Todos estavam focados na realização da transmissão, todos exceto eu. Essa noite seria especial, minha mãe e Kriss iriam apresentar o seu projeto para toda Illéa, e assim que os preparativos estivessem todos prontos, iríamos testá-lo em algumas províncias. Minha mente viajava por todos os lugares, impedindo que eu me focasse na apresentação da minha mãe. Já não via a hora de o programa acabar quando eu pude finalmente me retirar e ir para o meu escritório.

“Vossa alteza, eu poderia ter um momento da sua atenção?”

Sorri da entonação de Kriss, realmente, esses dias eu não estava dando muita atenção para ela, mas era inevitável, todas as vezes que eu a olhava acabava por imaginar como teria sido se eu tivesse escolhido a America, e é claro, se meu pai não interferisse já que se eu tivesse ido contra a sua vontade ela estaria morta e apenas de pensar nisso eu me arrepio.

“Mas é claro Kriss”

Talvez a leve decepção que se formou no rosto dela não seja devido a eu tratá-la como Kriss e não como 'querida' ou algo do tipo, e seja por alguma coisa triste que ela tenha se lembrado. Vou acreditar nisso.

“Eu só estava achando que esses dias você parece estranho, quer dizer... Você tem sido um tanto frio”.

Eu sabia o que ela queria dizer. No início eu acreditava que com o tempo eu passaria a amar a Kriss por isso dediquei muito tempo à ela, quase todas as tardes nós passávamos juntos fazendo piqueniques, mas com o tempo eu desisti da ideia, era incrível como minha mente sempre me traia e pensava na America quando eu estava com a Kriss, imaginando as diversas coisas que faríamos que tivéssemos nos casado e como ela reagiria a cada frase minha, mas isso parece distante demais agora, como se tivesse sido em outra vida.

“Desculpa Kriss, eu estou muito ocupado, estou me sentindo muito pressionado com todas as questões que tenho que resolver, mas principalmente com os rebeldes, eu pensei que eles iriam se acalmar mais ainda depois da morte do meu pai, mas aconteceu exatamente o contrário, e isso derrubou por terra todas as teorias que eu tinha entende? Eu tinha tantas ideias para acabar com os conflitos e agora eles parecem um tanto impossíveis”.

“Sim, então era isso” A expressão de Kriss aliviou “Só não se force tanto certo querido? Eu vou para os meus aposentos...” Ela pareceu ficar um pouco vermelha, eu sabia o que viria a seguir “Caso você queira aparecer por lá...” E então, deixando a proposta no ar ela saiu.

Essa era a diferença entre a America e Kriss. A Kriss sabia que os rebeldes haviam atacado uma província e ferido pessoas inocentes, mas ela preferiu fechar os olhos quanto a isso, a America jamais aceitaria que pessoas inocentes se ferissem, ao menos não a America que eu conheço, ou conhecia. Talvez fosse por isso que eu não conseguia me apaixonar pela Kriss, e isso não me permite que eu use o corpo dela, eu a beijo sim, mas nunca passamos disso. Ela sabia que algo estava errado, no início ela jogava mais indiretas mas graças as minhas viagens e o meu longo período fora seja com o meu pai ou não, buscando novos acordos com outros países, acabou me favorecendo. Talvez ela me entenda, ou talvez não.

Por mais que eu tente desviar minha mente eu sempre acabo pensando nisso mas tenho que mudar o foco, tenho que pensar no maior problema no momento: os rebeldes, que parecem estar se multiplicando cada vez mais, o que eles querem afinal? Eles a princípio disseram que queriam o final da seleção mas ela já acabou, e eles continuaram os ataques só que com uma frequência menor no palácio. Se eles querem derrubar a monarquia acabarão frustrados, não deixarei que eles derrubem o que minha família levou anos para construir, todos os empenhos deles, não permitirei. Eu buscarei ser o melhor rei para os meus súditos e para isso precisarei acabar com essa ameaça rebelde, preciso ser mais rigoroso no toque de recolher e implantar patrulhas, preciso aumentar o meu número de guardas, uma tarefa não muito fácil já que eu institui que o alistamento não seria mais obrigatório e sim voluntário, e mesmo tendo aberto as vagas para a casta oito os números não são muito animadores, normalmente são desesperados em busca de melhores condições (eu deixei claro no anúncio que eles teriam sim melhores condições), e pensando em todas as mudanças e medidas que eu teria que executar as horas passaram rápido, e quando o meu relógio já estava para marcar 2:00 horas eu me fui para os meus aposentos.

Abri minha porta silenciosamente mas como sempre o meu quarto estava em completo silêncio, a essa hora todos no palácio deviam estar dormindo, exceto os guardas que faziam a patrulha. Despi-me rapidamente e fui para a minha banheira. Após o banho vesti apenas uma calça folgada e então pensei em me dirigir a porta que dividia o meu quarto do quarto da rainha Kriss, antes que eu pudesse me dar conta já tinha aberto a porta. Apenas o abajur iluminava o quarto e um perfume feminino inundou as minhas narinas. Ela já estava dormindo então aproveitei para me dirigir até a sua cama e me sentar ao seu lado, tirei uma mecha que estava no seu rosto e a observei dormir calmamente como se sua vida não corresse perigo a cada segundo que ela ficava no castelo, como se o seu casamento fosse perfeito e como se ela estivesse realmente feliz. Não era justo o que eu estava fazendo com ela, eu estava a iludindo, ela merece amar alguém que ame de volta, que a valorize e a faça feliz, e eu não sou essa pessoa. Eu passo cada momento do dia suspirando por outra pessoa, a comparando com outra, não a amando do jeito que ela merece, não posso continuar a agir assim, mas não posso demonstrar que estou feliz quando na verdade não estou, apenas uma pessoa pode me deixar realmente feliz como já deixou antes.

Sai do quarto em silêncio para não acordá-la e sentei na minha cama. Se minha mãe estiver certa a respeito da America, sobre ela ainda gostar nem que seja apenas um pouco de mim, eu estou a deixando partir novamente, mas eu não quero deixá-la ir, cada centímetro do meu corpo implora por um pedacinho dela, pelo seu cheiro, seu sorriso, seus beijos, simplesmente por tudo que apenas ela pode me fazer sentir, e movido por esse sentimento intenso e sufocante eu me apanhei um papel na minha estante, sentei de frente a mesa que ficava no meu quarto e comecei a escrever a resposta para a carta que a America me enviou. Não vou desistir dela, o lugar dela é ao meu lado e não tão distante, irei buscá-la para que ela possa fica comigo, para sempre.