Porque ás vezes você tem que abrir mão de uma coisa para dar espaço para a chegada da outra. – Clarissa Corrêa.

 

 

Dias haviam se passado desde a chegada inusitada das quatro viajantes, Nárnia estava em perfeita harmonia como era de costume. Apenas alguns ataques foram notificados, causados por tumultos com Gigantes do Norte. As garotas acostumaram-se com demasiada rapidez ao local, Isabele tinha como hobby apostar corridas com Júlia pelos campos do reino, Allessandra aproveitava para ler ou cultivar flores no vasto jardim, enquanto Mariana saía para treinar com sua espada, ou para caçar com os soldados. Na última caçada ela conseguira duas escoriações no braço e nas costas e um veado grande.

— Você enlouqueceu, Mariana? - perguntava Katy, desesperada ao ver o estado lastimável da garota. - Céus, você ainda vai me deixar louca. Venha, vamos limpar esses ferimentos .- a senhora à guiou até o quarto da jovem, lhe preparou um banho quente e fez os curativos. Caspian estava viajando numa rápida exploração de algumas ilhas recém-descobertas.

Depois de cuidada, limpa e alimentada Mariana se juntou as amigas na sala de jogos do castelo, local que Caspian as mostrara alguns dias antes.

— Cara, pensei que estivessem brincando quando comentaram o que você fez. - disse Júlia - tu é louca ou o que?

Mary se limitou a rir e sentar-se de frente para Alle, que arrumava um tabuleiro de xadrez. Isabele estava entretida lendo um livro qualquer que achara na biblioteca.

— Foi divertido. - respondeu a jovem simplesmente.

— Divertido? Deixa o rei descobrir...

— Eu deveria descobrir o quê? - a voz de Caspian soou risonha, fazendo o coração de Mariana disparar como louco. Ela não precisava virar para saber que ele estava próximo dela, seu cheiro já havia impregnado o ambiente.

— Ah majestade, que bom que voltou. - antes que alguém pudesse se pronunciar, Katy apareceu na sala, por um momento o silêncio reinou no local, todas sabiam que ela não deixaria passar o que Mariana fizera... E não deu outra, a governanta contou ao rei o que se passara em sua ausência, sem esquecer-se de mencionar as escapadas da jovem que acompanhava toda a narrativa em silêncio, no final, o moreno olhou-a com uma sobrancelha arqueada, como se questionasse a veracidade dos fatos, no silêncio da resposta, ele se limitou a chamar Mariana para conversar a sós.

— Antes que me repreenda pelo que eu fiz, quero alegar em defesa dos demais que caçar é um esporte muito estimulante, os guardas não queriam me levar, mas ainda assim fui e aúnica alternativa que tiveram foi me acompanhar. - a menina desembestou a falar assim que passou pela porta do escritório, Caspian mal teve tempo de pensar em algo quando ela disparou a falar.- Então se quiser me culpar, vá em frente.

— Não vou repreendê-la. - a constatação pegou a menina desprevenida, fazendo-a recuar um passo - Não concordo com sua atitude, poderia ter-se machucado seriamente... Mas acho que foi bom para você ter esse tipo de aventura. - ele sorriu contido.

— Certo, então... Nada de ordens, repreensões ou algo do tipo? - ainda desconfiada Mariana o olhou com os olhos semicerrados, desta vez ele gargalhou, negando veemente em seguida.

— A não ser...

— Eu sabia. - resmungou a baixinha suspirando em seguida, já preparada para a próxima bronca.

— ... Que saia para caçar comigo. - os olhos dela brilharam, ele notou - Descobri uma ilha belíssima perto da costa de Myriades, pensei que você gostaria de desvendá-la. - sem perceber, ele havia acabado de admitir que pensara na jovem enquanto viajava. Um sorriso iluminou as feições da moça, que por pouco não se atirou nos braços do rei.

A relação entre Caspian e Mariana era o que todos chamavam de perfeita união, corriam boatos nos corredores do castelo e até no vilarejo que eles poderiam ser um casal, o que de fato era o sonho de grande parte da população narniana. Quando não estava ocupado com trabalho ou explorações, o rei convidava a jovem para cavalgare pelo reino, visitar o vilarejo e apostar corrida com os cavalos. Assim como Julia e Benson, que estavam juntos sempre que podiam.

Allessandra e Isabele reservaram-se apenas a acompanhar as duplas quando podiam, outras vezes limitavam-se em atividades individuais.

O Sol já ia alto no céu quando o som dos cascos dos cavalos de batalha romperam o silêncio da manhã, a corrida desenfreada parou aos portões do castelo de Cair Paravel. Benson partiu apressado em busca do rei, que agora ia de encontro aos visitantes com as quatro hóspedes em seu encalço, as portas foram abertas com estrondo.

— Mas o que se passa aqui, afinal? - o tom autoritário de Caspian mostrava qual sua verdadeira função naquele lugar, um líder nato.

— Forasteiros. - respondeu Benson, cansado. Não foi preciso perguntar se quem se tratava, os olhos castanhos do rei seguiram a linha direta até o portão onde ele à viu. Cabelos castanhos, olhos verdes brilhantes, lábios rosados e expressão sutil... Linda como sempre, Susana Pevensie estava olhando-o de volta.

— Mas... Como? - as perguntas se perderam na mente do rei. Os reis e as rainhas do passado, os antigos governantes de Nárnia estavam de volta à Cair Paravel.

O momento estava sendo estranho para as meninas, primeiro eles estavam reunidas tomando café da manhã com o rei, e no momento seguinte estavam vendo quatro pessoas chegando e causando burburinho pelo lugar. Caspian perdeu a compostura ao se deparar com uma bela mulher.
Os dois se abraçaram como se suas vidas dependessem disso. Uma outra moça tomou o lugar da primeira, essa com uma aparência mais jovem, ela o cumprimentou e se afastou para que os dois homens pudessem fazer as honras. Os olhos de Allessandra fixaram-se na figura loira e esguia que tinha a mão estendida para Caspian; já Isabele não pode conter um suspiro ao ver o estranho de olhos castanhos e cabelos escuros que sorria para os demais. Fossem quem fossem, elas precisavam saber de quem se tratava.

— Quem são elas? - a pergunta fora feita pela primeira mulher que abraçara Caspian, o moreno esteve tão distraído que por alguns minutos esqueceu-se de suas hóspedes.

— Elas são minhas hóspedes. - Caspian rapidamente recuperou a compostura e os bons modos. - Estas são Allessandra, Isabele, Júlia e Mariana. - ele gesticulou para cada uma delas, identificando-as. - Garotas, estes são Pedro, Edmundo, Susana e Lúcia Pevensie, os antigos reis e rainhas de Nárnia. - sem perceber, os olhos castanhos ficaram cálidos ao dizer o nome da rainha gentil, um ato que não passou despercebido por Mariana. Não era preciso palavras, ela sabia que algo havia acontecido entre eles, e pelo modo que a tocava com tanta gentileza, isso ainda não havia chegado ao fim.