As Crónicas de Hermione escrita por Khaleesi Dracarys


Capítulo 4
Expresso de Hogwarts - A Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a todos os que leram, e especialmente aos que comentaram. Este capítulo é para vocês.
Espero que não fiquem desiludidos.

Boa Leitura!

não esqueçam de ler as notas finais, tem links... :)



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À sua frente estava ninguém menos que Pansy Parkinson. Hermione percebeu que a rapariga também estava incomodada, e tentou falar qualquer coisa. No entanto, a slytherin, que parecia estar na dúvida se ficava ou procurava outra cabine, resolveu entrar e acomodar-se ali mesmo, sem trocar palavra com a gryffindor.

Hermione ficou sem reacção, sem saber o que fazer. Mas se Pansy não tinha problemas em viajar ali, ela também não iria sair. Podia muito bem suportar o resto da viagem, desde que continuassem assim, em silêncio.

Depois de se encararem por algum tempo, sem se falarem. Pansy chamou Hermione, deixando-a novamente surpresa:

– Granger?!

– Sim, Parkinson?! – respondeu a rapariga, deixando transparecer o quão surpreendida estava.

– Bem, em primeiro lugar, não fazia ideia que também ias regressar a Hogwarts. Ouvi dizer que ficarias a trabalhar logo no Ministério. Mas uma vez que estás aqui, e depois de tudo o que passámos, queria pessoalmente pedir-te desculpa. Desculpa-me por ter sido sempre tão arrogante, tão irritante. Por te ter insultado e maltratado. Por ter escolhido o lado errado, no momento errado. Eu era ingénua, só sabia aquilo que me tinham ensinado. Hoje sei que estava errada, na maior parte das vezes. – sorriu de lado – E por isso peço perdão, sei que te magoei muitas vezes.

Hermione ficou sem saber o que dizer, a rapariga à sua frente parecia mudada, mais madura. Nunca imaginara ouvir Pansy Parkinson dizer-lhe tudo aquilo, por isso disse o que lhe veio à cabeça:

– Não podia trabalhar no Ministério, sem ter terminado a escola- esclareceu.

Mais uns segundos em silêncio e disse:

– Todos nós fizemos coisas que nos arrependemos, Pansy. O importante é reconhecer os nossos erros e pedir desculpa no momento certo. Eu não me importo mais com o que aconteceu em Hogwarts antes. Acho que a guerra nos mudou a todos. Espero que realmente tenhas aprendido o que é importante, e que faças melhores escolhas. E se não te importares, neste ano que vamos iniciar, vamos fazer uma trégua. Não precisamos ser amigas, mas vamos evitar discussões. Pode ser?

– Completamente de acordo. – disse Pansy, sorrindo – Acho que é tempo de esquecermos aquelas guerrinhas infantis, não há mais paciência para aquilo.

Hermione reparou naquele momento que Pansy tinha uma classe, que ela só tinha visto em qualquer um dos slytherin que antes a acompanhavam. Era algo que vinha da sua educação refinada, e reflectia-se na maneira como falava, como se mexia, como se vestia. Apesar de Hermione ter investido no seu próprio visual depois da guerra, e ter melhorado o seu aspecto, observou que nunca chegaria a ter o glamour de Pansy. Esta, embora se apresentasse casualmente, tudo na sua indumentária mostrava que tinha sido escolhido cuidadosamente e tudo conjugava bem.

Pansy tinha escolhido um vestido elegante, num tom verde-escuro. No entanto, usava um casaco de pele preto e umas botas pretas grosseiras, que em qualquer outra pessoa ficaria bizarro. Porém, em Pansy ficava original e formava um conjunto coerente, que era finalizado com acessórios de bom gosto. O gorro que encimava a sua cabeça e emoldurava o seu cabelo recolhido numa trança, dava-lhe graça e jovialidade. Apesar de tudo, foi Pansy que elogiou Hermione.

– Gosto muito do teu cabelo assim! Fica-te bem. Aliás, todo o teu estilo está bem melhor. – disse a slytherin, sem malícia, apenas reconhecendo o facto com naturalidade e como se elas fossem amigas há séculos.

– Obrigada, – disse Hermione – é realmente um elogio, vindo de alguém como tu, que está sempre a par das últimas tendências.

Ambas sorriram, e Hermione não perdeu a oportunidade de lhe fazer a pergunta que estava em sua garganta desde que a slytherin tinha aberto a porta da cabine:

– Não me leves a mal, mas porque estás aqui? De regresso a Hogwarts? Soube que estavas em Paris com a tua família, pensava que ias ficar por lá.

