Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 18
Opostos


Notas iniciais do capítulo

Oioi ♡
Veio terça e tarde ainda por cima, desculpem, mas realmente não consegui postar ontem!
Obrigada por todos os comentários, vocês são perfeitos, muito obrigada!
Boa leitura, espero que gostem do capítulo ♡



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"Sou um apreciador dos opostos, das diferenças.
Se fosse para eu apaixonar-me por uma pessoa em tudo parecida comigo, eu namoraria com o espelho."Augusto Branco

Era estranho, mas a sensação daquele lugar era inimaginável.

Eu e Lucas descemos pela escuridão por muito tempo, mais do que posso imaginar e eu sentia tudo. Quanto mais próximos estávamos do solo, mais eu podia sentir o coração de Lucas acelerar, não só seu coração, mas sua alma, eu podia senti-la. Quando finalmente alcançamos o chão eu tive certeza do porque tinha sido enviada para o submundo, tudo aqui me lembrava coisas boas, mesmo isso soando não muito ao meu favor, era a mais crua e nua verdade.

Tive que invocar os ventos para não cairmos em um rio que se estendia ao final da travessia. É claro, o Rio Estige onde todos os mortos passam para chegar verdadeiramente ao mundo dos mortos. Pensei em manipular a água para passarmos, mas lembrei das lendas gregas: Os antigos tinham seus corpos queimados com um moeda sobre cada um dos olhos, assim quando chegassem ao reino de Hades teriam como pagar um barqueiro, cujo trabalho era transportar os mortos. Tínhamos de ter a ajuda do barqueiro, torci para que tivéssemos alguns dracmas (obs: para quem não sabe dracma é a moeda usada na Grécia antiga).

Comecei a procurar perturbada pelo tal barco, mas não por muito tempo, apenas segui o olhar de Lucas que estava posicionado na pesada figura preta que ocupava a maior parte do meu atual campo de visão, não imaginei que teria tão facilmente essa sensação aqui em baixo, mas fui atordoada pelo medo. Nunca imaginei que o barqueiro pudesse ser assim, tão sombrio. Lembro que uma vez imaginei que seria um gordinho, de barba mal feita e mal humorado, que ficasse insultando a todos que não tivessem dinheiro para a travessia. Mas essa figura não era nada parecida com o que imaginei.

Percebi que estava perdendo a linha de raciocínio, não movi um músculo sequer, senti que se movesse a criatura avançaria, como uma cobra. Para nossa sorte, porque eu não queria descobrir o que aconteceria se não pagássemos logo, Lucas pegou quatro dracmas de seu bolso e entregou a figura, que não disse nada em resposta, apenas estendeu o braço para o fundo do barco de forma a sinalizar que nossa entrada era permitida.

Reino de Hades - é tudo o que consigo dizer, espero que ele tenha entendido o comando.

Começamos a nos mover e tive que resistir a tentação de não colocar minhas mão na água, pois por mais que aquele lugar me fazia bem ainda sentia falta da água e do céu, como o céu me faz falta. Por quê não coloquei as mãos na tal água? Tive a sorte de lembrar que o Rio Estige simplesmente lava todas as suas memórias, retira até o último resquício de lembrança do seu ser, mas além disso sentia como se a água fosse diferente, pesada e com certeza nada convidativa.

Você está preparada para isso? - Sinto o rosto de Lucas contra minha bochecha enquanto diz baixinho.

Não sei - é tudo que consigo dizer. A verdade é que tinha passado muito tempo pensando em como meu pai, pelo menos um deles, reagiria quando me visse pela primeira vez, mas não pensei como eu reagiria a isso depois.

Nenhum de nós disse mais nada durante toda a travessia, o que me deu tempo para olhar o lugar, admirar. Era estranho e eu sinto que devo ser uma pessoa desprezível por isso, mas o local me encantou, qualquer um pode dizer que o inferno é onde se é torturado, massacrado e até mesmo eliminado por completo, mas não se pode negar a grandiosidade de tudo isso. Conforme passávamos pelo rio eu pude ver tudo: tribunal dos mortos, Campos de Asfódelos, Campos Éliseos, até mesmo um lugar pelo qual não me associei imediatamente, pressupus que era a entrada para o Tártaro. Será que minha mãe estava ali em algum lugar? Será que eu estaria nos Campos Elíseos algum dia? Acho que é impossível passar por esse lugar sem sonhar ou temer com o que vem após a morte.

