Epitáfio escrita por Ana Carol M


Capítulo 1
Capítulo 1




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Concordo com quem diz que só após você perder tudo o que tem, é que realmente encontra a liberdade. Se em algum momento houvesse outra opção com certeza eu a teria escolhido.

Acredite ou não, minha vida começa com minha morte. O que geralmente as pessoas não sabem é que às vezes, nós, já falecidos, voltamos. Não somos zumbis, nem queremos devorar cérebros humanos. Mas temos o que chamamos de uma sobrevida, o que no final quer dizer que há consequências. É uma vida quase comum, afinal somos quase humanos, pelo menos um dia fomos. O problema é esse quase.

Há dois tipos de “pessoas” da minha espécie, os que são mais fortes de dia e os que ficam mais forte à noite. Ser do bem ou ser do mal é uma escolha privada e não depende do que está brilhando no céu. Porém na nossa espécie em algum momento você acaba cedendo para o outro lado. Não quer dizer que será permanente, é apenas instinto.

Eu morri à noite e por isso sou mais forte com a lua. Acordei em um caixão literalmente a sete palmos no chão. Eu ainda me sinto tão viva quanto me sentia na época, então é claro, entrei em pânico e fiz o maior escândalo pra sair de lá.

Quando senti a umidade noturna foi instantâneo, foi como se uma enorme energia tomasse conta do meu corpo e com isso arrebentei a tampa do caixão e sabe lá onde foi parar a terra que estava me cobrindo. Percebi que estava em um cemitério, o que de certa forma me deu um alívio quase psicótico, por saber que eu não estava no laboratório de algum maníaco.

Fui buscar informação na minha lápide, mas ela estava em branco. Portanto, eu não sabia meu nome, quem eu era, ou tinha sido um dia, quem havia me enterrado e nem porque eu estava ali. Sai do buraco, formalmente chamado de cova, minha cabeça estava entrando em combustão. Carregava um colar no pescoço e usava uma camisola de seda branca que estava tomada pela terra. Era uma noite fria e a única luz que havia era a da lua, eu estava histérica e irritada, poderia facilmente bater em alguém.

Felizmente em cada cemitério do mundo há o que chamamos de guias. Eles vigiam os túmulos para que, quando alguém de nós volta à vida, possa nos situar da nova realidade. No meu caso ele se chamava Thomas e estava a três lápides de distância encarando a lua. E talvez, por esse motivo eu não tivesse jogado uma pedra na sua cabeça e saído correndo.

– Isso é tão louco não é? – disse ele com a voz rouca e depois riu com deboche.

– Quem é você? – foi só o que minha mente completamente embaralhada conseguiu transmitir em palavras. Mas a questão que mais importava era quem era eu?


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