Elétrica escrita por Tenebris


Capítulo 2
Ariana




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– Ei, cara. - a voz de Scott surgiu ecoando na sala. Parecia a quilômetros de distância, mas então eu percebi que vinha só do sofá do lado. Pisquei os olhos forte e me virei para meu irmão.

– Desculpa. Falou alguma coisa?

– Tá brincando? - ele sorriu. - Eu tô há meia hora perguntando pra você se você por acaso conseguiu comprar o novo HQ do Kick-Ass. Quer dizer, você foi na loja de HQ's, certo?

– Sim, eu fui. Pega lá na minha bolsa depois.

– Legal! - ele exclamou, voltando sua atenção a um HQ meio antigo do Spider-Man. Eu e meu irmão éramos viciados em quadrinhos.

Bom, eu realmente tinha ido na loja. Mas eu não saí de casa pela loja, é claro; eu só queria ver se encontrava Ariana nas ruas, sei lá, por acaso.

Cara, eu estou ficando insano. Eu só penso nela. Eu até sonhei com ela. E, do fundo do meu coração, eu rezo todas as noites pra que ela não conheça Scott. Sério, eu já tenho chances praticamente nulas com ela, mas se ela acabar conhecendo meu irmão mais novo, porém mais bonito, alto e interessante que eu, elas iriam se zerar por completo.

Eu tive a sorte de que iria passar meus três meses de férias na casa de meu pai. Eu teria tempo pra ver Ariana, eu acho, porque depois de cinco dias saindo basicamente o dia todo para ver se eu dava a sorte de encontrá-la na rua e tendo falhando eu estava perdendo as esperanças.

Até o sexto dia. Claro, ela não poderia ficar em casa pra sempre.

Eu tava sentado no banquinho do jardim lendo uma HQ do Lanterna Verde quando ela apareceu, saindo pela porta da frente. Já eram tipo, umas sete da noite, eu acho. E ela estava ainda mais linda do que no dia em que a conheci, se é que isso era possível.

Ela estava com os cabelos negros lisos cascateando pelas costas, seus olhos azuis envoltos por delineador preto. Vestia uma camiseta justa azul escura com a estampa do Alice In Chains, calças jeans pretas rasgadas desde a coxa e botas de salto alto da mesma cor das calças. Nos braços, vários acessórios como anéis de esqueleto, pulseiras de espinho, e eu percebi que ela usava alargadores nas duas orelhas. Mas não eram grandes.

E eu simplesmente não consegui evitar de suspirar ao vê-la. E me arrependi no mesmo instante que o olhar dela cruzou o meu.

E cara, ela falou comigo. De verdade.

– E aí, foguinho? - ela se apoiou nas telhas sobre a divisa entre nossas casas e sorriu maldosamente, como no outro dia. Ouvi risadas, e então me dei conta de que haviam outras três pessoas com ela. Outra moça, era alta e elegante, pálida como Ariana, mas seus cabelos e olhos eram castanho-escuros, e um pouco mais curtos. E ela era muito bonita também.

E tinham dois caras. Ambos eram altos e fortes. Um deles, que vinha de mãos dadas com a morena, tinha olhos verdes, cabelos castanho-claros e um sorriso bem divertido no rosto. O outro tinha cabelos enrolados negros e olhos também escuros, a pele era mais bronzeada que a do outro e ele me olhou rapidamente, como se não quisesse ter que puxar assunto.

– Vamos, Ari. - a morena chamou já de dentro do carro. Era um Porsche muito bonito, e quem dirigia era o rapaz de olhos claros.

– Ainda não me disse seu nome. - Ariana disse e se virou para entrar no carro, e eu não tive tempo de respondê-la, pois assim que ela fechou a porta, o bonitão arrancou para fora dali.

– Brandon... - sussurrei para mim mesmo, embora fosse óbvio que ela não tivesse ouvido. Pensei nos caras que estavam com ela. Meu Deus, porque eu não era daquele jeito? Se eu fosse, com certeza poderia namorar uma garota bonita como a amiga de Ariana, ou... ou talvez a própria.

Ela nunca olharia para mim. Nunca. Eu era só um nerd babaca que perdia seus dias inteiros na maravilhosa casa de seu pai em Miami fingindo que lia quadrinhos só pra alimentar uma esperança inútil de ver uma garota bonita.

Mas não, ela não era só bonita. Eu sentia algo estranho quando a via, era como se um choque elétrico percorresse todo o meu corpo de repente. Aqueles olhos... eram surreais. Era difícil acreditar que ela fosse real.

– Cara, o que aconteceu? - Scott surgiu do nada e sentou-se ao meu lado. - Você tá muito estranho, mal para em casa, só fica nessa droga de jardim lendo o dia todo. E tá voando, sei que tá. Pergunto as coisas e você não responde, fica com essa cara de idiota, tá assim desde que a merda da bola caiu no quintal do vizinho. Que aconteceu lá, cara? Meu Deus.

Não sabia o que responder. O que eu poderia dizer, afinal? "Vi uma garota linda demais para mim que sei que nunca conseguirei conquistar, mas insisto em ficar esperando todos os dias ela sair de casa só para ter uma maldita chance de ao menos olhar para ela."

Não, essa resposta não era boa.

– Não é nada, Scott. Porque a gente não vai na piscina do condomínio um pouco?

– Falou. Vou só pegar uma toalha.

– Pega uma pra mim também. - suspirei ao ver que meu irmão já tinha voltado para dentro da casa. Qual é a tua, Brandon?, penso comigo mesmo. Você tá numa porra de condomínio de luxo em Miami, bem longe da sua cidadezinha da Georgia. Vai perder seu tempo indo atrás de uma menina que você nem conhece e que nunca vai querer ficar contigo?

É, era exatamente isso.

–-----------

– Cara, acho que essa separação do papai e da mamãe foi uma ótima coisa em nossas vidas. Olha só isso, a gente tá em Miami, porra. - Scott exclamava sorrindo enquanto voltávamos para casa com as bermudas e cabelos ainda molhados, as toalhas penduradas no pescoço.

– Realmente, aqui é foda. Aquela loja de HQ's, cara, você tem que ir lá. É gigante. Porque não quis ir comigo antes?

– Ah, sei lá cara. Preguiça, sabe como é. - ele revirou os olhos. - Mas porque não vamos lá agora? Ainda são oito e meia.

– Beleza. Vamos só tomar um banho antes, por favor, estou cheirando à protetor solar.

Scott riu alto.

– Melhor cheirar protetor solar do que parecer um camarão né?

– Cale a boca. - soquei-lhe o braço.

Quando estávamos na frente de casa, um carro veio em velocidade e estacionou sem nenhum cuidado na grama da casa vizinha. O mesmo Porsche que saíra mais cedo. Meu estômago embrulhou, e minhas mãos gelaram de repente.

Ariana estava ali. E ela com certeza iria ver meu irmão-super-mais-bonito-simpático-entre-outras-coisas do que eu. E ainda por cima todo molhado e sem camisa.

Sei que isso soou estranho para um homem ter dito, mas qual é. Todas as garotas gostam de um cara sem camisa.

A porta do carro abriu, e meu sangue gelou quando eu vi a pior cena daquela semana.

Ariana estava saindo do carro com um cara ainda mais bonitão que os que saíram com ela mais cedo abraçado em sua cintura.


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