Elizabeth mostrou o quarto para o Finn e a Enobaria, com um pouco de receio que eles reclamassem. Lizie sabia que, provavelmente, os dois resultariam em brigas, principalmente por causa da Charles, mas se ela quisesse mesmo se vingar, não poderia negar ajuda. Mas ela precisava se certificar que eles seriam úteis, então não saiu do quarto, ela se sentou numa cadeira que havia ali e começou a falar:

– Ok, eu vou ser curta e grossa. Não quero saber o motivo pelo qual vocês querem vingança, mas quero saber até onde irão para isso, quer dizer, vocês querem se vingar de verdade ou simplesmente viram que estavam sem nada para fazer, e resolveram fingir que são Voluntários com um passado horrível e que querem se vingar do governo?

– Só porque somos ricos, não quer dizer que somos felizes de verdade – falou Eno.

Então Elizabeth teve uma ideia que podia ser louca e a chance de funcionar era de uma em um milhão, mas valia à pena tentar.

– Fiquem aqui, vou chamar uma pessoa.

Elizabeth se levantou e se retirou, indo para o quarto de Lena. Quando ela chegou lá, a sua “irmã” estava desenhando, mas Lena não deixou Lizie ver o desenho, por mais que a mesma implorasse. Depois de um tempo, Elizabeth desistiu e resolveu se focar no que era importante.

– Lena, você lembra naquela noite, que homens maus estavam te seguindo e Charles os afastou? Lembra que você tocou no meu rosto? – Ela assentiu. – O que você viu?

– Eu vi trechos do seu passado – ela começou a falar baixinho – e eu te entendi, seus sentimentos e tudo mais. Era como se eu pudesse ver dentro do seu coração.

– Acha que pode fazer isso de novo? – Perguntou.

– Posso tentar, geralmente só faço isso quando necessário, porque não consigo controlar meu poder direito.

– Então vamos tentar, se não estiver conseguindo, não faça muito esforço, é só me avisar, ok? – Perguntou Lizie, e Lena assentiu com a cabeça.

Lena dá a mão para Elizabeth, que vai a conduzindo até o quarto dos irmãos Sumpter. Elas bateram na porta, e entraram quando Finn deu permissão.

– Essa é Lena, tem oito anos e... – começou Lizie, mas foi interrompida pela própria Lena, que já atravessava o quarto na direção de Enobaria.

A pequena tocou o braço de Eno, que a olhava com raiva e superioridade. Lena tinha os olhos fechados, tentando se concentrar.

– Calma Enobaria – advertiu Lizie.

Eno obedeceu. Segundos depois, Lena recolheu a mão. Dava para ver que o esforço tinha a cansado.

– Você está bem? – Perguntou Lizie, preocupada.

– Estou... apenas um pouco cansada.

– Tudo bem, eu te levo para seu quarto.

Elizabeth caminhou até ela e apegou no colo, ainda que Lena já esteja grande demais para isso, ela estava tão cansada que parecia que ia dormir ali mesmo.

– Deixa que eu ajudo – falou Finn, surpreendendo bastante Lizie.

– Tudo bem... – respondeu, entregando Lena para Finn com o maior cuidado do mundo. – Enobaria, nós já voltamos.

Então Elizabeth foi guiando Finn até o quarto de Lena, e pediu para que ele a deixasse deitada na cama.

– Muito obrigada – agradeceu Lizie. – Vai voltando para o seu quarto, eu daqui a pouco apareço lá.

– Tudo bem – ele respondeu, deixando o quarto.

Elizabeth pegou um pijama no armário de Lena e deu para mesma vestir. Ainda era de tarde, mas a pequena precisava cochilar.

– Lena, antes de ir dormir, preciso que me fale sobre o que viu – falou Lizie, enquanto Lena pulava para cama e se cobria.

– Eu vi pouca coisa. Sei que eles não são tão maus quanto parecem. Não sei o motivo de eles serem assim por fora, mas vi que os dois se preocupam muito um com o outro. Porque eles só têm um ao outro, é a única coisa que lhes restou.

– Tudo bem, isso basta. Boa noite dorminhoca – disse Lizie, fazendo Lena sorrir.

Elizabeth depositou um beijo na testa de Lena e deixou o quarto, apagando a luz. Imediatamente ela voltou para o quarto de Finn e Enobaria.

Quando entrou lá, ela se sentou e disse, sendo direta novamente:

– Lena consegue ver o coração das pessoas, algo assim, ela vê os sentimentos e entende. A questão é: ela viu o quanto vocês são unidos e me explicou todo esse sentimento. Por isso vocês vão poder continuar aqui. Sora vai ajudar vocês a se instalarem.

Elizabeth escolheu Sora para a função porque ela era a pessoa mais compreensível do mundo. Iria acolhê-los ali melhor que ninguém.

