Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira
Por um tempinho, eu estou nas nuvens. É uma queimação estranha no meu peito que permanece até depois de Max cantar, e pode acreditar, mas eu já senti antes.
Estou tentando ignorar a sensação tomando meu suco de laranja e conversando com Connor no bar, então Naomi aponta para os fundos outra vez. Agora mais confortável, sigo meu irmão outra vez para dentro enquanto o público bate palmas e manda mensagens gritando para a banda. Quando eu chego na porta, meu coração faz uma coisa esquisita quando vejo Max e de repente é como se eu estivesse feliz, o que é muito estranho porque raramente estou feliz e a sensação é como voar. Ele despista algumas garotas do grupinho pedindo o celular dele, e olha para nós, acenando. Acho que fico vermelha. Quando ele se aproxima, para falar conosco, um cara passa pelo corredor, e a primeira vista não me chama a atenção, mas algo me faz olhar outra vez, e ele retorna o olhar, só que eu fico meio... perturbada. E não é por causa de uma cicatriz que ele tem na testa.
Bem, isso está meio confuso.
-Quem era esse cara? -Pergunto, para Max e ele me olha... com raiva.
-Você não sabe quem é esse cara, Carter?-Ele diz, ácido. Então o feitiço se desfaz e eu volto para a realidade. Onde Carter-e-Max não existe, e minha vida é uma droga. Meus olhos tocam foco novamente.
-O quê?
-Você não lembra?
-Lembrado quê?
-Do que você está falando, Max? -Connor intervem. Max se divide em olhar para mim e meu irmão, ora como se fôssemos loucos, ora procurando alguma coisa.
-Quer saber, esquece. -Ele vira, e sai do bar em direção a noite fria, irritado. Olho para Naomi, dentro da sala, e ela está tão perplexa quanto eu. Num ato de coragem, deixo meu irmão plantado ali e corro atrás de Max. Estou confusa demais com tudo para adicionar mais alguma coisa para a lista. Saio pela porta.
-Max! Max! -Olho por toda parte no estacionamento e finalmente o encontro jogando a guitarra para dentro do carro. Com raiva. Não tenho certeza se ele me ouviu, então grito novamente. -MAX! -Quando me vê, fica mais tenso ainda, e eu não ligo se ele é meu ex-namorado, falo com ele como falaria com qualquer pessoa nessa situação agora.
-Mas que porra foi essa?
-Você está se fazendo de esquecida?
-Não.
-Qual é, Carter.
-Por que você está fazendo isso? -Minha voz sai rachada pelo desespero, mas Max está furioso demais para ligar.
-Por que você voltou Carter? Por que você voltou pra cidade, pra escola, pratodos os lugares?Por que você voltou desse jeito? -Ele aponta para minhas roupas e meu cabelo. Meus olhos estão ardendo, mas de certa forma, eu sinto alívio. Porque era essa a reação que eu esperava de Max desde o começo. Raiva. E... tudo bem. Ele pode sentir raiva de mim. Eu mereço.
-Eu...
-Quer saber, esquece. De verdade. Esquece que eu falei qualquer coisa. -Ele abana as mãos, se virando e eu me viro para voltar, observando o resto da banda sair e olhar cuidadosamente para nós. -Carter. -Viro outra vez, já longe. -Só quero que você me responda uma coisa.
-O quê?
-É verdade? Que você usava drogas naquela época? -Envergonhada, assinto. -Quem? -Quem te deu?é a pergunta certa, mas acho que ele está irritado demais para gastar muitas palavras. Me xingo por dentro enquanto digo a verdade.
-Marco.
-Cacete.-Ele xinga, depois vira de costas e começa a xingar mais ainda enquanto Naomi, Clark e Marco chegam mais perto, colocando seus instrumentos no porta malas, e eu só volto para o bar, onde Connor está. Ele fica aliviado ao me ver, e sorri, mas logo desaparece quando olha minha expressão que deve ser uma mistura de torturada e alguém com dor de barriga.
