Apartamorte escrita por SamHBS


Capítulo 1
O começo da perseguição 1/5


Notas iniciais do capítulo

Obs.: Não fiquei desenvolvendo Alanna e Jordan nessa cena do shopping por que isso não importa para o desenvolvimento da história, não porque a história é mal escrita e sem criatividade.



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Muitas pessoas passaram por minha vida. Muitas dessas morreram. Eu estava, o tempo inteiro, sendo perseguido. Eu não sei o que ele queria de mim. Eu não sei o que eu queria de mim.

Fui ver um filme no cinema.

Deixou-me meu pai à porta do shopping. Estava eu com dois colegas do colégio. Assistimos a um filme de comédia – que por sinal foi um dos piores já feitos. Não tinha graça nenhuma. Perdemos um tempo que poderíamos estar gastando vivendo. Pelo menos, essa perda de tempo foi pior para eles do que para mim.

Alanna e Jordan, embora eu tenha os citado como meros colegas, eram verdadeiros amigos. Não crescemos juntos, nem mesmo tínhamos uma total confiança mútua, mas eu gostava muito deles e sei que eles gostavam muito de mim.

Eu não queria um fim tão terrível para essa tão curta história de amizade.

Quando saímos da sala do cinema, após a exibição do filme, as luzes se apagaram. Em plenas seis horas da tarde, não havia vento, nem chuva, muito menos raios. Algum desgraçado com certeza deu um jeito de desligar a eletricidade do shopping. Nós não estávamos enxergando absolutamente nada.

– Onde estão as luzes de emergência? – Perguntou Jordan.

– Estranho isso... Não dá pra ver nada! – Respondeu Alanna.

Estávamos no quinto andar. Eu me afastei deles, cheguei até a parede e comecei a apalpa-la, como um cego que busca segurança. Em poucos segundos, meio aos gritos e ao medo, encontrei o que eu queria. Senti o suporte das malditas luzes de emergência que haviam sido retiradas por alguém.

Ele foi esperto o suficiente para acabar com todo o foco de iluminação do shopping para que ninguém pudesse reagir ou enxergar nada. O pânico se instaurou, e, quando me virei para meus amigos, ouvi um grito.

– Socorro! Jordan! Simon! Me ajudeeeem...

Alanna estava gritando. Gastou toda sua voz tentando clamar por ajuda. Eu sabia que ela estava perto de mim. Comecei a seguir o som de sua voz com as mãos na frente para não esbarrar em nada, mas parecia que não conseguia chegar. Adquiri segurança e corri em direção aos berros para tentar ajuda-la. Jordan estava tão perto dela quanto eu. Ele estava dando socos e gritos em outra pessoa para salvá-la. Não foi o suficiente.

Eu estava lá e não pude ajudar. Ele pôde ajudar e não conseguiu salvá-la. Esse fato foi percebido por mim quando ele gritou:

– Nãaaaaaaaao!

De repente, o grito de minha amiga foi se tornando cada vez mais distante, até que parou com um estrondoso som de atrito e de ossos se quebrando.

Ela havia sido jogada pelo vão do quinto andar, gritando até entrar em contato com o chão. Eu, que ainda não havia assimilado o que estava acontecendo, procurei Jordan, gritei, gritei e gritei, junto à multidão desesperada que estava no shopping. Sabia que Alanna não estava mais conosco, mas ainda tinha com quem me preocupar.

Esbarrei em pessoas, me debati, tentei correr. Gritei por seu nome.

Ele me respondeu com outro grito, que ia se afastando com um som de atrito. Estava sendo arrastado pelo maldito. Eu seguia o seu grito, até que ele parou de gritar.

Isso não era um bom sinal.

Como se estivesse em um teatro melodramático, eu não esperava que as luzes se acendessem nessa hora. De repente, um clarão.

