Eu não sei quando passei a notar aqueles olhos. Não sei mesmo. De um dia para o outro passei a me afogar dentro daquele verde-mar. Talvez se afogar seja realmente o termo exato, Perseu - Percy - Jackson, filho do deus do mar.
Como você pôde ser tão estúpida, Clarisse? O Percy? Isso é ridículo!
Balancei a cabeça na pior tentativa do mundo de espantar os pensamentos que não queriam ser espantados. Como as pessoas idiotas que cantam a música do elefante irritante, minha mente não parava de repetir: Percy, Percy, Percy...
CHEGA!– Reclamei pra mim mesma, sem sucesso.
O que só piorou o redomoinho louco, que estava prestes a se tornar um furacão. Minha cabeça latejava. Involuntariamente ambas as mãos foram puxando meus cabelos desesperadamente. Eu queria que isso sumisse. Esses sentimentos, pensamentos, essa dor... Tudo. Desejava desaparecer.
Para. Para. Para.
No entanto só parecia aumentar. Perseu Jackson foi a pior coisa que me aconteceu. Quem ele achava que era pra invadir meu cérebro e infectar cada respiração minha com ele? Idiota, imbecil, estúpido, insuportavelmente incrível. Arg, somente o queria fora. As lágrimas não demoraram a cair.
Escutei um barulho e me recuperei rapidamente, limpando as lágrimas na manga do meu sueter e arrumando os cabelos. Coloquei um sorriso maldoso no rosto, assim ninguém nunca iria desconfiar do meu ataque. E notei que era Kyle, um filho de Apolo irritante e intrometido.
– Ei, Clarisse. O que está fazendo aqui na praia sozinha? - sorriu daquela maneira idiota que costumava, até que notou meus olhos vermelhos e o sorriso diminuiu, porém não desapareceu - Andou chorando?
– Claro que andei, seu idiota, não está vendo o meu rosto não? - respondi sarcástica e maldosa.
– Este é o fim do mundo? Achei que você era vazia demais pra sentir. Está apaixonada?
– Nah. - menti - Eu chorei de rir com a peça que eu preguei no novo campista. E do que planejo fazer com o próximo. - divaguei desinteressada.
– Mas é óbvio. - rolou os olhos - Você é a rainha de gelo do acampamento, amar é impossível.
Eu realmente fiquei incomodada com sua opinião sobre mim, no entando não demonstrei nada, apenas continuando com minha indiferença. Devia ser uma rocha inabalável, mostrar minhas fraquezas é estupidez, e eu sou uma guerreira inteligentíssima para fazer algo assim. A vida é um campo de batalha, e se você não for forte e inteligente durante a luta, você morre. Além do mais, estava acostumada com o ridículo apelido: Ice queen.
– Algo assim. - dei de ombros.
– Clarisse, preciso falar com você.
Paralisei. Ele estava ali. Virei-me com cautela para encara-lo.
– O que quer, Perseu?
Fui grossa, mas minha atitude não teve nenhum efeito na postura séria, raramente vista em suas feições, que o moreno sustentava. Isso foi estranho, nenhuma brilho raivoso, nenhuma piada lançada, sem um resquício do costumeiro desdém que me enlouquecia. Algo extremamente importante estava acontecendo.
– Já disse, falar. - olhou para Kyle com um olhar ameaçador, claramente dizendo que ele não era bem-vindo na conversa. E a mensagem foi corretamente enviada, porque ele foi embora prontamente.
– Diga, tenho muita coisa o que fazer e ficar com você aqui é extremamente desagradável.
Um resquício de sorriso surgiu em seus lábios, o que me fez divagar sobre o quão inumanamente lindo Percy é.
– Quando vai parar de fingir? Isso me diverte e irrita ao mesmo tempo.
– Do que está falando? - perguntei, totalmente confusa.
– Clarisse La Rue, faz um ano que te encontro todos os dias chorando enquanto olha pro mar. Eu pensei que você iria parar com o tempo, mas nada disso mudou. Eu achei engraçado as suas tentativas ridiculas de me empurrar pra longe, mas não posso deixar isso continuar acontecendo.
Ele me seguiu... Por um ano? Oh não, ele viu todas as lágrimas que derramei, ele descobriu uma fraqueza, ele mesmo. Eu deveria ter tomado cuidado, pelo menos. Merda.
– Não tem nada a ver com você. Só me deixe em paz, não quero sua pena. - tentei.
– Não tem nada a ver comigo? Então porque enquanto chorava dizia meu nome? - agarrou meu braço e aproximou o rosto do meu, olhando bem dentro dos meus olhos como se vasculhasse minha alma - Seja sincera, o que eu fiz pra você?
– Existiu. - o choro retornou, com tudo dentro de mim transbordando, e eu notei seu olhar triste e magoado - Pois só penso em você, todo o tempo, e eu não devia. Isso me mata lentamente. Droga, Percy, se eu não posso ter você porque esses pensamentos simplesmente não vão embora?
– E quem disse que não pode me ter? - uma expressão divertida cruzou seu rosto.
Fiquei chocada.
– O que?
– Alguns minutos atras você disse que minha presença era desagradável, será que não posso torna-la boa?
E me beijou. Oh meus deus, ele me beijou! Estava tão surpreendida que não retribui inicialmente, só quando notei a sua lingua pedindo passagem eu reagi. Aquele foi o melhor beijo de todos os tempos. Quando o oxigênio fez falta, fomos obrigados a nos separar.
– Sempre torne sua presença tão boa assim, você faz um ótimo trabalho.
Ele riu e colocou suavemente os lábios próximos ao meu ouvido esquerdo, sussurrando:
– Sabia que se pode derreter gelo? Só quero que prometa que seu gelo se derreterá somente para mim.
Sorri.
– Eu prometo.
E nos beijamos novamente.

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