Bianca já estava cansada de ter que enfrentar monstros. Já fazia três dias que ela e Valentin lutavam, andando por Las Vegas feito dois doidos atrás de Nico.

Bianca se sentia muito arrependida. Se algo de ruim acontecesse com Nico, a culpa seria somente dela.

Valentin fazia de tudo para consolá-la. Tipo quando ele jogava água na cara dela para acordá-la. Ou quando chegava por trás dela e gritava em alto e bom som um “BUH!” que fazia Bianca ficar tremendo por minutos. Ou quando ele cantarolava alto na hora de dormir apenas para irrita-la. Sim, Valentin era um amor de pessoa. Principalmente quando se tratava de Bianca.

Se alguém dissesse que Bianca odiava-o, seria mentira. No fundo, a garota estava começando a se afeiçoar por Valentin de tal maneira que perde-lo estava fora de questão. Mas ela nunca admitiria aquilo em voz alta. Nunca mesmo.

A dupla já tinha enfrentado várias coisas como lestrigões, empousae, dracaena, entre vários outros tipos de monstros, o que fez finalmente Bianca aceitar que os deuses gregos existiam e que ela era filha de um deles.

Segundo Valentin, ela possivelmente seria uma filha de Afrodite. Ou a filha do deus ou deusa do mau humor.

“Desculpa, docinho, mas você realmente não sabe ser um raio-de-sol. Tipo eu, sabe? Eu sou um Raio-de-Sol, não por ser filho do deus Apolo, ou nada disso, mas sim por eu ter algo chamado humor, sabe?”, dizia Valentin, apenas para ver Bianca fazer uma careta de raiva. O garoto adorava pirraçar ela. Era uma das suas tarefas diárias.

Fazia pelo menos oito dias que estava atrás de Nico. E não tivera nenhum resultado. Então, no amanhecer do nono dia, algo diferente aconteceu.

Bianca e Valentin estavam adormecidos, Bianca com a cabeça encostada no ombro de Valentin. O dia estava prestes a amanhecer, e estava bem frio, o que fazia Bianca tremer um pouco.

Então, um beliscão no braço de Bianca fez a garota acordar, assustada.

_Valentin, não foi ENGRAÇADO! – Disse ela. Mas Valentin ainda dormia a sono solto. A garota olhou ao redor, abismada. O que raios tinha acontecido?

O ar se solidificou, e uma névoa branca começou a rodopiar nos pés de Bianca. A garota ficou zonza, até que uma voz doce e límpida soou:

_Bianca di Angelo. Há tempos que espero poder conversar com você! – Bianca começou a olhar para os lados, preocupada.

_Aqui estou eu, garota. – E então, à sua frente surgiu uma mulher fantástica, envolvida por uma roupa de seda azul e com cabelos pretos ondulados. Tinha um olhar doce e cruel, e sorria para Bianca. Não parecia ter mais de trinta anos, e não parava de sorrir.

_Prazer, garota Di Angelo.

_Q-quem é você? – Perguntou Bianca, levantando as sobrancelhas. A mulher sorriu novamente.

_Como ousa não reconhecer a deusa do amor, querida?

Então Bianca se lembrou. Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Sim, aquela mulher só podia ser ela.

Afrodite sorriu, passando as mãos nos próprios cabelos.

_Então, Bianca... Não vai perguntar o por que da minha vinda?

_Bem, se você quiser dizer antes que eu pergunte... É só falar.

Afrodite sorriu. Deuses, aquela mulher sorria mais que o Coringa.

_Ótimo, então. Você venceu. Eu vim aqui, é claro, para ter uma conversinha sobre amor com você.

Bianca franziu o cenho.

_Oi? Espere, acho que não ouvi direito...

_Você ouviu direito SIM, meu bem... Agora vamos aos fatos: vejamos, vejo num futuro próximo você apaixonada por Valentin. Ah, que coisa linda! Vejo ele também apaixonado por você. Um casal que se ama de verdade, há coisa mais linda que isso?