– Também não pensava voltar, – admitiu Pansy com um sorriso – decidi apenas ontem. Não fazia muito sentido eu regressar a um sítio onde a maior parte das pessoas me vai julgar. Eu sei que todos me odeiam, que irão falar de mim. Mas Hogwarts não era apenas o lar de gryffindors, ravenclaws e hufflepuffs. Eu sei que todos pensavam que os slytherin detestavam o lugar, que só o frequentávamos por ser necessário, e que só pensávamos voltar para as nossas mansões. Não era verdade, Hogwarts também era o nosso lar. O lugar que nos fazia esquecer os problemas familiares. – suspirou, antes de terminar – No fundo, resolvi voltar para onde sempre me senti bem, com esperança que algumas coisas melhorem.

– Oh! Eu não fazia ideia. – disse Hermione – Também pensava que vocês consideravam Hogwarts um desperdício de tempo.

– Bem, não vou negar que a Escola e as aulas eram um tédio. – Pansy riu de si própria – Mas, era ali que estavam os meus amigos, que eu considerava família. O nosso grupo era muito unido. Ao contrário do que pensam sobre os slytherin, somos leais uns aos outros, faríamos qualquer coisa por um dos nossos amigos. Mas depois veio Voldemort, e tudo mudou. Esta guerra arruinou essa nossa pequena família, para além das nossas famílias de sangue. Se houve alguém que perdeu no meio disto tudo, foram os slytherin. Hoje temos de viver quase escondidos, com vergonha, mesmo que não tenhamos feito nada. Mas a culpa foi nossa, das nossas escolhas.

– Mas, Parkinson, tens de reconhecer que realmente as vossas escolhas foram desastrosas. E sobretudo, vocês eram cruéis para todos nós em Hogwarts. É difícil acreditar que mesmo entre vocês, houvesse verdadeira amizade. Eu falo por mim, sempre pensei que vocês fossem incapazes de sentir fosse o que fosse. Peço desculpa se estava errada, mas era isso que mostravam. – Hermione disse, ainda confusa por estar a ter aquela conversa com Pansy Parkinson.

– Hermione, posso chamar-te assim? Também gostava que me tratasses por Pansy, se puder ser. ­– Hermione assentiu, e a outra continuou – Eu compreendo que pensasses assim, no teu lugar eu pensaria bem pior. Mas tens de entender que a maior parte de nós, sangues-puros, fomos educados para ser assim. Foi-nos dito para sermos distantes, a não criar laços. Que ter sentimentos é sinal de fraqueza, e um sangue-puro nunca pode mostrar que é fraco. Aprendemos também, que antes de ser rebaixado, devemos rebaixar os outros, a impor a nossa “nobreza” aos outros, para que nos respeitem. Agora diz-me, se crescesses assim, serias diferente?!

Hermione não sabia o que pensar. De facto, agora que ouvia a versão de Parkinson, não tinha mais certeza de nada. Parecia que a rapariga tinha voltado completamente diferente, mas segundo a própria, sempre teria sido assim, mas tinha sido educada a mostrar sempre um lado mais frio. Nada mais fazia sentido, mas Hermione estava decidida a saber mais pormenores. Queria saber mais sobre Pansy e sobre os outros slytherin. Continuava a ser a mesma curiosa de sempre, e ali estava mais um mistério que ela pretendia desvendar. Afinal, ela desconhecia muito sobre aquela casa e ainda mais sobre aquele grupo, e Pansy poderia contar-lhe algumas coisas. A julgar por esta pequena conversa, quem sabe as duas não se aproximariam.

Após uns minutos em silêncio, Hermione conseguiu finalmente responder à pergunta da linda rapariga, morena, que a observava:

– Realmente, eu não sei o que dizer. Antes julgava saber o que era certo e errado. Agora oiço a tua justificação e parece-me que vocês não tiveram sequer a hipótese de escolher. Eu fui educada na tolerância, aprendi a respeitar a todos, sem preconceito. No entanto, também fiz coisas más, também errei.

– A sabe-tudo certinha cometeu erros? Essa é nova. – Pansy sorriu para Hermione.

– Pois, afinal também sou humana, logo sou passível de errar. Por isso sou capaz de entender o teu ponto de vista. – Hermione olhou séria para Pansy.

As duas raparigas sorriram uma para a outra. Hermione chegou à conclusão que seria possível ser amiga de Pansy. Quando deu por si, já se encontrava a fazer perguntas à slytherin sobre a sua vida, sobre o seu passado, presente e futuro. E surpreendentemente, Pansy Parkinson ia respondendo e contando tudo, como se esperassem por isso há muito tempo. Hermione percebeu que Pansy precisava falar e desabafar, que estava tão sozinha quanto ela. Que precisava de uma amiga, tanto quanto ela.

