Era uma vez uma boneca de porcelana. A mais linda de todas. Tinha pequenos cachinhos dourados e lindos olhos azuis. Seu vestido era costurado a mão, era rosa claro cheio de babados delicados.

A pequena boneca ficava em uma das inúmeras prateleiras de uma loja de brinquedos. Ela estava sempre sorrindo, pois tinha certeza que se continuasse a sorrir alguém a compraria. Mas o tempo foi passando e nada. A boneca de porcelana se esforçava para ser escolhida, para que alguém gostasse dela. Sorria com todas suas forças, mas parecia não adiantar.

Ela via todos os brinquedos serem vendidos, e novos serem colocados em seus lugares. Era torturante.

Então um dia, uma menininha de fita azul no cabelo, tirou a pequena boneca da prateleira e a mostrou, sorridente, para a mãe.

“Olhe mamãe, como é linda! Me deixe ficar com ela!”

A mãe pegou a boneca e a devolveu para a estante.

“Não filha. Ela é frágil. Bonecas de porcelana quebram. Pegue uma Barbie.”

A menina correu até a prateleira ao lado e logo escolheu uma linda boneca com cauda de sereia.

A pequena boneca de porcelana sentiu seu coração se despedaçar. Estava muito triste. Mesmo assim, ela não se permitia deixar de sorrir.

Depois de muito tempo a boneca foi para o estoque. Um lugar escuro e empoeirado. Onde ficavam os brinquedos que não eram comprados.

Apesar disso, a boneca continuava a sorrir, tinha esperança que um dia seria feliz.

Alguns anos se passaram e o dono da loja morreu, dando lugar ao seu filho. O rapaz foi até o estoque e viu a linda bonequinha de porcelana. Encantado com a delicadeza da boneca decidiu colocá-la na prateleira novamente.

A pequena boneca se viu, novamente, na estante. Cercada por diversos tipos de brinquedos, que a todos os instantes, eram escolhidos.

Ela continuava sorrindo esperançosa e ansiosa para logo deixar aquele lugar.

Os dias começaram a passar. Então os meses. E nada.

O rapaz estava triste, pensando que teria que devolver a bonequinha ao estoque, quando uma bela moça se interessou pela boneca. O rapaz resolveu dar a boneca de porcelana para moça, sabia que não conseguiria vendê-la.

A moça agradeceu feliz, e foi pra casa. Colocou a bonequinha em cima de uma bela prateleira de mármore com alguns vasos de flores.

A boneca estava mais feliz que nunca. Tinha sido escolhida! Tinha um lar! Se divertiria ao lado de sua nova amiga. Seria amada. Mas ela não percebeu que, novamente, estava em uma prateleira. Sozinha.

A moça só queria que ela fosse um enfeite.

A frágil boneca se sentia vazia, mas pelo menos, tinha um lar. Apesar da imensa tristeza, continuava sorrindo. Fazendo seu papel de enfeite, assim continuaria ali, não seria descartada.

Certo dia a moça recebeu algumas amigas e seus filhos para um café da tarde. As crianças, em meio a brincadeiras, acabaram derrubando, sem querer, a pequena boneca de porcelana no chão.

A moça não se importou muito, afinal, não tinha pago por ela.

O rostinho da boneca ficou todo estragado. Sua bochecha se esfolou e a boca foi despedaçada. Os cachinhos dourados viraram um emaranhado com cacos de porcelana. A bonequinha não era mais linda e delicada. Era apenas porcelana estragada.

A mulher sentiu dó da peça que, antes fora tão linda, agora estava monstruosa. Sem cerimônia, pegou a boneca e a jogou no lixo.

A frágil boneca agora, em meio ao lixo, estava suja, quebrada e fedida.

“Como uma boneca linda como eu, teve um estado tão lamentável? Eu era a mais linda de todas e agora sou a mais feia, mais horrorosa.”

Sentiu frio, mergulhada naquela escuridão imunda, e tudo que pode pensar foi:

“Ao menos não preciso mais sorrir.”