-O que aconteceu lá fora? -Ele parece tão chocado que eu mudo minha linha de raciocínio.
-O que você achou que ia acontecer? -Pergunto. Ele dá de ombros, acanhado. -Você achou que a gente ia reatar?
-Sei lá, Carter.
-Vamos pra casa. Agora. -Ele não contesta. Saímos do bar e a banda já foi embora; corro na frente de Connor até nosso carro e passo a viagem para casa olhando pela janela, totalmente imersa a minha própria tortura de rebobinar a fita e ouvir tudo que Max falou antes de novo e de novo. Connor não fala nada também, não tenta puxar conversa, e sei que ele se sente um pouco culpado pelo meu fracasso na noite, então quando chegamos e ele vai tomar um banho, digo:
-Obrigada por me levar. -E forço um sorriso. Seu rosto se ilumina e ele assente, entrando no seu quarto e eu vou para o meu, encarando as paredes nuas.
Ainda preciso comprar tinta.
Troco minhas roupas por shorts e blusa de pijama e boto meus fones de ouvido enquanto tiro mais coisas das caixas que ainda sobraram, evitando cuidadosamente as coisas da minha família. Respiro fundo, para deixar a adrenalina sair do corpo e a sorrateira tristeza de sempre vem, e dessa vez o som alto da música não ajuda, então jogo o iPod na cama e esqueço ele ali, me mantendo ocupada pensando nas respostas certas para uma prova que vou ter em duas semanas. Limpo e organizo tudo, antes mesmo de Connor sair do quarto outra vez. Ele está vestindo para sair.
-Onde você vai? -Pergunto, curiosa. -Onde você vai a essa hora?
-Ashley ligou, vou buscar ela. -Ele parece animado, mesmo que cansado e eu não consigo evitar um sorriso.
-Tchau, Connor.
-Consegue ficar sozinha?
-Não, vou atear fogo na cozinha. -Reviro os olhos, e ele ri, pegando suas chaves.
-Você está melhor... daquilo de antes? -Questiona. Só balanço a cabeça afirmativamente.
-Tchau, Connor. -Repito. Ele me dá um beijo na testa, então sai pela porta. Fico encarando o espaço onde ele estava por alguns segundos, tentando me acostumar a ficar sozinha.
Quando o resto da minha família estava viva, a casa nunca ficava quieta. Ou era meu pai falando no telefone, ou o resto de nós falando no telefone, ou era com certeza Chaz gritando por alguma coisa, minha mãe indo ao seu socorro ou o som do videogame de Connor. Fecho os olhos, reproduzindo os sons na minha mente, e alguns minutos se passam até que eu ouça uma batida na porta e meu coração acelere, quase como se eu esperasse minha família do outro lado da porta. Mas, secretamente, eu espero, porque abro a porta com tanta avidez que o vento mexe meus cabelos.
Não são eles, claro. Óbvio.
Ao invés de ser eles, é... Clark, Naomi e... Max.
Clark: com a pele quase verde de náusea, mas rindo de tudo e dando girinhos, usando as mesmas roupas de antes.
Naomi: Só de sutiã e a saia de couro que estava usando antes. Passa por mim correndo procurando o banheiro e vomita.
Max: parece que foi espancado e está quase morrendo. Cheio de ferimentos. Sangue na camiseta. Olho roxo, gemendo de dor e encostado na parede do corredor.
Legal. Não sei qual está pior. Suspiro.
-Entrem. -Puxo Clark, para que ele não vá na direção errada e depois Max se apoia em mim para caminhar até o sofá e desabar lá. Olho ao redor, me perguntando o que eu faço primeiro. Se ajudo Clark caído no chão, Naomi vomitando no banheiro ou se ajudo Max.
-Ajuda eles primeiro. -Como se lesse meus pensamentos, Max responde. Não parece bravo, mas sua voz é rápida.
-O que eles tomaram? -Preciso saber o que causou isso, especificamente.
-Naomi bêbada, Clark chapado.
-E você?
-Me meti em uma briga.
