Beatriz (Bia)

Já sentiu como se do nada o seu mundinho feito de cristal simplesmente quebrasse em um curto tempo, e você não pudesse fazer absolutamente nada? Como se tudo que você lutou durante muito tempo, agora fosse um erro que cometera? Um erro que você se amaldiçoa, mas que sabe que não poderá voltar atrás, até porque, não se pode voltar no passado não é mesmo?

— Querida? — Olhei para cima e deparei com a minha mãe.

— Sim? — Perguntei enquanto enxugava as lágrimas que teimavam cair.

— Tem certeza que não quer ficar? — Perguntou-me carinhosamente.

— E-eu n-não posso — Digo deixando as lágrimas rolar pelos meus olhos.

— Claro que pode querida, talvez se você desse a chance do Simon se explicar...— Começa tentando o proteger.

—Você está do lado de quem? — Alterei enquanto me levantava de forma irritada — O que ele fez simplesmente não tem perdão, e eu NUNCA VOU PERDOAR ELE! — Gritei a última parte, o que fez com que várias pessoas que se encontravam naquela rodoviária nos olhasse. Mas não era como se eu estivesse ligando para o que eles achavam, por mim eles que se fodessem. E não estou nem aí se ela palavra existe, porque estou puta e tenho o direito de inventar palavras.

— Beatriz — fala minha mãe em tom de súplica.

— Quer saber vou ao banheiro — declaro usando isso como desculpa para escapar dali, antes que acabasse fazendo alguma besteira.

Enquanto andava em direção ao banheiro, me senti como se todos olhassem para mim, talvez por causa do meu “pequeno” grito, mas a única coisa que fiz, foi levantar a cabeça e passar por todos eles como se eu fosse superior... Mas eu não era. Eu tinha defeitos assim como todas as pessoas e ainda por cima eu tinha ele na minha vida, ou melhor agora já não tinha mais.

Foi só o tempo de chegar ao banheiro e as lágrimas começaram a cair freneticamente. Sorte minha que não encontrava-se mais ninguém no banheiro, até porque seria apenas mais um para ver Beatriz Andrade e sua ruína. Sim minha ruína, apenas isso que eu me tornei desde que o conheci, uma ruína total.

Fui até o espelho e o que eu vi me assustou... Quando foi que deixei de me reconhecer? Quando foi que o meu “eu” começou a mudar? Quando deixei de ser eu mesma? Não sabia responder aquilo e tudo só fez com que me sentisse mais frustrada ainda. Frustração essas que levaram à lembranças de horas antes.

— Então o que tem no envelope? — Ele perguntou vendo provavelmente meu rosto de alegria se transformar em horror.

— Como foi capaz de fazer isso? — Indaguei saindo de perto dele, ainda com o envelope nas mãos.

— Isso é o que? — Inquiriu se fazendo de desentendido, falso, cretino e idiota.

— Como você tem a cara de pau de perguntar O QUE É? — Explodi já no meu último nível de irritação, jogando para ele aquelas fotos. Fotos que mostravam ele e a Sabrina em momentos íntimos.

— Bia, e-eu...e-eu — Gaguejou, o que só me fez ter mais certeza da verdade.

— COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COMIGO?— Grito em pleno pulmões.

— Amor calma, eu posso explicar — Disse tentando se aproximar.

— Não chega perto de mim! — Urrei. As lágrimas começando a rolar — Ah e é claro que você quer se explicar, mas não tem como explicar o fato de você ter me traído. — Acuso e nesse momento, percebo minha mãe chegar a sala.

— N-não , Bia por favor não é o que você esta pensan...

— CHEGA ! — Grito — Olha só pra você Simon. Negando o que está tão óbvio. Essa atitude é tão repugnante quanto você! - Limpei uma lágrima furtiva, não queria parecer abalada perto dele, mesmo que por dentro eu estivesse desmoronando. - Nós estávamos tão bem. Fizemos tantos planos e esse tempo todo eu fui a única, outra vez, a levar as coisas à sério. Estou cansada de ouvir explicações! Você já vacilou uma vez. Será que você não cansa de mentir não? Eu só não entendo como você pôde ser capaz de fazer isso comigo! Porque justo comigo? Eu não merecia isso. — lamentei começando a me sentir mal. Era uma dor que nenhum médico ou cientista conseguiria curar. Era a dor de ter o meu coração em pedaços.

