Nico di Angelo tentava se esquivar do monstro, mas estava difícil. Ele tinha praticamente dois metros de altura, e para piorar cuspia veneno em cima dos outros. Eca! Que monstro porco.

_Bianca! – Gritou Nico, após uma rajada quase atingir a garota. Mas Bianca também sabia se esquivar. Os Di Angelo eram mestres nisso.

Os dois irmãos se encontraram, sem saber o que fazer. O monstro salivava e atirava fogo ao mesmo tempo. Como ele conseguia?

_Precisamos fazer alguma coisa. – Disse Nico, sem fôlego.

_Nossa, parabéns Nico. Você acabou de descobrir... – Bianca não completou a frase, pois uma rajada de fogo estava vindo em direção aos irmãos.

O monstro, fosse ele quem fosse, pulou em cima de Bianca, prendendo-a no chão com suas garras. O hálito dele era parecido com o esgoto e carne em putrefação, só que mil vezes pior.

_Bianca di Angelo! Há anos não devoro um filho de Hades...! – O monstro escancarou a boca, e Bianca fechou os olhos. Não queria que sua última visão fosse os dentes horrendos e amarelados daquela coisa.

Um barulho atingiu os ouvidos de Bianca, e ela sentiu o monstro cair. Quando abriu os olhos, viu que Nico estava em cima do monstro, com uma faca de cozinha na mão. Aos pés dele, o monstro se desintegrava em pó dourado.

_Nico! – Exclamou ela, sorridente. O irmão tinha salvado sua vida. Ela não estava morta. Tudo tinha acabado bem.

_Vamos sair daqui! – Disse Bianca para o irmão.

***

Os dois saíram no pleno frio da madrugada de Las Vegas. Estava escuro, embora as luzes ainda piscassem, iluminando-os.

Bianca e Nico arfavam ruidosamente. Bianca tinha ralados e cortes nas pernas, enquanto Nico tinha uma ferida aberta na testa por causa do fogo. Ótimo. Sozinhos, perdidos, com fome e machucados após uma luta feroz com um monstro.

_É tudo culpa sua! – Acusou Bianca, olhando feio para Nico.

_O que?

_Eu disse que a culpa é sua. – Respondeu Bianca, dessa vez com raiva. Bianca dizia a si mesma para parar. A culpa não era de Nico. Não havia motivo para continuar aquilo.

_Mas por que...?

_PORQUE VOCÊ FOI IDIOTA O SUFICIENTE PARA ESCORREGAR E BATER NAQUELA MALDITA PORTA E ACORDAR AQUELE MALDITO MONSTRO! – Agora Bianca gritava. Ela não queria brigar com Nico, mas precisava culpar alguém. Sua mãe estava morta. Provavelmente, seu pai não existia. Tinha sido raptada por um monstro/advogado que parecia ter saído de um livro de mitologia grega. Nico não era culpado, mas era o único que ela tinha para culpar.

Nico agora parecia prestes a chorar.

_Por que você está gritando? – Gaguejou ele com a voz baixa. Bianca se irritou mais ainda.

_PORQUE EU TE ODEIO. PORQUE EU PREFERIA MORRER A CONTINUAR SENDO IRMÃ DE ALGUÉM TÃO DESASTRADO E MALDITO COMO... COMO VOCÊ!

Nico definitivamente estava chorando, e saiu correndo de Bianca. Bianca deixou, embora uma vozinha interior dissesse para correr atrás do seu irmão. Mas ela não correu.

Se tinha uma coisa em que Bianca era ruim, era em brigas. Pois nunca Bianca sabia a hora certa de começa-las. Sempre deixava acumular raiva, e mais raiva, e mais raiva... E então soltava isso na pessoa errada, na hora errada, no lugar errado.

Nico não era culpado, e ela sabia disso. Mas precisava culpar alguém, e ele era o único que ela ainda tinha.

O único.

_Oh meu Deus. – Então Bianca percebeu o que tinha feito. Nico, o único que ela tinha, estava solto numa cidade supostamente só feita de monstros. E era culpa dela. Se tinha alguém que ser culpado por tudo aquilo, era ela. Ela era a culpada.

Então surgiu atrás dela uma sombra enorme. Ela se virou, e não se surpreendeu com o que viu.

Era algo parecido com uma mulher, só que com uma perna de burro e outra de bronze. Andava mancando, e tinha dentes afiados como navalhas. No lugar dos cabelos estavam chamas levemente esverdeadas. Oh, que surpresa! Mais um monstro.

A Outra Coisa grunhiu.

_Semideusa... – E depois lambeu os beiços. Geralmente Bianca teria se esquivado quando a monstruosa coisa atacou, mas a garota esperou parada pelo ataque. Queria que aquilo acabasse de uma vez. Queria morrer logo.

Ela não se importava mais.

As garras do monstro rasgaram seu peito. Os dentes afiados cortaram seus pulsos, e socos acertaram seu rosto. Repetidas vezes. Soco, soco, soco.

Bianca sentiu seu sangue escorrendo aos montes para o chão. Que seja, então. Que escorra sangue até minha morte, pensou ela.

Mas então, a vozinha interior tomou voz. Bianca estava errando mais uma vez. Ela não podia morrer agora. Seu irmão estava em perigo. E só ela poderia salva-lo.

Pela primeira vez, Bianca tentou reagir. Mordeu os pulsos da Coisa, fazendo ela se afastar. Mas a sensação de vitória não durou por muito tempo. Bianca sentiu o corpo pender para trás. Ela estava caindo.

O sangue escorria para todos os lados, formando poças no chão. Outra sombra se aproximou, acertando a Coisa com um metal... Algo parecido com uma espada.

O monstro se dissolveu em pó, e a última coisa que Bianca viu antes de tudo escurecer foi a visão de seu salvador andando em direção até ela.