Timeless Moons escrita por Omoplata Errada


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde Red Beauty's! E espero que não só, óbvio =P

Antes demais tenho de desejar um feliz dia a todos nós, shipers de bom gosto, e uma leitura ainda mais feliz, quente, gostosa, fofinha, divertida, e tudo mais que eu possa conseguir trazer de bom até vós enquanto apreciadores destas duas lindas.

E sem mais delongas, Happy #RedBeautyBDay!

http://www.youtube.com/watch?v=qnCpyerhMu8

ps. - Paçocas pra Marina, Muffins de amora pra minha omo! ahahaha



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Belle’s POV

Não é engraçado como a vida é repleta de surpresas? Bem …não sei de fato se a palavra mais apropriada é “engraçado”, mas hoje, neste dia tão especial para mim, não me ocorre nenhuma outra que seja mais certeira em significado. Aliás, nem mesmo nos mais grossos e completos dicionários da minha biblioteca eu poderia achar as palavras certeiras e apropriadas para especificar o que foi essa surpresa grandiosa na minha vida. Ruby.

Ela não vem especificada no dicionário. Ela não vem contemplada nos livros que mais tarde deram lugar a uma coisa incrível que se chamam “filmes”, sendo exibida no cinema de Storybrooke no mais recente clássico reciclado do conto da Bela e a Fera. E não é engraçado?

Oh Deus, como me sinto tonta. Será que não encontro outra palavra alternativa mais inteligente na minha coleção infinita de livros? Hoje não encontro.

Mas voltando lá atrás, quando estava ainda tentando fazer algum sentido, quero falar o porquê do hoje, dia 21 de Outubro, ser um dia tão importante para mim.

*** FIM do POV ***

Desde que o alter-ego de Belle se havia apossado da mente da castanha, Ruby nunca mais tinha conseguido se aproximar da amiga. A cada dia que passava, mais angustiada a mulher-loba se encontrava por ter perdido uma das coisas que ainda lhe faziam sorrir dentro da fatalidade com que a sua vida sempre houvera sido preenchida.

Belle estava longe, se é que ainda estaria em algum lado dentro dos recantos do cérebro de Lacey. Olhar a morena de olhos azuis cintilantes, mas agora dolorosamente maliciosos, estava sendo uma punição muito maior do que a Maldição da Lua para Ruby. Não reconhecer a doçura singela e pura no olhar safira de Belle estava matando aos poucos a garçonete do Granny’s. Ver a amiga se pendurar no pescoço de qualquer um, rindo manhosa, enquanto atirava a cabeça para trás e ajeitava o decote sinuoso do vestido azul-escuro estava deixando Ruby num conflito interior muito maior do que quando descobriu que ela era o próprio monstro da sua história.

– Hey! – A voz estranhamente familiar, mais ainda assim familiar da mulher que lhe roubara todos os pensamentos nos últimos tempos a despertou. – Eu estou tentando fazer o meu pedido há horas! Você tem sorte em ser neta da dona, não é?

Ruby piscou os olhos, atrapalhada, sem saber como reagir, o que responder, o que Bell, não… Lacey estava olhando de forma curiosa para ela do outro lado do balcão.

– Ah .. desculp…

– Deixa pra lá! – Lacey fez um maneio com a cabeça, desvalorizando o sucedido e o fato de estar esperando ser atendida faz tempo. – Eu vou querer … hmm … - A morena de cabelos presos num coque relaxado no alto da cabeça murmurou olhando o cardápio à sua frente.

Ruby estava em pânico. Desde que sua amiga havia perdido a memória nunca mais havia estado tão próxima dela. Apesar de a ver na rua, nas calçadas da cidade, muitas vezes, perdida de bêbeda, saltando de bar em bar, nunca havia tido como se aproximar. Por falta de coragem, ou simplesmente por cobardia. Espera… acho que isso seria o mesmo motivo condensado em duas falsas alternativas. Ruby encarou a mulher à sua frente, perplexa.

– Chá gelado. – Lacey se decidiu, levantando o olhar do cardápio para voltar a encarar a garçonete.

– Desculpe? – Ruby franziu a sobrancelha, fazendo a sua testa revelar o emaranhado de nós em que se assemelhava provavelmente o estado do seu cérebro.

– Estou começando a achar que você tem problemas sérios. – A outra respondeu com o semblante sério, enquanto analisava o estado de choque em que se encontrava a loba. – Eu pedi chá gelado! Mas se não tem, é um favor que me faz trocando por um copo de whisky com gelo.

– Não! – Ruby praticamente gritou na cara da mulher. – Digo … me desculpe!

– Você já disse isso garota! Aliás, três malditas vezes! – Lacey revelou a sua impaciência aumentando o tom de voz enquanto jogava as mãos nos cabelos e os soltava do coque, os bagunçando ansiosa. – Se eu não soubesse que você fica aqui metida sempre trabalhando, diria que você também estava de ressaca do porre que apanhou ontem.

Ruby se preparava para abrir a boca novamente, mas Lacey não deixou, continuando.

– Se você for se desculpar de novo, eu juro que dou a volta a esse balcão e te dou um trato. Nossa, como alguém pode andar tão tenso assim?!

– O quê? – Falar que Ruby estava boquiaberta era pouco, comparada a completa figura de idiota que ela continuaria a fazer se não fosse sua avó aparecer por trás dela, afastando a neta mais do balcão.