Hermione mal precisava falar, Pansy falava pelas duas. A partir do momento que a gryffindor mostrou interesse, a slytherin não se calou. Falaram de assuntos banais e trivialidades, como o tempo, a duração da viagem até Hogwarts, os alunos mais novos que passavam a gritar. Mas ao fim de algum tempo, a conversa foi-se tornando mais séria.

Pansy revelou a Hermione que pela primeira vez na sua vida se sentia fragilizada, que não sabia como se comportar. E acima de tudo, sentia medo. Não era medo pela sua vida como tinha acontecido no ano passado, mas medo pela reacção das pessoas quando ela entrava numa sala. Tinha muito medo da rejeição, pela maneira como iria ser tratada em Hogwarts. Chegou até a rir de forma sarcástica, quando referiu que aquele era o seu karma, sentir na pele o que durante anos fez os outros sentir.

Agora, era a sua vez de estar ali sozinha e desprotegida, sem qualquer amigo e com a família longe. De qualquer maneira, teria de conseguir sobreviver, aprender a defender-se sozinha. E nisso ela sempre foi forte, não ia baixar a cabeça e permitir que os outros a humilhassem. Poderia não ser o melhor momento de Pansy Parkinson, mas o pior também já tinha passado, e que ninguém se atrevesse a rebaixá-la pelas suas más escolhas, ela era uma pura slytherin e iria ripostar.

Hermione sorria com aquelas palavras, era aquilo que ela também precisava fazer: esquecer a opinião dos outros e viver a sua vida. Por isso concordou com o discurso de Pansy, e silenciosamente houve um momento de compreensão. Acabaram por fazer um pacto, em que ambas se ajudariam para ultrapassar aquele ano. Já que seria um ano estranho para as duas, pelo menos poderiam contar com o apoio uma da outra, pois de certa forma, ambas se compreendiam. As duas tinham perdido com a guerra, e as duas tinham mudado e crescido nos últimos meses, naquele momento dependia delas reerguerem-se, e juntas seria mais fácil. Mesmo que fosse mais um facto estranho a juntar ao seu ano.

Sem conseguir resistir à sua própria curiosidade, e aproveitando o bom momento que atravessavam, em que partilhavam histórias, Hermione teve de perguntar à slytherin o que sabia dos seus amigos, dos que tinham desaparecido.

Parecendo que já estava à espera daquela pergunta, Pansy foi contando que desde que saíra de Hogwarts na noite da última batalha nunca mais vira nenhum dos seus verdadeiros amigos. Sabia de alguns colegas de casa pelo que lia nos jornais, mas do seu grupo de amigos, pouco ou nada sabia naquele preciso momento. Começou por contar sobre Goyle, de quem tinha recebido carta no verão:

– Não revelava onde estava, se era isso que pretendias saber – Pansy riu quando viu a expressão de Hermione, de quem tinha sido apanhada numa mentira, mas continuou, – Só dizia que estava bem, que lamentava o que tinha acontecido. Que estava triste pelo Malfoy e pelo Zabini. E que talvez um dia pudéssemos nos reencontrar e lembrar os tempos em que o nosso único problema era arranjar confusão com os gryffindor. O Goyle e o Crabbe sempre foram crianças grandes, muito músculo e pouco cérebro.

As duas riram do comentário. Mas ficaram sérias, quando se lembraram do que acontecera a Crabbe. Apesar de tudo, Crabbe também não merecia ter morrido, ninguém merecia.

A expressão de Pansy mudou, e de repente ficou tensa, o que não passou despercebido a Hermione. Esta compreendeu-a, afinal estava a recordar memórias dos seus amigos, e naquele momento, uns estavam desaparecidos, Draco estava preso e Crabbe morto. Pelo menos, Hermione conservava os seus amigos, se eles estavam longe era porque ela se afastara, não porque lhes tinha acontecido alguma coisa. Nem queria imaginar a situação de Pansy, voltar a um sítio onde sempre estivera rodeada pelas mesmas pessoas, mas nenhuma delas iria voltar, pelos piores motivos.

Os olhos de Pansy encheram-se de lágrimas, o que assustou Hermione, que não estava habituada a ver a outra rapariga mostrar emoções. Tudo aquilo era novidade para a gryffindor, que ficou sem reacção. Não falou nada, esperou apenas que Pansy continuasse, se quisesse. O que aconteceu:

– Desculpa, alguns acontecimentos são ainda demasiado recentes e custa lembrar deles. E obrigada por respeitares as minhas memórias, sem me julgares. Serias a última pessoa que eu achava que me ia dar uma oportunidade.