Afrodite parecia estar esperando uma resposta. Bianca apenas murmurou uns leves “Ah” e “Uh”, sem saber muito o que falar. A deusa assentiu, aparentemente satisfeita.

_Sim, sim, não há coisa mais linda. Mas também não há coisa mais linda que uma história de amor com sofrimento, com tortura, com violência. Com grandes separações, traições, obstáculos... Ah, isso sim consegue ser mais lindo que o amor, embora seja o Amor em si.

Bianca não estava entendendo nada. Se teoricamente ela e Valentin se amavam e Afrodite gostava de uma história de amor com sofrimentos e obstáculos, o que a deusa faria? Mandaria mais monstros no caminho deles? Ou mataria um dos dois?

_Então eu venho pensando como as coisas estão fáceis para vocês dois, e digo para mim mesma: “Não é hora de algo realmente interessante acontecer?”.

Não, não é, pensou Bianca, com raiva. Qualquer coisa que fosse classificada como interessante para um deus, Bianca não queria fazer parte. Apenas isso.

_Bom, não entendo ainda o por que de você ter vindo aqui falar comigo. – Disse Bianca, dando de ombros. Afrodite abanou a mão.

_Vim lhe avisar, querida, que os tempos de festa e boa vida acabaram. Vim avisar que eu pessoalmente, com todas as minhas forças pretendo dificultar seu romance com Valentin, e sua busca pelo seu irmão, Nico.

Bianca arqueou as sobrancelhas.

_O que Nico tem a ver com isso?

_Ah, outra que generaliza as coisas. Todos acham que o amor pode apenas vir em uma só forma, entre duas pessoas que nunca se viram antes, que formam um casal, que se gostam e vivem felizes para sempre depois. Argh, como odeio isso.

Afrodite pareceia muito brava, mas não deixava de ser bonita por isso. Não, a raiva apenas aumentava a beleza dela.

_O amor vem em várias formas, Bianca. Você ama Valentin como um, digamos, true love. Você ama Nico como um irmão. E eu sou a deusa do amor, querida. Embora não seja minha obrigação, eu lhe farei o favor de dificultar sua vida.

Favor? Do aquela deusa estava falando?

Afrodite parecia saber ler mentes, pois após Bianca falar mentalmente para si mesma que aquilo não era favor coisa nenhuma, Afrodite deu uma das suas risadas e disse:

_A graça da vida está nos obstáculos e no que vem depois deles. Um dia, daqui há muitos anos, você irá olhar para trás e gargalhar por ter conseguido. Isso é... Se você conseguir passar nos meus desafios.

Então uma névoa misteriosa surgiu do meio do nada, cobrindo a deusa por inteiro. ‘Espere, Bianca di Angelo, pois sua hora se aproxima...”, disse uma voz na mente da garota. A voz de Afrodite.

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Quando Bianca acordou, ela e Valentin estavam abraçados. Valentin ainda dormia, e o queixo da garota se encostava no ombro do filho de Apolo. Estavam tão juntos e grudados que demorou para Bianca perceber que estava gostando daquilo. Que estava gostando de Valentin.

A garota tentou sair do colo de Valentin, mas esse acordou antes que ela conseguisse.

_Ora, ora, veja quem começou a me abraçar no meio da noite! – Disse Valentin, rindo descontroladamente. Bianca sentiu o rosto esquentar.

_Não fui eu quem te abracei! E-eu só... E-eu só... ARGH!! – Disse Bianca, brava. Valentin passou a mão na cabeça de Bianca, sorrindo.

_Não se preocupe, Bianca. Todas as garotas me amam, seja cedo ou tarde demais. É absolutamente normal você me querer, principalmente no meio da noite.

Bianca arquejou, com raiva. Quem aquele cara pensava que era?

A garota se levamtou e saiu andando a esmo. Valentin ergueu a cabeça, olhando para ela.

_Onde você vai?

_Eu vou... Eu vou... PARA QUALQUER LUGAR LONGE DE VOCÊ! – Exclamou ela, saindo em disparada.

Mal ela sabia que aquele seria o maior erro de sua vida.