Cruel Fairy Tale escrita por Sayu
Notas iniciais do capítulo
Primeiro conto, baseado no conto de fadas da Cinderela.
Cinderela era uma moça muito bonita e gentil. Mas apesar disso, sua vida sempre fora amarga, pelo fato de ser tratada como uma escrava por sua madrasta e suas duas filhas. Felizmente, a vida da garota era adocicada pela presença de sua amiga May, uma empregada que trabalhava para sua madrasta.
Mesmo que tivesse que trabalhar arduamente e viver sem dignidade, sentia que poderia fazer qualquer coisa enquanto May estivesse por perto. Cinderela remexeu seus longos cabelos loiros e falou, com seus olhos azuis faiscando:
- Você soube que o rei vai dar um baile? Encontrei um pergaminho falando sobre isso na porta hoje.
- Oh sim, me falaram que o rei vai fazer isso pra escolher uma noiva para o príncipe. Você é bem bonita, deveria ir. – May sorriu.
- Pare com isso. – Cinderela riu. – Você sabe que eu não posso... – seu olhar ficou distante. - Mas você é diferente de mim... É livre.
- Livre... – May ficou aérea repentinamente. – Mas eu não tenho como comprar um vestido decente.
- E eu muito menos...
Cinderela encarou sua amiga, mesmo que ela sempre a enchesse de elogios, May também era incrivelmente bonita. Tinha cabelos castanhos e lisos, que caiam suavemente sobre seus ombros e iam até sua cintura. Sua pele era pálida e muito bem tratada, estranho para uma empregada. E seus olhos eram grandes e amendoados, um tom castanho claro muito bonito.
- Talvez tenha uma maneira de você ir... – May disse. – Mas você tem que confiar em mim, Cindy.
- Do que está falando?
- Por um dia, serei sua fada madrinha. Trarei tudo para que possa ir para o baile.
- Mas como...
- Eu estou dizendo, tem que confiar em mim. Vai confiar em mim ou não?
Cinderela ficou sem palavras, os olhos de May a encaravam de uma forma um pouco assustadora. Depois de uns segundos sendo encarada, ela pensou que estava sendo estúpida em pensar demais sobre isso. May era sua amiga desde sempre e não faria mal confiar um pouco nela.
- Tudo bem... – Ela disse, sorrindo.
***
A noite do baile chegou. Cinderela aguardava ansiosa por sua amiga, que prometera fazer de tudo para leva-la ao baile. Finalmente May chegou e se aproximou dela. Mas a garota não carregava nada, nem vestido, nem nada que pudesse ajuda-la.
- Hum... May... – Cinderela ficou um pouco nervosa.
- Não se preocupe, Cindy. Eu consigo tudo que precisamos aqui mesmo.
- O-Ok.
May foi para a cozinha, enquanto Cinderela a seguia com os olhos, com um tanto de curiosidade. Assim que voltou, estava carregando um facão perigosamente afiado e um avental.
- Pra que isso? – Cinderela estava confusa.
- Sua madrasta e suas filhas estão se arrumando no quarto a lado, certo? Elas não te maltrataram? Você não sente raiva delas? Não quer fazer coisas ruins com elas?
- Do que está falando, May?! – Cinderela gritou, afastando-se da amiga.
- Ninguém iria te culpar, sabe. Elas têm sido umas megeras com você, desde sempre. Vai ser tão rápido, quando menos perceber, já terá acabado. – May disse, amarrando o avental em Cinderela.
- E-Eu não posso fazer isso. – os olhos da garota estavam mergulhados em lágrimas.
- Sim, você pode. – May entregou o facão nas mãos de Cinderela. – Você quer ser feliz ou não?
- Eu quero, mas...
- Eu guardo a porta pra você. Então vá e faça. Lembre-se de tudo de ruim que elas fizeram pra você. Quando queimaram seu braço por ter derrubado o leite na mesa sem querer. Quando arrancaram dezenas de fios dos seus cabelos por ter manchado sem querer o vestido de uma das meninas. Lembre-se de tudo isso e faça o que deve ser feito.
Cinderela estava atordoada, mas entrou no quarto com o facão apontado. May só pôde ouvir a gritaria das meninas e o choro da madrasta. Suplicavam seu perdão, mas depois de poucos segundos, o quarto estava silencioso.
May entrou no lugar e só encontrou sangue para todos os lados e o corpo destroçado e sem vida das três megeras. “Bem feito”, May riu. Cinderela estava parada ali, totalmente imóvel, seus olhos estavam vidrados e a faca, agora ensanguentada, ainda estava em suas mãos.
- Muito bom, Cindy! – May riu, aplaudindo.
A garota passou pelos cadáveres como se não fossem nada e chegou até o armário. “Vocês veste o mesmo tamanho delas, né?”. Sem esperar a resposta de Cinderela, que continuava imóvel, pegou um vestido muito chique do cabide.
- Venha. – May sorriu, pegando a mão da Cinderela e a levando até o espelho.
No espelho, Cinderela conseguia ver como o seu avental estava sujo do sangue vermelho carmesim, a mesma coisa em suas mãos. May tirou a faca da mão da garota e depois colocou o vestido na frente do seu corpo.
- Viu? Você conseguiu. – May sorriu.
Cinderela mudou seu olhar, e lágrimas caiam por seus olhos. Um sorriso gentil apareceu em seu rosto, enquanto começou a se contemplar no espelho. Pensando em como iria ser maravilhoso o baile.
Sem ter tempo de ter alguma reação, Cinderela sentiu algo atravessar suas costas. Cuspiu sangue, enquanto sua vista ficava embaçada. Virou-se para trás, com suas últimas forças. Viu May, sorrindo, segurando a faca.
- P-Por quê? – Cinderela perguntou, com sua voz fraca.
Com sua vista embaçada pelas lágrimas, Cinderela viu May pegar o vestido e segurá-lo enquanto ria. E a última coisa que ouviu, enquanto sentia sua respiração parar, foi:
- Ora, Cindy. Você é tão egoísta. Eu também mereço meu final feliz.
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