– Ora, Pansy, quem sou eu para te julgar. É verdade que nunca pensei estar aqui a falar, decentemente, contigo. Mas agora que estamos aqui, temos mais em comum do que seria esperado. Podes contar comigo para te ouvir, sem julgamentos.

Ambas se olharam nos olhos, sorriram com cumplicidade e acenaram com a cabeça, concordando silenciosamente, uma com a outra. Seria de esperar que as duas se dessem mal, que se detestassem. O que não seria de esperar é que em apenas tão pouco tempo, aquelas duas raparigas já se entendessem tão bem. Era uma surpresa para as duas, uma agradável surpresa.

– Também podes contar comigo, Hermione – continuou Pansy – sei que será difícil, mas espero um dia ser merecedora da tua confiança.

Hermione só lhe sorriu de volta. Ainda era cedo para dizer se seriam amigas, quanto mais se confiaria na outra rapariga. No entanto, também não era uma hipótese que iria descartar de imediato, pois sabia melhor que ninguém que não se podia programar o futuro. “Nunca digas nunca”, disse para si mesma, e respondeu a Pansy:

– Já estamos aqui a conversar como nunca estivemos, no futuro se verá, certo?

– Certo! – respondeu Pansy, sorrindo. Mas continuava de semblante triste.

– Passa-se alguma coisa, Pansy? Reparei que ficaste incomodada desde que começaste a falar dos teus amigos. Peço desculpa por te ter feito lembrar deles com as minhas perguntas. Falo sempre demais. – desculpou-se Hermione, sentindo-se responsável pela tristeza da rapariga que se encontrava à sua frente.

– Não tem problema, Hermione, – disse Pansy – não foste tu que me fizeste lembrar. Eu nunca me esqueço do que aconteceu, tento é não pensar constantemente no assunto. Ainda há muita coisa que ficou por resolver. Muitas perguntas sem resposta. Sabes o que me fez ficar aqui, nesta cabine, quando vi que estavas aqui?

Hermione acenou negativamente, afinal também ela se perguntava isso desde o início.

– Primeiro, pensei que era melhor escolher outra cabine porque tu não irias querer partilhar o mesmo espaço que eu, durante tanto tempo. Mas depois pensei melhor: se estavas aqui, em vez de estares com os teus amigos, é porque algo acontecera e tu preferias ficar sozinha. Como não te manifestaste contra quando me comecei a instalar, vi a oportunidade pela qual ansiava desde que decidira voltar para Hogwarts. – Pansy relatava o seu raciocínio detalhadamente.

– Hum, só um aparte, não aconteceu nada com os meus amigos. Está tudo bem com eles, eu apenas preferi viajar sozinha. – disse Hermione, aproveitando uma pausa de Pansy – De resto, eu fiquei surpresa por te ver aqui, e ainda mais por escolheres ficar, mas esta era a cabine onde costumavas viajar, por isso ainda fiquei mais surpreendida por não me expulsares. Não que eu fosse sair, mesmo que pedisses. – terminou, sorrindo.

Pansy riu.

– Tens de ter sempre a última palavra, como sempre. Eu estava apenas a contar-te aquilo que pensei, não quer dizer que estivesse certa. Começo a achar que somos mais parecidas do que pensávamos, somos duas teimosas, que teriam viajado aqui em silêncio, só para provar que tínhamos razão.

– Ah, isso podes ter certeza! – Hermione disse, e as duas riram – Mas podes continuar, desculpa ter interrompido.

– Curiosa! Eu sabia que eras curiosa, que irias querer saber de “nós”, - Pansy disse, fazendo aspas com os dedos – pois, eu também queria saber o que tu sabes sobre alguns de nós. Quando te vi, pensei imediatamente que poderias ajudar-me, mas quanto mais falávamos mais fui percebendo que também tu tens os teus fantasmas. E que deves andar um pouco desligada do que aconteceu aos “meus” amigos, pois foste tu que trouxe o assunto para a conversa, “subtilmente”. – e repetiu as aspas.

– Tens razão, fui muito pouco subtil. Mas sabes que o Goyle e o Zabini continuam a ser procurados. Eu precisava saber que tu não sabias onde estavam. Eu só soube o que o Harry e o Ron me iam contando, mas era pouco e eu não prestava muita atenção. – Hermione informou.

– E eu que tinha tanta esperança que vocês soubessem mais qualquer coisa. – Pansy agora chorava, mas continuou – Quando a Mcgonnagall me mandou embora, juntamente com os mais novos e outros slytherin, não me pude despedir sequer daqueles que eram meus amigos, e não vi sequer o Blaise.

– Zabini?! – perguntou Hermione – Tu e Blaise Zabini? Mas tu não namoravas com o Malfoy? É que eu sempre pensei que vocês eram um casal.

