Percy

– Vamos garoto! Você consegue fazer melhor do que isso! – O treinador, Poseidon, gritava cada vez mais alto à medida que eu completava mais uma volta na piscina olímpica do Colégio Half Blood. Já se completavam dez voltas de cinquentas metros, e meu corpo nem mesmo sentia o inicio da dormência nos membros referente ao cansaço. Porém, minha concentração hoje não era a mesma. Eu só pensava em duas coisas, nos olhos cinzas e no cheiro de limão de seus cabelos. Eu só podia estar maluco.

Decidi parar de bobeira e me concentrar no que realmente importava, a natação. Depois da decima segunda volta o treinador gritou para treinar o nado borboleta, e assim, eu fiz. Nadava o mais rápido e mais perfeitamente que conseguia, meus braços subiam e desciam aumentando minha velocidade e minhas pernas ajudavam no impulso. Mantive os pensamentos o mais possível longe daquela loira grossa.

Assim que conclui minha vigésima volta, ouvi o apito e parei na borda da piscina. Estava ofegante, porém, por mim, nadaria muito mais. Eu nunca cansaria disso, nadar era realmente minha vida, principalmente quando isso se aplicava no mar. Retirei a touca e óculos de natação e olhei para meu treinador, o qual estava agachado na minha frente.

– Você fez um ótimo tempo, mas não é um dos seus melhores. – Ele tirou o boné laranja da escola e coçou a cabeça. – Consegue fazer muito melhor que isso Percy e quero ver um desempenho maior no próximo treino. Entendido?

– Sim senhor. Eu só estava meio distraído, não vai se repetir. – Eu assenti.

– Bom mesmo Perseu. – Eu fiz uma careta, detestava quando usavam meu nome real, e o treinador sabia disso. Ele sorriu torto e levantou-se indo na direção dos vestiários.

Apertei a borda de gesso da piscina enquanto desacelerava o ritmo do meu coração. Coloquei a testa entre elas e olhei a agua acalmar aos poucos. Gostas caiam de meu queixo e nariz enquanto eu encarava o meu reflexo.

Depois de longos minutos eu decidi finalmente sair da piscina, elevando meu corpo com as mãos ainda na borda e tencionando os meus músculos dos braços. Assim que sai da agua senti o cansaço me atingir e soltei o ar pela boa. Estava sozinho no subsolo, disso eu tinha certeza. Há essa hora, todos já deviam estar em casa, já se passava facilmente das oito horas.

Finalmente levantei e andei até o vestiário. Tirei a sunga e tomei um banho, deixando a agua quente relaxar os meus músculos. Quando terminei me sequei e coloquei a mesma roupa de sempre, um jeans e uma camiseta, porém, dessa vez, uma coisa seria diferente, não vestiria a jaqueta. Sorri, quando será que ela me devolveria?

Fechei o armário, peguei a minha mochila e andei até a saída mexendo em meus cabelos molhados. Sempre foram assim, rebeldes, e não mudavam nunca. Quando cheguei a porta a mesma foi aberta batendo contra meu corpo e me forçando a parar atrás dela, totalmente esmagado. Eu gemi de reprovação. A porta foi desencostada libertando-me e um rostinho fino com cachos loiros me olhou confuso.

– Esta brincando de esconde-esconde agora?

– Logico, não viu como é um ótimo esconderijo? – Perguntei ironicamente. Ela revirou os olhos e fechou a porta.

– Pare de brincadeiras Percy.- Eu estremeci com meu nome em seus lábios.

Fiz uma careta e desencostei da parede.

– O que faz aqui de novo? – Ela cruzou os braços. Estava diferente desde a manha. Seus cabelos agora estavam secos e presos em um rabo de cavalo frouxo e não trazia mais a mochila. Porém, ainda usava a jaqueta. Sorri.

– Quanta educação... Por que esta sorrindo babaca? – Balancei a cabeça, disfarçando.

– Nada nada... e babaca é você ok? – Ela revirou os olhos e resmungou algo como “lerdo”.

– Aqui. – Ela disse tirando a jaqueta. – Obrigada por empresta-la, me tirou da maior confusão.

– E eu não sei? Mas podia devolver amanha, já esta tarde.

Ela deu de ombros, ainda segurando a jaqueta.

– Eu ia ficar até as seis mesmo por causa do xadrez, então vim ver se o time ainda estava aqui. Mas só estava você, então esperei.

Arregalei levemente os olhos.

– Você me viu nadando?

Ela desviou os olhos e encolheu um pouco os ombros.

– Bom, vi. Mas você ficou um bom tempo na piscina depois, quase meia hora, não quis interromper até que veio para o vestiário. Esperei você sair e como estava demorando muito entrei. – Ela não fez nenhum elogio. Orgulhosa.

Arqueei uma sobrancelha.

– E se eu estivesse no banho? – Ela corou, ficava uma graça vermelha.

– Incidente evitado. – Revirei os olhos.

– Era só esperar mais um pouco impaciente.

– Ei. – Ela apontou o dedo para mim. – Tenho que ir para casa ok? Esta ficando tarde para ir a pé.

– Ficando tarde? Já são quase nove horas!

– Eu me viro.

Ri da cara de durona que ela fez. Sempre a mesma cara.

– Vem, eu te levo. – Disse andando até a porta, ela nem se moveu.

– Como? – Revirei os olhos.

– Pare de ser besta, já esta tarde e perigoso e você sabe disso.

Ela moveu a cabeça para os lados e andou até mim, ainda com os braços cruzados e a jaqueta entre eles. Parou na minha frente e estendeu-a. Sorri fraco.

– Veste, esta frio lá fora. – Passei por ela e fui em direção à escada. O único som além dos meus passos eram os delas, muito mais pesados.