Domesticado escrita por Jo MH3


Capítulo 11
O Outro Lado da Verdade




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– Ei, você por aqui? - a voz calma acordou-o. Kol ergueu o rosto, fazendo uma careta quando seu pescoço estalou e franziu a testa olhando ao redor.

Jeremy estava adormecido, aparelhos ligados a seu corpo. Seu rosto não tinha um pingo de cor. A testa brilhava com o suor frio, olheiras escuras sob seus olhos e agulhas enfiadas em seu braço; os aparelhos apitavam ritmicamente, uma lembrança de que o tempo estava passando e Jeremy estava morrendo.
E parada junto a porta, estava Ruby.

Os cabelos ondulados e claros dela, presos em um rabo de cavalo. Uma seringa e uma ampola na bandeja que carregava.

– Ruby...? O que faz aqui?

– Eu trabalho aqui, Bonitão. - ela revirou os olhos, divertida. Apontou Jeremy. - É ele?

– Sim. - Kol tornou a baixar a cabeça, enfiando o rosto na coberta alva. Ouviu Ruby suspirar.

– Ele é realmente muito bonito, Kol. - murmurou gentilmente. Mikaelson ergueu os olhos, acompanhando seus movimentos. Ela estava colocando algo no IV de Jeremy.

– O que é isso?

– Medicação para baixar a febre. Está alta.

– Eu sei... - seu estômago revirou. - Tiveram que resfriá-lo. - fechou os olhos novamente, pressionando a palma das mãos contra eles. - Minha irmã está aqui também.

– A loura no outro quarto, imagino?

Ele ergueu uma sobrancelha. - Ela tem seu sobrenome. - Ruby completou rapidamente, ficando vermelha.

Kol suspirou, soltando um sorriso cansado. - Se eu não soubesse, diria que está me perseguindo.

– Eu estou. - ela riu. - Me apaixonei perdidamente por você, quando vomitou em meus sapatos, e agora estou te perseguindo por todos os lugares. - zombou. Kol soltou uma risada exausta e se espreguiçou.
– Os médicos te falam algo? Eles... Falaram algo sobre Rebekah e Jeremy?

Ruby se encolheu. - Não muito... Não sabem o que está acontecendo... Estão ligando para um especialista em Seattle, já que tentar mover qualquer um dos dois para um hospital maior, seria muito arriscado.

Ele suspirou e concordou. - Acham que vão sobreviver? - perguntou apático. Nenhuma resposta. Foi o suficiente. - É... O que eu imaginei.

– Kol... - ela apoiou uma mão em seu ombro. - Você não deveria sequer estar consciente. O Dr. Kurt entrou em desespero quando viu seus exames... Eu estava do seu lado quando a enxaqueca te atingiu, lembra? Você não deveria estar respirando, mas está aqui. Não importa o que os médicos acham, eles estão errados. Se sua irmã e seu namorado tiverem metade da sua força, vão estar bem.

Mikaelson soltou uma risada. - É irônico, não? Sou eu quem deveria estar nessa cama. Fiz muita coisa ruim... Eu sou um monstro, Ruby. E agora é Jeremy quem está morrendo, ele que nunca machucou uma mosca... Chame isso de carma.

Ruby apertou seu ombro. - Eu não te conheço, Kol. - murmurou. Ele balançou a cabeça concordando; ela não o conhecia, jamais saberia nada sobre ele. Ninguém, nem mesmo seus irmãos, o conhecia direito. - Mas eu sei que você é bom. Não importa o que você fez no passado... Você é bom, Kol. Não importa o quanto queira negar.

Ele abriu a boca para negar, ela tinha que ter enlouquecido para dizer uma coisa dessas, entretanto, um barulho interrompeu o que iria dizer. Olhou ao redor, Ruby tirou a mão de seu ombro rapidamente.

Bonnie Bennett estava apoiada contra a porta. Os braços cruzados, o rosto pálido.
Kol franziu as sobrancelhas, tentando entender que diabo ela fazia ali.

– Vocês... Poderiam nos deixar a sós? - pediu. Sua voz não tremia, mas as mãos sim. Ruby concordou rapidamente, mas Kol apenas se sentou mais ereto. Em que mundo ela achava que ele deixaria Jeremy sozinho?

A enfermeira saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Bonnie franziu a boca em desgosto.

– O que você faz aqui? - reclamou Mikaelson, apertando a mão de Gilbert entre a sua. Ela deu de ombros.
– Eu... Como ele está?