Pansy Parkinson não podia deixar de sorrir com aquela lembrança.

– Nunca namorámos, porque o Draco nunca quis prender-se a ninguém. Mas tivemos os nossos momentos quando eramos mais novos, era de conhecimento geral. – riu-se, enquanto se lembrava – Mas depois ele afastou-se de todos, e eu aproximei-me do Blaise. Eu e o Draco continuámos bons amigos, aliás, ele sempre foi mais amigo que outra coisa. É um irmão para mim. Entretanto, eu e o Blaise apaixonámo-nos e começámos a namorar no início do ano. Estivemos poucos meses juntos, pois logo no dia 2 de Maio aconteceu tudo aquilo.

– Não fazia ideia. Mas também, não tinha como saber, o ano passado foi complicado. Eu lamento mas não tenho notícias para ti. O Harry e o Ron contaram-me que os Goyle tinham fugido e estavam em parte incerta. Quanto aos Zabini tinham sido encontrados em Itália, disseram-me que os pais tinham morrido mas que o filho tinha fugido. É tudo o que sei.

– Pois, é o mesmo que eu. Ainda respondi ao Goyle, quando ele me escreveu, apenas para ver o que ele sabia. Mas é claro que não obtive resposta. Imagino que eles não fiquem muito tempo no mesmo lugar. – Pansy já não se preocupava em esconder as lágrimas – O Blaise escreveu-me duas vezes. Da primeira vez, dizia-me que ia partir com os pais, que não podia dizer para onde. Prometeu-me que daria notícias sempre que possível. Depois, fomos informados quando os pais foram mortos.

Hermione não pôde deixar de reparar que a rapariga dissera “foram mortos”, quase como se os Zabini tivessem sido assassinados. E apesar de Hermione ser contra as penas de morte, o facto é que eles morreram enquanto lutavam contra os aurores italianos, nunca se rendendo. Se o tivessem feito, quem sabe hoje estariam vivos, e Pansy saberia onde estava Blaise Zabini. Mas uma coisa era certa, não morreram inocentes. No entanto, Hermione preferiu não discutir esse detalhe com Pansy, compreendia a sua dor.

– Então ainda recebeste notícias dele? Depois que fugiu? – Hermione não se conteve quando percebeu aquele pormenor.

– Mais ou menos, – respondeu Pansy – a data da última carta é do mesmo dia em que foram interceptados pelos aurores italianos, em que os pais morreram e ele desapareceu. Dizia apenas que estavam bem, e que estavam à procura de um sítio seguro onde se instalar, talvez depois nos pudéssemos encontrar. Depois, tudo descambou. – a slytherin parecia em pânico – Hermione, eu sei que eles fizeram muita coisa mal, mas os pais do Blaise não mereciam morrer. E o Blaise não merecia passar por isso. Ficou sozinho, sem ninguém para o ajudar.

Pansy parecia descontrolada, o que assustava Hermione, mas logo se recompôs. E continuou:

– Os meus pais têm feito de tudo para o encontrar, à parte dos aurores que o procuram. E digo-te sinceramente, que por vezes, preferia que o encontrassem e o prendessem em Azkaban, pelo menos saberia onde estava. Mas, não vou ser hipócrita, ainda tenho esperança que os detectives que os meus pais contrataram, o encontrem primeiro. Juro-te que fugiria com ele, sem pensar duas vezes. Mas ele não aparece, não dá notícias. Eu nem sei se ele está vivo. – a rapariga soluçava.

Hermione estava lívida, sem reacção. A rapariga que estava à sua frente e que chorava copiosamente, não podia ser a mesma que a tinha atormentado durante 5 anos de escola. A Parkinson que ela conhecia era fria, calculista, e nunca transparecia emoção. Aquela que partilhava a cabine com ela, era apenas mais uma rapariga que perdera os amigos, e o namorado durante a guerra, uma rapariga triste, mas forte ao mesmo tempo. Era uma nova Parkinson que ela descobria, e de quem podia ser amiga.

Hermione clareou a voz e tentou acalmar Pansy:

– Sabes?! Sempre ouvi dizer que se não há notícias, são boas notícias. Afinal as más notícias correm depressa, e se algo tivesse acontecido já saberias. – A gryffindor ficou espantada pelas suas próprias palavras, de repente estava a dar esperanças a uma slytherin que esperava fugir com o seu namorado que era procurado por aurores. Alguma coisa estava muito errada. Mas pareceu-lhe o mais correcto naquela hora.

Pansy Parkinson pareceu acalmar-se. Sorriu e assentiu com a cabeça, parecendo querer assimilar aquelas palavras e chegando à conclusão que tinham alguma razão.

