo um saco, tudo por causa daquele garoto que estava se achando o rockeiro, o que era um problema, pois ele não tinha se manifestado em momento algum.

Até que ouço alguém batendo em minha cabine.

_ Mel, eu sei que você está aí, pode abrir pra mim. – Diz Milena com uma voz manhosa. – Todo mundo está comentando que nunca te viu daquele jeito, mas se não fosse você, eu mesma teria dito aquilo, ela já estava me dando nos nervos também, mas você sabe como ela é.

_ Eu sei disso Milena, mas você não entende. – Digo abrindo um pouquinho a porta para que ela entrasse e ficasse junto comigo.

_ É por causa do garoto novo não é, eu sei que você ficou um pouco impressionada com ele, e eu também vi o olhar que ele te deu quando foi procurar uma carteira. – Diz Milena se sentando ao meu lado no chão.

_ É sério? – Pergunto não escondendo o sorriso que dou.

_ É claro que é sério, agora vamos sair daqui, pois a aula já deve ter começado e a Carol quer falar com você. – Eu ia começar a justificar, mas ela me dá um olhar e continua dizendo. – Você vai escutá-la sim, pois somos melhores amigas e sempre iremos escutar umas as outras.

Resolvo concordar, e assim saímos da cabine do banheiro, mas antes de ir para a sala dou uma conferida no meu visual.

_ Não se preocupe Mel, você está linda. – Diz Milena com um sorriso no rosto e revirando os olhos ao mesmo tempo.

Coloco o meu braço ao redor de seu ombro e vamos para a sala, com sorte o professor ainda não tinha chegado, e quando entrei todos os olhos se viraram para mim, inclusive o de Andrei.

Sem olhar para ninguém corro e sento-me em minha cadeira, Carol vem para o meu lado e diz:

_ Mel, me desculpe eu não sabia que você iria reagir daquele jeito, é que eu acho que estou apaixonada por ele, só isso. – Sussurra ela no meu ouvido e me dando um abraço, sinto algo desmoronar dentro de mim, mas ignoro e respondo:

_ Tudo bem Carol, me desculpe também.

E assim fazemos as pazes.

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Como hoje era o primeiro dia de aula, não havia tido aula nenhuma, apenas apresentação dos alunos novos, algumas brincadeiras, discurso de professores para que nos esforçássemos ainda mais esse ano, já que faltava apenas dois anos para entrarmos na faculdade e decidirmos o rumo de nossa vida.

Quando bateu o sino para o intervalo, todos saíram correndo, inclusive eu e minhas amigas, o que não adiantou em nada, pois todos ficaram em cima de mim perguntando o que tinha acontecido e essas coisas, e a única coisa que falei foi:

_ Tenho que ir! – E assim corro para qualquer lado e entro na primeira porta que eu vejo.

O lugar é muito grande e logo percebo que é a sala de teatro, ela era simplesmente enorme, com centenas de cadeiras e um palco lindo, eu sempre gostava de ir para lá para admirar ou ficar pensando sobre nada.

Como eu ainda estava admirando a sala, não percebo um som vindo do palco, logo percebo ser de rock, um cara começa a cantar, e a sua voz é simplesmente divina, no tom certo, um pouco rouca, típico de um cantor de rock, era perfeito.

Olho para o palco e vejo três garotos tocando, um na bateria, outro no baixo e o vocalista com uma guitarra na mão, percebo que eles ainda não tinha me visto então me aproximo mais e mais ficando de frente para o palco e fico surpresa, o vocalista simplesmente era o Andrei.

Tentando absorver a surpresa, fico apenas olhando ele tocar, que estava cantando de olhos fechados, até que a música termina e ele abre focando o seu olhar em mim.

_ Uau, você canta muito bem. – Digo dando um sorriso sem graça.

_ Pensei que patricinhas apenas gostassem de pop ou algo desse gênero. – Responde ele secamente. – A propósito, o que “você” está fazendo aqui? Pois pelo que eu saiba, eu sou apenas mais um entre tantos garotinhos assustados.

_ Para a sua informação, eu não vim para cá por que eu quis, e sim por estar fugindo de pessoas que quase estavam me esmagando lá fora, e o que me atraiu foi o som de vocês que são ótimos, e não por causa de você, mas tenho que admitir que a sua voz é muito boa, e se você não percebeu, eu curto rock muito mais do que você possa imaginar.

_ Só porque você usa essas roupas rasgadas?

_ Rock não está só na aparência e sim no coração, o que eu sinto quando ouço rock você nunca iria entender, eu simplesmente me imagino em cima desses palcos e cantando como se fosse a última coisa a fazer, e não será você que irá estragar isso.

_ Cara, essa foi profunda. – Diz um cara que estava atrás da bateria, pelas suas características eu tinha quase certeza que a Milena iria adorar ele.

_ E além do mais, vocês têm permissão para tocarem aqui? – Pergunto cruzando os braços, reparo que Andrei começa a desmanchar a sua cara de bravo e com um suspiro diz:

_ Pedimos permissão para a diretora, pois como vai ter um concurso musical no meio do ano, temos que treinar desde cedo.

_ Vocês irão ganhar! – Sussurro.

_ Como é? – Pergunta ele arqueando uma sobrancelha.

_ Nada, eu só queria dizer que eu curti muito o seu som.

_ Obrigada, mas se você não percebeu está nos atrasando.

_ Se importaria se eu ficasse para escutar?

_ Tanto faz! – Responde apontando para os outros garotos para que começassem, então eles começam a tocar uma música, que eu nunca tinha ouvido antes, a letra era muito linda.

Ele termina de cantar e pergunto:

_ Foi você que escreveu?

_ Sim. – Responde ele e percebo que as suas bochechas ficaram levemente rosadas.

Eu sempre tive o sonho de poder cantar em uma banda então eu faço uma pergunta que o pega de surpresa.

_ Será que eu poderia cantar? É que eu sempre quis poder cantar em uma banda de verdade.

_ Acho melhor não. – Diz ele um pouquinho rude demais.

_ Por favor, eu prometo que irei fazer o meu melhor.

_ Tudo bem. – Responde ele apontando para eu subir ao palco.

Dando pulinhos de alegria por dentro, eu subo no palco e vou até os outros integrantes perguntando se eles sabiam o ritmo da música que eu queria tocar, logo eles concordam, e então tomando o lugar do Andrei, respiro fundo três vezes, já que eu nunca tinha feito aquilo e dou sinal para eles começarem a tocar.

E assim começo a cantar “Admirável Chip Novo”, da Pitty que eu tanto gostava.