– Morrendo. - assistiu Bennett fechar os olhos, sua respiração engatar. - O que você quer?

– Ele foi meu grande amor. - ela murmurou, andando para mais perto de Jeremy. Kol rangeu os dentes. Ela viera para isso?
– Sim, foi. Pode dar meia-volta e ir viver sua vidinha.

– Kol...

– Vocês não tinham brigado? Você se casou com o melhor amigo dele ou algo assim...

– Matt. Eu me casei com Matt, mas não antes dele quebrar meu coração e correr para você.

Ele queimou de raiva. - Veio chutá-lo agora que está no chão? Não podia lavar a roupa suja quando ele estivesse consciente para responder? Vá embora. - cuspiu. Bonnie franziu as sobrancelhas.
– Qual o seu problema? Eu já te disse, eu amo ele. Nunca o magoaria.

Ele não te ama. Volte para seu marido e nos deixe em paz. - ciúme queimou seu estômago. Ela já não era casada? Porque tinha que vir interrompê-los? Porque não podia simplesmente ficar longe?

– Kol. - sua voz estava firme. - Cale a boca. Não me importa se está com ciúme ou não. Jeremy foi meu grande amor. Eu não fui o dele. Superei, me casei. Entenda isso.

– Entendo. Eu fui... Sou. Agora se puder explicar o que você... - então entendeu. Entendeu quando viu as lágrimas encherem os olhos dela, seus dedos correndo pelos cabelos castanhos de Jer. - Você veio se despedir.

Bonnie fechou os olhos e balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo por sua bochecha. Um soluço balançou seus ombros. - Eu não...

– Você veio se despedir... - Kol passou uma mão pelo rosto, sentindo tudo congelar dentro de si. Ela vira a verdade antes mesmo que ele pudesse aceitá-la: Jeremy estava com os minutos contados. Não havia mais escapatória. - Meu Deus, ele vai morrer... E... - seu coração se apertou. Jeremy não, ele não... Ele não.
Apertou uma mão contra o peito, tentando respirar com a dor. Jeremy estava morto. Estivera segurando a mão de uma cadáver a manhã toda.

Caiu sentado, baixando a cabeça e tentando recuperar o fôlego. Fechou os olhos.

– Você está com ciúme! - riu Jeremy, apontando-o com a luva de baseball. Kol rangeu os dentes. Não estava com ciúme! Não se importava se Jeremy vinha se agarrando pelas festas com aquela garota ruiva.

– Eu? Com ciúme? Kol Mikaelson não sente ciúme, Jeremy. De ninguém, que dirá de você. - reclamou.

– Então está com inveja. Porque eu dormi com...

– Enquanto você se esforçava para abrir as pernas da Vanessa, eu dormi com a irmã e a prima dela. Acho que está em desvantagem. - ronronou Kol, descansando o bastão de baseball no canto da quadra. Uma mão agarrou-o pelo colarinho da camiseta suja e foi colocado contra a parede. Seus nervos pegaram fogo.
– Jeremy!

– Se não está com ciúmes e nem com inveja de mim, então acho que está com inveja delas... - ronronou Gilbert. Os olhos de Kol se arregalaram. Inv... O que o moleque estava sugerindo?

– O que... Eu nunca... - queimou de constrangimento. Jeremy revirou os olhos, suas bochechas estavam vermelhas, mas ele não parecia envergonhado.

– Não..? Eu vi você me olhando quando fomos para aquela festa na piscina...

– Jeremy... Eu não... - suas frases não eram coerentes! Tentou pensar direito. - Eu não sinto nada por você, Gilbert, pare de se achar.

– Então não vai se importar se eu fizer isso. - murmurou Jeremy, antes de beijá-lo.

Kol abriu os olhos, surpreso com a lembrança que o assaltara. Com a respiração arfante, endireitou-se e olhou ao redor. Poucos segundos tinham se passado. Bonnie estava de pé, correndo os dedos pelos cabelos de Jeremy, as lágrimas escorrendo por seu rosto bonito.

Mikaelson se levantou, decidindo deixá-los a sós. Se Jeremy estava morrendo - Ele está!–, então Bonnie poderia aproveitar seus minutos restantes. - Eu vou buscar café... - caminhou até a porta e assistiu com as sobrancelhas franzidas a morena se sentar na maca, soluçando baixinho. - Bennett?