Nenhum dos dois falou nada, então ela deixou o quarto e pediu para Sora ir ajudá-los. Então Elizabeth foi para o quarto de Charles, para avisar que elas podiam ir, finalmente, treinar.

Ela entrou sem nem bater na porta, as duas já tinham virado amigar nesse pouco tempo. Estava crente que iria ver Charlotte deitada na cama, tentando se acalmar, mas o que vê é oposto.

Charles e Micah estavam literalmente se agarrando em cima da cama.

– AH MEU DEUS! – Disse Lizie, fechando os olhos. – Charles, você não podia ter trancado a porta, pelo menos?!

– E você não podia ter batido na porta?! – retrucou Charlotte.

– Tudo bem, da próxima ver eu bato, não importa. Vim perguntar se você queria treinar, mas vejo que você está ocupada demais... – disse Lizie, já deixando o quarto, mas Charles a impediu.

– NÃO! – Ela gritou, se levantando. – Te vejo mais tarde, Mik – Charles disse, antes de deixar o quarto de vez.

Elizabeth correu para alcançá-la no corredor e, quando conseguiu, disse:

– Hum... Mik, é?

– Ah, cala a boca! – Respondeu a garota, fazendo com que Lizie risse ainda mais.

– Tudo bem, vamos treinar logo!

As duas foram para o centro de treinamentos e Elizabeth correu e pegou um peso de malhação.

– Consegue levantar isso? – Ela perguntou.

Então Charles se concentrou e logo o peso estava flutuando no ar. Charlotte era muito boa, para falar a verdade. Tudo que Elizabeth pedia para ela fazer, ela conseguia fazer perfeitamente. Charles atirou coisas contar um alvo, acertando em cheio.

– O seu problema é quando você fica estressada! – Exclamou Lizie, suspirando.

Nesse momento Sora entrou na sala junto com Finn e Eno.

– Lizie, eu estava pensando... não é melhor procuramos mais Voluntários? – Perguntou Sora.

Elizabeth imediatamente olhou para Charles, com medo que ela matasse Sora, mas ela não fez nada. Lizie sabia que era importante recrutar mais Voluntários, porém sabia que precisava treinar com Charles.

– Eu tive uma ideia. Agora que já temos um número maior, vocês três e Micah podem procurar Voluntários, enquanto eu treino Charles e Lena descança. O que acham?

– Pode ser – Sora deu de ombros.

– Ok, Finn e Enobaria vão chamar o Micah e voltem para cá, tudo bem? – Disse Elizabeth.

Eles assentiram e subiram para o segundo andar, indo chamar Micah.

– O que está achando deles? – Perguntou Lizie para Sora.

– No fundo, eles são legais, quer dizer, se você for paciente – ela lançou um olhar a Charles, que revirou os olhos.

– Você e o Micah podem prestar atenção neles dois hoje? – Perguntou Lizie.

– Claro.

Elizabeth foi pegar as fichas dos Voluntários no escritório e, quando voltou, todos já estavam lá embaixo. Ela dividiu a fichas, dando metade a Micah e metade a Sora.

– Boa sorte – desejou Charles.

Então nós voltamos a treinar, mas era inútil, porque Charles controlava seu poder muito bem, apenas quando estava estressada que tudo ia pelos ares, literalmente.

– Muito bem, vou tentar te estressar! – Falei.

– Não vai ser muito difícil... – comentou Charles.

Então eu comecei a gritar coisas no ouvido dela. Falei que ela era fraca demais e, por último, falei – mais para implicar.

– AH MEU DEUS! Quem é aquela que o Micah está beijando?

E foi tudo pelos ares, pela quinta vez.

– Você está me irritando gritando no meu ouvido! – Exclamou Charlotte.

– Essa é a intenção – disse Lizie.

– Mas não está adiantando! Quer dizer, está claro que eu não estou melhorando. Não consegui me manter calma o suficiente uma única vez!

Elizabeth sentou no chão e fez sinal para que Charlotte fizesse o mesmo.

– Você tem que pensar em algo que te acalme. Que tal pensar nos seus pais? – Sugeriu Lizie, mas Charles negou com a cabeça.

– Eu ficaria ainda mais estressada, porque pensaria no que eu poderia ter tido com meus pais, os anos que eles me tiraram.

– Então pense em algo ou alguém que te deixe tranquila.

– Acho que, bem, pode não funcionar, mas tem alguém. Peter é meu melhor amigo. Nós sempre fugíamos junto e treinávamos. Faz um tempo que não o vejo, pode até ter sido capturado pelo governo – falou Charles.

– Então, quando estiver nesta situação, pense em Peter. Aposto que ele confiava em você e acreditava na força dos seus poderes. Quando estiver estressada, feche os olhos e pense em algum lugar que você costumava ir com ele, ele acreditava em você, não gostaria que você fosse capturada por um descuido desses, gostaria? – Ela negou com a cabeça. – E depois, se ajudar, pense em nós e nisso que estamos construindo. Pense em todos, em mim, na Lena, no Micah, na Sora e até no Finn e na Eno.

