Forever Young escrita por Dafne Federico


Capítulo 25
Capítulo XXV: Demônios


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Demorei para postar, mas voltei, me amem
É isso, espero que gostem
Beijos!



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– Aquele ali de cueca não é o Jason? - gritou um cara no andar de baixo.

Mesmo que eu corresse atrás do meu irmão o estrago já estaria feio. Todos no andar de baixo estavam vendo Jason seminu, mas isso não era o que chamava a atenção das pessoas, o que as fazia gritar obscenidades eram os seios fartos de Piper a mostra.

Lembrei da expressão odiosa de Reyna e da garota atravessando o corredor segurando peças de roupa. Se me esforçasse ouviria o clique de compreensão na minha cabeça.

– Com ela do meu lado eu estaria menos vestido que isso! - alguém gritou seguido por gargalhadas masculinas.

Idiota. Nem menos vestido que isso você estaria com uma garota como ela do seu lado.

O lado oposto do corredor estava tomado por fumaça e a água fria caia fazendo meu cabelo encharcado grudar no rosto.

Corri atrás do meu irmão retirando as chaves e o celular do bolso para poder tirar a jaqueta de Nico. Jason e Piper estavam na base da escada estáticos, o que me deixou irritada pela falta de ação de ambos.

Alcancei-os e estendi a jaqueta de couro, salvadora das garotas seminuas, para Piper, mas ela não se mexeu.

Os olhos dela estavam vidrados e seu rosto tinha uma expressão vazia. Sem bochechas coradas ou olhos marejados, sem indícios de raiva ou ódio. Me preocupei com o fato do choque tê-la deixado catatônica.

Os comentários indelicados continuavam.

Isso era engraçado nas pessoas. Quem só presencia algo se esquece com facilidade, quem vive nunca consegue se esquecer. Eles falariam disso amanhã, depois de amanhã, semana que vem, até ocorrer algo novo e interessante. Piper e Jason não iriam se esquecer. Toda vez que alguém comentasse eles se sentiriam péssimos de novo e sempre há alguém que lembra. Não tem fim.

Jason pegou a jaqueta da minha mão e colocou no corpo de Piper.

A expressão dele sim demonstrava raiva. Seus olhos azuis varriam a multidão e fixaram-se em Reyna. A garota encarava a cena e ao notar o olhar do meu irmão deixou uma muda de roupas cair no chão e virou-se contra o fluxo indo em direção a porta.

Pelo visto não seria apenas eu, Jason enfrentaria seus próprios demônios aquela noite.

– Vadia. - ele murmurou com o maxilar cerrado.

E você é o que, Dom Juan?

O alarme de incêndio tinha parado de jorrar água pela casa, o que me fez pensar que já tinham resolvido o problema que, provavelmente, Reyna arranjara.

– Tira ela daqui, J. - falei para Jason - Vou pegar umas roupas minhas que ela possa vestir e levo no seu quarto.

Ele colocou a mão no ombro de Piper e a puxou para longe do tumulto. Ela não se mexia e Jason parecia estar usando toda a força para que ela o seguisse para longe dos olhares e dos comentários machistas.

Conferi o horário no relógio. 23:15.

A fumaça no corredor tinha se dissipado quase completamente, fui para o meu quarto e peguei uma camisa branca e jeans e bati na porta do quarto de Jason. Ele abriu a porta, agradeceu e voltar a fechá-la.

– Thalia, o que aconteceu? - levei um susto ao reconhecer a voz de Zeus.

Queria saber responde-lo. Considerando que o corredor estava lotado de fumaça e a única saída era a escada, eu entendia que, no desespero, eles houvessem corrido seminus exatamente para onde as pessoas estavam.

– Pensei que você já tivesse ido. - expliquei o susto.

– Obviamente ainda não fui. O que aconteceu aqui?

Zeus apoiou a cabeça na parede e escorreu por ela até estar sentado no chão. Ele segurava uma garrafa de vodca em uma das mãos, o que era estranho, pois só o tinha visto beber vinho e conhaque minha vida inteira.

– Acho melhor você perguntar para o Jason, ele saberá como explicar porque ele e Piper, sim a filha do ator de filmes que focam no abdômen do protagonista, ficaram seminus em público. - respondi não conseguindo não deixar transparecer o quanto abominava a maneira dele de pensar.