Com os olhos vermelhos, queimando de raiva e tristeza, ela o fitou. Ergueu uma sobrancelha em desafio.

– Ele... Jeremy sempre te amou... Vocês só não eram para ser.

Saiu do quarto antes que pudesse retirar suas palavras. Apoiou-se contra a parede, respirando fundo. Suas mãos estavam pegajosas, o estômago ainda revirado com a lembrança relâmpago.

Passou pela sala de espera e franziu o cenho; Elena tinha adormecido no ombro de Damon, que já não estava mais de plantão. Caroline e Klaus tinham voltado para casa, mas estariam de volta antes do meio-dia. Katherine estava nos braços de Elijah, falando baixinho com Matt. Stefan ainda devia estar no quarto de Rebekah.

Aproximou-se da máquina e enfiou uma nota de um dólar, apertando o botão correspondente ao Extra-Forte. Suspirou, fechando os olhos e apoiando a testa no plástico gelado.
A preocupação estava devorando-lhe. A doença vinha fervendo seu cérebro em uma febre constante.

Elijah e Nik não haviam perguntado-lhe como estava desde que trouxera um Jeremy inconsciente para dentro do hospital. Seus irmãos mais velhos estavam silenciosos, entrando e saindo do quarto de Rebekah. Elijah tivera a cortesia de ir verificar Jeremy, mas Kol tinha certeza que aquilo fora mais uma obrigação.

Elena estava em pedaços. Havia deixado Miranda com uma babá, viera correndo para o hospital assim que Damon ligara. Seus olhos estavam vermelhos e ela estava exausta.

Kol agarrou o café e deu um gole, voltando para o quarto. Viu que Bonnie havia se juntado a Matt, o rosto escondido no peito dele enquanto chorava baixinho. Mesmo a uma distância aceitável, Mikaelson podia ver seus ombros se movendo convulsamente.
Suspirou, sabendo que uma hora ou outra iria ceder sob a pressão.

Podia sentir outra enxaqueca vindo com força total.

Empurrou a porta do quarto e franziu as sobrancelhas. - O que faz aqui?

Bonnie ergueu as sobrancelhas. - O que você faz aqui? - rosnou, cruzando os braços. Kol revirou os olhos.

– Meu namorado, Bennett. Lembra? - deu um gole em seu café e fez uma careta para o gosto, jogando o copo descartável no lixo. - Eu... Você não tinha saído? Aposto como não consegue ficar longe...

– Qual o seu problema, Mikaelson? Bateu com a cabeça? Esqueceu o que eu posso fazer com você? - o rosto dela estava contorcido em desgosto. Kol rosnou, sentindo o vampiro despertar sob sua pele. Seu coração disparou e sentiu o cheiro dela no ar.

Não, não, não...

Ouviu o pulsar de seu coração, podia quase sentir seu gosto... Ah, a sensação de enfiar as presas na pele macia e fina de seu pescoço delicado. Segurá-la pela cintura, pressionar os dedos contra suas costelas e quebrá-las sobre a força inumana. O líquido quente invadindo sua boca...

Piscou. O que estava pensando?! - Melhor você ir embora, Bennett.

– Ou o que? - havia um desafio nas palavras dela, que fez com que todos os sentidos de Kol se atiçassem.
Podia sentir a pele quente sobre seus dedos, o barulho do tecido sendo rasgado. O líquido vermelho molhar sua camisa, molhar sua língua... Ah, ele poderia enfiar os dedos entre seus seios e afundá-los até sentir seu coração. O coração batendo descontroladamente contra sua mão, os gritos de pânico. - Seu cérebro aguenta três minutos sem oxigênio...– e então apertar o órgão, sentir a carne ceder sob a força de seus dedos. O líquido quente fugindo sob seu aperto.

– Corre. - rosnou, agarrando o estrado de metal do leito de Jeremy. - CORRE! - gritou, pressionando os olhos fechados.
Ouviu uma risadinha e abriu-os, nervoso e confuso. Queria matá-la, queria devorá-la.

Bonnie estava rindo, as mãos sobre a boca. - Você acha que pode me atacar? A dimensão pode estar caindo e pode estar se tornando o monstro que realmente é, mas não pode me machucar. É só um vampiro bebê, agora, e eu... Eu sou seu pior pesadelo. - e então Kol foi lançado para fora do quarto, sua cabeça atingindo a parede com força e deixando-o inconsciente.

