NICK

Fiquei a noite inteira acordado, e eu sei que não fui o único. Eu estava na cozinha quando vi ela descer pela escada com um cobertor e se sentar no sofa começando a mudar os canais. Acho que ela não percebeu que eu estava lá ou se percebeu, preferiu me ignorar.

Comecei a mexer no celular, eram quase 04:00 da manhã.

–Nick? O que ta fazendo aqui?

LANA

Eu não conseguia dormir, não parava de pensar na conversa com a Lisa, ou na briga com ele. Desci pra ver televisão, pra ver se eu conseguia dormir. Não funcionou.

Comecei a ficar com sede e quando entrei na cozinha, vi ele sentado mexendo no celular, e imaginei que como eu, não conseguia dormir.

–Nick? O que ta fazendo aqui? -ele pareceu se assustar comigo e não respondeu -Desculpa, eu te assustei?

–Não, não, tudo bem -ele apontou pra cadeira na frente dele.

Me sentei e ficamos nos encarando como se ambos estivéssemos arrependidos.

–Não consegue dormir? -perguntou.

–Não e você? -ele negou com a cabeça -Tá aqui a muito tempo?

–Mais ou menos meia hora.

–Então você me viu -apontei a sala.

–Vi -ele sorriu e olhou pra sua caneca -Você quer? -estendeu em minha direção e eu assenti.

–Obrigada -tomei um gole -Ta muito gostoso -ele riu.

–Pode tomar -falou quando eu tentei devolve-lo.

–Você que fez? -não, ele contratou alguém pra fazer chocolate quente às 04:00 da manhã.

–Foi.

Ficamos alguns minutos em silencio. Eu tomando o delicioso chocolate quente e ele girando uma moeda sobre a mesa.

–Porque sempre brigamos? -ele perguntou de repente e eu quase engasguei.

–O que? -tossi.

–Eu fiquei pensando nisso. Por que será que sempre brigamos? -ele falou sorrindo e olhou pra mim.

–Eu não sei, Nick -fiquei triste por voltar no assunto.

–Eu queria saber. Porque se eu soubesse eu faria de tudo pra evitar brigar com você.

–Não da pra entender algumas coisas -tomei outro gole.

–Como por exemplo eu estou achando você encantadora com essa boca toda suja -ele sorriu e me estendeu um guardanapo.

–Você está me cantando à essa hora?

–É como uma cortesia -ele piscou.

–Você... Você lembra quando me levou à Ponte? -perguntei indiferente.

–Claro que eu lembro -sorriu -Por que?

–Você vai levar ela la? -minha voz falhou.

–Ela quem?

–Selena -ele parou de sorrir no mesmo instante.

–Por que eu a levaria la? -ele pareceu bravo.

–Porque eu abri minha boca aquele dia -me amaldiçoei mentalmente.

–Eu não levaria ninguém la alem de você -ele falou calmo e continuou a girar sua moeda.

–Serio?

–Serio.

–Então podemos ir la outra vez?

–Seria um prazer -ele me fez sorrir.

–Gostei quando me explicou sobre as estrelas.

–Quer ver as estrelas?

–Agora?

–Eu sei o caminho pro telhado.

–Eu adoraria -ironizei.

–To falando serio -ele levantou -Quer ver as estrelas?

–C-claro -ele sorriu e me conduziu ate a escada que dava no sótão.

–Vem Lana -falou quando eu parei de subir atras dele.

–Nick...

–Deixa eu levar seu cobertor -ele pegou da minha mão e continuou subindo as escadas.

–Você se empolgou -comentei enquanto ele abria uma janela pequena que dava ao telhado.

–É so um bônus -riu -Cuidado -ele me ajudou a subir e me entregou duas cobertas.

–Onde achou a outra? -perguntei enquanto ele subia.

–Aqui em baixo -ele passou pela janela todo desajeitado -Ta frio aqui -me cobriu com uma coberta e pegou a outra pra si.

–Aqui não é perigoso? -me acomodei mais perto dele.

–Só se voce pensar que é -o olhei -Viva o momento. Talvez ele vire lembrança ou talvez rotina -ele sorriu orgulhoso do que acabara de falar.

–Me fala sobre elas -ele me olhou.

–Eu sei que aqui não é como a ponte, mas tambem... -ele parou.

–Qualquer lugar que possamos ver as estrelas é um bom lugar -ele riu.

–Você não pode ficar tão bonita assim sabia?

–Me fala sobre as estrelas -insisti.

–Deixa eu ver... Sabia que as estrelas são de cores diferentes? -ele olhou pro céu -Parecem que todas são pequenos pontinhos brancos e brilhantes mas elas tem cores diferentes.

–É maravilhoso -olhei pra elas -Sabia que seus olhos parecem o céu de noite?

–São tão escuros assim? -brincou.

–Não! É que são brilhantes -ele me olhou e eu pude observar mais seus olhos -São cinzas, mas é como se tivessem um milhão de estrelas neles.

–Seus olhos são claros, tão claros que posso ver o céu brilhando por eles, mas não há estrelas, eles ja tem um brilho próprio -acho que corei como nunca -Seus olhos são irresistíveis.

–Achei a resposta pra sua pergunta.

–Qual pergunta?

–Porque sempre brigamos?

–Me diga.

–Porque pessoas apaixonadas fazem coisas tolas -lembrei do que Lisa me disse. O olhei e ele sorria.

–Vou quebrar todos os limites da tolice então.

–Então somos dois -eu disse voltando a olhar o céu.

–Dois? -ele perguntou com a voz alegre.

–Dois -confirmei sorrindo e deitei a cabeça no ombro dele.

–Um belo "dois" -ele disse e eu sorri -Cheios de surpresas.

–E sustos.

–E sorvetes.

–E açaís -ele me olhou.

–E ataques zumbis.

–E garotos de 17 anos.

–E garotas lindas.

–E garotos... Bobos.

–Ei! -nós dois rimos -Pelo menos não tenho medo de andar de avião.

–Pelo menos eu não vomito nos navios.

–Pelo menos -ele me analisou por um tempo -Eu não sinto cócegas -levantou as mãos como se fosse inocente.

–Não faz isso -pedi mas ele se aproximou mais -Estamos no telhado, Nicolas -me agarrei a ele com medo de cair.

–Eu jamais deixaria você cair -ele me abraçou rindo.

–Babaca -comecei a rir.

–Larga de ser chata -ele se deitou e eu me acomodei em seu ombro -Vem, vamos contar as estrelas.

–Uma -apontei -Duas, três...

–Sete, oito -ele me atrapalhava.

E assim passamos os minutos mais rápido, eu tentando contar as estrelas e ele me atrapalhando falando outros números.

Infelizmente não consegui ficar acordada ate o sol nascer então quando comecei a dormir no ombro dele, ele me acordou e me levou pra cama.

–Boa noite, linda -ele beijou minha testa e eu sorri ao ouvir ele voltar a me chamar assim.

–Boa noite, Nick.

E depois disso, eu realmente apaguei.