Eu comecei a andar de um lado pro outro, como uma barata tonta, estava enxergando embaçado, só enxergava o vulto de muitas pessoas desesperadas. Pensei que ficaria cego. Cambaleei até que minha visão voltasse. Pelo menos, um pouco dela.

Olhei para o meu lado esquerdo e, na loja de iogurte, vi o que não queria ver. Muitas pessoas em volta. Nunca uma aglomeração de seres humanos indicou algo positivo. Aproximei-me, empurrando os curiosos e a loja de iogurte estava toda suja de sangue. Do outro lado, encontrei Jordan.

Ele estava morto.

Dizem os sábios que devemos nos apressar a viver bem e pensar que cada dia é, por si só, uma vida.

O baque dessa frase tomou mais efeito quando eu cheguei à minha casa à noite. No dia seguinte ao acontecimento do shopping. A rua do meu prédio estava totalmente cercada por carros da polícia. Próximo à porta, estava meu pai, me aguardando preocupado. Quando me viu, me abraçou e disse:

– Simon, você está bem!

Não sabia o que estava acontecendo, mas já esperava alguma notícia ruim. No dia anterior, meus dois amigos foram mortos. O corpo deles estava na perícia e ainda não sabia quando seria o velório. Achava que minha vida não podia piorar.

Eu olhei para o meu pai e perguntei:

– O que aconteceu?

Ele, então, contou-me tudo.

Um morador do prédio, Alessandro – não o conhecia –, foi tomar um banho de sauna na área de lazer e, ao ajustar a temperatura do vapor, viu que estava ajustado a 100°C, temperatura máxima. Numa sauna úmida, as pessoas tendem a aguentar, no máximo, até os 60°C. Ele, então, estranhado, entrou para ver o que havia. A porta estava trancada e o porteiro do edifício não estava com a chave. Logo, chamou a polícia. Algo não estava certo.

Os policiais chegaram. Procuraram a chave com todos os trocentos moradores e pessoas mais responsáveis pelo condomínio. Não estava com ninguém.

Eles, não encontrando nada que poderia abrir a porta, decidiram que a única solução era o arrombamento. Arrombaram a porta e não enxergaram nada. O local estava lotado de vapor de eucalipto e bastante quente. Esperaram que parte dele saísse, até que viram o vizinho do andar de Alessandro, Lucas – também não o conheci –, deitado de barriga para baixo, com os braços abertos, no chão. Sua pele estava vermelha e molhada. Seus poros estavam todos estourados. Impossível era identificar um ser humano naquele chão.

Imagino o seu sofrimento. Segundo o porteiro, ele entregou a chave da sauna para Lucas às 17h45. Alessandro e a polícia, duas horas mais tarde, quando conseguiram arrombar a porta, encontraram-no morto. Tenho plena certeza de que foi um assassinato. Há dois fatos que comprovam isso. O primeiro é que não seria suicídio, pois essa é a pior maneira de se suicidar e a chave não estava com ele.

Com toda certeza, após ajustar a temperatura, ele entrou na sauna. É normal que ela esquente gradativamente. Lucas deve ter achado um pouco normal, mas quando sentiu que estava muito quente, decidiu sair.

Não conseguiu sair. Alguém havia trancado a porta. Os ferimentos em suas mãos confirmaram o quando ele bateu na porta, tentando quebra-la, enquanto seus pulmões queimavam internamente e sua pele se ressecava. Quando viu que não aguentava o ardor e não conseguia mais respirar, deitou no chão, na parte mais baixa, onde é menos quente. A partir desse momento, esperou sua pele ser queimada e derretida, misturando-se a água que condensa, junto com todo o seu corpo.

O que deixa todos nós moradores preocupados é que o assassino não ficou satisfeito. Destrancou a sauna, entrou, e, com suas próprias mãos, pegou o sangue de sua vítima e escreveu nos ladrilhos da parede: “BEM-VINDO AO PESADELO”. No singular.


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Notas finais do capítulo

Garanto que o Capítulo 2 é melhor que o primeiro.



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