– Vai lá … - Granny sussurrou perto do ouvido de Ruby. – Não se esqueça que dia é hoje. – Ela fez sinal com a cabeça discretamente para o calendário pregado na parede.

– Que dia é hoje? – A voz repentinamente curiosa de Lacey se fez soar, fazendo com que Ruby e Granny trocassem um olhar cúmplice.

– Hoje é … - A loba se atrapalhou mais uma vez, tentando achar uma resposta, mas agora por sorte, tinha sua avó para socorrê-la.

– Dia 21 de Outubro é claro. – Granny completou como se fosse óbvio. Mas claro que Lacey não se deixaria ficar por essa resposta, o que a levou a erguer a sobrancelha desconfiada e tornar a perguntar:

– E …?

– E faltam precisamente dez dias para o Dia das Bruxas e nós aqui no Granny’s temos a ementa especial de Halloween pra preparar. – A senhora de cabelos brancos falava com uma naturalidade como se aquele esclarecimento fosse mais do que plausível. E com isso, praticamente empurrou a neta para dentro, acrescentando. – E Ruby é quem sempre prepara tudo com extrema antecedência! – E a loba desapareceu do angulo de visão da morena que olhava aquilo tudo sem entender.

– Agora menina, peça logo o que vai querer porque estamos quase fechando! – A senhora voltou a falar lançando um olhar rápido para fora da lanchonete, observando o anoitecer chegando.

– Era o que eu estava tentando fazer faz horas! – Lacey se irritou de vez, bufando com raiva, e se afastando em direção à porta do estabelecimento. – Quer saber? Eu vou pro Rabbit Hole que lá pelo menos não tem gente doida nem deixam minha garganta seca!

Granny simplesmente encolheu os ombros e olhou o relógio na parede ao lado do calendário. Era noite de Lua Cheia.

Ruby’s POV

Hoje é um dia especial para mim. Quer dizer, todas as luas cheias são especiais, mas esta será mais ainda. É daquelas Luas que se abatem sobre nós e mudam tudo, sabem? E para eu falar isso, principalmente eu que mudo em todas as luas cheias, é porque esta lua em específico mudou tudo de vez. Não esta talvez, mas simbolicamente, este dia será brindado também por uma lua cheia especial, tal como ano passado. Ironicamente, no dia 21 de Outubro mais uma vez.

Eu me redescobri nesta data comemorativa, por isso eu sei que nunca irei esquecer. Eu sempre fui meio ruim para guardar datas especiais, sejam aniversários, dia dos pais, mães … aliás, até prefiro esquecer algumas. Mas não esta. Esta data tem uma conotação especial. Ok, tudo é especial … onde está Belle para alargar este vocabulário meu, tão limitado?

Não importa, eu sei que iremos nos encontrar mais uma vez nesta Lua Cheia para celebrar o nosso amor.

*** FIM do POV***

A moça curiosa desistiu de correr mais uma vez para o Rabbit Hole como era seu costume. O motivo? A desconfiança com a vontade louca de se meter em confusão. Lacey havia ficado intrigada com o comportamento estranho da garçonete, e ela deixaria isso para lá sem dificuldade, não fosse o comportamento daquela velha da lanchonete também a ter intrigado. Algo se iria passar naquela noite. Ela se manteve parada, olhando a alguns metros de distância a porta dos fundos do Granny’s, estabelecimento do qual praticamente havia sido expulsa.

Com certeza aquela seria uma noite quente. Olhou o horizonte, pressionando os olhos em direção ao por do sol, onde um tom fortemente alaranjado se ia desvanecendo pouco a pouco, contrastando o azul cada vez mais arroxeado do céu. O vento não soprava, pelo contrário, uma brisa morninha acariciava a sua pele, passeando pelo seu rosto emoldurado numa maquiagem bem carregada.

Estava se sentindo estranha. De alguma forma inexplicável, estava se sentindo tão fora da sua pele, fora da sua zona de conforto? Mas sem saber bem porquê, o seu destino de conforto, sua mesa de sinuca, sua cerveja gelada, seu flerte com estranhos não pareciam mais aliciá-la como momentos antes. Em vez disso, ela se viu, parada, encarando fixamente a porta dos fundos do Granny’s. Esperando.

“Mas esperando o quê Lacey?”, ela se perguntava mentalmente, se repreendendo de seguida por não estar já enfiada dentro do buraco, literalmente, que era o seu bar de eleição.

Quando estava prestes a se decidir a tomar um rumo, a porta se abriu. A moça de cabelos lisos longos saiu apressada. A mesma que não atendera o seu pedido, e que ficara a encarando de forma estranha, - pelo menos mais estranha do que o bando de doido que habitava aquela cidade - havia saído em passo de corrida.

Engraçado como apesar da mulher morena estar correndo, ela não parecia estar fugindo. Ela corria, e se Lacey não se apressasse depressa a perderia de vista. Mas ela corria de um jeito engraçado … único.

Lacey se surpreendeu com as próprias pernas. Ela corria também. Atrás da garçonete.

Belle’s POV

Sim, a vida pode ser engraçada. De um jeito único e peculiar, daquela forma singular, quase como se as coisas estivessem predestinadas a acontecer, fazendo o destino se encarregar de criar as mais engraçadas e irónicas peripécias para possibilitar tal acontecimento. Muito confuso?