-Com quem? -Questiono, surpresa porque Max nunca foi de deferir socos.
-Marco.
-Marco?! Da banda?
-Sem perguntas. -Ele rebate, e estou ocupada demais correndo para o banheiro para responder. Naomi está abaixada, com a cabeça perto do vaso, respirando forte e então... vomita. Yikes.
-Foi mal. -Ela diz, com a voz rouca.
-Não se preocupe. Tire tudo do seu sistema, depois me chama. -Então corro para Clark. Levanto ele e o sento do lado de Max no sofá. Uso todo o conhecimento que lembro ter escutado dos meus pais para fazer as perguntas certas.
-Clark, está me ouvindo?
-Tô. -Ele responde, com a voz embargada.
-Quantos dedos tem aqui? -Faço um sinal de paz e amor.
-Dois.
-Ótimo. Agora, numa escala de zero a unicórnios voando pela minha cabeça, quão drogado você está?
-Cara, não são unicórnios. Eles não existem. -Pelo menos ele está são. -São cavalos.
Ou nem tanto.
-Clark, me escuta. -Dou um tapinha no seu rosto quando ele começa a fechar os olhos.
-Ai, Catherine! -Definitivamente chapado.
-Se eu te botar no chuveiro, você consegue tomar um banho sem se matar batendo a cabeça na parede? -O quanto eu pareço meu pai perguntando isso me assusta. Ele costumava perguntar toda hora.
-Acho que sim. -Respiro fundo, puxando ele pra cima de novo.
-Tá bom, então, vem comigo. -Puxo ele para o banheiro e olho pra Naomi. -Espero que tenha terminado. -Ele faz que sim, engatinhando até o lado de fora. Sem me preocupar, começo a tirar a roupa dele. Quando chego na cueca, ele murmura um "ei, ei, ei" e eu fecho os olhos e me viro pro lado. -Não estou vendo nada, prometo.
-Pronto. -Ele entra no chuveiro. Sem olhar pra ele, ligo o chuveiro no frio, e fecho a porta do box, depois saio, ignorando o cheio de maconha e vômito, junto com bebida que ficou ali dentro. Olho pra Naomi.
-Consegue andar né? -Pergunto, sem fôlego de ter que carregar Clark.
-Sim.
-Ótimo, senta do lado do Max.
-Eu tô com sono.
-Só senta, Naomi. -Sem falar mais nada, ela vai até o sofá e eu vou até a cozinha. Ouço ela começar a chorar, mas sei que é efeito do álcool, então não ligo muito, principalmente porque quando volto com um copo de água e remédio para dor de cabeça sua expressão volta ao normal e ela para de chorar. -Toma isso aqui.
-Eu não tô com sede.
-Só toma, Naomi.
-Mas... -Dou uma risadinha da cara dela.
-Você não acha que eu sou um pouquinho mais experiente que você no quesito ressaca? Isso vai te ajudar de manhã.
-O remédio ou a água?
-Os dois, meu Deus.
-Deus? -Ela olha ao redor, desesperado, procurando Deus. Fecho os olhos e solto um gemido de irritação.
-Naomi. Foco. Toma toda a água e engole a merda do remédio. Agora. -Ela me olha emburrada, mas não ligo. Ao invés disso, pega com rapidez o copo e engole o remédio, tomando toda a água. Depois faz uma careta.
-O que eu estava tomando no lugar que a gente estava antes é melhor. -Reviro os olhos.
-É porque era álcool. Agora vem, vou te dar umas roupas limpas e você vai dormir. -Guio ela até meu quarto, depois pego algumas roupas e jogo para ela. -Pode ficar com a minha cama.
-Valeu, Carterrrrrr. -Ela puxa o R.
Fecho a porta, deixando ela lá para se virar e quando vou cuidar de Max, Clark grita:
-CATHERINE, vou sair pelado!