~*~

– Como você está? - perguntou Caroline, entrando no quarto do bebê. Klaus estava sentado no chão, o ultrassom pendendo em sua mão e os olhos fechados. Ele abriu-os e lançou-lhe um sorriso.

– Bem... Eu acho. Você?

– Exausta. - suspirou, estendendo uma xícara de chá para ele e sentando-se ao seu lado.

– Bekah... Ela era linda quando bebê. - murmurou, apoiando a cabeça no ombro da loira e fechando os olhos. Caroline entrelaçou os dedos nos dele e ouviu. - Eu a idolatrava. Vivia com ela para cima e para baixo... Mikael me odiava por isso, porque toda vez que a pegava no colo, Bekah começava a chorar. - ele soltou uma risada. - Kol também não gostava. Ele não gostava de Rebekah, para ser honesto. Era pirralho e morria de ciúme.

– Eles são tão próximos, mesmo assim...

– Têm quase a mesma idade. Cresceram juntos. Rebekah pode tê-lo afogado uma ou duas vezes no lago e ele jogado-a barranco a baixo um par de vezes, mas... Eles cresceram juntos. - a voz dele ficou abafada. Niklaus engoliu o nó em sua garganta.

– Nik...

– Vai dar tudo certo, sabe? Tudo vai se resolver e Bekah vai acordar e será tia e Kol vai detestar ter um bebê chorando por perto, mas vai gostar de ser tio também. E nós vamos ser pais e vai estar tudo bem...

– Nik.

– E... - um soluço. - E Elijah e Katherine vão ter filhos também. Não agora, ele provavelmente vai querer ter tudo planejado... Mas eles vão ser felizes. E eu e você. E Jeremy e Kol vão estar juntos, porque o Gilbert não vai morrer... Não ele. Afinal, se foi forte o suficiente para suportar meu irmão, é forte o suficiente para não morrer com um pouco de febre...

Caroline soltou a xícara e apertou os braços ao redor dele. As lágrimas de Klaus escorreram por seu pescoço, os soluços balançando seu corpo. - Vai dar tudo certo, sushhhh...

– Ele... Elijah falou que Kol está doente. E nós vimos o que... Eu vi o vampiro nele, Care. E... Rebekah está torrando de febre... E agora o Gilbert... Kol vai se jogar de uma ponte se ele morrer.

A loira sentiu seus olhos se encherem d'água, mas então ouviu a frase. "Ele vai se jogar de uma ponte". Fora com uma ponte que tudo começara.
Elena e seus pais caíram da ponte e Stefan salvara-lhe. E então a jornada começara. Lena fora tragada para aquele mundo de vampiros, Damon surgira na cidade. Ela, Caroline, fora vítima dele e se quebrara em um milhão de pedacinhos.

Katherine surgira ali e Caroline morrera. Klaus viera em seu encalço, Kol e Jeremy e Denver... Rebekah e Elena e Matt e o carro. O carro caindo da ponte novamente e Elena pedindo que salvasse Matt, não ela. E então Lena estava morta e o mundo era caos. Ela era vampira. A cura. Jeremy caçador, Kol querendo-o morto, Silas...

E Caroline acordara naquele mundo, lado a lado com Klaus.

Abafou uma risada contra o cabelo de Klaus. "Ele vai se jogar de uma ponte." Quão hilário seria se aquele mundo cor de rosa também ruísse com alguém caindo da ponte.

– Caroline?

Ela apertou uma mão sobre a boca, tentando abafar a risada. Nik franziu as sobrancelhas. - Caroline, amor...

– Ele vai se jogar de uma ponte? - repetiu a loira, antes de jogar a cabeça para trás e rir alto. A expressão de Klaus suavizou e ele beijou sua testa, vendo o riso dela se tornar um choro baixo

– Hey, hey... Ele vai cortar os pulsos, melhor? - brincou, arrancando um sorriso dela. Caroline limpou as lágrimas e balançou a cabeça.

– Kol gosta de drama, vai dar um tiro na boca. - zombou. Olhou ao redor. - Já te ocorreu que esse pode ser nosso último dia aqui?

– O que?

– Sejamos realistas, Klaus. Esse mundo está ruindo. Kol está se tornando vampiro novamente. Rebekah e Jeremy e Tyler se lembraram do outro mundo e caíram em coma. Faça as contas. É só questão de tempo para que seja nossa vez... - apertou uma mão contra a barriga. - É só questão de tempo para que estejamos todos mortos.