Sim, eu sei, talvez não esteja sendo muito assertiva e consistente na exposição dos acontecimentos. Mas é porque foi uma surpresa como disse. Inesperada, quase como retirada de um buraco fundo, feito cartola de mágico! Mas em vez de sair um coelho … Oh Deus, estou divagando demais, não?

E vejam só as horas! Está quase anoitecendo e eu tenho de encontrar a surpresa que mudou a minha vida. Minha Ruby!

***FIM do POV***

Ruby se sentia livre, se movendo a cada vez maior velocidade. Obrigando a brisa morna a raspar na sua pele como se fosse uma carícia cortante. Daquelas que a gente quer que doa de tão boa que é. Que passe pela gente, toque nossa pele, e deixe sua marca tatuada na vermelhidão em que se torna o nosso rosto. E embora essa marca rosada em nossa face se vá desvanecendo quando a gente abranda o passo, temos a certeza que a sensação que ela deixa permanecerá em nossos corações para sempre.

Era isso que motivava sempre mais e mais a loba naquela corrida desenfreada. A sensação plena do sentir. Sem amarras, sem quê nem porquês.

E sem hesitar ela adentrou a sua floresta.

Lacey ofegava, tentando acompanhar, inutilmente, a mulher aparentemente muito atlética e em forma que corria a velocidade avassaladora. Não demorou muito até perdê-la de vista no enredado de galhos, raízes e vegetação que era a floresta.

Olhou para baixo, para as próprias botas de cano alto e ficou horrorizada com o estado em que ficara o seu calçado. Seu vestido azul-escuro também não estava melhor, com algumas folhas enfeitando agora a peça de roupa. E seus cabelos? Ela não os via com exatidão sem um espelho, mas podia perceber que coisas vinham agarradas neles.

– Que merda! – A mulher blasfemou para o ar irritada. – Porque raios eu vim atrás dessa louca?

As she disappeared alone in the darkness,
I felt herspiritstay in the room.
And I wished that our lives were just endless
Causeit’s alltoo short, and I’m leaving soon.

Lacey olhou ao redor, completamente perdida. E logo ela que sempre soubera o seu lugar no mundo: o Rabbit Hole. Agora ela não sabia mais quem era… talvez ela nunca soubera, esse pensamento assaltara-lhe a mente num flash de segundo. Porque ela sentiu essa coisa … essa, essa conexão, essa vontade maior que a sua vontade em ir atrás da garçonete estranha?

E logo ela que nunca pensava nos porquês, nem mesmo quando aquele homem, outro doido estranho, lhe viera com a conversa dela ser seu amor verdadeiro, ela se debateu durante muito tempo com questionamentos, porquê agora? Como era o nome mesmo daquela mulher?

I want tohold on toallof the peopleI lost,
I want to keep them with me.
We will never part.

Lacey não se reconhecia. E pior, ela não reconhecia aquele sentimento. Começava fazendo cócegas, e até aí tudo bem, era engraçado. Mas as cócegas iam se intensificando tanto que virava quase uma coceira infernal, originando uma urticária emocional.

De repente, ela escutou algo capaz de assustar qualquer um na calada da noite. Principalmente se você está perdido na floresta: Um uivo de lobo demasiado alto para estar longe. Mas em vez de se assustar, ela automaticamente olhou para cima, para o céu, mais uma vez sem saber o porquê. E o que ela viu lá no alto, pregado na grande mancha azul escura, iluminando o pano teatral daquela noite, a fez sentir uma pontada no peito. A lua estava cheia.

“Não é todos os dias que descobrimos que a nossa amiga é …”

“Um monstro?”

“Caçada. Eu ia dizer caçada.”

Os olhos azuis tiveram de se desviar da imagem daquela lua grande e cheia, luminosa. A mulher empalideceu, ainda mais, se possível, tendo em conta o seu tom de pele alvo.

– O que acabou de acontecer? – A morena se questionava sozinha, atordoada, com a imagem da garçonete na sua mente. A imagem de Ruby. Esse era o nome da mulher que se autodenominara de Monstro, nas suas …

We are, we are,
We are timeless, timeless.
Everything we have, we have,
Everything oh my god.

… lembranças?

Ruby’s POV

Coloquei todas as gostosuras que Belle amava na cesta de piquenique para aquela celebração: suco de laranja, bolinhos caseiros de mel, um novo doce com sabor a amendoim chamado paçoca que descobrimos na nossa última viagem pela América do Sul, os tão saborosos e preferidos muffins de amora que tanto ela gosta, e claro, o chá que eu arrumei forma de manter gelado com muito gelo na garrafa que preparei para nós.

Me despedi da vovó com um sorriso enorme no rosto, e saí pelos fundos da lanchonete para encontrar Belle.

E corri com a cesta pendurada no braço assumindo meu papel de Chapeuzinho como no conto, a diferença agora é que faltava um elemento para que o conto antigo e ultrapassado fosse fiel ao idealizado. Minha capa vermelha. Afinal, este conto que eu vivo não é o idealizado, e sim, o real. Não há mais necessidade de subterfúgios, fugas de mim mesma ou medos. Porque eu, sou a loba.

“Será como algo que você nunca sentiu antes.

As folhas de pinheiro sob seus pés.

O ar passando por todo o seu pelo.

Seus irmãos e suas irmãs do seu lado.”