As duas raparigas sorriam. Sem saber ambas pensavam em como aquela situação era caricata. Ambas teriam amaldiçoado quem lhes dissesse que um dia as duas teriam uma conversa tão civilizada, e até se sentiriam confortáveis ao falar uma com a outra.

– Só voltei, porque tenho esperança que o Blaise me tente contactar aqui! – confessou Pansy, num sussurro – Eu sei que é o mais improvável, mas tenho uma réstia de esperança que ele volte. Era aqui que nos sentíamos seguros. E se ele aparecer, deixo tudo para trás. – terminou piscando-lhe o olho, com cumplicidade.

Hermione riu, a rapariga à sua frente só podia ser louca. Ainda no ano anterior a tinha maltratado por ela ser sangue-de-lama, e agora estava ali a confidenciar-lhe que planeava fugir com o seu namorado “fora-da-lei” assim que tivesse oportunidade. Sem sequer se importar que Hermione fazia parte do “Trio de Ouro” e que podia facilmente denunciá-la. A confiança que a slytherin lhe demonstrou naquele momento, fê-la pensar que talvez fosse bom tê-la como aliada, e por isso decidiu ficar calada.

– E como vão as coisas com o Potter e o Weasley? – perguntou de repente Pansy, despertando Hermione dos seus pensamentos, não conseguindo esconder o choque da pergunta. – Pergunto apenas porque os vi na Estação, mas presumo que não tenham entrado no comboio, senão estarias com eles.

– Ou talvez não! – Hermione respondeu tão baixinho que Pansy poderia não ter ouvido se não estivesse atenta, e interrogou-a com o olhar, Hermione só percebeu depois o que tinha dito e tentou corrigir, - Ah está tudo bem, eles escolheram trabalhar e dispensar o último ano em Hogwarts, e eu escolhi voltar. Nada de mais.

Parkinson sorriu com o embaraço de Granger, percebendo claramente que algo havia mudado entre o grupo inseparável de amigos.

– Compreendo se não quiseres falar ou contar-me o que aconteceu, mas não penses que sou uma tonta. Dá para perceber claramente que algo mudou. Porque estarias aqui, sozinha, quase disfarçada, enquanto os teus amigos se despediam na Estação? Porque é que estás na cabine dos slytherin e não junto de todos os gryffindor? Não és a única atenta aos detalhes, Hermione, e muito menos és a única curiosa. Mas tudo bem.

Hermione abria cada vez mais os olhos, enquanto Pansy falava. Realmente, as duas tinham mais em comum do que pensavam. A slytherin tinha feito uma leitura bastante precisa e correcta da sua postura.

– É demasiado complicado. – recomeçou Hermione – A guerra mudou-nos a todos. Eu percebi que tinha deixado de viver muita coisa por causa das nossas aventuras constantes, ao longo dos nossos anos em Hogwarts. Durante o verão, percebi que nunca seria eu própria se não terminasse os estudos. E como o Harry e o Ron não queriam voltar, eu decidi que voltava sozinha. Mas o Ron não aceitou muito bem. Eu e ele começámos a namorar em Junho passado. – Hermione falou tudo de forma repentina, como se esperasse há muito tempo por dizer aquilo tudo, omitiu alguns pontos, mas no final sentia-se bem.

– Ena! Estou a ver que houve muitos desenvolvimentos durante o verão. Acho que não foram os únicos, mas teremos muito tempo para conversar, quando te sentires preparada! – a rapariga de cabelos pretos piscou-lhe o olho, e continuou – Tu e o Ron Weasley? Bem, admito que não estou surpreendida. Se não fosse o Weasley seria o Potter. Aliás, devo dizer que era uma pequena piada entre nós, slytherin. Tínhamos até uma pequena aposta entre nós sobre qual dos dois escolherias. Desculpa, - dizia entre risos – mas eu sempre apostei no Potter. Pelo menos sempre tinha o estatuto do “Rapaz que sobreviveu”.

Pansy ria com gosto, tentando controlar-se. Mas quanto mais tentava, mais ela gargalhava. O ambiente ficou mais leve, e acabou por contagiar Hermione. Chegou um momento que já nenhuma sabia porque tinha começado a rir. Fazia-lhes bem rir, parecia-lhes que tinha passado uma eternidade desde a última vez que tinham rido com vontade.

Quando pararam, inspiraram fundo e olharam, quase ao mesmo tempo, pela janela da cabine para a paisagem que passava. Depois de um momento em silêncio, como que acordando de um sonho, Hermione confessou à slytherin que ela própria se sentira muitas vezes confusa, mas que no fundo sempre soube que o que sentia pelo Ron era mais que amizade, e que Harry era como um irmão. Não sabia porque o tinha feito, mas era quase como se tivesse a necessidade de mostrar que também confiava na rapariga. Afinal, Pansy também lhe contara alguns dos seus segredos.

