Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 41
Após o choque




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Quarenta e oito horas.

Esse fora o tempo decorrido daquele momento, e o tempo que levara para ela se recuperar tanto daquelas tais agulhas quanto do estado de choque em que se encontrava até então. Sua memória não parava de reviver o golpe brutal que Gintoki havia recebido.

Vê-lo sendo transpassado por uma katana era pior do que qualquer pesadelo que poderia ter.

Ouviu uma porta corrediça se abrir e lembrou que não estava em Yoshiwara. Reconhecia aquelas paredes e aquele futon para saber que não estava em casa.

Estava no quarto dele.

Estava no futon dele.

E, sem se dar conta, dormira vestindo emprestado o quimono branco... Dele.

― Bom dia, Tsukuyo-san! – era Shinpachi quem cumprimentava, apesar da expressão preocupada. – Como está?

A kunoichi suspirou.

― Melhor. Agora estou começando a pensar com mais clareza. Sinto muito por estar causando preocupações a vocês... Já basta o Gintoki... Alguma notícia dele?

― Minha irmã foi vê-lo. Ainda é cedo para descartar qualquer risco, o ferimento foi bem grave.

― Eu já imaginava. – olhou para uma das mangas do quimono que usava, mais especificamente para a estampa em ondas azuis. – Foi realmente horrível e não consegui fazer nada para evitar.

― Tsukuyo-san, não se culpe por nada. – o garoto de óculos dirigiu-lhe um sorriso compreensivo enquanto lhe oferecia um chá fumegante. – Estamos todos preocupados, mas o Gin-san vai ficar bem.

Assim que Tsukuyo terminou o chá, ouviu-se um toque de campainha. Kagura atendeu prontamente e anunciou:

― Tsukky, é a Miwa-chan!

Do quarto de Gintoki, a loira disse:

― Diga a ela que já estou indo!

Assim que o garoto de óculos saiu, Tsukuyo localizou sua muda de roupas e se trocou rapidamente. Dobrou o quimono branco e o depositou sobre o futon. Deixou o cabelo solto, prenderia assim que terminasse de conversar com Miwa.

― Tsukuyo-sama – Miwa disse. – Venho trazer novidades de Yoshiwara.

― Que novidades?

― Sakuya e algumas de nossas companheiras da Hyakka estiveram investigando sobre o ataque. Não sei se lembra, mas conseguimos de você algumas informações sobre quem os atacou.

― Eu me lembro muito vagamente. – a líder da Hyakka ficou mais pensativa. – Mas gostaria de saber quem fez isso.

― Foi Aomame.

À menção do nome de Aomame, veio imediatamente à sua memória o embate que tivera com ela, e que meses atrás lhe custara a primeira gravidez. Por mais que dissesse que havia superado aquele episódio, a verdade é que não o havia feito de todo. Nunca sairia de sua mente a dor que sentira quando aquilo ocorrera e como essa dor fora enorme para ela...

... E para ele. Não esquecera o forte abraço que ele lhe dera, como se quisesse juntar os cacos de ambos os corações partidos pelo o que ocorrera.

― Aomame se juntou ao Harusame – Miwa prosseguiu, sob os olhares atentos não só de Tsukuyo, como de Shinpachi e Kagura. – E eles estão tentando retomar os negócios envolvendo tráfico de drogas e jogos de azar tanto em Yoshiwara como no Distrito Kabuki.

Para os dois integrantes da Yorozuya, vinha a lembrança da batalha em Kabuki, em que todos se voltaram contra Otose e eles. E, no fim das contas, o Harusame estava por trás de tudo, através da Princesa Kada.

Os olhos cor violeta de Tsukuyo se estreitaram. A coisa ficou pessoal. Antes, era uma rebelião de uma parte da Hyakka. Agora, Aomame queria atingi-la diretamente, e que melhor forma de fazer isso do que apelar para o lado pessoal? Ela sabia de sua relação com Gintoki, e certamente sabia da relação dele com o Distrito Kabuki, onde ele era considerado o mais forte do local.

Ela sabia que ele, junto com Shinpachi e Kagura, já atrapalhara várias investidas do Harusame, e isso era um prato cheio. Eliminaria Gintoki, que era um obstáculo perigoso e uma forma de atingir a líder da Hyakka, que a fizera “cair em desgraça”.