Durante aquela corrida, livre, espontânea e desinibidora, aquelas palavras ecoavam no recanto da minha mente como um mantra antigo, quase profético. Meus lábios se curvavam num sorriso largo, creio eu, podia sentir. E minhas pernas eram cada vez mais velozes fazendo a brisa me tocar com a força de um vento forte que te roça e empurra para trás te desafiando a querer ultrapassar todos os limites que um dia você, amedrontado, colocou a si mesmo.

“Sua mente não irá querer acreditar.

Te dirá que há uma loba invadindo o seu corpo, tentando assumir controle.

Se acreditar nisso por um momento, você vai apagar …

E perder o controle.

Assim como perdeu em todas as noites que se transformou.”

Avistei Belle ao longe na entrada da floresta, e senti meus pelos corporais, embora estes ainda se mantivessem humanos, se enriçar todos arrepiados com a excitação de estar chegando perto dela.

“Mas se você se entregar à loba, você perceberá a verdade …

Você é a loba.

E quando você aceitar isso, você finalmente ficará no controle.”

– Belle. – Eu sussurrei abrandando, chegando já perto o suficiente para poder sentir a sua fragrância de rosas espalhada pelo ar. Ela ainda não me ouvia, porque estava longe, mas eu já a sentia sobre mim, sua presença se alastrando, como fincada no solo sobre os meus pés em forma de raízes e fazendo também parte de todo o meu ser.

You are, you are,
The only thing that makes me feel like,
I can liveforever,forever.

With you, my love.

– Belle. – Eu repeti quando parei à frente dela.

Seus cabelos estavam ainda mais bonitos do que o costume, presos em um coque frouxo no alto da sua cabeça. Ela sorria, me olhando com tanto amor que quase dava medo de quebrar aquele encanto. Quase.

Eu estiquei meu braço desocupado, já que o outro se encarregava de segurar a cesta, e levei minha mão ao alto da sua cabeça, desprendendo seus cabelos do coque.

– Você está linda. – Eu falei encantada, enquanto observava seus cabelos de forma bagunçada caindo sobre seus ombros.

Ela riu, inclinando levemente a cabeça para trás num movimento inconsciente, mas que foi incapaz de passar despercebido por mim tamanha a sensualidade que emanava dela. Simplesmente assim … sem esforço, tão natural, inato a ela.

I see her, they run through the tall grass
Such thoughtless minds, I wish I was thoughtless too
Well this hole in my heart, that I cannot abide
Just want you to stay with metonight

– Isso quer dizer que eu só sou linda com os cabelos soltos? – Ela perguntou ficando séria, mas nada ressentida ou magoada. Pelo contrário, ela parecia muito segura de si, me olhando curiosa com aqueles grandes globos oculares reluzentes naquelas íris azuis vivas.

– Não. – Eu respondi docemente, colocando uma mecha de cabelo castanho atrás da sua orelha. – Isso quer dizer que você é tão linda que eu não consigo decidir de que jeito você fica melhor. – E brincando com ela, eu dei a entender que ia prender novamente os cabelos dela. – Deixa eu ver …. – Eu fiquei a observando com um sorriso divertido, enquanto minha mão segurava seus cabelos todos bagunçados no topo da sua cabeça.

– Sua boba! – Ela afastou a minha mão da cabeça dela, sem conseguir evitar de cair na gargalhada. Tentou fazer os possíveis para ajeitar os cabelos que eu ainda tinha desarrumado mais, e me puxou para ela meigamente, levando uma das suas mãos às minhas costas, me trazendo na direção da sua boca. – Eu te amo minha loba, sabia? – Ela sussurrou e eu estremeci sentindo seu hálito quente no meu rosto, antes dela selar os seus lábios nos meus, sem esperar qualquer outro tipo de resposta além do toque das nossas línguas.

We are, we are
We are timeless, timeless
Everything we have, we have,
Everything oh my god.

***FIM do POV***

– Quem está ai? – Lacey perguntara assim que sentira o som dos arbustos atrás dela se mexendo.

Virando-se, ela recuou, agora sim ela estava assustada. Quase se desequilibrou ao recuar mais um passo, porque o salto da sua bota esquerda prendeu numa raiz levantada do solo, mas se foi sorte ela não ter caído, já não se podia falar o mesmo do seu salto ter quebrado.

– Tá de sacanagem só pode! – Ela exclamou num misto de raiva e nervos, ao tentar arranjar uma alternativa para a sua mais fácil locomoção. – Eu sabia que não era nesse buraco de floresta que eu devia ter me enfiado hoje. – Ela ia resmungando à medida que se descalçava das botas contrariada, mas convicta de que seria necessário caso ela precisasse de correr. – Ainda por cima estou sóbria hoje!

O som de galhos sendo partidos, e um respirar pesado, demasiado perto, a fez paralisar no lugar. A morena ousou levantar o olhar, mas assim que o fez mais desejou ter permanecido olhando para o buraco das botas e se possível se enfiar dentro dele, porque a criatura de dentes afiados e de aspecto faminto surgiu avançando ameaçadoramente na sua direção.

– Oh meu Deus! Me diz que estou de porre! – Lacey balbuciou com o coração embatendo contra o seu peito com tanta força que ela achou que ia morrer só com esse embate interior. Mas não, ela correu. Não soube como, mas quando se deu conta já estava correndo pela floresta como podia, descalça, suja, assustada e certa que aquele seria o seu fim. Mesmo assim ela correu.

Ela conseguiu sentir a loba caçando-a naquele momento, através do som rápido e astuto das patas do animal pisando no solo. E ao pensar nisso, ela achou a situação irónica. Mas como achar irónica uma situação da qual nós nem temos a certeza que pertence à nossa vida?