– Acho que eu posso tentar.

– Muito bem, então prepare seus ouvidos.

Então as duas se levantaram e Lizie começou a gritar coisas no ouvido de Charles. Falou que era fraca demais e coisas do tipo, enfim, desafiou a garota, já que Elizabeth sabia que essa era a melhor forma de provocar Charlotte.

O resultado foi incrível. Quando parecia que Charles ia estourar de raiva, ela fechava os olhos e se concentrava, então conseguia fazer o que Lizie mandava, às vezes era levantar um peso, ou empurrar algo pesado contra alguma coisa. Charles não errou uma vez se quer.

– Charles, isso foi perfeito! – Exclamou Lizie, animada com o resultado.

– Eu sei! Obrigada, Lizie – Disse Charles.

– De nada. Agora vamos chamar Lena para comermos algo!

~~~

Enquanto Lena descansava e Elizabeth treinava Charles, Sora, Micah e os irmãos Sumpter estavam procurando novos Voluntários.

A missão designada a eles não estava indo nada bem. Micah não queria cooperar com os dois irmãos, mas depois Sora conseguiu convencê-lo, mas isso não era o suficiente para achar Voluntários. Uma hora já tinha passador e nada deles encontrarem Voluntários.

Todos já estavam muito cansados. Eno ia atrás, ela queria voltar para Mansão porque realmente já estava cansada, mas resolveu não reclamar, apenas ficou mais para trás para os outros não reparassem quão cansada estava.

Os outros iam mais para frente e só pararam de andar quando ouviram um grito. Eles se viraram rapidamente e viram que era Eno. Um agente tinha vindo sorrateiramente e colocou uma faca no seu pescoço, impedindo-a de fazer qualquer coisa.

Finn imediatamente entrou em desespero. Ele tinha quer fazer algo, ele só tinha Eno, nada mais, nada menos. Enobaria era a única coisa que ainda o mantinha vivo. O que o desesperou ainda mais foi o fato de não poder fazer nada, porque, se fizesse, matariam sua irmã.

Sora começou a se multiplicar quando alguém grita: “Rápido, tapem os ouvidos”. E foi o que eles fizeram. Eno conseguiu tapar os ouvidos, porque suas mãos já estavam ao lado da cabeça, em sinal de rendição. Mas o agente nada fez, ou podia perder sua refém. Erro dele. Um garoto moreno apareceu e começou a gritar, não um grito normal, mas um grito capaz de estourar os tímpanos de qualquer um. O agente caiu no chão, ninguém conferiu se ele estava morto ou desmaiado.

Imediatamente, Finn correu para a irmã e a abraçou forte. Os dois ficaram assim por muito tempo, até que Eno se separou dele dizendo:

– Tenho que apagar a memória do agente.

Como Enobaria tinha o mesmo poder de Lizie, não foi difícil. Depois disso, Eno voltou para perto do irmão, que a abraçou de lado enquanto o menino moreno falava:

– Sou Alex Jones.

Sora sorriu e falou:

– Tecnicamente, nós que devíamos te achar, porém foi você que nos achou! – O garoto ficou olhando estranho para todos, então Micah explicou, aos sussurros, tudo.

– Antes de você dizer se aceita vir conosco ou não, acho melhor nós nos apresentarmos. Eu sou Sora, ele é o Micah e eles dois são irmãos: Finn e Enobaria. Na Mansão que Micah te falou, estão Lena, Charles e Elizabeth, que é a garota que criou tudo isso. Ela é como nossa líder, sabe?

Alex começou a sorrir. Era tudo perfeito demais para ser real.

– Tudo bem, é claro que eu aceito ir com vocês! – Ele exclamou. – Mas tem um problema, não estou sozinho.

Então uma menina saiu de trás de um muro que se localizava perto de todos.

– Eu a encontrei ontem à noite. Não podia deixá-la sozinha, por mais que ela não precise da minha proteção (vocês vão ver mais tarde), eu meio que me apaguei a ela... – explicou Alex. – O nome dela é Skyler Anne Blake, tem apenas dez anos.

– Não tem problema algum! – Disse Sora, se ajoelhando para ficar na altura de Sky. – Oi, Sky, eu sou Sora, é um prazer te conhecer, baixinha.

Enquanto Sora falava aquilo, Alex sorria, feliz por Sky estar sendo recebida tão bem.

– Já está ficando tarde, acho melhor voltarmos para a Mansão – comentou Finn.

– Também acho – respondeu Micah.

Então todos foram caminhando para a grande Mansão. No meio do caminho, Sky se cansou e Finn a levou no colo, como ele tinha super força, era o mais apto a carregá-la. Sora e Alex caminharam lado a lado, por algum motivo Alex sabia que podia confiar na garota e ele não estava errado, Sora entendia a todos e era uma ótima conselheira e amiga.