Annabeth

Naquela manhã de domingo, enquanto dormia enroscada nos braços quentes de Percy, não foi o sol frio que entrava pelas janelas que me acordou, mas sim a batida insistente no vidro do carro.

Eu abri preguiçosamente os olhos e desenterrei minha cabeça do pescoço de Percy, continuando a sentir o cheiro dele misturado ao meu. Observei-o dormindo, sentado e ainda encostado na porta, com os braços envolta de mim protetoramente e suas pernas comodamente sobre as minhas. Ele dormia profundamente, com a cabeça levemente caída e com a boca entreaberta, respirando profundamente. Olhei em volta e pude ver todos os vidros ainda embaçados por conta da noite de ontem. Sorri com a lembrança, porem, meu sorriso logo se desfez assim que ouvi a batida insistente novamente, a qual vinha da porta a nossa frente.

Apertei mais o cobertor em mim e me desvencilhei calmamente de Percy, passando a mão sobre o vidro embaçado e dando de cara com olhos castanhos e furiosos. Dei um grito assustada e cai novamente sobre Percy, fazendo-o acordar assustado e me apertar em um abraço, olhando ao redor desesperado e finalmente parando sobre os do guarda do parque do lado de fora do Prius.

Percy engoliu em e se esticou para abaixar o vidro, não sem antes nos cobrir mais com a coberta e me abraçar fortemente entre as suas penas. O policial, que tinha um crachá com o nome Teddy gravado, apoiou os braços na janela e estreitou os olhos tirando o chapéu preto e revelando seus cabelos grisalhos.

– Bom dia crianças. – Ele falou com sua voz autoritária, olhando-os nos olhos.

– Bom dia... – Murmuramos em uníssono.

– Vocês tem consciência de que esse é um lugar publico não é? – Assentimos repetidas vezes e rapidamente. – Então devem saber que de acordo com a lei eu deva aplicar uma multa sobre o ocorrido e ainda deleta-los para seus pais não é?

Foi a minha vez de engolir em seco.

– Senhor... – Percy começou. – Desculpe-nos por isso. Não era... hum... – Ele pigarreou. – Previsto. Foi um acidente

O guarda levantou uma sobrancelha e eu empertiguei-me.

– Um acidente? – Teddy perguntou.

– Um acidente?! – Eu olhei para Percy e perguntei incrédula, fazendo-o gaguejar palavras sem sentido.

– Olha garoto. – Teddy falou autoritário. – Não se fala assim com uma moça.

– Annabeth – Ele me olhou exasperado. – Foi incrível. Você é muito boa nisso e... – Ele se interrompeu ao perceber eu corando e olhando-o assassino.

Ele bateu com a mão na testa e praguejou baixo.

– Senhorita. – Olhei para o guarda, ainda muito envergonhada. – Você gostaria de prestar queixa?

Eu engasguei e Percy me olhou atônito.

– Senhor – Eu consegui falar. – Obrigada pela preocupação mais eu mesma posso cuidar disso. – Olhei de esgueira para um Percy cabisbaixo, o qual ainda não afastara as mãos de mim. – Desculpe-nos por isso. Prometemos que vamos sair imediatamente e isso nunca mais se repetirá.

O guarda alternou o olhar entre nós.

– Tudo bem. Saiam imediatamente. – Assenti. – E garoto – Percy levantou o rosto. – Boa sorte. – Ele deu um sorriso de lado e se afastou, sumindo entre as arvores.

– Então – Virei para ele e encarei seus olhos caídos. – Acidente não é?

– Annabeth... você sabe que não foi isso que quis dizer. Eu só... – Ele desviou os olhos dos meus. – não esperava fazer isso com você essa noite.

– Não? – Minha raiva havia sido substituída por curiosidade, mesmo meu olhar ainda estando duro.

– Não... se eu soubesse não teria sido em um carro e sim em um quarto com tudo o que você mais gosta... – Interrompi-o colocando um dedo sobre seus lábios.

– Foi perfeito Cabeça de Algas. – Ele levantou o olhar para mim, relaxando o rosto. – Não queria que fosse diferente...

Ele deslizou as mãos sobre a minha cintura e acariciou as minhas costas, ainda com o olhar baixo.

– E eu não me arrependo. – Levantei seu rosto e encarei seus olhos verdes. – Só de ter você em meus braços já é... incrível. Mas ter você como nessa noite... uau...

Eu ri e ele sorriu.

– Entendo o que quer dizer bobão.

Eu passei a mão por seus cabelos negros e bagunçados, iluminados pela luz fraca da manha. Um vento frio entrou pela janela aberta e eu estremeci, fazendo Percy me apertar contra ele.

– Essa manha foi um pouco turbulenta. – Falei beijando seu pescoço.

– E aquele guarda era um tanto aterrorizante...

– Isso porque você não conheceu minha mãe. – Nós rimos, até meu sorriso murchar e eu olhar desesperada para Percy. – Minha mãe!

Ele pareceu confuso.

– O que tem ela?

– Eu estou morta... – Me joguei contra ele, fazendo-o se desequilibrar momentaneamente e acariciar meus cabelos loiros.

– Acha melhor voltarmos?

Assenti, com a cabeça enterrada em seu peito.