“Precisa ir embora. A lua aparecerá em breve” – Lacey escutou novamente a voz familiar de Ruby, sua … amiga? Do que ela estava falando? E que correntes eram aquelas?

Depois, enquanto ela rolou literalmente por uma parte da floresta de piso mais íngreme, quase uma colina, ela se ouviu, ou pelo menos a voz que ela pensou reconhecer era muito idêntica à sua, apesar do tom ser menos áspero que o seu.

“Mas as correntes vão aguentar?”

A Ruby das suas lembranças, ou o que pareciam ser lembranças, embora aquele filme que passava na sua tela mental estivesse sendo contado na terceira pessoa, parecera-lhe familiar, mas ainda assim distante. Ela percebia a interação entre as duas, mas ela – Lacey – não se sentia a moça castanha de olhos ingénuos e puros. O que estava acontecendo? Porque as lembranças de outra pessoa estavam coladas no seu cérebro quando o odor da morte se aproximava?

Foi nesse momento que ela chocou contra um tronco de árvore, este colocando fim à sua travessia conturbada entre enrolamentos pelo solo da floresta. Ela gemeu com dores, mas nem tempo havia para lamber as feridas. E desta vez, foi a expressão que lhe pareceu irónica, enquanto a loba de pelo escuro e olhos selvagens e enormes se aproximava a passos largos dela.

You are, you are,
The only thing that makes me feel like,
I can liveforever,forever
With you-

E ao olhar para aqueles grandes olhos marrons brilhantes, ela pressionou os olhos com força desejando que o seu final fosse rápido, e que o seu sangue escorresse para fora da sua carne de forma tão veloz que ela perdesse imediatamente os sentidos. Incrível como os seus sentidos até lhe pareciam mais apurados naquele momento, na iminência da morte, e a respiração da loba sobre ela a fizesse se sentir verdadeiramente viva. Afinal a única forma de constatarmos que estamos vivos é saber que no minuto seguinte, ou em menos que isso, estaremos mortos. Foi só um instante, fugaz, quase impossível de determinar no tempo, mas Lacey tornou a abrir os olhos aquosos, a maquiagem borrada à medida que as lágrimas escorriam pela pele do seu rosto pálido, e mais uma vez imagens desconexas tomaram conta do seu consciente. Ela as via! Refletidas nos globos oculares aterradores da loba.

“Ela estava numa ala hospitalar … parecia ela, mas ao mesmo tempo não parecia. Sentia-se assustada, e agora, esse sentimento ela já sentia também. A mulher morena olhava para ela de um jeito doce. Não era pena que ela reconhecia nos olhos escuros que a encaravam … era …

– Belle… - a mulher de cabelos longos emitiu de um jeito que cortava o coração.

– Não me chame isso … Porque é que todos insistem em ficar me chamando disso? – A moça assustada de olhos claros alterava-se.

Depois, ela sentiu … sentiu? Uma enfermeira tentando a controlar, sabia o que a esperava. Eles iam topá-la, mais uma vez ….”

Just help me through this moment
After everything I told you
Howthe weightof their loss is likethe weightof the sun.
I see their faces near me,
I hear theirvoicescallin’,
It was like their lives were over before they begun.

Lacey arrepiou-se, mas aquele arrepio já não era de medo. A loba estava encostada a ela, e a maciez do pelo escuro a surpreendeu, mas não mais do que quando o animal robusto de dentes afiados deixou de rosnar, encarando-a, com o que parecia ser, reconhecimento?

Ela não se conseguia mover, havia prendido até a respiração, e parecia que o seu peito ia explodir com a força dos seus batimentos cardíacos. Permaneceu inerte enquanto a loba a farejava como se de repente se houvesse tornado num cachorro dócil e adestrado. Ela tinha as costas encostadas na árvore em que tinha embatido, e por isso, mesmo que quisesse, não teria escapatória possível com a loba prensada contra ela, a farejando, e logo de seguida se roçando nela, até que se deitara sobre os seus pés descalços.

E se havia indício ainda de medo na mulher cativa, ela não o reconheceu, porque a sua mão ganhou vontade própria e tocou o lombo robusto de pelo macio da criatura, afagando-o, massageando toda a zona desde o cachaço grosso, percorrendo a coluna do animal até aos quadris de estrutura magnífica e forte. Ela queria estar ali. Ela precisava estar ali, daquele contato, daquele …

A loba largou um suspiro pesado, e Lacey, teve a certeza que fora de satisfação.

Oh ooohoohohoh oh

“Você me falava sempre de Júlio Verne, então eu trouxe o meu favorito – A Ilha Misteriosa.”

A voz de Ruby soara-lhe em plenos ouvidos como se ela estivesse realmente perto dela. Lacey arqueou a sobrancelha atordoada, mas antes de pensar em tentar se levantar, já a sua mão estava de novo passeando sobre o dorso da loba, e a sua própria voz… a sua! A sua voz soou de forma rouca vinda do fundo da sua garganta, num sussurro tão baixo, mas que mesmo assim fizera a loba erguer as duas orelhas atentamente no ar, escutando.

– Nós … nós eramos realmente amigas?