Não! -Grito de volta, correndo para o quarto do meu irmão e pegando algumas roupas. -Pelo amor de Deus, não. -Abro rápido a porta do banheiro e jogo as roupas lá dentro. -Veste isso. -Cinco minutos depois, ele sai com as roupas de Connor. Vou até a sala, onde os colchões extras que trouxemos com a mudança ainda estão e pego um, junto com um travesseiro na sala. Vou até meu quarto, checo que Naomi já está caída na cama e boto o colchão ali no chão, do lado da cama.
Clark dorme em dois segundos. Então, finalmente, posso cuidar de Max. Fecho a porta e respiro fundo, indo até ele e discando o número de Connor com meu celular.
-Alô?
-Preciso de um favor.
-O quê?
-Vai demorar?
-Não.
-Ótimo. Preciso que você passe na farmácia e compre aspirina, e alguma coisa salgada pra eles comerem de manhã.
-Eles... quem?
-Uh, Clark, Naomi e Max. Por alguma razão eles vieram para cá, detonados.
-Espera, eles vão dormir aí?
-Duvido que consigam ir pra casa. Botei dois no meu quarto. Max pode dormir no sofá.
-E você vai dormir aonde? -Merda.
-Vou dormir no chão. Sei lá, mas pode fazer isso por mim?
-Tá, claro.
-Obrigada. Buscou a Ashley?
-Sim.
-Por que vocês estão demorando tanto? -Uso minha voz desconfiada.
-He. He.
-Que nojo. Tchau, Connor. -Desligo, e vou até Max. Uso minha postura de adulta.
-Vai me explicar?
-Não.
-Vai se ferrar. -Chego perto, observando os ferimentos.
-Briguei com Marco, busquei os dois doidões e aqui era a parada mais perto.
-Como você sabe onde eu moro?
-Connor me trouxe aqui um dia quando você não estava. -Meu irmão e Max eram amigos antigamente, então devia ter previsto.
-Uh. Legal.
-Desculpa pelo incomodo.
-Tudo bem.
-Você lidou bem com a situação.
-Vai me contar porque pirou antes?
-Não quero falar sobre isso, tudo bem? -Desisto, suspirando.
-Tá. -Pego um kit de primeiros socorros e molho um algodão, limpando o braço dele.
-Se você não tivesse falado, eu acharia que você lutou com um lutador profissional.
-Não sabia que Marco lutava. -Ele explica.
-Não sabia que você lutava. -Replico.
-Eu estava puto. -Quero perguntar porque, mas me contenho, sabendo que isso pode ser errado. Quando vou limpar o peito dele (Max tira a camisa, o que deixa as coisas esquisitas), ele abre as pernas e me deixa ficar entre elas, abaixada, limpando. É constrangedor, tenho que admitir, mas não falo nada. Tiro todo o sangue e quinze minutos depois, os ferimentos estão limpos.
Pego água e um remédio para dor e entrego para ele.
-Obrigada, -diz, depois de tomar.
-Não tem problema.
-Desculpa pelas coisas que eu falei.
-Não tem problema. -Repito, evitando olhar pra ele. Ouço Ashley e Connor abrirem a porta, indo para a cozinha e depois para a sala.
-Ah, oi. -Eles dizem, mas começam a se beijar fervorosamente.
-As suas coisas estão no balcão. -Connor diz para mim, entre beijos. -Oi, Max.
-Hmmmm, oi. -Rápido eles vão até o quarto, trancando a porta e eu faço uma careta.
-Nojento. -Caio no sofá do lado dele, cansada. Suspiro outra vez.
-Carter?
-Fala.
-Me desculpa mesmo.
-Tá tudo bem.
-Você se arrepende?
-Do quê? -Pergunto de olhos fechados.
-De usar drogas e beber. Da curtição.
-Todo maldito dia, Max. -Olho para frente, cansada demais pra chorar. -Foi por isso que eles morreram, afinal.
-Isso é mentira.
-Não vou discutir com você agora.
-Tá. -Ficamos em silêncio por mais um tempo, sentados lado a lado, e em algum momento, acabo dormindo ali mesmo.
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e ai?