O resto da minha noite foi uma lástima. Eu acabei perdendo a vontade de comer e nem cheguei a ir ao paraíso, simplesmente voltei para o quarto. Cameron conseguiu me desanimar. Tô vendo que aquela cara de cavalo vai estragar a minha vida aqui dentro.

Ryan veio todo preocupado querendo saber o que aconteceu, porque não fui jantar e blá blá blá. Apenas disse que estava sem fome e que queria descansar. Odiei falar com ele assim, me sinto mal. Esse garoto está me deixando confusa.

Como se não bastasse a minha péssima noite, meu dia também não estava dos melhores. A tão temida TPM chegou. Já imagina a catástrofe que eu causei aqui, né? Acordei Ryan aos berros, o obriguei a vestir uma blusa da mesma cor que a minha, carregar minhas coisas até a sala e fazer massagem nos meus pés depois da aula. Qual é, sou mulher, mereço isso.

Na sala não deixei ele sentar perto de mim. Sim, eu estou com um pouco de medo daquela mocreia da Cameron. Vai que da a louca nela? Não vamos arriscar. Ok, eu estou mesmo com medo dela? Elizabeth acorda! Você não está bem hoje... É a TPM.

Enquanto olhava com cara de peixe morto para a explicação do professor, meu cérebro de minhoca vegetariana trabalhava em algum plano para acabar com a Cameron, pelo menos por uns dias ou horas. Pensei em colocar um barata na calcinha dela, mas tenho medo de barata. Pensei em colocar um dinossauro no quarto dela, mas onde vou arrumar um dinossauro agora? Sem chance. Que bosta, hoje estou fraca para ideias maléficas. Pensando bem, um remédio para deixar a bunda dela frouxa seria uma boa... Seria a melhor coisa ver ela cagando as tripas no banheiro. Ai como eu tô bandida.

–.-

As aulas passaram rápido e logo estávamos no paraíso. Como eu não iria consegui virar a “bomba” na bebida da vaca eu parti para um plano que provavelmente daria certo.

Enquanto caminhava lentamente com a bandeja de gororoba até a mesa dos meus amigos, esbarrei acidentalmente na Cameron que passava por ali com as amigas. Mentira, não foi acidentalmente, era isso ou ela não iria ficar com a bunda frouxa. A bandeja de comida dela foi toda ao chão, o que significa que eu terei q doar a minha. Mamãe me ensinou a ser educada com as pessoas.

– Você é cego garoto? Não olha pra onde anda não? - Cameron apontava o dedo na minha cara. Que vontade de puxar esse dedo e enfiar... Que raiva.

– Não. - Dei de ombros. - Se quiser pode ficar com meu lanche, eu não queria isso mesmo – Empurrei a bandeja nela.

– Idiota – Saiu batendo os pés. Sorri e caminhei até meus amigos.

– O que foi aquilo cara? - Dylan me encarou brincalhão.

– Espere e verá – Sorri maléfica.

– Sinto cheiro de planos maléficos – Erin fez careta.

– Vai sentir cheiro de outra coisa daqui a pouco – Dei de ombros.

– Tá falando do quê? - Ryan é tão lerdo.

– Calma. - Fiz sinal para esperar. É hoje que essa vadia paga por descobrir meu segredo.

Os minutos iam passando e nada do remédio fazer efeito. É quantos dias pra fazer efeito? Ela já bebeu o suco quase todo. Desisto, é melhor ela contar pra todo mundo mesmo. É o meu fim. Enquanto me martelava por dentro, uma movimentação diferente no refeitório me chamou atenção. A mesa das patricinhas estava rodeada de pessoas e provavelmente Cameron estivesse ali rolando de dor, ou sei lá. Pera, Cameron? Movimentação diferente? Opa, remédio resolveu agir. Aleluia!

– SAI DA FRENTE QUE PRECISO IR AO BANHEIRO – Dei um pulo com o grito da Cameron. Parece que alguém tá com a bunda frouxa. Olhei para meus amigos e cai na gargalhada.

– Colocou laxante na bebida dela? - Erin me acompanhou nas risadas.

– Ela precisava de um pouco de adrenalina na vida dela – Dei de ombros.

– Cara, você não presta – Ryan riu – Coitada. - O quê? Coitada? Vai ficar defendendo ela agora?

– Tá com pena dela agora? Pensei que não gostasse dela – Fiz careta.

– Não gosto, mas também não precisava disso. - Eu sou a vilã agora?

– Ela vai fazer algo bem pior comigo – Sussurrei olhando para Dylan.

– O quê? Cameron não faria isso com você. - Esse merdinha tá mesmo do lado dela? E porque eu estou me preocupando com isso?

