Elétrica escrita por Tenebris


Capítulo 7
Decepções




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Não havia muito o que falar sobre a minha vida. Disse apenas coisas banais sobre todo o bullying que eu sofria por ser um nerd, e coisas assim. Mesmo não sendo nada comparado à tudo que Ariana me contou, ela lamentou por mim. De algum modo, ela achava tudo que me acontecia extremamente repugnante. Eu, por outro lado, não achava nada demais - não depois de tudo que ela me dissera sobre si.

– Já está bem tarde. Eu tenho que voltar. - ela sussura, enquanto desce a escada de madeira da casinha onde estávamos. Eu a sigo. - Obrigada, Bran. - ela permanece imóvel, eu observo atentamente cada detalhe de seu rosto mal-iluminado pela luz da lua. O reflexo satélite era visível em seus olhos claros. - Obrigada por me ouvir, e por conversar comigo. Obrigada por tudo que tem feito por mim desde que o conheci. - Ariana toca meu rosto levemente com a ponta de seus dedos, que mesmo gelados pelo sereno frio, aquecem o local da minha face em que roçaram.

– Não precisa agradecer. Eu é que deveria. Você confiou tanto em mim... Ariana, você me deu uma chance. Uma chance que milhares de garotas nunca deram. Você me deu a chance de mostrar que eu não sou uma pessoa horrível. Que eu tenho algo a oferecer. - eu sorrio de canto.

– Você me deu a mesma chance. Eu tenho algo a oferecer, e você também. Em muitas das vezes, as coisas são mais do que parecem. - ela suspira. - Vamos voltar.

Nós fazemos nosso caminho quase todo em silêncio; afinal, não havia mais muito a se dizer.

Ela para na frente da minha casa, e olha para mim daquele mesmo jeito profundo de anteriormente - jeito que me deixa nervoso.

– Boa noite. Te vejo amanhã? - ela morde o lábio inferior.

– É claro, se quiser. Boa noite, Ariana. - eu sorrio para ela e me viro para entrar na casa do meu pai, mas ela me impede, me segurando pelo pulso.

Ariana toca seus lábios nos meus. Apenas toca por alguns segundos, antes de nos separar e dizer:

– Por favor, apenas "Ari". - ela sorri, com os lábios e com os olhos, e anda em passos apressados para sua casa.

Eu não sei o que dizer agora.

–-----

As horas se passam, e aquele misto de emoções explodindo no meu peito não me deixam pegar no sono. Ela realmente me beijou? Não, não pode ser. Era só um sonho.

Eu me belisquei muitas vezes, para ter certeza que não estava dormindo. Ariana Grey, a garota mais linda da minha vida tinha mesmo me beijado.

Eu estava atônito. O quê viria a seguir? Será que iríamos namorar, depois nos casar, e então ter filhos, e...

Não. Se acalme, Brandon, foi só um selinho, lembro a mim mesmo em meus pensamentos, tentando me acalmar. Já eram duas e meia da manhã, e eu estava elétrico - mais elétrico que os olhos de Ariana.

Ariana, Ariana, Ariana. Eu só pensava nela antes, imagine agora.

Acho que eu não sou o tipo de pessoa que lida muito bem com garotas, ou relacionamentos, ou qualquer contato físico com alguém do sexo feminino que não seja minha mãe.

–--------

Eu não sei como, mas peguei no sono por breves duas horas. Acordei no dia seguinte, com uma sensação de cansaço imensa. Me levanto com pesar e desço para o café.

Scott está sentado à mesa, com um olhar vazio e distante. Meu pai não estava lá.

– Bom dia. Cadê o pai? - pergunto, enquanto pego uma torrada no balcão.

– Eu sei lá, cara. - ele olha pra mim de modo firme. - Precisamos conversar.

– O quê foi, seu encontro foi uma merda? - sorrio com deboche, enquanto mastigo a torrada.

– Uma merda? - ele levanta da mesa, com um sorriso triste no rosto. - Foi desastroso. Eu fodi todas as minhas chances com Victoria. Acabou, cara, acabou. - ele se sentou, as mãos passeando pelos fios de cabelo lisos rapidamente.

– Calma, Scotti. Conta exatamente o quê houve. - sento-me a mesa com outra torrada e uma xícara de café com leite.

– O quê houve foi que ela viu meu RG quando terminamos de transar no carro dela. - ele suspira ao terminar a frase.

Eu arregalo os olhos, boquiaberto.

– Vocês transaram? Wow, cara! Vocês transaram de verdade? - sorrio.

– Que se foda, cara! Não importa mais! Eu deixei os documentos caírem do bolso, ela foi olhar e... boom. Ela explodiu. Começou a chorar, disse que se sentia uma molestadora de menores, foi... horrível. Ela não vai querer me ver nunca mais, cara. - ele respira fundo, e coça os olhos. - Não to bem, vou me deitar.

Scott sai da mesa e sobe as escadas, me deixando sozinho com minha torrada, sem que eu possa lhe responder.

Me senti mal pelo meu irmão, talvez Victoria realmente tenha exagerado. Mas nada poderia tirar minha alegria naquele momento, absolutamente nada.

Exceto o que aconteceu a seguir.

Alguém bate repetidas vezes na porta, e eu corro para ver quem é.

– Você sabia, não é? É claro que sabia, você é irmão dele. - Ariana bufa, irritada. - Você sabia, e não disse nada para mim, nem para ela. Fala sério, ele parece anos mais velho do que você! - ela cruza os braços, sua face tem a mesma carranca do dia em que deixei a bola cair em seu quintal.

Ela falava de Victoria. Eram amigas, com certeza ela iria contar o incidente.

– E-eu achei que vocês soubessem que ele era mais novo... - tentei me explicar, com a voz trêmula.

– Você achou que soubéssemos? Brandon, ele bebeu e fumou com Victoria em minha festa. O que você acha que aconteceria se a polícia tivesse pego isso? Ele transou com uma maior de idade, e ele só tem quinze! - Ela eleva o tom de voz, agora muito mais irritada. - Mas que merda! Achei que você tinha mais responsabilidade que isso. - ela vira as costas para mim, e ao chegar no seu lado do muro ela olha para mim novamente. - Quanto a tudo que disse ontem, sobre você ser especial e diferente... deixe para lá. Quem garante que você também não tem os mesmos planos que o idiota do seu irmão? Comer uma garota mais velha, ir numa festa de universitários só para contar pros amigos idiotas? Fala sério. - ela revira os olhos e bate a porta, enfurecida.

Acontece, Ariana, penso sozinho, que eu não tenho nenhum amigo.


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