Ele suspirou.

– Vocês não entendem. - ele começou o dialogo e percebi que eu teria que ouvi-lo, então me escorei da mesma maneira que ele, sentada no chão, com o cabeça apoiada na parede - Você diz que eu te culpo, mesmo que não seja isso o que eu faço. Sou duro com você e ajo como ajo para que você pense duas vezes antes de fazer qualquer coisa que possa te colocar em uma situação em que coisas assim possam acontecer, para que não se coloque em uma situação em que alguém possa te expor.

Nunca tinha pensado nas atitudes dele com essa intenção. Nunca tinha pensado nele largado no corredor com uma garrafa de vodca. Definitivamente alguns pais tinham surtado aquela noite.

Deveria ser uma cena engraçada de se assistir de fora. Os dois escoradas na parede, sem olhar um para o outro, olhando para as fissuras na parede oposta a qual estavam apoiados.

– Não me coloco. - disse convicta.

– Sei que não. - ele concordou e me passou a garrafa de vodca.

Arregalei os olhos antes de aceitar e beber um gole.

– Não trate Jason da mesma maneira. Tirando o fato dele ser um canalha quando se tratam de mulheres ele está sempre tentando te agradar.

– E você está sempre tentando fazer o oposto. - ele concluiu - Falando em desagradar pensei que você fosse convidar o teu namorado. Onde ele está?

Nem me dei ao trabalho de corrigi-lo sobre o "namorado". Tinha finalmente entendido que não adiantaria. Não faria Zeus parar de dizer que ele era meu namorado ou Frank parar de me chamar de "garota do Di Ângelo".

Não era da conta de Zeus, contudo, ele estava sendo melhor comigo do que realmente era, mesmo que para agir assim precisasse beber vodca como uma menininha.

– Fazendo algumas burrices. Aliás, o que você faz quando sabe que estou fazendo idiotices? - perguntei.

Tinha chego a conclusão que se alguém entendia a sensação de impotência de ver alguém fazendo burrices sem poder intervir, esse alguém era Zeus. Eu era uma filha incansável.

– O que eu faço para te impedir de fazer? - ele indagou sem desviar os olhos da parede e eu assenti - Nada. Não faço nada. Vejo você fazendo coisas que eu acho que não deveria fazer a todo tempo e o que eu posso fazer para te impedir? Nada. A melhor maneira de convencer alguém a não fazer algo é deixando-o fazer.

Compreendi o que ele dizia, só não tinha certeza se era o que ele pensava ou se o estava dizendo porque fora isso que Apolo dissera que ele tinha que fazer.

– Tem umas coisas que você precisa saber. - afirmei tomando coragem para dizer - Sabe o analista, Apolo? Bem, eu o conheço a tempo, ele é o tatuador chapado que fez aquela tatuagem em mim. E se você passar pelo quilometro vinte e sete da estrada interestadual e olhar para o lado direito vai ver um grafite me representando de uma forma um tanto quanto vulgar. Seja lá o que Apolo te falou eu não sinto falta da minha mãe, honestamente, nem consigo me lembrar do rosto dela. - ao dizê-lo me esforcei em lembrar de como ela era e não obtive sucesso - E aquele vídeo não me afeta mais.

Todo aquele tempo eu pensei que o incidente não me afetara de nenhuma forma, porém notei que tinha dito " não me afeta mais " e percebi que me afetara por tempo suficiente. Me fizera deixar de ir a lugares, me fizera abandonar Annabeth naquela porcaria de festa.

Festa, cemitério, Nico.

Afinal, o que diabos ele fazia naquele cemitério de madrugada?

Precisava perguntar isso antes dele virar outra foto presa a um contêiner.

Olhei para Zeus. Seus olhos ainda observavam a parede, muito embora eu tivesse certeza de que não estivessem realmente olhando aquilo, estavam longe. Ele percebeu que o encarava e me olhou de volta.

Meus olhos eram do mesmo tom de azul que o dele e não consegui evitar imaginar que, quando eu olhava para alguém, era da mesma maneira inexpressiva que ele.

Havia um penhasco entre eu e ele. Um penhasco entre meu pai e eu.

