Antes que eu pudesse perceber, estava atirada no chão, ao lado de Gina, gritando de dor. Era como se cada centímetro do meu corpo estivesse sendo rasgado. Quando olhei para o lado, Harry corria na nossa direção. Bellatriz ficou sem entender o que estava acontecendo, até que me reconheceu. Recebeu-me com um sorriso sarcástico.

– Ora, ora... A Granger resolveu aparecer! – ela disse rindo. – E o Potter também!

Fiz um enorme esforço para me levantar e empunhar a varinha, a maldição provocava uma dor excruciante. Mas eu suportei uma vez, suportaria de novo.

Resolvi que não aguardaria ela perceber que eu iria lutar.
– Expelliarmus! – gritei e a varinha dela veio parar em minhas mãos.

Bellatriz não estava tão astuta quanto antes.
– Como ousa! – ela rosnou e sacou a faca.

Harry estava muito ocupado tentando reanimar Gina e a levantar. Decidi que essa luta seria minha.

Sorri, mesmo que doesse.
– Lestrange! Quanto tempo! – falei.

Ela se voltou para mim.
– Sabe a confiança que eu ganharia se te capturasse, menina? – ela foi direto ao ponto.

– Faço ideia. – eu disse.

Bellatriz fraquejou.
– Pois bem! Ele enlouqueceu meu filho, se eu levasse você até ele... – ela me encarou – Ele podia curá-lo.

– Lestrange, caia na real, é Trevor. – alertei-a.

Ela levantou os olhos.
– E é a ele que devo servir. Expelliarmus! – ela gritou.

Eu já esperava que ela tivesse outra varinha.
– Protego! Estupefaça! – gritei.

Enfim, eu estava louca. Eu estava duelando com uma das bruxas mais temidas de todos os tempos. Foi quando a porta do Grande Salão se abriu. E vislumbrei Draco, Zabini e Nott entrarem correndo, o que me rendeu uma distração que podia ter me matado com as maldições que ela soltava.

Mas agora Bellatriz estava de costas para a porta, então não veria nada. Ela estava no meio de um Cruccio quando Draco murmurou “Estuporo!” e ela voou longe, batendo a cabeça na mesa da Sonserina.

Respire, Hermione. Ela já se foi.

Virei-me para ele.
– Antes que você brigue comigo, Draco, era Gina quem estava em perigo e...– eu disse.

Draco passou direto por mim, indo falar com Harry.
– A maioria deles desistiu e está voltando para a floresta, não houve mortes, foi apenas um susto. – ele disse. – Cuide da sua namorada, e se não for pedir demais, toma conta dessa doida ali. – ele apontou pra mim.

– Não é pedir demais. – Harry acenou com a cabeça.

Então, a ficha finalmente caiu.
– Você... Você vai agora?

Draco, que estava me ignorando, finalmente se virou pra mim.
– Tente não morrer. – ele pediu.

– E se você morrer? – eu perguntei.

– Ei Granger, se o Draco morrer eu mando uma coruja! – Nott falou, fuzilei-o com o olhar e ele pareceu se encolher.

Chutei o banco. Eu odeio despedidas!
– Como vou encontrar vocês se eles sabem do plano? – eu lembrei.

Zabini me encarou.
– Granger, saiam antes. Não esperem as férias terminarem. – ele disse.

– Ou melhor, não esperem elas começarem. – Draco falou para mim.

Abaixei o olhar para o chão.
– Não torne isso uma despedida, por favor. – eu falei, derrotada.

Draco suspirou e caminhou até mim.
– Não pense que é uma.

Então, ele envolveu a minha cintura me trazendo mais para perto dele. Nossos olhos se encontraram e percebi que enquanto eu me segurava para não chorar, ele estava desesperado. Era nosso ultimo momento juntos antes de ele ir, minhas mãos foram instintivamente para seu cabelo e finalmente, ele me beijou. Senti que o mundo desapareceu ao nosso redor, senti borboletas no estomago como se fosse a primeira vez, senti que a nossa sensação de perda um dia iria nos sufocar.

Não foi como nenhum outro, a única descrição que tenho a fazer é que nesse momento, eu pude ver o quanto amava aquele cara e o quanto ele me amava. E não era pouco. Senti que até onde não cabia amor, tinha. Afinal, amor só cabe onde não há cabimento.

Quando nos separamos, o abracei com força, e ele retribuiu imediatamente. Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve. E com esse pensamento, antes que as lagrimas viessem, encostei minha testa na dele.

Por fim, ele se afastou aos poucos. Foram segundos que pareceram anos.

Permaneci parada, no centro do Grande Salao, tentando parecer forte sabendo que estava a ponto de desmoronar.

O último adeus escorreu e não coagulou. Não tornaríamos isso uma despedida... Nos nossos rostos, nossos olhos amargos derramavam o silêncio e o medo de não nos vermos nunca mais. Quando ele saiu por aquela porta e olhou para trás, senti gosto de ar na boca, sensação de morte no estômago. E o arrependimento da frase não dita, do beijo não dado, da desculpa não aceita. Metade dele foi, e metade minha ficou; senti que queria gritar enquanto minha boca e a dele sussurravam palavras distantes. As palavras saiam junto com todos os órgãos vitais. A verdade é que o último adeus escorre, e não coagula.

E quando a porta se fechou, eu fechei os olhos, tentando não esquecer nenhum detalhe dele. Tentando não lembrar que ele estava indo para sua morte.

Permiti que uma lagrima escorresse, mais nada. Agora eu via que meu mundo tinha ido, que ele é a minha paz e a guerra ao mesmo tempo. Só ele me viu de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade, meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser forte o bastante. Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira. Mesmo em pouco tempo, não é o tempo que define o grau de importância das coisas, é o que você sente.

Abri os olhos.

Enfim, nesses últimos segundos antes de ir para a Torre de Astronomia avisar os outros, prometi a mim mesma que mandaria Trevor para o lugar de onde nunca devia ter saído e cruzado meu caminho, para o inferno.

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