Subitamente lembrei de Lucas e me senti culpada no mesmo instante que meus olhos cruzaram os seus por não ter prestado a devida atenção nele antes. Não sei ao certo o que aconteceu e também não tive muito tempo para pensar sobre o assunto, mas sua pele estava muito pálida, todo o brilho que sempre teve mesmo quando estava torturado, tinha desaparecido como se nunca tivesse existido. Ele tremia de forma descontrolada e mesmo distantes eu podia sentir que sua pele ardia em febre.

Lucas - coloco a mão em seu rosto de forma com que olhe para mim -, o que aconteceu?

O Sol - é tudo que ele consegue dizer e eu não entendo em um primeiro momento, mas logo fez sentido. Obvio, Lucas é filho de Apolo, não se sai bem em locais onde não há Sol e eu o trouxe para o submundo, ótimo.

Ei! - digo alarmada - foque na minha voz - ele ia desmaiar - LUCAS! - desesperada, comecei a bater no seu ombro de forma a mantê-lo acordado -. Ei fica comigo, você não vai me deixar agora, tudo bem? - Ele tremia mais, mas estava acordado, então eu o abracei e deixei que repousasse a cabeça no meu ombro. - você vai ficar bem, falta pouco.

Não sei o quanto devagar o tempo passa quando mais estamos precisando, porque parece que ele desacelera, a única coisa que não diminuiu foi minha ira por Cronos (obs: Cronos é o titã do tempo haha). Se Pecy não tivesse te eliminado titã cruel, penso, eu mesma o faria.

O barqueiro não disse uma palavra se quer e também não aparentou menor interesse, mesmo o estado de Lucas se mostrando deplorável. Vi ao longe torres pretas, só podia ser, tinha de ser a casa do meu pai. Conforme íamos nos aproximando pude ver mais claramente o lugar e não consegui evitar um suspiro. Era um castelo enorme inteiramente preto, tudo envolvido realçava sua grandiosidade e acentuava a visão sombria, que deveria assumir para qualquer um menos para mim. E talvez Nico, me critico em silencio pela atitude que mostrei com meu irmão.

Quando finalmente chegamos o barqueiro abre passagem para podermos sair e volta para seu ponto de início, sem nenhuma palavra. Lucas estava branco como papel e seus cachos estavam grudados na testa devido ao suor que se acumulava perante seu estado febril. Tive um pouco de dificuldade em ajuda-lo a se mover, mas com muito custo chegamos ás portas do castelo. Devíamos estar no ponto mais alto de todo submundo e aqui em cima a respiração se tornava mais fácil, o que fui muito grata uma vez que podia ouvir em alto e claro som a respiração pesada e ofegante de Lucas sobre meu ombro.

Eu não bato na porta, ela se abre sozinha para mim e somos recebidos por nada mais nada menos do que cães infernais. Uma risada brotou na minha garante e não me contive. Não que os monstros fossem engraçados, nada perto disso, eram grandes e volumosos marrons ou pretos. Sua boca exibia presas que conseguiriam atravessar com facilidade minha coluna e seu olhar exibia exclusivamente crueldade, contudo a situação se tornou ridícula, eu já tinha enfrentado tanta coisa e meu grande desafio para entrar no castelo de meu pai seriam cães infernais?

Nunca cheguei a descobrir o quão divicil seria verdadeiramente enfrentá-los e confesso que não tenho vontade de saber o que eu faria se o fizessem, a verdade é que assim que olharam para mim se retiraram insatisfeitos, rosnando muito, como se não tivessem permissão de me tocar ou como se eu fosse intocável, a possibilidade me fez estremecer.

Acho que no final você vai acabar mesmo conhecendo meu pai - digo para distrair Lucas, que não parecia muito melhor -. Vem, aqui nada vai te acontecer -, entremos pelas portas e elas se fecharam sozinhas fazendo um ruído que me fez arrepiar inteira. E de repente, tudo ficou preto.


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Notas finais do capítulo

Ai Lucas, sos!
Barbie gostando do submundo ♡
Espero que tenham gostado, e não esqueçam de deixar seu comentário, seja ele positivo ou negativo, o importante é deixar sua opinião, xoxo :D
Sarah