— Alguém pode me explicar o que está ocorrendo aqui? — minha mãe questionou nos olhando abismada, mas não a respondi. Apenas corro para o quarto de cima, mas ainda pude escutar o Simon gritando e minha mãe tentando acalmar ele... Não deveria ser eu a ser acalmada? Mas não liguei para isso, apenas me joguei na cama e ali fiquei por muito tempo. Era como se meu coração quisesse sair do peito. Era como se ele não estivesse suportando a dor e começasse a estraçalhar, pouco a pouco, e chegasse uma hora que ele se quebraria por completo.

Horrível tudo isso. Já falei sobre o amor? Sabe, não tenha medo de manter um pé sempre atrás quando você amar... Perfeição demais é algo errado. Ninguém pode ser tão perfeito e eu jurava, mesmo assim, que ele era. Como algo que você tem certeza em um minuto, pode simplesmente mudar no minuto segundo? Por que Deus estava fazendo aquilo comigo? Será que estaria me castigando de alguma forma? Ou aquilo seria apenas o destino trançando o rumo da minha vida mais uma vez e mudando meu destino drasticamente?

Eu já não sabia de nada, até porque tudo do que tinha mais certeza se desfez com apenas umas fotos, e naquele momento o resto não importava mais. Na verdade nada mais me importava.

Ouvi a porta se abrindo e logo em seguida o colchão se afundar, os dedos da minha mãe logo entraram no meu cabelo, me acalmando um pouco.

— Shiu querida, não chore. — recomendou calmamente.

— Eu não quero mais ficar aqui — falei do nada, mas eu sabia que aquela era a mais pura das verdades.

— Tudo bem, você não precisa ficar.— respondeu e continuou me ninando.

Lembrar de tudo aquilo não foi bom. Na verdade a cada segundo doía mais e mais, e novamente mais borrões passaram através da minha mente. O momento em que eu decidi que era melhor irmos embora sem ninguém saber de nada ( mesmo sobre os protestos minha mãe aceitou) já que o Simon tinha sumido depois da conversa que tiveram. O momento em que eu arrumei as coisas apressadamente, a hora em que escrevi uma carta para a Sophie e meu pai. Em seguida lembro-me de ver minha mãe chamando o Joseph para nos levar, e depois o Lipe chegando perguntando o quê tinha acontecido. Minha mãe contando com poucas palavras para ele, o Lipe me abraçando e me confortando como um amigo de verdade; depois ele e seu pai nos trazendo para cá, mesmo os dois achando que era errado sair do jeito que estávamos saindo, eu me despedindo do Pi e pedindo para ele não contar nada a ninguém enquanto a gente não embarcasse e, por fim, só por fim, apenas a solidão me restou. A solidão e as lágrimas.

— Oi... Você está bem ? — Quando olhei me deparei com a Luana, uma daquelas amigas da Sabrina, que fazia perguntas meio sem saber se deveria fazer, no jogo.

— Sim, estou. — Respondi me levantando do chão, o qual eu nem me lembrava de ter sentado.

— Tem certeza? — Insistiu parecendo estar realmente preocupada.

— Sim tenho — Disse limpando meu rosto, logo que a água fria foi em contado com ele, eu me senti mais calma.

— Ah que bom — Respondeu dando um meio sorriso, mas saiu um tanto nervoso esse sorriso.

— Bem, acho que vou indo — Falei depois de ver que meus olhos iam continuar inchados por um tempo.

— Ah sim — Concordou enquanto eu passava por ela em direção a saída.

— Beatriz? — Chamou e virei em sua direção.

— O que foi? — Perguntei ao ver sua cara de confusão.

— Ah nada não — Falou rapidamente —Apenas queria te desejar que sua viagem até o Rio seja boa. — Respondeu, mas por algum motivo eu senti como se ela fosse falar outra coisa. Só não dei importância para isso, assim como não dei importância para o fato dela saber que eu estava indo embora, sem ninguém ter contado a ela.

— Ah muito obrigada — Agradeci dando o assunto como encerrado e saindo apressadamente dali.

Logo que coloquei os pés para fora do banheiro, me senti menos sufocada, e prometi para mim mesmo que a partir daquele momento, meu objetivo na vida seria um só: Esquecer o Simon.
(...)