Klaus abriu a boca para consolá-la, mas percebeu que era uma tentativa já fracassada. Caroline não só estava certa, como não queria ouvir suas mentiras. Ela não queria abraços e "vai dar tudo certo". Passou uma mão pelo rosto, exausto.

– Então façamos desse último dia um dia para ser lembrado. - resmungou, beijando-a.

~*~

– Kol... Kol...

Uma mão gelada em seu rosto sacudindo-o freneticamente o acordou. Piscou, gemendo quando a luz branca atingiu seus olhos e tentou se localizar. Sua camiseta estava suja de sangue. Sangue gelado já, portanto não era recente. Seu estômago revirou. Atacara alguém.

O coração dele disparou. Sentou-se rapidamente, pressionando as costas contra a parede e lutando com o ataque de pânico que ameaçava tomar conta de seu corpo. Matara alguém. Matara alguém.

– Kol? - ergueu os olhos, desesperado, e viu os olhos castanhos e gentis de Ruby. Franziu a testa.

– Ruby? O que... Eu... - te machuquei?! te machuquei?!– Como você...

– O que você faz desmaiado nesse corredor, Kol? - ela questionou, passando um braço por seu quadril e puxando-o de pé. Kol tentou recuperar o fôlego. Pontos negros nadaram em sua visão.

– Eu...

– E todo esse sangue? Seu nariz não pode sangrar tanto! Vai acabar anêmico antes do fim do dia! - exclamou a enfermeira, empurrando-o para dentro do quarto de Jeremy e sentando-o em uma poltrona. Ela abriu um armário, quase vazio, exceto por um kit de primeiros socorros e lençóis extras. Um travesseiro à mais.

– Eu... - eu matei alguém, eu matei alguém...– ... Meu nariz?

– É, estava sangrando quando te encontrei. Empapando sua camiseta. Eu estava entrando em pânico, já teria chamado alguém se não houvesse visto isso ocorrer na clínica.

– Isso é sangue do meu nariz? - questionou, surpreso. O alívio correu e a adrenalina baixou.

– Claro que sim. Do que mais poderia ser? - ela revirou os olhos e pressionou uma gaze úmida contra seu rosto. Enfiou um termômetro em sua boca. - Então, Bonitão, o que aconteceu? Eu te deixei com aquela moça e voltei para te encontrar desmaiado no corredor.

A adrenalina subiu novamente. Bonnie. Bonnie Bennett era uma bruxa, ela sabia... - Meu Deus, cadê... Você viu ela de novo?

– Sim, ela foi embora agora à pouco... Aquele seu amigo... O loiro bonitão, sabe?

– Matt?

– Acho que sim. Foram almoçar, acho... Levaram o Dr. Salvatore e a esposa.

– Damon e Elena? - balançou a cabeça. Cuspiu o termômetro, percebendo a inutilidade daquilo e fechou os olhos, sentindo Ruby limpar o sangue de seu rosto. Vira Bonnie abraçando Matt segundos antes de entrar no quarto e vê-la agourando Jeremy como um urubu. Abriu os olhos, empurrando a enfermeira ligeiramente.

– O que foi agora?

– Meu celular... - procurou no bolso da calça, mas não o encontrou.
– Aqui. - ela pegou o aparelho sobre a mesa de cabeceira e entregou-lhe, as sobrancelhas franzidas. Kol discou o número de Niklaus, suas mãos trêmulas. Sentiu sua cabeça latejar.

Tocou uma, duas, três vezes antes de atender. - Alô? - era a voz de Caroline. A respiração ofegante.

– Caroline, Bonnie está aqui.

– O que...? - Niklaus estava falando algo ao fundo.

– Bonnie... A Bonnie da Mistic Falls... Da Mistic Falls vampira, Caroline! Ela está aqui. Me jogou para fora do quarto com aqueles voodos de bruxa dela e... Ela sabe sobre eu ser vampiro e falou alguma porra sobre a dimensão estar caindo... - viu Ruby cruzar os braços, um olhar incrédulo.

– O que?! Como assim Kol?!

– Ela... A Bonnie de verdade entrou no quarto, eu deixei-a com Jeremy e fui comprar café. Na volta eu a vi com Matt na sala de espera, estava chorando e tudo. Entrei no quarto de Jeremy de novo e ela estava aqui. Impossível. E então falou algo sobre a dimensão estar caindo. Eu quase a ataquei e ela me jogou longe. Apaguei. - falou tudo num fôlego só.