A viagem ia passando, com tanta conversa, que as duas raparigas mal deram pelo tempo passar. Foram apenas interrompidas pela senhora com o carrinho dos doces, compraram o suficiente para passarem o resto da viagem a comer. E entretiveram-se a comer e a conversar sobre o que fariam naquele ano.

Hermione acabou por confessar a Pansy que também se sentia sozinha desde há uns tempos. Mesmo que a sua situação fosse diferente da slytherin, e os seus amigos continuassem por perto, sentia que todos se distanciavam, muito por sua culpa. Ela escolhera isolar-se, contava que os seus amigos compreendessem e respeitassem as suas escolhas. Ela acabou por contar que se sentia incompreendida pelos amigos que sempre tivera, principalmente por Ron. No fundo esperava que aquele afastamento clarificasse o que sentia, e que depois pudessem continuar a sua vida. Porém, Hermione omitiu que os seus pais tinham falecido na Austrália, e tudo o que ela descobrira durante o verão. Precisava ter mais confiança em Pansy para tal.

À medida que o Expresso de Hogwarts avançava em direcção a Hogsmeade, Hermione e Pansy iam descobrindo mais pormenores da vida uma da outra. Iam-se conhecendo, e percebendo o quão parecidas sempre tinham sido. Talvez por isso sempre tivessem chocado de frente. Agora, com o mundo completamente mudado, e com novas circunstâncias, as duas percebiam que podiam iniciar uma amizade, baseada em compreensão. Não sabiam o que o futuro lhes reservava, mas naquele momento acreditavam que poderiam tornar-se amigas.

Foi no meio de muita conversa, que Hermione teve coragem de perguntar a Pansy sobre Draco Malfoy. Desde que este tinha sido preso, que Hermione sentia que precisava conhecer melhor a história do slytherin, pois para ela havia muitas peças naquele puzzle que não encaixavam.

– Pansy, falaste do Goyle e do Zabini, mas mal falaste sobre o Malfoy. O que lhe aconteceu? Desde que foi preso que me questiono sobre a forma como o encontraram. E depois o julgamento. Eu não estava presente mas contaram-me que ele estava mudado.

– E o que te interessa o Malfoy? – Pansy assumiu uma atitude defensiva – Vocês sempre se deram mal, odiavam-se. O que lhe aconteceu não te diz respeito. Ele está preso, a pagar por todos os crimes que cometeu. E a meu ver está a pagar demasiado caro, por actos que ele foi forçado a cometer. Como te disse, não é como se tivéssemos muitas escolhas. Nós éramos crianças, fazíamos o que nos mandavam. O Draco não tinha qualquer hipótese, ou ele fazia o que lhe mandavam ou… – calou-se abruptamente, quando percebeu que tinha falado demasiado.

– Dizes que eu não tenho nada a ver, que não preciso saber, mas não é bem assim. – disse Hermione – Eu estive na Mansão Malfoy naquele período negro. Fui torturada pela Bellatrix no salão enquanto a família Malfoy assistia. Mas mesmo após tudo isso acontecer, nunca culpei o Draco. – Hermione nem se apercebeu que utilizara o primeiro nome do slytherin, e continuou – Quando chegámos à mansão, o Harry estava irreconhecível por causa de um feitiço que eu lhe tinha lançado, porém o Malfoy reconheceu-o, mas não o denunciou. Se o Harry sobreviveu, foi porque o Malfoy escolheu protegê-lo. Desde aí, soube que há coisas que não consigo compreender no teu amigo. Só estou a tentar perceber.

– Sempre o mesmo Draco! – Pansy sorriu – Dizia que não se importava. Tratava toda a gente, mesmo os slytherin, como se fossem seus subalternos, pois ele era o um príncipe puro-sangue. Mas no fundo ele era um menino assustado na maior parte das vezes, principalmente durante este último ano. Ele nunca conseguiu esconder esse seu lado de mim. Às vezes tínhamos ideias para prejudicar os outros alunos, mas era sempre o Draco que nos controlava quando as ideias eram mais perigosas. – ela sorriu de canto.

– Então mas que aconteceu afinal quando foi capturado?! Eu não entendo, ainda hoje, tudo aquilo que o Harry e o Ron me contaram. Não condiz com a posição do Malfoy, mesmo que ele fosse diferente, que se tenha arrependido. Não sei. Parece-me que há algo mais. – Hermione insistia em querer saber mais.

Pansy sorria com a curiosidade de Hermione.

