Estava ajoelhado em frente a senhorita, auxiliando-a a calçar os sapatos cor de sangue. Fitou-a após calçar a segunda sapatilha, percebendo que ela o fitava com curiosidade, seu rosto de boneca muito próximo ao dele, o seu único olho visível cintilava na órbita. Sinner sentiu o rosto esquentar, surpreso consigo mesmo por ter aquela reação.

– O seu rosto está avermelhado. - Observou a garota, sua voz tão delicada e frágil quanto seu pequeno corpo. Keira levou as mãos frias até a pele quente das bochechas de Sinner, fazendo com que a sensação de formigamento aumentasse com o toque da moça. - Está tudo bem, Sinner?

– Sim, Keira-ojou-sama. - Respondeu-lhe prontamente, sua voz firme e polida como de costume.

Continuou ajoelhado na frente de sua senhorita, sentindo o gelo das mãos delicadas corromper a quentura de suas bochechas. Mesmo estando sobre seus joelhos, ele era um pouco mais alto que a senhorita sentada. A ausência repentina to toque frio nas maçãs de seu rosto o assustou, fazendo-o emergir de seus pensamentos.

– Sinner. - Escutou-a chamar-lhe, enquanto se mantinha ajoelhado em sua frente, observando enquanto ela se levantava da cama, agora um pouco mais alta que a figura ajoelhada de seu servo.

– Sim, Keira-ojou-sama? - Perguntou-lhe em tom cortês, abaixando a cabeça e fitando o vermelho dos sapatos dela.

– Eu sou apenas uma marionete, não é? - A intensidade da pergunta o fez erguer os olhos, quase que imperceptivelmente arregalados, e encarar a face da garota que encarava as próprias mãos abrindo e fechando-se diante de seu olho.

Abriu e fechou a boca várias vezes, sem conseguir exprimir uma resposta. Percebendo o choque e a tensão do servo, a Einzbern forjou um sorriso em seu rosto esculpido. Tomou o rosto do servo entre as mãos pequenas novamente, encarando-o diretamente nos olhos.

– Não se incomode em me dar uma resposta que já sei. - Disse-lhe, de sua maneira cheia de inocência e sofreguidão, debruçando-se sobre o mordomo, aproximando os lábios rosados da pele do homem.

Os lábios macios da senhorita tocaram a testa de seu mordomo, fazendo com que o coração dele oscilasse com tal ato inocente e delicado, que nenhum outro Einzbern ousara fazer. Em seu peito uma vontade crescia, a primeira vez que tinha uma ânsia pessoal depois das duas décadas de submissão. Ansiava por salvar Keira de algum jeito, talvez como Kiritsugu havia salvado Irisviel, talvez não. Havia algo que aquele homúnculo despertava nele, que ele nem mesmo sabia existir dentro de si.