Ela veio correndo em minha direção e pegou em meu pulso me puxando até o portal. Tudo começou a girar, eu apenas enxergava algumas formas borradas que não conseguia identificar o que eram, parecia que minha cabeça ia explodir. Apesar daquilo durar apenas alguns segundos, foi horrível. Quando me dei conta estava de pé vomitando, e Floren ainda estava segurando meu pulso.

— Não se preocupe, a primeira vez sempre é difícil! — Ela dizia aquilo como se passasse pelo portal umas 10 vezes ao dia.

Eu ainda estava me sentindo muito mal para responder, mas acho que fiz um grunhido.

Quando estava me sentindo um pouco melhor, olhei em volta. Halfiriam, um mundo muito parecido com a Terra. Vi algumas plantas diferentes, e também ouvia alguns sons que nunca havia ouvido, mas no geral, não parecia outro planeta.

Acho que disse cedo de mais, olhei para baixo e lá estava um duende. Pelo menos acho que era um duende. Não era tão baixo, batia no meu joelho, um pouco mais até. Tinha orelhas grandes e pontudas, um grande nariz arrebitado.

— Ei, o que está olhando?! — Disse ele com uma voz grossa, e irritado.

Floren logo disse, como se ele fosse uma grande ameaça.

— Calma!! Ele é o humano!!

Os olhos da pequena criatura se arregalaram.

— Floren! O que você fez?! Porque trouxe um humano? Não se lembra do desastre que o último nos trouxe?!

O rosto pálido da ninfa ficou vermelho.

— Lauana não só autorizou, como me deu a missão de busca-lo.

Floren parecia uma criança, ficava alegre e brava com pequenas coisas. Deixei de tentar entender o que estava acontecendo, e esperar que alguém me explicasse, que para minha sorte, não tardou muito.

— Você o deixou confuso, olhe! — O duende disse. — Não sou nem um pouco a favor de humanos, mas você já está aqui, não há mais nada á fazer. Sou Arias, um duende, como acho que já deve ter notado. — Assenti com a cabeça — Lauana é quase que nossa rainha. Ela é muito bondosa, e não tem uma forma física. Por isso é apenas uma bola de luz que muda de cor constantemente.

Assim que ele terminou uma bola de luz amarela apareceu do nada. Supus que era a tal Lauana.

— Kevin, que bom que aceitou nosso convite! — Ela tinha uma voz fina, alta e firme.

Assim que Arias e Floren perceberam que Lauana estava lá, se curvaram. Fiz o mesmo.

— Minha senhora, sei que estamos em uma situação crítica, — Começou Arias — mas um humano? Não quero questionar suas escolhas, mas a última vez que isso aconteceu, as coisas não terminaram nada bem.

— Eu me lembro, Arias. Mas realmente pensei muito nisso, e acho que essa é a escolha certa. — Ela para veio para minha frente. — Agora, você. Acredito que Floren já tenha lhe explicado sobre a missão que lhe será dada. — Fiz que sim com a cabeça. — Ótimo. Mas antes de falar sobre isso, vou lhe dar seu Pó Transitus. — e caiu um saquinho igual ao de Floren, onde se encontrava o pó verde — Pegue-o! Vamos ver a sua cor.

Me abaixei para pegar. Era de um material parecido com couro, e tinha um pequeno barbante para fechar. Abri, e lá dentro havia o mesmo pó de Floren, mas era azul.

— Azul. — eu disse — Meu pó azul.

— Isso é esplêndido!! Azuis são raros. Sabia que você seria uma ótima escolha — Disse Lauana — Sua senha, pegue-a.

Olhei novamente para o saquinho de couro, e percebi que havia um pequeno papel enrolado. Era velho e amarelado, chegou a quase rasgar em minha mão. Desenrolei e estava escrito intrepidis em uma letra quase inlegível.

— Intrepidis. — Falei pausadamente, pois não faço ideia de como seja a pronuncia.

— Intrepidis? Tem certeza? — Disse Lauana. Assenti com a cabeça. — O mesmo que... Esqueça. Intrepidis, destemido (em latim)! Seu futuro me parece ser bom, Kevin.

— Desculpe, mas o que é tudo isso?

— O seu Pó Transitus é a abertura do portal. Quando voltar para Terra, e quiser vir para Halfiriam, deverá fazer o mesmo ritual que viu Floren fazer. De preferência em um gramado, mas ao invés de dizer custos (guardião em latim), deverá dizer Intrepidis. Assim o portal se abrirá para ti a hora que quiser.

Isso era demais. Imagina, quando eu estiver cansado de tudo aquilo simplesmente poder vir para outro mundo quando bem entender!

—Sim, poderá vir e voltar quando bem entender. Isso se sua missão for cumprida.

Oh, que ótimo, ela lê mentes. Verdade, eu havia esquecido da minha missão. Não faço ideia do que seja. Se é uma coisa grande ou algo como pequenos testes...

— É uma coisa grande. Muito grande. Irei lhe explicar sobre isso amanhã. Antes, você deverá escolher um lugar para ficar. Vila dos gnomos... Acho que seria pequena de mais. Temos as vilas dos Ogros. Do norte, claro. Das bruxas, não sei se elas lhe acolheriam bem... Mas elas poderiam fazer poções para você conseguir se hospedar na das sereias...

— Existe uma vila de elfos? — A interrompi — Sempre gostei bastante de elfos...

— Pashe!!! Como não pensei nisso antes, os elfos são perfeitos para você!!

Supus que Pashe era o nome da tal vila. Desde pequeno me interessei por tudo quanto é tipo de ser mítico, mas os elfos foram os que mais me encantaram. Com suas orelhas pontudas, e seu amor pela natureza.

— Floren e Arias, fazer a gentileza de levar Kevin a Pashe? — Os dois fizeram que sim com a cabeça, apesar de eu achar que aquilo fosse uma ordem e eles não tivesse muita escolha. — Ótimo. Respondam qualquer pergunta que ele fizer, a menos que tenha a ver com a missão. Entendeu, Floren?

— Entendi, sim senhora!! — Ela disse envergonhada, como se já tivesse cometido esse erro alguma vez.

Então Lauana desapareceu. Floren e Arias começaram a discutir, sobre trazer um humano, e do porque a ninfa não ter avisado os outros.

— Ei, podem me levar a Pashi? — Interrompi.

— É Pashe, humano. Vamos. — Disse Arias, vindo em minha direção sem muita vontade.

Floren veio correndo logo atrás.