Nem preciso dizer que minha noite não foi das melhores. Aliás, dizer isso seria modéstia. Minha noite foi uma droga. Primeiro porque Ryan era um fofo e queria me agradar, o que me deixava com a maior consciência pesada. Segundo, bem, o refrão que Nick cantava não me saía da cabeça, nem sua carinha triste quando saí de casa.

Droga, droga, droga.

Mas, o que eu ia fazer? Não tinha outra alternativa. Seria melhor pra nós dois. Teríamos que nos afastar de qualquer jeito. Melhor que fosse assim. Pelo menos até cairmos na real que éramos irmãos e que não podíamos ter nada mais além de amor fraterno.

Mas, vai dizer isso pro coração. Eu estava sofrendo, e eu sentia e sabia que Nick também estava. Por que isso tinha que acontecer com a gente?

Quando cheguei, a casa estava às escuras. Na certa todos já tinham ido dormir. Entrei em silêncio e fechei a porta da sala, e já me preparava pra subir as escadas, quando ouvi meu nome sendo sussurrado no escuro.

"Kelly."

Congelei. Meu coração acelerou. Mas ele não me chamou de novo. Virei-me e vi Nick sentado, ainda ao piano. Ele não olhava para mim. Não olhava para lugar nenhum. Estava com a cabeça apoiada nos braços, em cima do piano. Me aproximei e sentei-me ao seu lado.

"Você demorou..." foi apenas o que ele disse, sua voz quase inaudível. E não levantou a cabeça para me olhar. Continuou cabisbaixo. Tive vontade de acariciar-lhe os cabelos, como sempre fazia quando ele estava triste, mas me contive. Aquela não era uma situação como as situações de sempre. Era um momento diferente em nossas vidas.

"Nick... eu..."

"Não precisa dizer nada, Kelly, eu entendo." Sua voz estava triste e baixa.

"Nós não podemos... não podemos..." eu não conseguia dizer. Simplesmente não podia pronunciar as palavras, não conseguia.

"Eu amo você, Kelly." Ele falou, desta vez erguendo a cabeça e olhando diretamente para mim. Seus olhos tinham olheiras e estavam vermelhos, mas ele não estava chorando. Não naquele momento.

Ficamos em silêncio, um olhando para o outro, sem dizer nada. Não havia nada a ser dito.

Suspirei.

"Eu não sei como isso veio a acontecer" ele tentou continuar, desviando os olhos dos meus. "Era como se você sempre estivesse ali para mim, e eu não devesse me preocupar. Aí, chegou o Ryan, e então eu percebi que não suportaria te ver com outro cara. Eu não suporto."

Ele se levantou. Eu fiz o mesmo.

"Nós não podemos mais continuar dessa forma." ele encerrou. "Temos que tentar nos separar."

"Nick, somos irmãos. Vivemos na mesma casa, temos o mesmo pai e a mesma mãe, estamos no mesmo colégio. Não podemos nos separar."

"Vamos escolher faculdades diferentes. Pronto. E viajaremos. Ficaremos longe um do outro até que possamos superar isso."

Olhei para ele em silêncio por um tempo. "Eu não quero me separar de você..."

Ele venceu a distância entre nós, me abraçando.

"Eu também não, Kelly! Eu também não." Ficamos abraçados algum tempo, até que ele beijou minha testa e se afastou de mim. "Mas nós precisamos."

Olhou para mim mais uma vez e subiu para seu quarto. E eu fiquei sozinha ali, no meio da sala, no escuro.