–Lily Luna Potter! Dá pra acordar?! – chamo minha prima pela centésima vez. – Desse jeito nós vamos perder o trem!

Hoje é dia primeiro de setembro e eu e meus primos temos que embarcar no trem das onze horas na plataforma nove e três quartos. Eu, Alvo e Molly estamos indo para o nosso último ano em Hogwarts – eles dizem que graças a Merlin, mas eu não acho tão bom assim, vou sentir muita falta da escola, dos professores e principalmente de estudar. E bem, é nisso que dá ser filha de Hermione Granger.

Lily – minha prima fofa e preguiçosa que agora eu estou tentando acordar – vai, juntamente com Dominique e Hugo, para o seu quinto ano em Hogwarts.

E por fim temos Lucy – a caçulinha Weasley, que vai para o terceiro ano de Hogwarts.

–Vamos, Lily! – digo batendo com um travesseiro nela, em mais uma tentativa que presumo ser inútil. Ela resmunga alguma coisa que não consigo decifrar e eu respiro fundo, lutando pacientemente com a vontade imensa que eu tenho de matá-la neste momento. – Tudo bem, só saiba que quanto mais você fica na cama, é mais tempo perdido sem ver o Cole.

Claro que eu deveria ter pensado nisto antes, foi o tempo de eu apenas mencionar seu namorado que ela já levantou de um pulo da cama e começou a se arrumar o mais depressa que pôde.

Reviro os olhos com a cena. Sinceramente, nem ligo para o fato de minha prima que é dois anos mais nova do que eu ter um namorado e eu não. Claro que eles se amam, blá-blá-blá e tudo mais, mas ainda acho que minha prima ainda é muito nova para namorar, apesar de tudo e do fato de que o Cole é quem realmente eu acho que Lily merece como namorado.

Saio do quarto e desço as escadas da casa dos meus avós. Nós havíamos dormido aqui noite passada, para irmos todos juntos pegar o trem, pois o nosso avô prometeu que nos levaria até a estação King’s Cross.

–Bom dia, Rose! – ouço minha avó dizer, e logo depois me deparo com uma mesa preparada para o café da manhã, cheia de ovos, bacon, pães frescos, suco de abobora e um Hugo faminto, sentado e olhando para ela ao mesmo tempo em que eu.

–Bom dia vovó, Huguinho – digo, logo depois bagunçando os cabelos ruivos de meu irmão e sentando-me ao seu lado.

–Até que enfim! Agora só faltam... Ah, deixe-me ver, todo o resto – diz Hugo bufando e ainda devorando a comida com os olhos.

–Deixe de ser fominha, Hugo. Eu só pedi para você esperar até que todo mundo esteja aqui – diz vovó, colocando a mão na cintura.

–Mas esperar pra que vovó? Depois eles podem comer sem mim, eu não ligo juro...

Ela lança um olhar de repreensão a ele que diz “eu disse espere seus primos” que Hugo logo se cala e fecha a cara, ainda olhando para a refeição.

Outra coisa que você tem que aprender: se Hugo está com fome, ele odeia esperar pelos outros para comer, e minha avó sempre persiste de que temos de fazer as refeições todos juntos, e isso o irrita muito.

Mas, para a felicidade de nosso querido comilão – sendo assim, fica bem mais do que claro que ele é filho de Ronald Weasley – os próximos a entrarem na cozinha são Alvo, Molly, Dominique, Lucy e Lily, que desce as escadas toda produzida.

–Bom dia Al, Dom, Molly, Lucy e a preguiçosa da Lily – digo enquanto eles se sentam.

–Bom dia, Rose – respondem todos eles em uníssono.

–Agora pode comer, Hugo – diz minha avó. – E todos vocês, é claro.

–Antes que o Hugo acabe com toda a comida, é claro – diz Alvo ao meu lado e todos começamos a rir, menos é claro, Hugo que já está devorando tudo o que vê e ignora o comentário.