A enfermeira estava pálida. Passou a língua pelos lábios secos.

– Eu... Ok. Eu sei...

– Caroline, você tem que achá-la! Eu vou procurar também e Niklaus, mas... Tem algo errado. Tem algo muito errado. Duas bruxas?!

– Certo. - Caroline desligou o telefone, não esperando resposta.

Kol estava arfando. Ele ergueu os olhos para Ruby, que tinha se encolhido para mais perto de Jeremy. Contudo, havia uma expressão dura em seu rosto.
– Você é mais louco do que eu pensava, Bonitão. - rosnou, revirando os olhos. - Então, vampiro é?

~*~

Caroline se livrou do aperto de Klaus com um safanão. Ele correu atrás dela, tentando agarrá-la pelo pulso. - Caroline! Não vire as costas para mim, Caroline! - rosnou.

Ela abriu a porta do carro, mas foi pressionada contra a lataria. Klaus agarrou-lhe pelo queixo, uma expressão furiosa. - O que você acha que vai fazer?! Correr em direção ao perigo? Se jogar nos braços de uma bruxa, sem se importar com as consequências?! - gritou. - Ela vai te matar, Caroline! Jogou Kol longe, sem motivo algum.

– Ele tentou atacá-la, Klaus! Tinha motivo! - livrou-se de seu aperto, mas ele tinha bloqueado a porta do carro. - Eu sou a melhor amiga dela, vai me ouvir! Precisamos saber o que está acontecendo!

– Então deixe que eu vou! - Klaus gritou em resposta. - Você está grávida e já está em risco demais só por se lembrar da outra Mistic Falls...

– Ela vai matar você, Klaus! Bonnie te odeia, use seu cérebro! Não está ai de enfeite!

– E você?! É à prova de balas agora?!

– Bonnie é minha amiga, Klaus! Ela nunca me mataria. - Caroline apoiou a testa na dele, baixando o tom de voz. Respirou fundo. - Confie em mim, Nik.
Ouviu um suspiro. - Se você morrer, Caroline, vou te matar eu mesmo. - ele rosnou, sentindo a chave do carro fugir de seus dedos e ela entrar no automóvel.

A loira suspirou, dirigindo o mais rápido possível. Sabia o único lugar para o qual sua amiga iria. O único lugar que lhe seria familiar naquele mundo estranho.
Estacionou o carro diante da porta de Bonnie e girou a maçaneta, sorrindo quando percebeu que estava de destrancada. Ninguém mais morava ali. O pai de Bonnie se fora, Bonnie e Matt viviam na cidade vizinha...

– Care?

Caroline soltou um suspiro de alívio e correu abraçá-la. Bonnie apertou-lhe com força.
– Ai meu Deus, Caroline, eu achei que... Ai meu Deus, ainda bem que está bem! Você desapareceu, entramos em pânico... Eu entrei em pânico! Ainda bem que está bem! Não acredito! Faz três meses... - ela sorriu, os olhos escuros cheios de lágrimas. - Você...

– Eu senti tanto a sua falta, Bonnie! - Forbes murmurou, soltando-a. - Como... O que faz aqui?! Como apareceu aqui?

– Longa história. O que importa é que você está aqui! Vai ser tão perfeito quando voltarmos... Não acredito!

Caroline sentiu gelo correr por seu sangue. Voltar. - O quê...?

– Sim! Elena e Stefan vão surtar! Sua mãe então... Ainda bem que está aqui! Fiquei tão preocupada! Vamos logo, temos que passar no hospital e então vamos voltar! Você vai estar em casa finalmente! - um sorriso gigantesco se abriu no rosto da morena, fazendo com que suas bochechas doessem.

A loira balançou a cabeça, negando. - Não, o que... Como assim? O que vai...
– É complicado. - Bennett interrompeu-lhe. - Resumindo: Você vai voltar comigo e essa dimensão ridícula vai para o espaço, Caroline. Não se preocupe. Vamos ficar bem, assim que sairmos desse show sinistro. Ninguém é ninguém aqui...

– O que... Não! Não! Bonnie, por favor, não! - os olhos azuis de Caroline se encheram de lágrimas. Seu mundo, seu lar... - Não, Bonnie! Esse é o meu mundo! Não... Não, por favor...