– Fico contente que tenha tido o bom senso de fazer essa porcaria de tatuagem em um lugar que dê para esconder. - Zeus disse depois de um tempo e o comentário me fez lembrar que fora Nico que o sugerira com o mesmo argumento. – E sobre ela, não se lembra porque não passou tempo suficiente com ela, se tivesse passado teria algo para se lembrar. - ele deu outro gole na garrafa e levantou-se encarando a porta do quarto de Jason - Acho que eu vou ter que entrar aí e fazer mais um discurso sobre exposição, talvez levar a garota McLean para casa. Entra comigo?

Ele me surpreendeu outra vez.

Zeus estava me dando uma opção?

Encarei o horário na tela do celular. 23:40. Eu tinha uma pergunta a fazer e uma resposta para dar e tinha vinte minutos para isso. Admirava a tentativa de Zeus e sentia por Jason, mas precisava ir a outro lugar.

Neguei com um balanço de cabeça.

Desci a escada ensopada pulando dois degraus de cada vez e atravessei a sala dando cotovelas para abrir caminho até deixar o cômodo e conseguir chegar a garagem. Apertei o botão com o desenho do cadeado aberto no controle e ouvi o bip do meu carro. Fiz o mesmo com o controle do portão automático.

Estava me familiarizando com meu carro. Liguei o rádio, coloquei a chave na ignição, pisei de leve no acelerador e toquei a marcha olhando a calçada pelo reflexo do espelho retrovisor. Tirei o pé do acelerador frustrada.

Tinham carros estacionados pela calçada na frente da garagem e pela rua inteira.

– Porcaria. - reclamei frustrada.

Tirei a chave da ignição e bati a porta do carro com força. Tinha esquecido completamente desse detalhe sobre dar festas, você não tem como tirar o carro da garagem. Fechei o portão digitando apressada o número da empresa de táxi.

Pedi o táxi mais próximo e fiquei tentada a dar um abraço no taxista quando esse chegou.

– Para onde? - o taxista perguntou encarando-me pelo espelho do carro.

– Para o porto. - disse impaciente para que ele desse partida logo - Quer dizer, para o antigo porto.

Ele franziu as sobrancelhas.

– Se você estiver se dinheiro, eu faço ...

– Não estou sem dinheiro. - disse ignorando-o. Ele provavelmente estava tentando encontrar algum motivo para eu querer ir até lá que não fosse falta de dinheiro - Te dou vinte a mais se você for rápido.

O motorista deu com os ombros. Contra o dinheiro não há argumentos.

Eram 23:45 quando o motorista deu partida no táxi. As ruas estavam pouco movimentadas, exceto por universitários parados em ruas boemias e com ele indo dez ou vinte quilômetros a mais do que era permitido, fazíamos um bom tempo.

Conferia o relógio a cada quinze segundos. Batia os dedos contra a tela do celular, as unhas fazendo barulho contra o vidro. Detestava ficar ansiosa, minhas pernas começavam a tremer assustadoramente e meu estomago revirava.

Olhei a paisagem mudar pela janela. A parte que realmente parecia uma cidade se transformando em terrenos abandonos e restos de cercas, lugares mais perto do porto.

Ele estacionou o táxi as 23:57 e eu atirei todo o dinheiro que tinha, sem paciência e tempo para contar a quantia certa.

– Garota, aqui tem muito mais do que nós combinamos. - o taxista gritou enquanto eu me afastava de onde estava indo em direção a onde tinha que estar - Como é que você vai embora depois?

Ignorei seu grito e ele soltou um palavrão antes de dar partida com o táxi.

Meu cabelo estava ondulado e úmido e aquele vestido me deixava tremendo de frio. O único acerto foi ter calçado tênis ao invés dos sapatos incômodos que Hera sugerira, porque a sola de borracha dele atingia o asfalto com velocidade enquanto eu corria.

Não tinham garotos musculosos suados competindo nas barras, nem as garotas punk com piercings no umbigo, todos estavam agrupados no que eu deduzi ser a linha de largada, gritando. Silena Beauregard estava de pé em cima de um caixote de carga. Empurrei as pessoas com cotoveladas e me espremi até conseguir ter uma boa visão.

– Ai. - Rachel exclamou quando a empurrei me colocando entre ela e um garoto com moicano verde.