Começamos a tomar café da manhã e logo já terminamos, esperando pelo nosso avô.

Vejo que Alvo mexe impaciente no zíper de sua jaqueta, olhando para o nada e pensativo – e se o conheço bem, ele com certeza não é de ficar pensando muito – então eu o cutuco e ele me olha, assustado. Sim, ele estava longe, viajando em seus pensamentos.

–Pensando em alguém especial é Al? – pergunto, curiosa.

–Não, só... Pensando.

–Hum. Aproposito, acho melhor dizer para aquele seu amiguinho, o Malfoy, que é melhor este ano ele maneirar nas brincadeirinhas. Ou ele vai levar muitas detenções, presumo.

Este ano eu finalmente consegui o cargo de monitora chefe, sendo que ano passado eu já era monitora da Grifinória e então a diretora Minerva me nomeou, junto com algum outro aluno exemplar – que eu ainda não sei quem –, monitora chefe. Quanto ao Malfoy, ele gosta, adora fazer brincadeirinhas zombeteiras pela escola, e pelo bem dele é melhor que este ano ele esteja mais comportado.

Ano passado ele inventou de fazer uma “brincadeirinha” e escrever com tinha vermelha na parede da escola que “A Câmara Secreta foi reaberta”, mas eu por sorte o peguei no flagra e ele levou uma bela de uma merecida detenção.

–Achei que o assunto Malfoy estava encerrado para você – diz Alvo, me olhando com as sobrancelhas arqueadas.

–E está. Eu só não quero... Hã, que... Bem, apenas o alerte.

Desde que comecei a frequentar Hogwarts nunca me dei bem com Scorpius Malfoy, e muito menos ele comigo. Mas é claro que todo mundo diz que todo esse ódio é por causa da rixa antiga entre a família Weasley e a família Malfoy, mas é claro que se eles vissem como Malfoy realmente é eles me entenderiam. Scorpius é o que realmente podemos chamar de um exemplo de um garoto grosso, mal educado e o mais idiota possível, e sem contar que ele tem a mentalidade de uma criança de dois anos ou menos, sempre fazendo brincadeirinhas infantis nada convenientes. Então é claro, esse ódio pode até vir de gerações atrás, mas estou certa de que não se trata de apenas isso.

–Continuo achando que você tem uma quedinha, ou melhor, um abismo, pelo Scorpius – diz Molly, me olhando com sua cara de “você não me engana” clássica. Mas sério, não há nada para engana-la e eu nem sei de onde ela tirou essa história.

Abro a boca para responder, mas Dominique me interrompe.

–Não responda – diz ela. – Você tem o direito de ficar calada, pois tudo o que você disser poderá se voltar contra você.

Todos olhamos para ela de boca aberta. Hein, Dominique? Não sabia que ela assistia programas trouxas ou sei lá o que. Porque sei lá, sempre achei que ela não era mais do que uma carinha de boneca Barbie por quem os meninos babam em Hogwarts. E sempre foi o que ela demonstrou, bem... Até agora.

–Dominique? – diz Hugo, as sobrancelhas ainda arqueadas.

–Sim? – ela vira a cabeça, como de costume, para ele: balançando os cabelos loiros e lisos e olhando fixamente para com quem ela está falando com aqueles olhos azuis vivos.

Eu sempre achei que Dominique era e sempre vai ser uma das mais belas Weasleys, – apesar de não ter os cabelos ruivos, os olhos verdes ou a pele sardenta, tem seu charme e seu rosto em forma de coração, e com certeza ela é uma das garotas mais belas de Hogwarts assim como a irmã, Victoire.

–Precisa parar de assistir programas trouxas – Hugo termina.

Logo após o comentário de Hugo, que eu achei que com certeza foi prestativo, nosso avô, Arthur Weasley chega para nos levar à estação.

São exatamente dez e quarenta e sete da manhã, eu e meus primos estamos seguindo em direção à plataforma nove e três quartos. Atravessamos a plataforma e entramos no trem, tudo tão rápido que eu não posso nem ver.