Belle’s POV

Estava quase anoitecendo, em breve a minha loba de pelo escuro e sedoso iria ressurgir em mais uma lua cheia, e eu, estaria com ela, me aconchegando no seu corpo robusto e quente. Mas antes disso, ainda dava para aproveitar um pouquinho da pele macia dela, enquanto eu passeava com as minhas mãos suavemente sobre o seu abdómen definido que a camiseta regata havia feito o favor de deixar ligeiramente descoberto quando ela se esticara para pegar a garrafa de chá gelado na outra ponta da toalha.

– Belle … - Ela sussurrou, e a sua voz rachou no final, denunciando a sensação de arrepio que eu sabia que a fizera sentir com o toque. – Se você continuar com essa mão marota eu juro que não vou me conseguir controlar esta noite.

Eu sorrio ansiosa para ela, e sem querer não consigo evitar de prender meu lábio inferior entre meus dentes, tamanha era minha vontade que Ruby esquecesse qualquer tipo de controlo e se atirasse em meus braços como só ela sabia fazer.

– Você consegue sim. – Eu falo em tom baixo, mas vejo ela arquear a sobrancelha confusa a respeito da minha resposta, então aproveito e agarro a sua cintura, e me inclino para dar-lhe um selinho nos lábios. Me afasto logo, e regresso com o meu olhar nos seus olhos que sorriem sem necessidade que eu comprove olhando para a sua boca. – Você sempre se controla nestas luas.

Eu vejo ela desviar o olhar rapidamente dos meus olhos para um muffin de amora sobre a toalha, e me apercebo da interpretação que ela deu para o que eu disse.

– Ruby … - A minha urgência em clarificar, desfazer qualquer mal-entendido que possa ter assombrado a mente dela, é tanta, que eu trago seu olhar novamente até mim levantando-lhe meigamente o queixo na minha direção. – Nas nossas luas você se controla tanto que você nos liberta. A nós duas.

Ela me encara séria, mas gradualmente vejo a linha dos seus lábios se ir curvando num sorriso silencioso, e ela se inclinar sobre mim, repousando o seu queixo no meu ombro.

– Obrigada. – Ela murmura, respirando no meu ouvido, o que faz com que seja eu desta vez a me arrepiar. – Eu te amo.

E se eu já estava tendo dificuldade em me controlar, depois dessa, eu acredito que quem teria de ser presa por correntes seria eu, caso contrário eu comeria minha namorada a beijos.

– Minha loba linda! – Eu exclamei sem conseguir evitar de agarrar o seu pescoço e enchê-lo de beijinhos sonoros, fazendo-a rir sem parar. Não sei ao certo se pelas cócegas que eu sabia que ela tinha naquela zona ou se pelo meu surto momentâneo de carinho. Acho que ambos.

We are, we are
We are timeless, timeless
Everything we have, we have
Everything oh my god

Os nossos risos se misturam com o vento que sopra agora com força, mas nós não paramos de brincar, de nos tocar, ora distribuindo cócegas pelo corpo uma da outra, ora roçando nossas bocas as unindo em beijos curtos, tendo o cuidado de os manter assim, não fosse a vontade por mais se intensificar. Ruby já está com lágrimas nos olhos de tanto rir, eu a mesma coisa, e assim, a passo e passo, suspiro a suspiro, deixamos os nossos risos diluir com o assobio do vento que acompanha a chegada da noite.

Ruby me abraça pelo tronco, e eu automaticamente já me aninho no seu peito, e cuidadosamente, ela se deixa cair de costas no solo da floresta me levando com ela.

– Amor … - Eu escuto a sua voz bem pertinho do meu ouvido, e isso me faz apertá-la mais ainda contra mim. – Nosso niver da noite das garotas vai começar.

E ela me beija demoradamente no topo da cabeça, enquanto eu vejo pelo canto do olho a lua surgindo em toda a sua elegância e beleza no pano negro da noite.

You are, you are
The only thing that makes me feel like
I can liveforever,forever
With you.

***FIM do POV**

Nem se havia dado conta, mas quando sentiu o calor dos primeiros raios de sol tocando-lhe a face pálida, percebera que tinha pegado no sono encostada ao mesmo tronco de árvore que agora lhe relembrara das dores provocadas pelas peripécias da noite anterior. Assim que tentou esticar as pernas, sentiu um peso em cima dos seus pés, quentes, mas agora também dormentes, e abriu os olhos de relance, com dificuldade por causa da claridade.

Aquilo que viu teve a capacidade de lhe retirar o fôlego por alguns segundos: a mesma mulher, Ruby era o nome dela, que não a atendera no Granny’s no dia anterior, estava deitada de lado, de costas para ela, sobre os seus pés. Nua.

Pensou em fazer um escândalo, gritar loucamente até a morena adormecida acordar, xingar ou mesmo jogar todas as culpas das suas dores e feridas em cima da mulher besta, mas não foi isso que ela fez. Porque de besta aquela mulher não tinha rigorosamente nada. Ruby mais parecia uma deusa de tão magicamente bem delineada nas suas formas femininas e agora … humanas. Ela deteve-se em cada curva daquele corpo despido de qualquer barreira, de qualquer animalidade, e pensar nisso, a fez arrepiar-se. Pensar na mulher sobre ela, observar suas costas bem constituídas e desenhadas, subir e descer o olhar por cada insinuação de curva que se movia de acordo com os movimentos provocados pela respiração suave e leve da mulher, e lembrar-se do contraste animalesco da loba condensado naquela pele, músculos, carne, ossos e sangue, a deixou louca de desejo.