Não me desculpei.

Olhei fixamente para as duas motocicletas emparelhadas.

Eu sempre me surpreenderia com 1) a beleza sensual de Nico e 2) como a Senhora O'Leary parecia impecável. A lataria preta brilhava, encerada, contrastando com as labaredas azuis, que começavam mais claras e iam ficando intensas no centro.

Nico, como todas as vezes que estava de moto, usava coturnos, jaqueta e luvas de couro. Não conseguia ver o seu rosto, então fiquei encarando sua nuca e o cabelo preto e liso enquanto Silena gritava e recebia urros excitados em resposta.

Dei uma olhada em Luke Castellan, em seu visual casual e na sua moto. Ele vestia jeans azuis tradicionais, camisa e uma jaqueta escura. A moto tinha detalhes vermelhos e eu reconheci o logo da Harley Davidson na lataria preta.

– Só os dois correm hoje? - perguntei a Rachel sem desviar a atenção deles.

Rachel se aproximou para que eu conseguisse ouvi-la.

– É assim que funciona quando alguém faz um desafio. - explicou falando quase que colada no meu ouvido - Luke não perdia uma corrida a quase dois anos e isso fazia dele meio que o número um, mas como Nico ganhou dele da última vez digamos que ele roubou esse título e agora ...

– ... ele pediu uma revanche. - completei.

A ruiva concordou.

– Exato.

– O.K Travis pare com suas apostas idiotas para eu começar a contagem. - Silena gritou para o garoto que segurava uma prancheta e um bolo de dinheiro - Preparados?

Luke e Nico aceleraram sem sair do lugar e o som rouco dos motores levou todos ao êxtase e arrepiou os pelos do meu braço.

Nico encarou Luke por um tempo e depois virou a cabeça para trás fazendo seu olhar encontrar o meu, olhos escuros e penetrantes, ele arqueou as sobrancelhas demonstrando estar surpreso por me ver e então sorriu, aquele sorriso desconcertante, inclinado e sexy.

Meus pulmões esmagavam a caixa torácica e meus batimentos cardíacos tinham aumentado ao ponto de me deixarem seriamente preocupada com a possibilidade de alguém conseguir ouvi-los.

Balancei a cabeça e devolvi uma risada cínica para ele.

Nico voltou a olhar para frente.

– Você está nervosa. - concluiu Rachel.

– Estou. - respondi embora ela houvesse feito uma afirmação.

Ela me passou um copo grosso e pequeno com um líquido verde esquisito. Encarei a bebida tentando, através da coloração verde fluorescente, deduzir o que era.

– O que é isso? - perguntei me virando para olhá-la pela primeira vez.

Rachel Elizabeth Dare era bonita, com olhos de um verde tão penetrante quanto o da bebida e cabelos ruivos.

Ela sorriu.

– É o que você precisa para não ter um ataque. - respondeu. - Quer dizer, pode te dar convulsões, alucinações e tudo mais, mas acho que você vai precisar. Se eu fosse você beberia de uma vez só. Vai começar.

Rachel estava certa, ia começar.

A sensação de que os joelhos estão prestes a ceder, a azia, o suor frio e os pelos eriçados. As batidas fortes do coração. A falta de ar. Tudo indicava que eu estava tendo um ataque ... de pânico.

Realmente vou precisar. Pensei antes de dar com os ombros e beber tudo de uma vez só, o liquido desceu queimando minha garganta, era como estar bebendo o fogo-vivo dos livros do George R.R. Martin.

– Três, dois ... - Silena fechou os dedos na barra da regata verde que vestia e a puxou pela cabeça, ficando de jeans e sutiã - ... um. Já! - ela balançou a camisa verde como se fosse uma bandeira de largada ou um semáforo e o ronco dos motores explodiu quando os dois deram a partida.

Ele não podia morrer. A última coisa que eu tinha lhe dito fora "Me diga, você tem hepatite?" e isso era ridiculamente inaceitável.


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Notas finais do capítulo

Hey! A bebida que eu citei é Absinto, a Fada Verde!
E eu não tenho muito o que falar hoje aqui então COMENTEM! COMENTEM! COMENTEM!
Nos próximos capítulos tem "nostalgias"
É isso!
Beijos!



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