– Queria tanto ficar aqui o dia todo sentindo você contra mim... esse seu cheiro é tão bom... – Murmurei com a voz abafada e Percy suspirou sobre meus cabelos, acariciando meus ombros.

– Eu também queria Sabidinha. – Passou alguns minutos até Percy me afastar com as mãos em meus ombros e prensar seus lábios nos meus, repentinamente. – Eu amo você. – Sorri e seus olhos brilharam. – Mas acho melhor voltarmos antes que aquele guarda com nome de urso volte e me prenda por estar com a menina mais linda do mundo.

Eu ri e começamos a nos vestir rapidamente, procurando desesperadamente pelas peças de roupa por todo o carro. Assim que eu estava com o vestido e Percy com a camisa aberta, já que eu destruí todos os botões da mesma na noite passada, passamos para o banco da frente e colocamos os cintos.

– Percy? – Eu falei antes dele dar a partida. – Você realmente acha que eu sou boa de sexo? – Senti-me corar.

Ele riu.

– Muito boa. – Eu corei mais e ele me olhou, sorrindo. – Se bem que falar aquilo na frente de um guarda não foi uma ideia muito boa...

Eu levantei uma sobrancelha.

– Ah, você acha?

Ele fez uma careta e eu ri assim que ele ligou o carro e nós saímos do Central Park.

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Percy

– Sério. Eu odeio segunda feira. – Piper lamentou enquanto batia a porta de seu armário. Jason revirou os olhos e eu ri, ajeitando os livros de Annabeth em meus braços.

– Serio Percy – Ela tentou tira-los de mim. – Eu consigo carregar meu material sozinha.

– Pare de ser chata Sabidinha. – Ela colocou as mãos na cintura e eu depositei um beijo em seu nariz.

– Desde quando vocês dois ficaram tão melosos? – Thalia perguntou enquanto andava até nós e encostava-se ao armário de Piper.

Annabeth limitou-se a bufar e revirar os olhos.

– Esta estressada hoje é? – Jason cutucou a loira, me fazendo rir e passar um dos braços sobre ela.

– Ela esta de castigo. – Eu respondi e ela se encostou em meu ombro, cruzando os braços.

– Não vamos esquecer de quem é a culpa disso Cabeça de Algas. – Ela resmungou e nós rimos.

Alguns segundos passaram até avistarmos Leo andando apresado pelos corredores, varrendo-o sem parar com o olhar.

– Leo! – Thalia gritou chamando sua atenção.

O moreno piscou varias vezes e andou até nós.

– Oi gente. – Ele falou meio avoado, ainda passando os olhos pelo corredor.

– Cara. – Jason chamou sua atenção. – Você tá bem?

Ele abriu a boca para responder, porém o sinal tocou interrompendo-o. Leo se mexeu inquieto e eu troquei um olhar silencioso com Jason

– Bom, vamos indo então... – Eu falei puxando Annabeth comigo.

– Ãh... – Thalia pigarreou. – Eu vou depois...

Piper soltou uma risadinha e abraçou a cintura de Jason, afastando-se do armário.

– Parece que noite deles realmente foi boa... – Ela falou baixo conosco e nós rimos. Leo não entendeu e nos olhou confuso, mas logo sua inquietude voltou e ele continuou a andar conosco.

– Nós ficamos aqui. – Annabeth falou antes de parar junto de Piper ao lado da sala de Literatura. A morena deu beijo nos lábios de Jason e entrou na sala, enquanto a loira arrancou os livros de meus braços e começou a andar pesadamente. Eu ri e peguei-a pela cintura, forçando-a a me beijar.

– Idiota... – Ela riu relutante e pressionou seus lábios nos meus.

Assim que a soltei, ela entrou calmamente na sala, com seus cachos loiros batendo nas costas.

Jason, Leo e eu continuamos a andar.

– Então Garoto mecânico. – Eu comecei. – O que aconteceu para você estar mais inquieto que o normal?

– O que? – Ele desviou os olhos para nós e Jason os seus, ajeitando a mochila nas costas.

– Conta logo.

Eu assenti e Leo engoliu em seco.

– Eu meio que... – Nós nos aproximamos dele, incentivando-o. – Passei a noite com a Calypso... no quarto dela. – Eu arregalei os olhos e Jason assobiou. – Mas não aconteceu nada! Quer dizer... – Ele pareceu lutar com as palavras. – Arg... eu estou confuso. – E com isso ele entrou na sala de Geografia.

Eu e Jason rimos, mas deixamos para lá, certos de que arrancaríamos a verdade dele mais tarde.

– Com toda a certeza – Jason falou antes de para de frente a sala de Física Quântica. – Essa foi a melhor festa que a Silena já deu na vida. – Eu ri e assenti enquanto ele entreva na sala e eu seguia sozinho pelos corredores.

Eu continuei a andar, deixando que a noite de sexta tomasse conta de minha cabeça. Aquela piscina nunca fora tão bem aproveitada. Um estalo. Meus calcanhares travaram no chão. Piscina! Era segunda feira, onde a primeira aula era destinada ao treino de natação. Eu estava morto, afinal, eu não havia apenas perdido o treino, mas hoje, pela ausência de meu pai, era eu que o comandava.

Girei nos calcanhares e corri em direção as escadas, me amaldiçoando mentalmente por ser tão lerdo e desligado.