– Ok, se você acha isso. - Me levantei – Vai lá agora ajudar ela, ela deve tá precisando de você – Sai pisando duro. Quem Ryan pensa que é pra falar assim comigo? Ou melhor, pra defender ela assim na minha frente! Que vontade de sair peladona por ai. Não, pera.

Sai da escola e segui até minha árvore, eu precisava ficar um pouco sozinha com ela. Me joguei embaixo dela e danei a chorar. Que droga. Porque diabos eu estou chorando? Ryan não é nada. Isso deve ser efeito da TPM. É isso ou estou apai... Não! Me recuso a pensar isso! Jamais! É apenas a TPM.

– Eliza... - Ouço alguém me chamar. Provavelmente Dylan.

– Sai daqui. - Virei o rosto.

– Não. Vamos conversar. - É Dylan mesmo.

– Não quero conversar – Me sentei. Dylan sentou do meu lado.

– Tem certeza? - Secou minhas lágrimas. Como resistir? Vou chorar mais.

– É só a TPM – Dei um meio sorriso.

– Eu sei que não é só isso – Me olhou sério. - Me conta Eliza, o que está acontecendo? Cameron fez algo pra você? Ryan? - Porque toca no nome desse ser?

– Ah... - Abaixei o rosto – Cameron descobriu tudo – Voltei a chorar. Hoje eu estou igual aquelas mulherzinhas.

– Como? - Dylan me abraçou de lado.

– Ela tava escondida no banheiro e viu tudo – Encarei o nada.

– E o que ela vai fazer?

– Ela vai contar pra todo mundo Dylan – O encarei. - É o meu fim. - Drama básico.

– Não fala isso – Dylan deu um beijo na minha testa. - Eu vou te ajudar. Seus amigos vão. - Amigos?

– Você é o único que sabe – Fechei os olhos e suspirei – Ela falou pra mim me afastar do Ryan – Abaixei o rosto – Eu não quero me afastar dele, quer dizer, depois do que aconteceu hoje eu não sei mais... - Fiz careta.

– Você não vai se afastar dele, Eliza. Ryan tá diferente desde que você entrou aqui, não muda isso – Dylan me abraçou apertado. Quanto amor.

– Como não? Ou eu me afasto ou ela conta tudo. Eu vou ser expulsa daqui, vou deixar vocês.

– Tem sempre uma solução, calma – Dylan deu um meio sorriso. - Agora vem cá, você não quer se afastar do Ryan porque são amigos ou tem outra coisa? - Dylan ergueu a sobrancelha.

– Porque somos amigos – Dei um tapa no seu braço – Quer dizer, eu nem sei se ainda somos amigos – Encarei o nada.

– São sim. Ryan é assim mesmo, imprevisível. Nunca sabemos quando tá de bom humor. Dê um tempo pra ele. - Dylan sorriu.

– Ok.

– Agora me conta, o que tá rolando entre vocês? Você tá gostando dele? - Dylan tá parecendo aqueles amigos gay.

– Você é de que mundo? - Levantei as mãos – Não tá rolando nada. E eu gostando dele? Não viaja garoto.

– Você não me engana Eliza, tá na cara isso. Você tava chorando aqui e eu tenho quase certeza que não é pelo que Cameron disse – Dylan me encarou sério.

– Você andou fumando estrume? Para com isso – Afundei meu rosto nas mãos. Dylan riu.

– Viu só? Ah Eliza, pode se abrir comigo – Brincou com uma mecha do meu cabelo que estava fora do boné.

– Não tenho nada pra abrir contigo.

– Tá gostando dele não é? Eu sabia!

– Para com isso estrume! - Me levantei. - Não estou gostando de ninguém.

– E aquela briga hoje foi o que?

– Briga de amigos uai – Dei de ombros.

– Não foi não. Você tava com ciúmes, eu sei – Dylan cruzou os braços. Que vontade de tacar fogo nesse garoto. Ok, menos.

– E se eu tiver? - Cruzei os braços. Dylan riu e me puxou pra sentar de novo.

– Eu só quero que tudo se acerte entre vocês, ok? Acho que você deveria sentar e conversar com ele, ele merece saber, Eliza – Dylan fez carinho no meu rosto. Que ele não me beije, amém.

– Eu não sei como contar. Ele vai ficar chateado, vai para de falar comigo, eu sei – Fingi choro.

– Deixa de besteira. Ele vai ficar chateado mesmo, mas vai entender.

– Espero – Suspirei. - Vou lá falar com ele – Me levantei e segui rumo a escola.

– JOHN! - Dylan gritou. Me virei – Boa sorte – Sorriu.

– Vou precisar – Sorri de volta.

Entrei na escola e fui direto para o dormitório. Espero que Ryan esteja lá, estamos realmente precisando conversar. É hoje que eu morro.