– Compreendo a tua curiosidade, a sério que sim. Mostra carácter da tua parte em querer saber mais sobre uma pessoa que sempre te atormentou. Mostra realmente a tua alma gryffindor que de certa forma se preocupa com um colega de escola que sempre te odiou. Mas eu não posso contar-te nada, também não sei muita coisa. Mas o que sei não é meu para contar. Talvez um dia, se continuares interessada, o possas perguntar directamente ao Draco.

– Eu não estou interessada, apenas curiosa. – Hermione corrigiu Pansy, não queria que a rapariga pensasse que ela tinha algum interesse naquilo. Era apenas a sua enorme curiosidade, que a fazia sempre falar demais.

– Ok, ok, já percebi. Mas tens de compreender o meu lado, não posso trair a confiança do meu melhor amigo. Quem sabe um dia tudo se saiba. – ­Pansy falou, ao ver a cara daquela rapariga que se tornava aos poucos uma amiga, que ela bem precisava – A única coisa que posso dizer é que escrevi ao Draco quando ele já estava em Azkaban, e ele respondeu. Não contou muita coisa, nós usávamos um código, mas não dava para grandes explicações. Disse que estava bem, mas eu não acredito, Hermione. O Draco não vai aguentar um ano naquele lugar. Ele não merecia um castigo tão grande.

Hermione sentiu-se culpada por deixar a Pansy novamente de lágrimas nos olhos. A sua curiosidade era avassaladora, ela não a conseguia controlar. Mas já tinha descoberto mais qualquer coisa: o Malfoy escondia um segredo relativo à sua prisão, e Pansy sabia do que se tratava.

Com esta definitiva questão, ouviram o apito do Expresso, avisando que Hogsmeade já estava perto. As duas raparigas mal tiveram tempo para irem trocar de roupa e vestir o uniforme de Hogwarts. Quando o comboio parou, as duas estavam prontas para sair para a plataforma. No entanto, pararam, olharam uma para a outra e prometeram que aquela viagem não seria esquecida, e que conversariam em breve. O pacto estava firmado.

Quando saíram finalmente, os alunos do primeiro já tinham sido encaminhados por Hagrid para os barcos que os levariam até ao Castelo. Hermione e Pansy olharam em seu redor, e notaram que ainda havia alguns alunos que olhavam admirados os thestrals, iam começar a procurar uma carruagem, quando alguém chamou Hermione. Esta virou-se e viu três caras amigáveis, e sorridentes.

Ginny Weasley, Luna Lovegood e Neville Longbottom saudaram-na com entusiasmo. Mas fecharam a cara quando viram Pansy atrás de Hermione.

– O que é que ela está a fazer a aqui? – Ginny disse de forma brusca.

Pansy despediu-se de Hermione e disse-lhe que falariam noutro dia. A gryffindor percebeu que a slytherin estava a tentar evitar discussões, logo na chegada a Hogwarts. Por isso, enquanto se encaminhava com os antigos companheiros para a última carruagem disponível para os quatro, e vendo que estes se preparavam para a bombardear com perguntas, Hermione resolveu chamar a atenção dos amigos:

– Antes que façam demasiadas perguntas, para as quais possivelmente não terei resposta, deixem que vos diga, que muita coisa mudou desde o ano passado. Nós não somos mais os mesmos. Eu mudei. Nós todos mudámos. Por isso, não façam perguntas sobre a Parkinson. Durante a viagem nós as duas resolvemos estabelecer tréguas, e evitar discussões. Acho que vocês deveriam fazer o mesmo, não estou a pedir-vos para serem todos amigos, apenas quero que este ano seja diferente.

Hermione virou costas e entrou na respectiva carruagem, sendo seguida pelos três amigos.

Ginny, Luna e Neville pareciam um tanto ou quanto chocados com o discurso que tinham ouvido de Hermione, mas não puderam dizer fosse o que fosse. Sempre que abriam a boca eram silenciados com um dedo no ar.

Quando eles iam falar, a pequena viagem já tinha terminado e Hermione já tinha saído, dirigindo-se para o interior do Castelo. A sua curiosidade teria de ficar para depois. Correram atrás da rapariga, e juntos caminharam até ao Grande Salão, para o primeiro jantar em Hogwarts depois da guerra. Sem Dumbledore, sem Harry, sem Ron. Sim, este seria um ano diferente.


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Notas finais do capítulo

Se encontrarem erros, avisem-me! Se não compreenderem alguma coisa, deixem nos comentários ou enviem MP.

Links:
Look de Pansy Parkinson: http://www.polyvore.com/as_cr%C3%B3nicas_de_hermione/set?id=112240260

Personagens Recorrentes:
http://ascronicasdehermione.tumblr.com/

Espero que tenham gostado! Deixem a vossa opinião.. :)
xoxo
dani