O que estava acontecendo com ela? Estava amando … não, claro que não. Estava desejando aquele corpo, era isso. Estava desejando aquelas formas como nunca se lembrara de desejar tanto uma coisa na sua vida. Mas afinal, do que ela lembrara a não ser da sensação de se sentir cobiçada por tantos homens, e porque não, algumas mulheres, ao longo da sua vida? Mas que vida?

Lacey levou a mão à têmpora, massageando o local, tentando colocar algum resto de discernimento na sua cabeça. O que ela ia fazer, partir para cima da garota na dúvida se lhe batia ou a beijava?

Todos os seus dilemas tiveram de esperar, porque a moça se movia à sua frente, se esticando, se espreguiçando com um sorriso deleitoso nos lábios vermelhos. Com os movimentos que ela fazia ao acordar, Lacey conseguiu vislumbrar a curvatura de um seio rosado e bem feito, até que a mulher girou ficando com o seu corpo de frente para ela, se revelando em todos os seus recantos íntimos.

– Oh meu Deus! – Ruby arregalou os olhos surpresos, o constrangimento se apossando dela na hora. – O que você … Bell …- Ela travou no que ia dizer, parecendo confusa de repente acerca da mulher que a observava apática. – Lacey?

Ela nem esperou resposta, apenas tentou se cobrir da forma que pode, com suas mãos, estando certa que a sua figura deveria estar sendo ridícula. Lacey a olhava, ou melhor, a comia com os olhos de uma forma tão ou mais faminta que a de uma loba em transformação. De repente, era Ruby que se sentia sendo a caça daquela manhã.

– Ruby … - Foi só um sussurro, mas foi proferido de forma tão meiga que Ruby podia jurar que aquela ali era Belle.

– Você se lembra? – A mulher, despida da loba, perguntara esperançosa, abandonando o constrangimento pela sua nudez. A possibilidade de ser Belle ali diante dela não deixava margem para mais nada, a não ser a sensação plena de se ver completa de novo.

– Que nós eramos amigas?

Ruby não soube dizer porquê, mas a decepção tomou conta dela, e ela teve noção que não havia dado tempo de disfarçar, porque logo Lacey a encarou com uma sobrancelha arqueada. O que Ruby queria que a outra dissesse? Óbvio que eram amigas, ela sempre fora amiga de Belle. Mais nada além disso. Porquê a decepção? Porquê a esperança de algo mais quando nunca existira nada além de uma amizade com a castanha?

We are, we are
We are timeless, timeless
Everything we have, we have
Everything oh my god

– Sim ..mas … Bell… Lacey … você … quem é você agora? – Ruby balbuciou, acocorada no chão, de braços cruzados cobrindo seus seios.

– Eu … - Lacey não conseguiu ir além. Ela não sabia. Ela baixou a cabeça envergonhada, embora fosse a amiga loba que estivesse despida.

E aquela vulnerabilidade mexeu tanto com Ruby, pareceu-lhe tão Belle que ela não conseguiu se segurar. Ela precisava confortar a amiga. Descruzou os braços sem pensar duas vezes, e aproximou-se do corpo de Lacey, rodeando a mulher pelos ombros, e apertando-a contra ela.

Lacey chorava baixinho.

– Shhh … - A loba sussurrava com a outra nos braços, as fazendo balançar levemente, como que ninando uma criança em seus braços. – Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Não chora … eu estou aqui.

As lágrimas escorreram por toda a face de Lacey, mesclada em sujidade e em feridas, acabando por desaguar como um rio pelo pescoço da loba, e logo, atravessando pelo vale dos seios de Ruby, até se perder a sua afluência mais abaixo, no monte de Vénus escondido pela posição em que elas se encontravam.

– Eu acho que … - Lacey murmurou, encaixada no pescoço de Ruby, fazendo com que sua voz saísse além de baixa, também abafada. - … Ruby …

– O quê?

– Eu quero repetir essa noite das garotas mais vezes. – E antes de Ruby reagir, e falar algo, já os seus lábios estavam ocupados, sendo beijados. E logo depois, beijando.

You are, you are
The only thing that makes me feel like
I can liveforever,forever
With you, my love

– Hmm .. – Ruby conseguiu, com muito custo, se afastar milímetros da boca da outra. – Lacey nós…

– Shhh … - Mandou-a calar desta vez, e os seus olhos brilhavam, como duas safiras quando acabam de ser polidas, e a luz quando se reflete nelas faz quase cegar de tanto brilho quem as contempla. - … Você me trouxe de volta Ruby.

O rosto da loba se iluminou em reconhecimento, seus olhos marejados cederam, deixando as lágrimas caírem livres por toda a sua face enrubescida.

– Belle? – A voz rachou, o peito doeu … aquela dor que é tão boa que a gente deseja que nunca pare de doer.

Belle esboçou um sorriso doce e límpido, condizendo com seus olhos cintilantes. Aproximou-se do ouvido da outra, roçando com o nariz na cartilagem da orelha da mulher nua, desprendendo dos lábios desta um suspiro arrepiado.

– Obrigada. – E suspirou, recolhendo o ar logo de seguida, e mordiscando aquela zona da orelha de Ruby.

Ruby’s POV

Senti meu braço dormente assim que me tentei mover, e vagarosamente, tentei soltá-lo de Belle, cujo pescoço o prendia. Era sempre assim nas manhãs que sucediam as nossas luas cheias. Nossas noites de garotas, que com o tempo, se tornaram nossas noites de namoradas.

