Sabe quando você sente seu mundo desabar? Não sente mais o chão em baixo de seus pés? Não sabe mais como respirar sozinha? Pois é, eu também não. Mentira, eu estou assim agora. Sem chão, sem ar, sem vida. Sem Ryan. Nunca pensei que minha vida viraria de cabeça pra baixo de uma hora pra outra assim. Me transformei em um mostro, menti para meus amigos. Quer dizer, nem sei se ainda posso chama-los de amigos. Dyn é o único que está comigo ainda. Eu deveria ter contado desde o início. Mas eu não podia. Eu preciso sair peladona, agora sim cairia bem isso. Nem essas palhaçadas sem graça nenhuma está me animando agora.

Depois de todo o ocorrido, Dylan me trouxe para o quarto dele e não disse uma palavra se quer. Estou aqui completamente depressiva. Eu não sei como ainda tem lágrimas pra descer, não paro de chorar um segundo se quer. Dylan está todo paciente aqui do lado, respeitando meu momento.

Já sei o que vai acontecer depois disso tudo, Joe vai me chamar pra conversar e provavelmente eu vou embora, até porque não tem quarto disponível. É oficialmente um adeus a tudo isso aqui.

– Eliza... Você precisa ficar calma, estou preocupado – Dylan me abraçou de lado. Encostei minha cabeça em seu peito e chorei mais.

– N-não tem como ficar calma, olha só o que aconteceu – Fechei os olhos e imaginei a cena novamente.

– Eles vão entender, eu te compreendi não foi? Dê um tempo pra eles, assim como você deu um tempo pra mim – Dylan fez carinho em meu rosto.

– Não tem tempo Dylan, eu vou embora. Não tem quartos disponíveis, não tem chance deu continuar aqui.

– Ei, psiu. Não fala isso – Dylan segurou meu rosto entre seus mãos – Joe vai encontrar uma solução – Secou minhas lágrimas.

– Não fica na esperança – Neguei com a cabeça – Eu já vou me preparar pra tudo.

– Não quero que vá – Beijou minha testa. Dei um meio sorriso.

– Não quero ir, não quero deixar vocês. - Voltei a chorar.

– Calma – Afagou meus cabelos.

– Dyn, eu posso dormir aqui? Não quero encarar o Ryan agora – Sequei as lágrimas que insistiam em cair.

– Claro que pode.

– Me empresta uma roupa sua? Preciso de um banho, estou suja do suco daquela vadia ainda – Levantei.

Dylan pegou uma roupa qualquer no armário e me jogou. Segui para o banheiro e me despi logo. Não quis nem me encarar no espelho, já sei que vou estar com uma expressão horrível no rosto, olhos inchados, cabelos bagunçados. Cara de chapada.

Terminei o banho o mais rápido possível e saí logo do banheiro, não quero ocupar muito o espaço de Dylan.

– Bem melhor sem aquele boné – Dylan sorriu ao me ver sair do banheiro com os cabelos soltos.

– Obrigada – Sorri fraco.

– Sem esse desânimo Liza, cadê a maluca que coleciona calcinhas? Que tem crises gay? - Suspirei.

– Ficou presa no John – Me joguei na cama.

– Ela vai contar, tenho certeza.

– Dyn, você tinha razão... - O encarei.

– Do quê? - Me olhou confuso.

– Ryan... Eu estou mesmo gostando dele. Eu sou uma pessoa ruim. Eu tenho mesmo que ir embora - Praticamente sussurrei a última frase. Não gosto nem de pensar nisso.

– Eu já sabia disso. Você não é uma pessoa ruim, a culpa não é sua. Cameron que gosta de cuidar demais da vida dos outros – Se sentou do meu lado.

– Será que Ryan me perdoa? - Encarei Dylan fazendo biquinho. Dylan sorriu e ia me responder, mas foi interrompido pela porta abrindo.

– Cara, eu estou ficando louco. Preciso conversar... - Ryan entrou pelo quarto as pressas, mas parou logo que me viu. Abaixei a cabeça com medo de encarar seus olhos. Sim, eu sou uma fraca. - O que ela está fazendo aqui? Está do lado dela? - Apontou pra mim.

– Calma cara – Dylan se levantou – Não estou do lado de ninguém. Ela me contou tudo antes desse ocorrido de hoje.

– Ela é mesmo uma traidora, conta até pra você. Ah, claro, são melhores amigos – Ryan começou a debochar. Nem preciso dizer que as palavras dele me feriu violentamente, certo? Certo.

– Não fala assim, você tentou pelo menos ouvir as explicações dela? Entender os motivos? Você não sabe nem o porque disso tudo – Dylan estava furioso. Ryan revirou os olhos e se virou pra mim.

– Explicações? Motivos? E tem motivos pra essa palhaçada toda? Ela não passa de uma criança, não confia nos outros, pior, faz os outros de otário. Me fez acreditar nela, depositei uma confiança em uma farsa. Fui verdadeiro desde o início. - Ryan cuspiu tudo olhando pra mim. Estou aqui destruída, ouvindo tudo isso segurando as lágrimas pra não desabar na frente dele.

– Você não tem direito nenhum pra falar com ela assim! - Dylan se exaltou – PORRA! A GAROTA TE AMA CARA, ESCONDEU TUDO POR MEDO DE TE PERDER E VOCÊ AINDA FAZ ISSO? SÓ PENSA EM VOCÊ MESMO. SAI DAQUI! - Dylan empurrou Ryan pra fora do quarto e veio até mim.

– Você está bem? Não liga para o que ele disse não, Ryan fala as coisas sem pensar. - Concordei com a cabeça.

– Ele tá certo. Sou mesmo uma criança. Obrigado por me defender Dyn, não precisava, eu merecia ouvir isso tudo – Sorri de lado. - Me deixa dormir, preciso descansar.

– Tudo bem, boa noite – Dyn me deu um beijo na testa.

Enquanto tentava dormir, chorava e pensava em todas as palavras de Ryan. Eu estou chorosa esses dias, credo. Não estou me reconhecendo, não gosto de chorar muito. Amanhã vou conversar com o diretor, ele já deve tá sabendo de tudo uma hora dessas. Já vou preparada para uma conversa de despedida.