Antes de ir para a cabine dos monitores eu vou para a de meus primos para me trocar, faço todos saírem e ficarem esperando no corredor enquanto coloco as vestes de Hogwarts e depois saio, seguindo em direção à primeira cabine do trem, que é na verdade a maior, pois é necessário que caibam todos os monitores lá dentro. E, em minha opinião, também a mais confortável.

Abro a porta da cabine e vejo que todos os monitores já estão presentes, entro e fecho a porta, me virando para eles.

–Olá, eu sou Rose Weasley, Grifinória, a monitora chefe deste ano – digo, esperando que o monitor chefe venha até mim para se apresentar, mas ninguém se manifesta. Conto os casais e só então percebo de que ele ainda não chegou. – Hm, vejo que o monitor chefe ainda não chegou. Tudo bem, vamos es...

Não dá tempo de terminar a frase, ouço alguém abrir a porta bruscamente atrás de mim e me viro para ver quem é só para me deparar com a pior criatura que eu poderia esperar: Scorpius Malfoy.

–Malfoy, o que está fazendo aqui? Esta cabine é reservada apenas para monitores... – paro quando observo seu uniforme, acima do brasão da Sonserina se encontra um MC dourado e bem reluzente. Ele levanta as sobrancelhas para mim assim que percebe que eu notei.

Entre todos os alunos do último ano de Hogwarts, entre todas as quatro casas, tinha que ser justo o Malfoy? E desde quando ele virou um aluno exemplar?

Arquejo quando ele fecha a porta e passa ao meu lado.

–Scorpius Malfoy, Sonserina, monitor chefe – diz ele e depois me olha de lado.

Estreito os olhos e cruzo os braços, como pode?

–As coisas não serão sempre como você deseja Weasley. Acho melhor ir se acostumando, pois vejo que teremos de trabalhar juntos o ano inteiro – Scorpius sussurra em meu ouvido enquanto os outros conversam distraídos.

Eu me afasto rispidamente.

–Primeira coisa Malfoy, trabalhar juntos não significa ficar a menos de trinta centímetros um do outro. Segunda coisa, sendo monitor ou não, eu ainda sinto nojo de você.

Ele revira os olhos, eu tento passar, mas ele me impede, colocando o braço a minha frente.

–Se vai continuar agindo como uma mimadinha Weasley, acho melhor desistir, pois acho que não irá aguentar um mísero dia sem correr pra chorar pra mamãe – diz ele em um tom desafiador.

Dou um sorriso cínico e tiro o braço dele dali, abrindo caminho.

–Cala a boca, Malfoy – é a ultima coisa que digo antes de pegar as listas de turnos que eu mesma preparei em casa e começar a distribuir, explicando como tudo funciona para cada um. Eu esperava contar com a ajuda do meu parceiro para isso, mas considerando que este é Scorpius, acho melhor fazer eu mesma.

Algum tempo depois de os monitores selecionados – neste caso foram os da Corvinal – fazerem o turno pelo trem e colocar tudo em ordem, o trem chega ao seu destino e nós agora devemos orientar os alunos até Hogwarts.

–Ok, vamos fazer o seguinte, Travis e Mirian podem orientar os alunos do primeiro ano até Hagrid, depois sigam direto para o castelo – digo, me referindo aos monitores da Lufa-Lufa. – E os outros podem nos ajudar com o resto dos alunos até às carruagens.

Ouço um murmúrio completamente irritante que já posso até adivinhar de quem vem. Scorpius se encontra ao meu lado, imitando tudo o que eu disse em uma voz fina e fazendo uma cara de idiota – mais idiota que o normal, quero dizer.

Apenas reviro os olhos e ignoro-o, pois quanto mais eu me importar com o que ele faz, mais ele terá motivos para me irritar.

Percebo que este ano terei uma tarefa muito importante como monitora chefe: suportar o monitor chefe.