Olhei para a mulher que tinha o cabelo todo bagunçado, tapando-lhe parte do rosto, e sorri. Belle estava toda enroscadinha no meu corpo, que embora estivesse nu, encontrava-se quente devido ao contato que a gente mantivera durante toda a noite e madrugada.

Fiquei observando-a calmamente, aproveitando os últimos minutos dela adormecida, e me perdi naquela imagem. Me peguei pensando em como tudo sempre fora tão especial e cheio de significado com Belle. Ela conseguia trazer o que de melhor em mim havia, e depois, me fazia companhia. Em cada dia, noite. Em cada mês que se juntou e assinalou nosso namoro já de um ano, e em que ela sempre estivera comigo, me fazendo enxergar o quanto eu precisava me revelar. O quanto eu precisava me encontrar todas as luas cheias, para que mais tarde a pudesse encontrar também, trazendo junto com suas memórias todo o amor que sempre nos uniu desde aquele primeiro dia em que ela saboreou o primeiro chá gelado. E o segundo. E se não me engano houve um terceiro também.

Ela remexeu-se suavemente, preguiçosamente, toda manhosa, inspirando profundamente no meu pescoço. Me fez rir e arrepiar. Beijei seu nariz e baixei para sua boca, fazendo ela gemer de um jeito meiguinho, quase como um ronrono de gata. Ela abriu os olhos sem pressa e sorriu para mim.

– Bom dia. – Ela disse, desviando o olhar para baixo, entre nossos corpos, de uma forma que ela provavelmente achou que foi discreta. Aquilo me fez rir, e puxar-lhe o lábio entre os dentes de mansinho, para logo estalar um beijo sonoro nele.

– Dormiu bem? – Eu perguntei afagando o seu rosto com carinho.

– E alguma vez eu durmo mal coladinha em você? – Ela atirou de forma retórica, e apoiou a cabeça na mão, permanecendo quieta, o seu lábio sendo mordiscado entre os seus dentes, enquanto ela ficava me encarando de um modo sugestivo.

– O que foi?

– Você me faz sentir de um jeito engraçado às vezes. – Aquilo me fez rir sem nem entender direito sobre o que ela falava. Senti minha testa enrugar em confusão esperando uma resposta. Ela não continuou logo, descendo por segundos com o olhar por todo o meu corpo. E dessa vez fui eu que me mordi para não me atirar para cima dela. – Você … - Ela continuou incerta do que dizer. E realmente não era muito comum ver Belle tropeçando no vocabulário. - … me faz sentir de um jeito …

– Engraçado? – Eu cortei, brincando com ela, e acabando por levar um tapa no ombro pela brincadeira. Ela riu de seguida, e abanou a cabeça. Se endireitou, ficando sobre mim, com uma perna de cada lado do meu quadril, o que me fez ter sérias dificuldades em tentar continuar qualquer tentativa de a ouvir na explicação que ela tentava desenvolver.

– Não importa. – Ela finalizou, não lhe passando despercebido o desejo que com certeza lançava faísca dos meus olhos. Curvando-se em minha direção, ela chegou perto dos meus lábios, roçando os seus nos meus com suavidade, mas logo intensificando o toque o tornando num beijo molhado.

Ficámos nos beijando por um tempo, enrolando nossas línguas mutuamente, enquanto eu me atrevia a passear com as minhas mãos sobre as suas costas, e a desejar sentir a pele que estava coberta pelas camadas de roupa que ela usava.

– Belle .. – Eu interrompi o beijo, mordendo levemente o seu queixo, e sorrindo em provocação. – Agora que amanheceu, você não acha que é hora de eu desembrulhar meu presente?

Belle atirou a cabeça para trás sem tentar segurar o riso, e oh Deus, ela não tinha ideia do quanto isso era sensual. Suas risadas foram desvanecendo no ar, e um sorriso divertido e sapeco se pendurou em seu rosto, mas não ficou lá visível muito tempo, porque no segundo seguinte, ela fez questão de o fazer desaparecer junto ao colo dos meus seios.

Oh ooohoohohoh
With you, my love

Belle’s POV

Nos amámos tanto naquela manhã que eu tive dificuldade em arranjar coragem para sair daquela floresta para abrir a biblioteca. No entanto, embora atrasada, eu cheguei lá para cumprir meu horário de trabalho, mas não sem antes retirar o primeiro dicionário que eu reconheci de uma das estantes de livros.

Folheei as páginas com um sorriso bobo no rosto, próprio dos apaixonados, até achar a letra e a palavra certa. Encontrei rapidamente, mas não tão rápido caso o cheiro de uma certa loba não continuasse impregnado na minha pele e nas minhas memórias recentes.

Li em voz alta:

Engraçado

que tem graça; aquele que é divertido, cómico.

jovial, alegre

Depois, procurei pelo verbo engraçar, e novamente li o significado em voz alta:

Dar graça a.

Realçar.

Sentir-se agradavelmente impressionado ao ver (alguém ou alguma coisa).

Simpatizar.

Foi aí que percebi que era precisamente desse jeito que Ruby me fazia sentir: engraçada pela vida que nós havíamos construído juntas, pela capacidade que tivemos de engraçar com nossas maldições de forma a torná-las em bênçãos. E embora pareça não fazer sentido, eu tenho a certeza que não há no mundo palavra melhor para descrever a sensação que eu tenho quando estou com ela.


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