Prólogo 

Claire estava em pé, olhando confusa a paisagem atrás de si. Uma floresta em um relevo com um grande pinheiro no final - não sabia como havia chegado ali.

- Está escutando? - só então percebeu que sua irmã ,Charlie, estava do seu lado. - Estão vindo.

- Quem? Eu não escuto nad... - sua fala foi interrompida por inúmeras sombras se movimentando rapidamente entre as árvores. - O que é aquilo? - apontou para um garoto, mas não um garoto comum, ele só tinha um olho.

Sua irmã a olhava como se fosse uma idiota por estar perguntando aquilo e continuou parada, enquanto mais pessoas e seres chegavam de todos os lados.

Quando finalmente pararam em fila, como os soldados no filmes de guerra já vistos por ela, um garoto loiro e alto com cara de rabugento gritou:

- Agora! Conheçam o poder de Roma, seus gregos imundos!

No minuto seguinte ambos os lados avançaram e a única coisa que Claire pode ver, foi a escuridão.

I never wanted everything to end this way,

But you can take the bluest sky and turn it gray.

I swore to you that I would do my best to change,

But you said it don't matter,

I'm looking at you from another point of view,

I don't know how the hell I fell in love with you,

I'd never wish for anyone to feel the way I do.

POV tocava no despertador da garota problemática, enquanto a mesma tentava tampar os ouvidos com o travesseiro. Não obtendo sucesso, abriu lentamente os olhos e olhou ao redor. Seu quarto era simples, como de qualquer outra garota de dezesseis anos. Suspirando, levantou-se da cama e começou a se arrumar para ir á escola. Após fazer sua higiene matinal e colocar seu uniforme, olhou-se no espelho e fez uma careta desgostosa, nunca seria bonita o suficiente, mas estava feliz assim.

Seu cabelo era liso, repicado em camadas até o ombro e castanhos claros, nunca gostou muito deles, eram comuns de mais. Já seus olhos eram um mistério para si mesma: possuía cílios longos e os olhos de um castanho-esverdeado, ora eram verdes, ora amendoados. Seus traços delicados a tornavam razoável, de acordo com seu padrão de beleza.

Olhou as horas em seu celular, colocou os fones de ouvido no máximo  e começou a ir em direção a escola, que não ficava muito longe de sua casa. No caminho começou a pensar em como era estranha, indecisa e covarde, sempre teve medo se expressar ou de ser igual as outras pessoas, morrer sem fazer nada pelo mundo. Sempre odiou coisas monótonas e era justamente assim que sua vida estava no momento.

E ainda havia aquele sonho que a perseguia de tempos em tempos e quanto mais procurava em sua mente algo relacionado a isso, mais confusa se sentia.

- Será que nunca vai acontecer algo de interessante? - Pensou alto antes de suspirar pesadamente e entrar no prédio principal de seu colégio.

~*~

Charlotte olhava a chuva caindo pelo vitral colorido da torre leste do Orfanato Saint Barnabe. Odiava aquele lugar, odiava todos naquele lugar, odiava a pessoa que a colocara naquele lugar e odiava principalmente a ideia de que talvez nunca saia daquele lugar. Sempre foi assim e todos os seus dezesseis anos, por que agora seria diferente? Estava fadada a permanecer naquele lugar úmido e sombrio até a idade que a Irmã Bernadette julgasse que ela estivesse apta a cuidar de si mesma.

What were all those dreams we shared

Those many years ago?

What were all those plans we made

Now left beside the road?

Behind us in the road

More than friends I always pledged

Cause friends they come and go

People change as does everything

I wanted to grow old

Just want to grow old

Pearl Jam tocava em seu iPod no último volume, a ponto de deixar Charlie surda. Mas ela não se importava, contando que o som alto de The End inundasse sua audição e seus pensamentos a ponto de conseguir esquecer o sonho estranho vinha a perseguindo há meses. Afinal, ele não havia sentido algum! Claire? Quem seria Claire? E por que um raio de sonho tinha que lhe dizer que ela tinha uma irmã? Aliás uma irmã que se difere em muito com ela. Ok, nem tanto, mas Charlie se recusava a acreditar nisso. Diferente da garota que aparecia em seus sonhos, ela tinha os cabelos curtíssimos e cacheados, mas percebeu, depois de semanas revivendo o mesmo sonho, que era a única diferença entre elas.

Ao menos na aparência. Os mesmos olhos castanhos-esverdeados, o mesmo nariz meio arrebitado, a mesma boca fina e até mesmo a mesma altura não muito favorecida. Era quase que impossível acreditar que pudessem ser gêmeas. Charlotte não queria acreditar nisso, afinal, como nunca soube que tinha uma irmã? Sua mãe ou seu pai não seria capaz de abandonar uma e ficar apenas com a outra! Seria?

E então quando Someday, Nickelback, começou a tocar, Charlie prometeu a si mesma que não deixaria que essas perguntas a deixassem louca, mesmo que fosse essa sua rotina de todos os dias em Saint Barnabe.

Someday, somehow

gonna make it alright but not right now

I know you're wondering when

(You're the only one who knows that)

Someday, somehow

gonna make it alright but not right now

I know you're wondering when