Tsukuyo não era a única a reagir daquela forma, estreitando os olhos e cerrando os punhos. Viu que Kagura e Shinpachi reagiam do mesmo jeito e compreendia aquilo. Gintoki era tudo para eles... E eles eram tudo para Gintoki.

E ela tomaria uma decisão:

― Miwa, eu mesma irei atrás de Aomame. Diga a Sakuya que levarei comigo uma parte das meninas.

Shinpachi agarrou com força uma bokutou que estava encostada no sofá onde estava sentado. Aquela espada de madeira com os kanjis “Lago Toya” nela gravados só poderia pertencer a uma pessoa.

― Tsukuyo-san – ele disse. – Eu vou junto. Nós da Yorozuya protegemos uns aos outros. Gin-san nos protege, e eu vou ajudar!

Quando ela iria contestar, Kagura também tomava sua decisão:

― Também vou, Tsukky! Pelo Gin-chan!

― Vocês dois não...

― Vamos proteger você como o Gin-san faria! – Shinpachi disse convicto.

― Você é muito importante pra ele, sabia? – a Yato questionou. – E vamos proteger o que é importante para o Gin-chan!

Tsukuyo sorriu, vencida. Ninguém conseguiria fazer aqueles dois adolescentes mudarem de ideia. Percebeu que o vínculo que eles tinham com Gintoki era muito mais forte do que parecia. Eram uma família, cujos laços eram fortes de tal modo que nada seria capaz de rompê-los.

― Então vamos proteger o que é importante para ele. Vamos proteger uns aos outros e ao Distrito Kabuki.

 

*

 

Tsukuyo caminhou pelos corredores que davam acesso a um dos quartos. Embora tivesse vindo com Shinpachi e Kagura, os dois não poderiam entrar devido à idade. Naquela ala, apenas adultos poderiam entrar.

Parou à porta, para assimilar da melhor forma que podia aquela visão. Ver Gintoki sob efeito de sedativos para poder se recuperar daquele ferimento tão grave, quase no peito, não era a melhor visão que poderia ter dele. Preferia voltar logo a ver aqueles olhos avermelhados abertos, ouvir sua voz, rir do quão louco ele sempre fora... E do que havia por trás daquele preguiçoso incorrigível e, ao mesmo tempo, histérico.

Queria voltar, o quanto antes, a sentir a mão dele reagir em resposta ao seu toque, como ela segurava a mão dele naquele momento por entre as suas. Permaneceu por algum tempo assim, apenas segurando a mão dele e olhando para seu rosto pálido, certamente devido à grande perda de sangue.

― Gintoki – disse num sussurro. – Fique bem. Nós voltaremos para te ver.

Tsukuyo se levantou e, como despedida, acariciou as macias madeixas prateadas da permanente natural do Yorozuya. Por fim, afastou delicadamente suas mechas e beijou-lhe a fronte.

Como Shinpachi lhe dissera mais cedo, ele ficaria bem. E ela acreditava piamente naquelas palavras.

Deixou o local e caminhou por toda a extensão do corredor, rumo à saída. Avistou Shinpachi, que carregava a bokutou de Gintoki à cintura, e Kagura, que estava com seu inseparável guarda-chuva roxo.

― Tsukky, como está o Gin-chan?

― Ainda não está fora de perigo – ela respondeu a Kagura. – Mas se recupera aos poucos. Ele vai ficar bem.

Os três seguiram rumo ao local combinado para se encontrar com algumas integrantes da Hyakka e, dali, partiriam para reencontrar Aomame. No caminho, surgiu um reforço para o grupo: Sacchan se juntava a Tsukuyo, Shinpachi e Kagura.

― Você estava seguindo a gente o tempo todo, não é, Sacchan-san...? – Shinpachi questionou meio constrangido.

― Eu não poderia deixar de fazer algo pelo Gin-san!

― E por que quer nos ajudar? – Tsukuyo indagou. – Tudo bem pra você, mesmo nós sendo meio que “rivais”?

― Somos rivais, mas não inimigas. – a kunoichi de óculos respondeu. – Mas qualquer coisa nós podemos dividir o Gin-san. Você é a namorada oficial, e eu sou a amante!

Os outros três devolveram à ninja de cabelos lavanda olhares bem céticos. A loira disse com um sorriso bem divertido:

― Desculpa, não pretendo dividir o Gintoki com ninguém. Mas sua ajuda com certeza será muito bem-vinda.


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