– O que? Como assim Caroline? Porque você não quer voltar? Care, eu sei que você está confusa. Eu sei, mas... Esse mundo não é real. Pode ter parecido, pelos últimos três meses, mas... Não é real, Care. Tudo aqui é falso. - sua voz assumiu um tom gentil. Como se estivesse falando com uma vítima de síndrome de estocolmo.

A loira balançou a cabeça, apertando uma mão contra o estômago. Aquilo não podia estar acontecendo. - Bonnie, não... Eu amo isso aqui! Essa é minha vida, meu lar... Não pode...

– Caroline! Isso não é real! Nada disso é! Esse mundo... É um show de fantoches! Uma réplica esdrúxula de nosso mundo! Não é real, Care!

– É real! - Caroline gritou, irada. - É real! Eu posso sentir! - apertou a mão defensivamente contra sua barriga. - Como você pode dizer isso, Bonnie? Está dizendo que isso não é real?! - apontou para seu ventre, as lágrimas escorrendo por seu rosto. - Está dizendo que nada é real?! Meu filho não é?!

O rosto de Bonnie empalideceu. - Você está grávida? - questionou, calma. Caroline balançou a cabeça, batendo o pé.

– SIM! AGORA ME DIGA QUE NÃO É REAL!

– Quem é o pai? - Bennett questionou, cruzando os braços e dando um passo para trás.

– Klaus! Klaus, Bonnie! Vamos lá, me julgue! Faça! Fez isso por meses quando me tornei uma vampira! Fez isso todas as vezes que algo não ia de acordo com seu planinho! Então vamos lá, diga que ele é o inimigo! Meu único inimigo agora é você! Está tentando matar meu filho, meu mundo, meu noivo e meus amigos!

– Vocês estão noivos... EU FIQUEI DE LUTO POR VOCÊ! - o rosto dela se contorceu de ódio. - EU CHOREI SUA MORTE, CAROLINE! EU CHOREI SUA PERDA E NÃO DORMI POR NOITES, IMAGINANDO O QUE TERIA OCORRIDO! E todo esse tempo... Todo esse tempo você estava aqui. AQUI, BRINCANDO DE CASINHA COM KLAUS! - a janela explodiu em um milhão de pedaços. - EU CHOREI POR VOCÊ, CAROLINE!

– Bonnie...

– NÃO! EU ENTERREI NOSSA PULSEIRA DA AMIZADE, PORQUE NÃO TINHAM UM CORPO! EU... EU CHOREI SUA MORTE NOITES SEM FIM... E STEFAN CHOROU POR VOCÊ, ELENA... DAMON... TODOS NÓS CHORAMOS POR VOCÊ! STEFAN NÃO SE ALIMENTOU, ELE PERDEU A MELHOR AMIGA DELE DUAS VEZES SEGUIDAS E DESSA VEZ NEM MESMO TINHAM UM CORPO! ELENA CHOROU POR ESTAR CERCADA PELA MORTE, ELA SE CULPOU POR VOCÊ! E VOCÊ ESTAVA BRICANDO DE MAMÃE E PAPAI COM KLAUS O TEMPO TODO!

Caroline se encolheu para longe de sua amiga, sentindo a magia escorrer dela em ondas de calor. O ar estava denso, o vento balançava as árvores do lado de fora. O colar de Elena, pendurado no pescoço da bruxa, flutuava ligeiramente.
– Bonnie...

– E agora... - as lágrimas escorreram pelo rosto dela. - Eu te ofereço salvação e é isso que me diz?

– Bon...

– Eu odeio você. - soluçou, fechando os olhos. - Eu odeio você, Caroline. Você... Eu chorei sua morte, Care. Meu coração quebrou e eu perdi minha melhor amiga.

– Você não me perdeu, Bonnie! - Caroline abraçou-a com força, limpando suas lágrimas. - Eu estou aqui, Bonnie... E eu estou feliz.

– Care, eu queria tanto... Mas... Eu vim para salvar o Jeremy.

– O que...?

– Ele caiu em coma no nosso mundo. No mundo real. E nesse mundo... Você permitiu que Kol Mikaelson ficasse com ele?

– Bonnie...

– Não, Caroline. Existe um limite para imbecilidade. Você traiu a todos nós. Você traiu a memória de Jer, o menino que você viu crescer... Você engravidou de um monstro...

– Bonnie, por favor...

– Você está morta para mim, Caroline. E eu vou matar cada infeliz desse mundo, para trazer Jeremy de volta.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao penúltimo capítulo!! Espero que estejam gostando!



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